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Por onde resolver a crise civilizatória
Desenvolvemos durante esta semana a ideia que entre tantas sombras, ainda a luz e sal para dar sentido e vida ao processo civilizatório, é possível superar a cólera da guerra e o ódio das diferenças de opinião se introduzirmos na sociedade elementos novos de vida saudável.
Desde ONGs e voluntários que trabalham em campos de guerra, até pessoas que trabalham com determinação e autocontrole num cotidiano cada vez mais difícil e intolerante.
Não há regra geral, é preciso acelerar o processo diplomático para entendimento e superação de guerra, é preciso avançar um processo de educação de um homem integral que saiba lidar com diferentes fatores da vida social, incluindo as diferenças étnicas, políticas e religiosas.
O crescimento do círculo egocêntrico devido a ideologias e bolhas de círculos fechados, eles reforçam o pensamento individualista e grupal, pode ser alterado alargando os círculos de convivência e permitindo e dando pertencimento a grupos e pessoas excluídas.
Mas é preciso sobretudo fortalecer o tecido saudável, a pouca luz e o pouco sal que mesmo sendo pouco pode fazer a diferença e mudar ambientes, grupos e até nações inteiras lhes devolvendo a autoestima ao mesmo tempo que desenvolve a tolerância com outros povos.
O cenário trágico que se desenha pode ter seu curso alterado, porém é preciso primeiro salvar aquele tecido sadio onde ainda se respira o respeito, a tolerância e a paz social.
As religiões e os grupos sociais mais pacíficos e responsável, o descontrole preso ao ego é infantil como desenvolveu Freud, pode ceder lugar a relações maduras entre pessoas, grupos e povos.
Na passagem bíblica em que Jesus observa que as multidões estavam “como ovelhas sem pastor” (Mc 1,15) ele não apenas estimula os discípulos a ajuda-las, mas também lembra que que primeiro: “6Ide, antes, às ovelhas perdidas da casa de Israel!” e diga que o “Reino dos céus está próximo” e ele não virá pela mão de poderosos e narcisistas, e sim da vida e da palavra destes seus seguidores.
Promover o bem e a paz
As convicções e teorias que levam os homens tanto ao processo civilizatório como ao seu oposto, a barbárie, partem de motivações interiores e elas tiveram diferentes contextos em momentos da história, acompanhado a reflexão de Freud em sua análise do “mal-estar” diz:
“vemos que esse sentimento do Eu que tem o adulto não pode ter sido o mesmo desde o princípio. Deve ter passado por uma evolução que compreensivelmente não pode ser demonstrada, mas podemos construir com certo grau de probabilidade” (FREUD, 2010, P. 12).
Mas antes de fazer uma análise histórica, ele parte da vida intrauterina, aquilo que também Peter Sloterdijck vê como esfera primordial, ele ainda não separa o Eu do mundo exterior, mas aprende a fazê-lo aos poucos, “em resposta a estímulos diversos”, mas parte de um interior.
Assinala Freud: “É assim que ao Eu se contrapõe inicialmente um “objeto”, como algo que se acha “fora” e somente através de uma ação particular é obrigado a aparecer. Um outro incentivo para que o Eu se desprenda da massa de sensações, para que reconheça um “fora”, um mundo exterior, é dado pelas frequentes, variadas, inevitáveis sensações de dor e desprazer que, em sua ilimitada vigência, o princípio do prazer busca eliminar e evitar”. (FREUD, 2010, os. 12-13).
Explicará assim o seu isolamento e egocentrismo, porém se não avança para a idade adulta e não sabe conviver com contradições e desprezares, permanecerá neste circulo “infantil”, na bolha onde tudo parece girar ao seu redor e feito para seu prazer.
E continua: “As fronteiras desse primitivo Eu-de-prazer não podem escapar à retificação mediante a experiência” (p. 13), senão surgirá a tendência de se isolar e nisto consiste a dificuldade de promover o bem e a paz social, que inclui o outro, a sociedade e os povos.
Assim são mais adultos, mais maduros aqueles que promovem a paz, o bem-estar e o diálogo social, e mais infantis aqueles que promovem a guerra, o ódio e a intolerância.
O fato que desde a educação familiar até a adulta não se imponha as dificuldades e ensine a conviver com eles, com o desprezar e as perdas criou um círculo vicioso e egocêntrico de bolhas, onde os povos e as culturas não podem conviver sem a guerra e sem a tolerância.
Continuam haver instituições, ONGs e pessoas que promovem o diálogo, a paz e se opõe de modo claro a guerra, a falta de liberdade de expressão, às ditaduras e culturas autocráticas.
Felizes os que promovem a paz, os que promovem o bem-estar social e cultuam a empatia.
A cultura e mal estar civilizatório
Em análise do livro mal estar da civilização, Freud analisa corretamente aquilo que é instintivo de querer dominar sobre o outro, em sua análise psicológica é com o id que prevalece na infância e é possível demonstrar que todo processo civilizatório de alguma forma privou a satisfação dos seres humanos e dos povos de alguma forma.
Esclarece no início de sua obra: “é difícil escapar à impressão de que em geral as pessoas usam medidas falsas, de que buscam poder, sucesso e riqueza para si mesmas e admiram aqueles que os têm, subestimando os autênticos valores da vida” (Freud, 210, p. 10), esclarecendo a seguir que deve se evitar a generalização.
Ainda que negue de início um juízo sobre a religião, em um suposto diálogo de cartas com algum interlocutor, ele descreve o que “gostaria de denominar a sensação de ´eternidade’, “um sentimento de algo ilimitado, sem barreiras, como que ‘oceânico’. Seria um fato puramente subjetivo, não um artigo de fé; não traz qualquer garantia de sobrevida pessoal, mas seria a fonte de energia religiosa de que as diferentes igrejas e sistemas de religião se apoderam, conduzem por determinados canais e também dissipam, sem dúvida” (idem).
O autor faz uma constatação antropológica, sociológica e até certo ponto clínica que demonstra tanto a natureza construtiva como destrutiva do homem em função das pulsões de vida e de morte, escrita no período entre guerras (1918-1939), revela o esforço para evitar que os ímpetos hostis a espécie humana ultrapassassem a barrira do superego da civilização.
Freud expressava assim o medo da guerra em seu tempo: “[…] os seres humanos atingiram um tal controle das forças da natureza, que não lhes [seria] difícil recorrerem a elas para se exterminarem até o último homem” (FREUD, 1930, 2010, p. 79), assim o sistematizador da psicanálise parecida enxergar além de seu tempo, vendo os limites do horror em nossos dias.
De fato, o desejo humanizador civilizacional não é específico desta ou daquela religião, mas quando o cristianismo chama homens e mulheres a serem “Sal da terra e luz do mundo” é para que além do poder, da capacidade destruidora que povos e nações tem, estas forças sejam usadas para o progresso de toda a humanidade e não de determinado grupo ou visão social.
As tecnologias e forças vitais retiradas da natureza não podem servir a outro intuito que não seja o de propiciar o bem-estar ao maior número de pessoas possíveis, este é o sentido da vida e nela se fundamentam o sal que dá gosto ao alimento e a luz que ilumina os povos (na foto o sal do Himalaia).
FREUD, Sigmund. O mal-estar na civilização (1930). In: FREUD, Sigmund. O mal-estar na civilização, novas conferências introdutórias e outros textos (1930 – 1936). Obras completas volume 18. Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.
Guerra e ações humanitárias
A explosão da barragem na região de Nova Kakhovka, região de Kherson, despertou um sentimento humanitário mais forte devido ao desastre que é também ambiental e que afeta todos os moradores daquela região, incluindo a Criméia que é domínio russo.
Apesar de ser um desafio enorme e perigoso, a Ucrânia é vitima de bombardeios quase todos os dias, muitas organizações humanitárias ajudam as pessoas que vivem lá ou que estão retornando (é grande o número que resolveu correr o risco), segundo a ONG Zoa, a ajuda de diversas ONGs já atingiram cerca de 5,5 milhões de pessoas.
Uma das regiões destruídas ao norte, que faz fronteira com a Rússia e a Bielorrússia é Cherniguive ou Chernigov, lá a ONG Zoa ajuda a reconstruir a vida e dá assistência às pessoas, isto é um modo de encorajar as pessoas a continuarem vivendo lá (foto créditos da ZOA).
A Islândia rompeu relações diplomáticas com a Rússia devido a guerra, Putin promete retaliar.
Certamente a vida na Ucrânia nunca mais será a mesma, e gerações lembrarão deste horror como lembram do Holodomor (1932-1933) no período stalinista, um dos motivos que separa povos que do ponto de vista étnico são próximos.
A guerra entra num período de possibilidade de escalar para outros países e explodir numa nova catástrofe mundial de uma guerra global, a Rússia já deslocou armas nucleares “táticas” para a Bielorrússia, uma ameaça clara aos países que ajudam a Ucrânia.
As tentativas de estabelecer a paz ou um cessar fogo são cada vez mais desesperadas e com poucas chances de sucesso, porém elas continuam acontecendo, neste momento são heroicas.
A etapa dolorosa e perigosa que representa a contraofensiva ucraniana e as ameaças russas, representam os limites de uma guerra total ainda mais cruel e perigosa, muitos países já se posicionam por uma intervenção possível e apoio a um dos lados nesta guerra insana.
O apelo deve ser ao bom senso, aos verdadeiros valores humanitários e ao perigo de uma crise civilizatória sem precedentes.
Dialogo e diversidade
O choque entre duas concepções hegelianas de estado e a ausência de diálogo e novos horizontes estão entre as causas da crise civilizatória.
Tanto os velhos hegelianos modernistas quanto os novos revolucionários apontam uma visão de estado com um discurso único, ausência de diálogo e tolerância, esta é a raiz da crise.
O que notamos é a superficialidade deste problema de fundo, cada qual criando verdade que pensam ser universais e as vezes são até mesmo bizarras, como elas estão apenas no nível das ideias e não correspondem ao real não contribuem para uma saída real da crise civilizatória.
Todo dia despontam “sábios” de algum tipo que já tem a saída para grandes problemas que envolvem lideres, nações e culturais que se desenvolveram, em general já criaram raízes e tem grande dificuldade de dialogar com outras visões de mundo.
A convivência na diversidade é fundamental para uma sociedade democrática, quando só uma visão de mundo e uma forma de administrar o estado é imposta uma parte da população está fora deste diálogo e não verá oura saída a não ser a rebelião, ao nível do estado significa guerra.
Vivemos duas guerras mundiais fruto de uma concepção colonialista de estado, entretanto a atual é mais grave porque se trata de uma visão de hegemonia imperialista de forças opostas.
É verdade que há forças sociais se esforçando para abrir um caminho de diálogo, porém no campo diplomático ela tem fracassado, não por falta de propostas, mas por alinharem-se de modo discreto a um dos lados em conflito.
No campo religioso isto também ocorre, a visão farisaica que não é possível dialogar e ver como importante a convivência com “pecadores” e “cobradores de impostos” (os que gerem mal o estado ou se corrompem hoje) está descrita em Mateus 9,11-13:
“Alguns fariseus viram isso e perguntaram aos discípulos: “Por que vosso mestre come com os cobradores de impostos e pecadores?” Jesus ouviu a pergunta e respondeu: “Aqueles que têm saúde não precisam de médico, mas sim os doentes. Aprendei, pois, o que significa: ‘Quero misericórdia e não sacrifício.’ De fato, eu não vim para chamar os justos, mas os pecadores”.
O sacrifício de milhões de inocentes ocorre numa guerra porque não há força que dialogue com o pecado do conflito, do ódio e da guerra sem limites humanos e morais (na foto a explosão da barragem em Nova Kakhovka, região de Kherson).
Sem tolerância e diálogo nenhuma paz é possível, e neste momento a civilização vive a crise.
Círculo hermenêutico e diálogo
Antes do diálogo o círculo hermenêutico de Heidegger é construído um conceito de fusão dos horizontes, parece idealista, mas é justo o oposto, o conhecimento não se dá pela revelação do objeto ao sujeito, como entendia Kant, não é mera projeção do sujeito sobre o objeto como pensava o idealismo de Kant.
Sujeito e objeto possuem horizontes próprios, pois ambos são dotados de historicidade, exemplifico com um exemplo muito presente: a guerra, não basta olhar sobre os sujeitos em guerra nos dois lados de uma disputa, há a guerra como instrumento de ódio e opressão, e ela própria tem sua historicidade, claro os sujeitos em guerra também.
O conhecimento então se dá a partir da fusão dos horizontes dos sujeitos, daí se falar da superação do esquema sujeito-objeto, ele é dualista e nele o diálogo fica segmentado.
Ao perceber um objeto o sujeito sempre contribui com sua pré-compreensão, sua interpretação é parcial, assim é preciso entender a outra pré-compreensão, na hermenêutica filosófica embora sejam chamados de pré-conceitos, ela tem um aspecto positivo, o ponto de partida do diálogo e o passo seguinte é a fusão de horizontes.
Se ambos desejam a paz, e isto não pode ser só uma retórica, é preciso saber o preconceito.
Gadamer critica a historicidade romântica de Dilthey e esclarece: “[…] a ideia de uma razão absoluta não é uma possibilidade da humanidade histórica. Para nós a razão somente existe como real e histórica, isto significa simplesmente: a razão não é dona de si mesma, pois está sempre referida ao dado no qual se exerce.” (GADAMER, 1998).
Kant proporcionou a superação do paradigma objetal, com sua visão espiritual foi para a filosofia da subjetividade, no entanto hoje, com os estudos pertinentes à virada linguística já há uma visão de superação da subjetividade pela intersubjetividade, manifestada na linguagem como condição de possibilidade do conhecimento e não apenas como uma terceira coisa entre sujeito e objeto ou a simples oposição e confronto.
A hermenêutica filosófica está pautada não na dualidade de significados, mas na sua ampla e plural visão de significados possíveis, a possibilidade criada pela compreensão que se dá na fusão de horizonte que não é “qualquer coisa sobre qualquer coisa”, e sim penetrar naquilo que a fenomenologia de Husserl chamava de “a coisa em si”, aquela do Ser do ente.
O diálogo de posições em confronto não é senão outra forma de guerra, não há uma análise que vá ao fundo de cada pré-compreensão dos sujeitos e daquilo que estão nos objetos.
Uma dialogia sincera é necessária para um novo passo civilizatório, um “outro” diálogo.
GADAMER, Hans-Georg. Verdade e método. Trad. Flávio Paulo Meurer. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 1998.
A civilização e o dissenso
Há “Um Mal na civilização” escreveu Sigmund Freud em 1929, depois de seu apelo chegou onde previa a 2ª. Guerra mundial, neste momento extrapola o cultural e é quase só psíquico, a razão e o pensamento elevado não andam em moda, invertem-se valores, resta o divã.
Num momento assim tudo em volta piora, não é só a economia e a política, os gastos com medicamentos e médicos aumentam, distorcem-se as capacidades educativas e de justiça em defesas e acusações com auxílio de advogados ou defensores públicos sem alterar o rumo do dissenso, reduz-se o tempo e os conteúdos para educar o diálogo, o critério e a razão.
Também nas áreas educacional e social; o excesso de ações e tentativas de modelos, que são motivadas por incompreensões de parte a parte, modelos teóricos e métodos didáticos, vivem com a dificuldade de encarar o dissenso e resultam muitas vezes pela perda total da hierarquia ou senso de valor, pela dificuldade de aceitar (ou exercer) o que seria autoridade.
Ao mesmo tempo que a autoridade se confunde com autoritarismo, desorganiza a missão escolar e impede muitas vezes que discursos públicos de discussão e dialogo responsável sejam exercidos, os valores, até mesmo espirituais desmoronam, tudo parece ruir em cascata, mas há esperança.
As vezes resta só ouvir e ficar em silêncio, as vezes é preciso corrigir com coragem, porém o diálogo é sempre possível, e a escuta paciente pondera mesmo quando diverge.
É preciso modelos que correspondam a vida, ao convívio social ético e moral, salvar a empatia e o respeito mútuo, quando apenas alguns querem respeito que não oferecem aos outros, não há como iniciar um processo de diálogo profícuo.
Há nichos de convivência civilizatória, há povos e locais onde o dissenso não se instalou, onde o ódio não venceu e a esperança ainda vive.
Encontrar e dar valor a estas pequenas luzes que iluminam a noite civilizatória é fundamental, senão médicos, psiquiatras e métodos educacionais não serão funcionais, não terão vida.
A guerra saindo dos limites territoriais
Com as tentativas de paz muito limitadas, a guerra no leste europeu ameaça sair das fronteiras, o que torna os limites perigosos, tanto a tentativa de invadir o território russo como desestabilizar a Moldávia, que agora cogita ser um pais membro da OTAN (sua constituição impede).
A Rússia já tem armas e tropas na Transnístria, uma estreita faixa no norte da Moldávia, enquanto grupos soviéticos com apoio da Ucrânia começam a fazer ataques dentro do território russo.
Embora o acesso por terra e mar da Rússia a Moldávia seja limitado, o governo do presidente do país, Maia Sandu, acusou a Rússia de usar “sabotadores” disfarçados de civis para atiçar a agitação em meio a um período de instabilidade política, porém a Russia ganharia um acesso ao sul da Ucrânia, deixando-a mais cercada e frágil.
A contraofensiva ucraniana até o momento parece não ter se efetivado, a região de Donesk que seria um possível alvo não tem se mostrado frágil, com a Rússia defendendo suas posições.
No plano da diplomacia internacional, começa a crescer um alinhamento ideológico, a chamada terceira via, que a China e também o Brasil seria parte, mostram-se cada vez mais próximas do discurso russo de territórios “conquistados” e o discurso da paz fica fragilizado.
A Europa fará nova reunião para a discussão da entrada da Ucrânia na zona do Euro, parece mais plausível que a entrada na OTAN, já que em seu estatuto nenhum país em guerra pode entrar, seria uma exceção grave e a Rússia entenderia uma declaração de guerra aberta.
Aberta porque o envio de caças e armamentos a Ucrânia já é um apoio declarado, os países, entretanto alegam que é para “defesa” do território, e por isto a entrada em território não é bem vista pelos países da OTAN, era condição inclusive para o envio de aviões de caças para a Ucrânia.
A semana será decisiva com a discussão dos países da zona do Euro, e a contraofensiva da Ucrânia, por enquanto muitos ataques a Kiev, alguns atingiram crianças e uma clínica.
Os acenos da paz são cada vez mais difíceis e menos eficazes, o que ocorre é um alinhamento forte em todos os níveis, do econômico ao político, cada lado tenta se fortalecer.
A contraofensiva e a ameaça russa
A semana promete ser tensa na guerra do leste europeu, a Ucrânia anunciou o início de sua contraofensiva e a Rússia ameaça retaliações pela ajuda do ocidente em armamento para esta nova fase da guerra.
A paz está muito distante, agora trata-se realmente dos territórios ocupados o ponto de discórdia, e toda a questão da ameaça das fronteiras e avanço da OTAN não é mais o ponto, ainda que seja tocado, os quatro territórios parcialmente ocupados: Lugansk, Donesk, Zaporizhzhia e Kherson são reivindicados por ambos países em guerra, além da Criméia.
Após vários países anunciarem armamentos e apoio financeiro a Ucrânia, as ameaças russas subiram o tom e ameaçaram com armas nucleares “estratégicas”, porém qualquer guerra a um dos países da OTAN é declarada imediatamente guerra a todos e o conflito poderá escalar.
Na província (oblats) Belgorod em território russo foi o primeiro conflito no interior do país nesta guerra, grupos anti-Putin anarquistas e de direita apareceram no cenário, indicando que algo já acontece dentro da Rússia, o governo russo diz estar sob controle, porém evacuou a região.
O cenário é bastante preocupante, porque uma escala da guerra e um possível conflito em solo de países da OTAN poderá significar um início aberto de uma terceira guerra mundial, as ameaças russas não parecem um blefe, mas uma resposta a ajuda do ocidente que prolonga a guerra e dá uma sobrevida para as forças ucranianas em conflito.
O deslocamento de armamentos nucleares da Rússia para a Bielorrússia e navios de guerra nos oceanos indicam que o perigo de resposta ao Ocidente é real e poderá acontecer.
Ainda que na guerra da Ucrânia tenha sido demonstrado que há capacidade bélica para interceptar os misseis hipersónicos russos, com cargas nucleares não importam onde sejam detonadas elas causarão um efeito devastador ao meio ambiente e a vida humana.
Restam aos que desejam a paz pedir que cessem os conflitos e que os homens retornem a serenidade e ao respeito da vida humana e da natureza.
A ascese como elevação humana e espiritual
Não é específica de uma religião e também está definida na filosofia, do grego áskesis, “exercício espiritual”, derivado de ἀσκέω, “exercitar”, consiste em uma prática ou mais práticas que propiciam o desenvolvimento espiritual, a simples ideia de renúncia ao prazer ou as necessidades primárias, deve ser vista dentro de contextos ou períodos determinados, portanto não é normal geral e também seu contrário não significa apenas pecar, mas se deteriorar, enfraquecer ao deixar de fazer determinados exercícios.
Peter Sloterdijk, um agnóstico, fala desta ascese despiritualizada, no sentido que somos uma sociedade de exercícios, mas que eles não propiciam nem uma elevação humana nem espiritual, um claro exemplo disto é o número de academias que crescem no país e em muitos lugares do mundo, outro exemplo são as demonstrações de virilidade como uma elevação humana, claro é importante cuidar da saúde, mas algumas vezes excesso de exercícios e remédios fazem o contrário.
Do ponto de vista humano o que experimentamos é uma decadência que vai da moral ao religioso, assuntos tão claros até recentemente, hoje são vistos como tendo controvérsias quase absurdas a ponto do imoral ser considerado “normal” e “humano” e o religioso ser identificado com atrocidades.
A série crise humanitária não poderia deixar de atingir o econômico, não se trata das simples crises de mercados, elas estão no epicentro das guerras e das falácias econômicas, não é preciso ser economista para ver que formulas simplistas não funcionam em nenhum dos extremos: o capitalismo selvagem e o socialismo sem liberdade e sem qualidade humana.
Parece difícil reconhecer o que seria então uma verdadeira espiritualidade, mesmo havendo o princípio da ascese que significa a elevação humana nas relações sociais e na dignidade inerente a todo ser humano, no respeito a natureza e na preservação de seus benefícios, enfim no amor a vida.
Até mesmo para o conceito de paz voltamos na história, a pax romana parece ser o princípio para muitas guerras, qual seja aquela que submetia os territórios “inimigos” para declarar a paz, nem mesmo a paz eterna do idealismo contemporâneo é reivindicada, embora também tenha limitações (na foto, foto do brasileiro Felipe Dana ganhador do prémio Pulitzer).
É prenuncio de grandes tragédias, incluindo a guerra, o que se espera é que de alguma forma forças que ainda tenham um fundo humano e espiritual possam interpor esta realidade contemporânea e reverter o quadro perigoso que todos enfrentamos e poucos trabalham para sua reversão.