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A amizade e a espiritualidade
A filosofia idealista coloca amgio e amizade em uma relaçãofilosófica ideal, Aristoteles no entanto adverte: “o amigo se faz rapidamente, já a amizade [e um fruto que amadurece lentamente”, o mesmo pode-se dizer da espiritualidade, reconhcer que temos uma parte espiritual e que ela é em parte humana, exige um exercício de espiritualidade.
Foi Sloterdijk, um dos grandes pensadores da Alemanha atual, que alertou que vivemos numa “sociedade de exercícios”, porém alerta que ela é desespiritualizada.
A alta espiritualidade antes de atingir o divino, deve passar por etapas anteriores na relação com o Outro, aquele que não é espelho, que não tem os mesmos valores que nós e esta relação pode evoluir ou obstruir, sendo mais difícil quando há uma obstrução manter uma relação de respeito e de cordialidade, pois a amizade e o amor ficam mais distantes.
É possível amar quem a tudo obstrui, sim é possível primeiro manter o respeito, depois separar aquilo que são valores e exercícios reais de espiritualidade e o que é só interesse.
Neste ponto a amizade tem uma relação muito próxima ao espiritual, pode-se dizer que há além da amizade, a reciprocidade, um fluxo contínuo de relação entre pessoas boas, aquilo que Aristóteles definiu como amizade verdadeira, ela só existe entre homens bons (e justos).
Somente com homens bons a sociedade se salva, diz uma curiosa passagem bíblica sobre Sodoma (Gn 18,20-32) na qual Abraão pergunta a Deus se com um número pequeno de homens justos a sociedade se salvaria, e vai reduzindo o número porque sabe que alí há poucos.
Não há sociedade justa sem homens justos, não há amigos sem exercícios de amizade, e só a partir de uma verdadeira reciprocidade uma amizade pode chegar ao nível do espiritual.
Para quem crè diz o versículo bíblico, explica o mestre diante desta questão (Lc 1,5-8): “Se um de vós tiver um amigo e for procurá-lo à meia-noite e lhe disser: ‘Amigo, empresta-me três pães, 6porque um amigo meu chegou de viagem e nada tenho para lhe oferecer’, e se o outro responder lá de dentro: ‘Não me incomodes! Já tranquei a porta, e meus filhos e eu já estamos deitados; não me posso levantar para te dar os pães’; 8eu vos declaro: mesmo que o outro não se levante para dá-los porque é seu amigo, vai levantar-se ao menos por causa da impertinência dele e lhe dará quanto for necessário”.
Se alguém quer atingir a reciprocidade deve dar passos em respeito e amizade primeiro e o nível mais alto de espiritualidade é respeitar e amar os inimigos.
Os conceitos idealistas da amizade
Postamos que se trata de um exercício de retórica, porém como qualquer filosofia há uma origem seminal de determinado pensamento, Nietzsche parte da metafísica platônica afirmando que o jogo entre amigos da filosofia possuia um vício de concepção que seria a vontade da verdade, ora foi justamente ela que há uma crítica aos sofistas a relativizam.
Partindo deste princípio Nietzsche vai afirmar que o filósofo deve praticar certa “arte da desconfiança”, sendo o seu principal instrumento o martelo (Niettzsche em “Alem do bem e do mal”).
Deleuze afirma que Foucault teria declarado que “Heidegger sempre o fascinou, mas que somente podia compreendê-lo por meio de Nietzsche, com Nietzsche (e não o inverso)” (Deleuze, 1986, p. 120-121) e ainda que “seguramente, ao lado de Heidegger, mas de uma maneira totalmente diversa, aquele que mais profundamente renovou a imagem do pensamento” (Deleuze, 1990, p. 130-131).
Voltando a questão inicial que é a amizade verdadeira, afinal se é ela e não outra coisa que permite fazer uma ampla relação entre os diversos conceitos de amigos na filosofia, sendo ela própria por definição (filo-amigo) sofia (sabedoria).
É assim que Deleuze e Guattari desenvolvem a questão da amizade, considerando os diversos pensadores, o amigo é para ele sendo mais textuais é um “traço de personagem conceitual” que tem a ver com “personagens psicossociais” (Deleuze, Guattari, 1991, p.68)
Conforme dissemos é um esvaziamento do conceito de amigo, transformado em um objeto de reflexão subjetiva, por isto dizemos que são conceitos idealistas, mesmo abordando autores claramente não idealistas como Heidegger e Nietzsche.
Voltamos ao conceito aristotélico que diferencia a amizade por prazer ou por utilidade, da amizade verdadeira e portanto a questão da verdade é essencial, e mesmo Platão a considerou, embora divida o mundo das ideias (eidos para os gregos) e mundo sensível.
Também o conceito de próximo (aquele que está dentro de um afeto amplo de amizade) e o sócio (aquele ao qual nos associamos por determinada felicidade), conceitos de Paul Ricoeur são pontos a nosso ver essenciais para a reflexão sobre amizade.
DELEUZE, Gilles. Pourparlers Paris: Minuit, 1990.
DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Qu’est-ce que la philosophie? Paris: Minuit, 1991.
A amizade e conceitos
Já postamos e exploramos os conceitos de amizade em Aristóteles por prazer, por interesse e as amizades verdadeiras, também destacamos a diferença entre o sócio e o próximo (o texto de Paul Ricoeur) onde no primeiro caso há apenas interesse e uma vez terminado a amizade se encerra ou diminue.
O que queremos explorar um pouco agora é o que significa num mundo individualista onde o interesse impera qual é o conceito de migo e da amizade.
Numa outra perspectiva, na qual Deleuze e Guattari chegam a dizer que o amigo e a amizade são preocupações “ausentes” no pensamento filosófico, e fala como uma rara exceção o livro “A amizade de Maurice Blachot”, porém já há na base deste discurso uma clara distinção entre amigo e amizade.
Assim o filósfo é “amigo” da sabedoria (philos- amigo e sophia- sabedoria), porém há uma obrigação compulsória devido a “amizade” ser objeto desta relação, e assim só estes amigos poderiam participar da amizade, ou seja, há uma exigência de sabedoria.
A base deste conceito está no “olhar” de uma pretenso “sábio”, assim são conceitos dentro de cada um, são os olhos ou olhar de cada um sobre outra pessoa, mas este olhar é uma sensação que não vem dos olhos dos sentidos ou dos sentimentos pessoais, assim são um olhar de ninguém, uma exigência de observação, um selfie que deve ser visto por outro.
Mas como se pode ser amigo não sendo ninguém? Esta indagação faz mais sentido quando se trata de uma dimensão num plano altamente diferenciável, e assim pode ser vista em determinados contextos históricos, políticos e até religiosos, onde cada pensador é tomado individualmente como sendo portador de um “olhar” de sábio, ou de pretensa sabedoria.
Pode-se ilustar com o próprio Guattari e Deleuze, e assim podemos dividir a amizade em conceitos de contextos diferentes: a grega, a nietzscheana, a heideggeriana e a foucaultiana.
Tal indagação visa a explorar o território da amizade como conceito, pois se, como afirmávamos, trata-se de uma dimensão ou plano altamente diferenciável, então, pode-se detectá-la em certos períodos históricos ou mesmo em cada pensador tomado individualmente. Procuraremos, em seguida, definir e ilustrar, a partir dos elementos que acabamos de emprestar a Deleuze e Guattari, de modo apropriado à extensão do presente artigo, quatro tipos de amizade do conceito, a grega, a nietzscheana, a heideggeriana e a foucaultiana, mas é só um exercício retórico.
Pode valer a pena como exercício de pensamento, a amizade é simples e pode haver e há, entre pessoas simples e de pouca cultura livresca, e pode não haver entre “cultos”.
Arrisco dizer que há mais amizade verdadeira entre pessoas simples, que o diga Heidegger em seu Caminho da Floresta no qual convive com pessoas muito simples.
A peste, a guerra e a fome
Este circulo vicioso parece perpetuar-se na história, e os dados e provocações recentes da guerra na Europa não apenas assustam, mas causam um medo justificável quando se observa que por todo o mundo há “torcidas” de ambos os lados, e não é jogo, mas um grande genocídio como qualquer outra guerra, porém de proporções maiores porque pode envolver as maiores potencias mundiais.
A geração que assistiu os horrores das duas primeiras guerras já não a tem em mem[oria, contando a partir da data de início, o assassinato do Duque Francisco Ferdinand em 1914, por um nacionalista sérvio e que é considerado o estopim da primeira guerra.
O que a precedeu foi um período da política européia de 871 a 1914 chamada de “Paz Armada”, onde há um acirramento de disputas de mercados, territórios coloniais e uma visão do predom[inio na geopolítica européia, onde se destacava o Império Austro-Hungaro do qual Francisco Feerdinad era herdeiro.
Um documentário sobre como se deu a escalada nazista na Alemanha, pode ser visto num documentário feito pelo History Channel, e veremos um cenário parecido: recentimentos de guerras, crise econômica e não citado no documentário: a gripe Espanhola (1918-1919).
O paralelo com o crescente acirramento entre a OTAN e a Russia na guerra atual da Ucrânia é evidente, e por tanto o temor de uma guerra de proporções civilizatórias deve ser temido, inclusive com a inclusão de separatistas sérvios, aos quais a China é acusada de enviar armas.
O cenário futuro é de uma crise de mercados, em especial, de grãos que vão afetar, em especial, os mais pobres, já é um cenário visível para muitos analistas. Relatórios do índice global da fome mostram que conflitos violentos contribuem de modo decisivo para a fome (foto).
As proporções civilizatórias deve-se número n]ao apenas de armas nucleares, mas de mais de 400 usinas nucleares espalhadas por todo o planeta, o documentário sobre o que pensavam os naziNãostas ajuda a refletir sobre nossos pensamentos sobre “mitos” e “fantasias” populares.
Não há uma força vigorosa que lute pela paz, porém pequenas atitudes como gestos de empatia e amizade podem ajudar a superar o crescente clima de ódio e desamor atuais.
Guerra nas estrelas e as primeiras imagens do James Webb
A Rússia está desenvolvendo uma estação orbital capaz de destruir satélites em órbita, é uma referencia clara ao StarLink de Elon Musk e outros satélites que transmitem sinais e imagens-alvo no solo.
Em novembro do ano passado a Rússia testou com sucesso, a destruição de seu próprio aparelho espacial inoperante “Tselina-D” que estava em orbita desde 1982, o míssil foi lançado do solo.
De acordo com o general David Thompson, vice-líder de operações da Força Espacial dos EUA, em declaração ao Washington Post, os satélites americanos sofrem ataques da China e da Rússia “todos os dias”, assim a guerra já extrapola o planeta, enquanto as guerras em solo se prolongam.
Por outro lado, hoje é dia das primeiras fotos observadas pelo telescópio James Webb, às 11 horas do Brasil, uma delas será a nebulosa Carina (foto feita pelo Hubble acima), localizada a 7.600 anos-luz, onde o objetivo e entender o nascimento dos sóis, que nesta nebulosa são imensos e em quantidade.
De um lado o nascimento e de outro a morte de estrelas, outra imagem do James Webb será a da nebulosa do Anel do Sul, uma imensa nuvem de gás que cerca uma estrela moribunda e está a cerca de 2.000 anos-luz da Terra.
Um terceiro alvo é histórico, é o Quinteto de Stephan, primeiro grupo compacto de galáxias que foi descoberto em 1787, um período ainda com telescópios limitados e que se encontra na constelação de Pegasus.
Usando uma técnica especial de espectroscopia, que permite ver a composição química de um objeto distante, um planeta gigante chamado de WASP-96 b, descoberto em 2014 e que está a 1.150 anos-luz do nosso planeta.
O quinto alvo, não necessariamente nesta ordem, será a utilização de um aglomerado de galáxias, o SMACS 0713, que funciona como se fosse uma lupa cósmica e permite enxergar outras galáxias atrás, e que será para os astrônomos a experiência mais fantástica.
De um lado aprisionados e em guerra em nosso minúsculo planeta com ameaças de guerra, e outro um olhar para o infinito que deveria nos fazer abrir a mente e a alma para um futuro promissor.
Covid em alta e novas variantes
A Covid 19 continua em alta no país sob o olhar despreocupado das autoridades, são raros os ambientes onde os protocolos são respeitados, e os números de novas variantes já apareceu.
Segundo estudo da Fiocruz as novas subvariantes BA.4 e BA.5 que eram cerca de 8% em maio subiram para um percentual de 25% em junho, porém não é apontado a questão de letalidade, porém a transmissibilidade é tão alta como as variantes anteriores.
A única citação que encontrei na área médica foi do imunologista do Centro de Inovação biomédica da Pioneira Universidade de Pequim, na China, que afirma que estas variantes são “certamente” é mais infecciosa em comparação as com as anteriores, mas é preciso mais estudos.
O cenário é semelhante em toda América do Norte e Europa e isto indica que as duas novas subvariantes devem se tornar dominantes no país, também a eficácia vacinal não é clara.
O que tem ajudado no Brasil é um inverno menos rigoroso, o que não piora as síndromes respiratórias, porém é prevista uma nova massa polar para o meio do mês e início de agosto.
No plano internacional, os especialistas mostram-se preocupados, porém enfatizam que as vacinas e os reforços não são completamente ineficazes, Dan Barouch, imunologista da Faculdade de Medicina de Harvard, afirmou em Boston: “A imunidade das vacinas atuais ainda deve fornecer proteção robusta contra doenças graves, hospitalização e morte”, é tranquilizadora.
Uma notícia ainda mais animadora foi publicada pelo National Geographic que além de noticiar que os fabricantes de vacinas conversam sobre uma vacina específica contra a Òmicron e segundo Stephen Zeichner, especialista em doenças infecciosas do Centro Médico da Universidade da Virgínia: “Está bem claro que o vírus continua evoluindo e, no futuro, existe a necessidade de uma vacina universal contra a covid 19 ou mesmo uma vacina universal contra os coronavírus”.
Até que tenhamos esta segurança, inclusive contra novas variantes, é importante manter os cuidados.
Consciência, verdade e clareira
Pode-se classificar consciência de diversas maneiras, porém ela distante do todo ao qual pertence o ente (identificado como realidade material na modernidade) ela esquece o ser, assim permanece oculto o que de fato é consciência e fica mais próxima da senticiência a qual se referem as a inteligência artificial e que poderia ser chamada de consciência maquínica.
A clareira que emerge do ser, já foi postado neste blog aqui, é aquela que está contida no contexto de um todo, e dela emerge o ser, e esta crítica pode ser estendida a toda modernidade, onde há uma fragmentação e tudo se refere a parte, muitas vezes até oposta ao todo ao qual pertence o ente, e dele emerge a questão do ser, conforme pretendia Heidegger.
Este todo é também reivindicado por Edgar Morin, que completa no dia de hoje 101 anos, e junto do Lima de Freitas e Barsarab Nicolescu escreverem na “Carta da Transdisciplinaridade” de Arrábida (1994) como “a ruptura contemporânea entre um saber cada vez mais acumulativo e um ser interior cada vez mais empobrecido leva a ascensão de um novo obscurantismo, cujas consequências sobre o plano individual e social são incalculáveis” (Arrábida, 1994).
Este tipo de consciência formal leva também uma noção não só de saber, mas também de cultura e até de religião a um desvio longe da clareira do Ser e sujeito a regras e preceitos formais, de Lei e saber em uma lógica aparentemente rigorosa, mas desumana e que oculta o Ser.
Na cultura significa limitar a concepção a um tipo particular de cultura, de uma única cosmovisão, que é válida, mas que não pode ser imposta a outras visões de mundo em especial, às originárias.
Aos cristãos a passagem bíblica que esclarece esta falsa consciência é a que Jesus é questionado por um mestre da Lei, especialistas em consciência formal, pergunta ao mestre o que precisa fazer para conquistar o reino divino, e Jesus diz numa linguagem moderna respeita o Outro e admite o Ser Divino por excelência, aquele que está é o Todo em uma cosmovisão monoteísta (Deus).
Porém a parábola do Bom Samaritano é dita logo em seguida e torna clara a consciência formal, diz a parábola que um homem foi assaltado e maltratado por assaltando e ficou a beira do caminho, passou um sacerdote e um levita (tribo de onde saiam religiosos daquele tempo) e se desviaram do problema, passou um samaritano (que era um povo sem religião e que não gostava dos judeus) e ofereceu ajuda, colocou óleo e vinho nas feridas, colocou em seu animal e levou-o a uma pensão pagando sua estadia e caso se prolongasse pagaria na volta.
Somente o samaritano teve uma atitude de consciência verdadeira com o homem, então Jesus disse aos que perguntavam como conquistar o reino divino “Vai e faze a mesma coisa” (Mt 10,37).
Polêmica da máquina consciente e algumas devaneios
Antes de qualquer polêmica é importante entender que a questão da ética está presente em todas equipes sérias de AI (Artificial Intelligence) e desde a conferência de na Suécia, diversas empresas e centros de pesquisa assinaram um acordo de não desenvolver máquinas letais em AI.
Jean-Gabriel Ganascia escreveu um importante livro sobre o Mito da Singularidade, o ponto em que a máquina ultrapassaria a inteligência humana e ele próprio tem um setor de ética em seu laboratório, como muitas equipes tem inclusive a Google.
Uma polêmica recente surgiu a partir de uma entrevista do engenheiro da Google Blake Lemoine ao Washington Post e ter definido a máquina de AI LaMDA (Language Model for Dialogue Applications) da gigante de buscas como tendo senciência, imediatamente a Google o afastou e através de seu porta-voz Brian Gabriel informou que as preocupações de Blake não estavam “de acordo com nossos princípios de IA e o Informou de que as evidências não respaldam suas alegações”, mas a polêmica continuou.
A primeira coisa a esclarecer é que senciência tem uma grande diferença de consciência, que significa que “perceber pelos sentidos [no caso das máquinas sensores [ou que ter impressões, enquanto consciência existem diversas definições, porém ficamos com a da fenomenologia que afirma que só se pode falar de consciência de algo, assim depende do fenômeno e da intenção.
Também para a fenomenologia, em especial para a ontologia de Heidegger sua descendente direta (Heidegger foi aluno de Husserl) o Ser é descrito como morada da linguagem, mas não se pode esquecer que linguagem para Heidegger tem uma função poética, ou seja, em um sentido mais amplo que o cotidiano.
Voltando ao sentido dos sensores, agora temos uma evolução da IoT (Internet of Things), pode-se pensar em expressões faciais, gestos e atitudes que possam identificar a senciência de uma máquina, porém a consciência de algo significa também para Heidegger, desvelar o oculto, aquilo que nos leva a uma clareira do objeto ou do fenômeno, a constatação de sua ex-sistência, seu Ser.
Sem apelo a filosofia, voltando ao cotidiano, é possível um comportamento humano que emite e que se desenvolva como máquina, uma robotização de nossas ações, o que inclusive é muito comum na modernidade, uma “mesmice”, a linguagem poética, a arte e a cultura vem em socorro.
Quanto ao aspecto técnico, é desejável que se conheça mais a fundo, enquanto o aspecto social não pode deixar de observar aspectos técnicos importantes e seus limites, claro, inclusive ético.
Aos que querem detalhes técnicos recomendo a entrevista que Melanie Mitchel concedeu a Zeeshan Aleem: Did a Google create a sentient program ?, há muita fantasia e ficção por ai.
As pontes de Konigsberg e o paradoxo da guerra
A cidade Königsberg (hoje Kaliningrado da Rússia) era uma cidade alemã da Prússia Oriental, depois da segunda guerra mundial perdeu a posse para a Rússia, que enviou colonos para lá, tinha antes da guerra 7 pontes e os habitantes se perguntavam se era possível fazer um passeio passando por todas pontes, passando uma única vez por todas elas.
O problema foi resolvido por Euler (que era suíço) construindo um modelo matemático que foi mais tarde chamado de grafo, onde nós e arestas se conectam, e que hoje é importante para pensar os modelos das Redes Sociais (que são as relações entre nós e que não são necessariamente feitos por mídias), e o fato de se voltar por um mesmo nó indica uma relação “social” de dupla direção, em certo sentido, de reciprocidade.
Euler provou que não era possível fazer o passeio sem passar duas vezes por uma mesma ponte, e no desenho do grafo você pode tentar fazer este exercício e perceber que de fato esta é a resposta.
A região hoje pertencente a Rússia é uma base militar fora da união soviética, já que Lituânia e Polônia estão no caminho, e a Bielorrússia embora seja aliada bélica da Rússia neste momento, embora muito próxima de Kaliningrado não tem uma passagem direta.
O problema da guerra se agravou quando a Rússia fez testes simulados com mísseis com capacidade nuclear em 4 de maio de 2022, e a Lituânia recentemente impediu que os trens que atravessam o país vindo da Rússia passem em seu território, confiscando os bens.
Assim as pontes que antes foram destruídas para passagem de armas militares na 2ª. Guerra mundial, agora se rompem num perigoso cenário onde relações sociais rompidas criam um novo paradoxo, pois Kaliningrado é na prática o ponto nuclear mais ao sul e próximo de países como a Alemanha, Reino Unido e França, e possui um arsenal nuclear considerável naquele “oblast” (espécie de estado, porém um exclave).
Recentemente, um ex-general e hoje deputado russo Andrey Gurulyov afirmou que o primeiro alvo numa provável 3ª. Guerra, seria Londres e que o conflito global surgiu a partir do bloqueio de Kaliningrado.
Faltam pontes e erguem-se muros, especialistas dizem que a guerra é improvável, tomara que seja, o maior paradoxo de uma guerra mundial hoje será a perda de uma perspectiva civilizatória
A antropotécnica: duas formas de dominação
Se há uma relação estreita do pensamento de Sloterdijk com Heidegger e algum paralelo com o pensamento de Hans Georg Gadamer, a ligação do pensamento alemão com nomes como Ernst Cassieer, Max Scheler, Arnold Gehler e Hellmuth Plessner nos leva tanto a uma antropologia filosófica como nos devolve a uma perspectiva quase esquecida das “ciências do espírito”.
Destes autores, alguns muito próximos dos projetos nazi, ele aproveita a ideia do homem como um ser deficitário, que não dispõe de meios naturais (garras, dentes ou chifres, por ex.) para defender-se e deve buscar em meios artificiais, mas não os diferencia dos meios “espirituais”
Não por acaso sua obra traça paralelos com Nietzsche do “Deus Morto”, a crítica ao humanismo de Heidegger, porém sua obra busca uma antropogênese original, e nela se insere a sua antropotécnica, especialmente o que está escrito em “Tens que mudar sua vida” onde diferencia duas formas de produção artificial do comportamento humano que floresceram desde a antiguidade nas chamadas “altas culturas”, sofrendo uma profunda transformação na modernidade, a primeira é a produção de alguns homens por outros homens, que ele chama de técnicas de “deixar-se operar”, enquanto a segunda é a produção dos homens a partir de si mesmo, que seriam então os “autos” – as técnicas de Operação” (Sloterdijk, 2009).
Sobre estes dois tipos de antropotécnicas ele se propõe a repensar, n uma base da antropologia filosófica, os conceitos foucaultianos de “biopolítica” e “estética da existência”, com ideias parecidas nestes dois polos, a domesticação do outro, por isto sua ideia do parque humano, e a autocolonização, que seu discípulo Byung-Chul Han chamará de autoexploração.
A diferença básica de Sloterdijk é a ideia de “Aperfeiçoamento do mundo” (Weltverbesserung) com base no aperfeiçoamento das populações que domina a teoria ocidental vindo desde de Platão é trocada por um “aperfeiçoamento de si mesmo” (Selbsverbesserung) e o faz com as “tecnologias do eu”, e para isto os homens o fazem como uma “sociedade de exercícios”.
Para Byung-Chul Han, estes exercícios são controlados por tecnologias do “self” que cada vez remetem a exercícios psicológicos, e assim chama-a de “psicopolítica” (Sloterdijk fez um ensaio em 2020), uma vez que acreditam que é a autorrealização que transforma sua vida, embora pratiquem uma “autoexploração”.
Tanto Foucault, como Sloterdijk e Byung Chul Han, e isto está na origem no pensamento de Nietzsche, que o surgimento de práticas ascéticas provocou uma antropogenese que dividiu os humanos em duas categorias: os virtuosos e os não virtuosos, enquanto na sociedade de exercícios, há uma asceses desesperitualizada.
É Chul Han chama a atenção para as categorias da vida ativa e a vida Contemplativa, a partir dos pensamento de Hannah Arendt e São Gregório de Nazianzo (ou nazianzeno), Sloterdijk fica preso a sua crítica a Scheler, que vê apenas a pessoa como “algo” além de seus atos, e nisto vê um “espirito”.
SLOTERDIJK, P. Tens de mudar sua vida. Lisboa: Relógio d´Água, 2018.