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Reformar o pensamento e a política

22 abr

Continuando a ler “A cabeça bem-feita” de Edgar Morin, no capítulo 5 – Aprender a viver, o autor destaca logo de início queCabeçaFeita a maior contribuição de conhecimento do século XX foi saber justamente os limites do conhecimento., depois de criar uma “viático” para enfrentar as incertezas, nada mais próprio para o mundo atual,  onde ele afirmar que a estratégia traz em si a consciência da incerteza que vai enfrentar e, por isso mesmo, encerra uma aposta (p.62), e encerra o capítulo trazendo uma reflexão que cada um deve estar plenamente consciente de que sua própria vida é uma aventura, mesmo quando mesmo tendo alguma pretensa segurança, deve estar plenamente consciente de participar da aventura da humanidade, que se lançou no desconhecido em velocidade, de agora em diante, acelerada (p.63) e a partir daí propõe sua cidadania.

No capítulo 6, “a aprendizagem cidadã” ele propõe que a educação contribua para a autoformação da pessoa (ensinar a assumir a condição humana, ensinar a viver) e ensinar como se tornar cidadão, que é também olhar para a democracia do futuro.

O cidadão é definido, em uma democracia, por sua solidariedade e responsabilidade em relação a sua pátria (p.65) e apresenta uma das maiores dificuldades em pensar o Estado-Nação reside em seu caráter complexo, pois ele é ao mesmo territorial, político, cultural, místico, religioso (p.66), será que hoje reconhecemos isto ?

Para há uma forte correlação entre desenvolvimento de nossa consciência e a consciência que habitamos nossa pátria terrena, que é olhar a todo o globo.

No capítulo 7, ele questiona os famosos “os três graus” da educação, passa a descrever chamado o ensino primário, onde as primeiras interrogações devem ser feitas, já no ensino secundário aprofundá-las para que o ensino universitário seja maduro.

Então a  finalidade da “cabeça bem-feita” é beneficiar um programa com um questionamento que parte do ser humano, ou seja seria através das interrogações do ser humano, que se descobre sua dupla natureza: a biológica e a cultural (p.75).

É preciso, pois, compreender a causalidade mútua inter-relacionada a causalidade circular (retroativa, recursiva) e as incertezas da causalidade. Desta forma, formar-se-á uma consciência capaz de enfrentar complexidades (p.76-77).

No capítulo 8, “a reforma do pensamento” Edgar Mohin retoma o segundo e o terceiro princípios do Discurso sobre o Método que regem a consciência científica. O segundo princípio é tido como princípio da separação; e o terceiro como princípio da redução (p.87).

.    O pensamento que une substituirá a causalidade linear e unidirecional por uma causalidade em círculo e multirreferencial; corrigindo a lógica clássica pelo diálogo capaz de conceber noções complementares e  até antagonistas, e completará o conhecimento da integração das partes em um todo, pelo reconhecimento da integração do todo no interior das partes (p.92-93).

No capítulo 9 “Para além das contradições” Morin nos apresenta os problemas da educação na contemporaneidade. Esses problemas, segundo o autor tendem a ser reduzidos a termos quantitativos: “mais créditos”, “mais ensinamentos”, “menos rigidez”, “menos matérias programadas”… sair dessa reforminhas que camuflam ainda mais a necessidade de reforma de pensamento (p.99).

Morin reforça a tese que vem sendo discutida em todo livro: não se pode reformar a instituição sem prever a reforma das mentes, mas não se podem reformar as mentes sem uma prévia reforma das instituições (p.99).

Boa leitura, há um acesso aberto do livro. “A cabeça bem-feita”.

 

Reformar o pensamento: o mais difícil

21 abr

Entre as várias crises que enfrentamos, já chamada de policrise pelo educador e pensador Edgar Morin, um dos aspectosCabeçaBemFeita mais profundos é o da reformar o pensamento, e quase tudo que está nos moldes do pensamento moderno ou pretensamente pós-moderno está em crise.

O livro A Cabeça bem-feita de Edgar Morin é uma formula breve, mas difícil, de partir de um ponto relativamente simples, afirmar o educador, que por sugestões de Jack Lang, o  então ministro da Educação na França, imaginou fazer inicialmente um “manual para alunos, professores e cidadãos”, (Morin, p. 9) projeto que reformou e continuou, propôs superar a atual fragmentação do conhecimento através do pensamento complexo, passando por uma reforma do pensamento por meio do ensino transdisciplinar, capaz de formar cidadãos planetários, solidários e éticos, aptos a enfrentar os desafios dos tempos atuais.

O capítulo I apresenta os desafios, conectando saberes separados em disciplinas, propondo reuni-los em conteúdos mais polidisciplinares, transversais, multidimensionais, transnacionais, globais, planetário (Morin, p.13).

O capítulo 2 é o coração do livro, por isto intitulado a cabeça bem-feita, o filósofo Edgar Morin introduz a citação de Pascal “Não se ensinam os homens a serem homens honestos, mas ensina-se tudo o mais”, não é uma frase por acaso, mas revela a profunda crise moral que todos enfrentamos, não no Brasil, mas em nível planetário, então aonde pessoas honestas podem encontrar refúgio para enfrentar a parada.

No capítulo o capítulo ele explica como uma aptidão geral de inteligência, pode tornar-se apta para colocar e tratar os problemas de maneira organizados e que permita estabelecer ligação entre os saberes e dando-lhes sentido (p.21).

No capítulo 3 o autor trata da condição humana, assunto já tratado por Hannah Arendt e que é ligada e parte da retomada ontológica, mas que não depende só de reflexões filosóficas e literárias, mas depende das ciências naturais renovadas e reunidas, de assunto que são pouco antropocêntricos, mas ligados ao home: a Cosmologia, as ciências da Terra e a Ecologia (p.35).

Neste capítulo o ser humano é revelado em sua complexidade: ser, ao mesmo tempo, sendo totalmente biológico e totalmente cultural (p.40), poderíamos então repensar a cultura.

No capítulo 4 Aprender a viver, Edgar Morin nos apresenta o pensamento do filósofo Émile Durkheim “o objetivo da educação não é o de transmitir conhecimentos sempre mais numerosos ao aluno, mas o de criar nele um estado interior e profundo, uma espécie de polaridade de espírito que o oriente em um sentido definido, não apenas durante a infância, mas por toda a vida” (p.47), paro por aqui porque reformar o pensamento é uma revolução.

Quem quiser ler, há um pdf disponível na internet, mas é preciso ter “A cabeça bem-feita”.

 

Operadoras continuam a crescer e faturar aqui

20 abr

O grupo Telefônica, sua filial brasileira é dona da Vivo,  já havia anunciado o aumento de capital para cerca deGVT 3 bilhões de euros (em torno de R$ 9 bilhões) que serviu para financiar a fechar negócio com a operadora de banda larga brasileira GVT do grupo francês Vivendi.

A compra acertada com a Vivendi é em torno de 4,66 bilhões de euros (perto dos R$ 15 bilhões) segundo informações em diversos veículos à vista, que significa cerca de 12% da Telefônica brasileira, ou seja continuam ganhando dinheiro fácil aqui.

A Vivo tinha uma pequena dificuldade junto ao CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), pois existem operações concorrentes da TIM em seletas cidades do estado de São Paulo, e a GVT entrou a pouco tempo neste mercado mas com preços agressivos, mas ainda a cobertura e base de clientes é baixa, de forma que a unificação ainda não garante uma melhora do serviço no estado de SP.

Então qual o sentido da aquisição da GVT, as operações fixas da Vivo se concentram apenas no estado de São Paulo, integrando a GVT aos seus negócios, ela passa a ter uma presença em diversas capitais do país e operará com TV por assinatura, telefonia fixa, móvel e banda larga, ampliando o leque de serviços.

Esperamos que isto resulte em algum ganho de preço e melhora de serviços.

 

Maquiavel e maquiavelismo

17 abr

Por imaginar situações políticas instáveis e como era possível torna-las estáveis, Maquiavel que vivem de 1969 a 1527, períodoOPrincipe em que se estabelecem os primeiros governos estáveis em muitos pequenos estados europeus, mas quase sempre governado por um príncipe com poderes absolutos, no entanto, envoltos em grandes problemas e instabilidades, este foi o contexto em que Nicolau Maquiavel escreveu sua principal obra “O príncipe” (1513).

Maquiavel tenta responder questões ainda hoje pertinentes: que vícios e virtudes são toleradas em governantes, faz um apelo a humanidade do governante da seguinte forma: todos dirão que é louvável encontrar em um príncipe somente as qualidades consideradas boas, dentre todas aquelas supracitadas, mas não sendo possível possui-las, nem inteiramente observá-las, porque a condição humana não o permite, é necessário que ele seja tão prudene que saiba fugir à infâmia daqueles vícios que o fariam perder o poder: e se possível evitar também os vícios que não lhe tiram o poder, mas não o conseguindo, pode se abandonar a eles sem atribuir-lhes importância.

Assim ao mesmo tempo que ele admite vícios benéficos, ele afirma que uma moral ordinária poderia levar a destruição do Estado, assim Maquiavel admite atitudes políticas que possam ser consideradas vícios, mas vê que há um tipo de vícios que não é aceitável ao Estado.

Trocando em miúdos é aceitável alguma dose de favorecimentos devido a presença no Estado de uma pessoa comum que possua vícios, mas não é aceitável que todo e qualquer tipo de falta de moral seja encontrado em governantes porque pode levar a destruição do Estado.

Para avaliar homens comuns temos que ter critérios claros de juízo, coisas que seriam aceitas em pessoas comuns e, portanto toleráveis em governantes e coisas que em governantes não seriam admissíveis, assim diz o autor do Príncipe: “existem qualidades que têm aparência de virtude, mas levam o príncipe a ruína; e outras que, sob a aparência de vício, produzem a sua segurança e o seu bem-estar”, claro que é o bem esta político e não o seu bolso.

Não são aceitáveis aqueles vícios, que para manter o bem estar, destroem o bem estar do Estado e consequentemente de todo o povo, enfim a arte de governar deve ter princípios.

 

Filosofia, história medieval e um livro

16 abr

Recebi para avaliação o release e a capa do livro que está sendo lançado pela M Books do Brasil, de Anne Rooney: AHistoriaFilosofia A História da Filosofia, a autora é professora em Cambridge no Trinity College, e fez mestrado e doutorado em Literatura Medieval, assunto para poucos, e que quase sempre esbarra em preconceitos e julgamentos, sendo membro de diversos órgãos ingleses como a Royal Literature Society.

Ao contrário do que imagina a vã filosofia, a literatura e filosofia medieval é riquíssima e não é apenas religiosa, pois foi neste período que se refez toda uma releitura da questões de fundação do pensamento ocidental, e em período de crise deste pensamento, leia-se em Edgar Morin a sua policrise e a crise do pensamento, retomar os aspectos da Metafísica, Epistemologia, Lógica, Ética e Estética, devem ser retomados de modo profundo no percurso humano.

Conforme aparece na abertura do livro: fazer perguntas é essencial, e a forma de apresentação “é concisa em explicações e um grande número de exemplos”, com as principais tentativas de respostas colocadas pelos filósofos na nossa história.

Como era de esperar explora aspectos centrais da filosofia tanto na metafísica quanto na ética, e é particularmente interessante sua desenvoltura em Ciências, Artes e Tecnologia, assuntos de grande dificuldade de abordagem na contemporaneidade, nos quais ela já é autora de vários livros.

É uma leitura que pode auxiliar a reflexão sobre questões do pensamento nos dias atuais.

 

Ambivalência e poder: fragmentação do Ser

15 abr

Num caminho contrário ao Outro de Martin Buber, Emmanuel Lévinas e Paul Ricoeur, o filósofo da liquidez Zygmunt BaumanAmbivalencia articula o conceito de Outro com direto a estranheza, assim proferido: “O direito do Outro à sua estranheza (strangerhood) é a única maneira pela qual o meu próprio direito pode expressar-se, estabelecer-se e defender-se” (Bauman, Modernidade e Ambivalência, p. 236).

Para Bauman a ambivalência no plano intelectual teria nascido de uma redifinição da ordem social por uma “sociabilidade densa” pré-moderna, com vista a instauração de uma ordem racional secularizada: “… a época moderna definia-se a si própria, antes de mais, como o reino da Razão e da racionalidade, consequentemente, todas as outras formas de vida eram tidas como destituídas das duas” ( Legisladores e interpretes. Modernidade, pós-modernidade e intelectuais, p. 111), artifício engenhoso mas mentiroso, Foucault tem outra tese:

“O século XVIII foi o século da disciplinarização dos saberes, isto é, da organização interna de cada saber como uma disciplina, tendo, no seu próprio campo e simultaneamente, critérios de seleção que permitem afastar o falso saber, o não-saber, formas de normalização e de hemogeneização dos conteúdos, formas de hierarquização e, por fim, uma organização interna de centralização desses saberes em tornode uma espécie de axiomatização do fato” (Foucault, Il fault défendre a la Societé. Cours au Collége de France, p. 161-162).

O indivíduo de Bauman, moderno por excelência, está entregue à vigilância panoptica, um corpo sitiado, que dentro de uma sociedade perfeita necessitaria de sistemas de exclusão que paradoxalmente fariam uma “des-ambivalência” para tornar a convivência social possível.

Bauman usou o judeu como um exemplo extremo de ambivalência, assim o estranho por excelência seria o louco, sobre o qual recairiam todos os sistema de exclusão (Bauman usa as categorias fábrica de exclusão e imobilidade, quando fala de mundialização).

Criticando a plena forma, que também seria algo ambíguo, ele cria a ideia de um corpo em estado de sítio: “A envergadura da tarefa, agravada a seguir pela sua ambivalência intrínseca, alimenta uma mentalidade sitiada: eis o corpo, e em particular a sua plena forma, ameaçado por todos os lados” (Bauman, A vida fragmentada, p. 127).

Ora a própria especialização dos saberes tornou a vida fragmentada e não o indivíduo que é vitima disto, mas há hoje diversos saberes integradores, ver Edgar Morin e sua complexidade.

Bauman resolveu de modo confuso reabilitar as novas filosofias da história universal, para isto concedeu aos intelectuais o papel de interprete deste contexto de pluralismo, nada mais idealista, elitista e impróprio da pós-modernidade que reivindica os direitos do homem comum, do homo sacer, da “multidão” e da democracia de fato (Odio a Democracia de Ranciére).

Pretender neste fim de século alguma espécie de “conversão civilizada”, estabelecendo “A função política do intelectual” não mais em termos de “ciência/ideologia”, mas em termos de uma nova “verdade/poder”, qual verdade e qual poder ? talvez algum guru definirá.

 

Morre Eduardo Galeano: político e poeta

14 abr

eduardo_galeanoLi na minha juventude “As veias abertas da América Latina” e não leria de novo, aliás nem tenho mais o livro, outros guardei, fiquei feliz em saber que o próprio autor não leria.

Também Eduardo Galeano superou o maniqueísmo político, afirmou no final da vida “Em todo o mundo, experiências de partidos políticos de esquerda no poder às vezes deram certo, às vezes não, mas muitas vezes foram demolidas como castigo por estarem certas, o que deu margem a golpes de Estado, ditaduras militares e períodos prolongados de terror, com sacrifícios e crimes horrorosos cometidos em nome da paz social e do progresso”, muita gente quer o fim da corrupção no entanto, falta de liberdade não é bom para ninguém, nenhuma ditadura prosperou, isto é insanidade e de certa forma irresponsabilidade.

Eduardo Galeano afirmou também: “em alguns períodos, é a esquerda que comete erros gravíssimos”, o poeta português Manuel Alegre, socialista afirmou coisas parecidas:  “a esquerda está coxa porque não dialoga” na eleição em Portugal em 2010, e depois “A esquerda tem que fazer uma autocrítica sobre o que está acontecer na Europa”, já no Brasil seguimos a conversa do faz de conta, ninguém tem coragem de dizer a verdade.

Em 2009, durante a 5ª Cúpula das Américas, o ex-presidente da Venezuela Hugo Chávez deu uma cópia do livro de presente ao presidente dos Estados Unidos Barack Obama, e sobre o episódio, perguntado por um jornalista Galeano respondeu que nem Obama nem Chaves entenderam o livro: “Ele (Chávez) entregou a Obama com a melhor intenção do mundo, mas deu de presente a Obama um livro em uma língua que ele não conhece. Então, foi um gesto generoso, mas um pouco cruel”, falta generosidade, inteligência e política com P maiúsculo de Polis e de Poeta, vive poraí o Zoé aristotélico.

Domingo meu Corinthians joga contra o Palmeiras, se perder espero que ao menos jogue um bom futebol, se o Palmeiras jogar bem vai merecer ganhar, e isto não é Política, mas tem que gente que torce para os partidos assim.

 

A web obscura: a deep web

13 abr

A humanidade possui uma lado obscuro e também a informação pode ser usada por este lado obscuro do ser humano, SeuComputadora imprensa marron é uma destas possibilidades, jornais, revistas e até canais de TV lançam no ar programas sensacionalista, com fatos sangrentos, casos de crimes que chocaram cidades, regiões e até países e o globo todo, pelo fato que isto garante audiência fácil e alimentam um lado mórbido de muitas pessoas.

A Web não fica de fora, e através do anonimato é possível acessar dados e sites que não são facilmente acessíveis para obter informações produtos, livros e até mesmo relações que são consideradas ilegais e que neste universo sombrio são veiculadas.

Existem lojas, sites e informações sobre produtos ilegais como drogas, na Deep Web se vendem livros de “imortalidade”, contam ilegais de canais de filmes ou de músicas, loterias que você aposta em Bitcoin (moeda da internet) sem pagar qualquer imposto e muitas outras coisas estranhas, como fazer qualquer objeto que pedir em uma impressora 3D e receberá em sua casa por determinado valor.

Há imensos benefícios que a internet e a Web trouxeram, o maior deles é o acesso a informações que deveriam ser públicas, como as contas e contratos de todos os serviços públicos, em especial, quando envolvem a contratação de terceiros, o controle mundial disto poderia diminuir enormemente a corrupção em todo o planeta.

Os jornalistas investigativos, que visa a colaboração entre jornalistas para informações sobre esquemas de corrupção e de mal uso de contas públicas é um bom exemplo disto, também pessoas como Edward Snowden, que apesar de ter trabalhado em questões sigilosas dos governos resolvem por um ato legítimo denunciar ações ilegais que os estados cometem, são um exemplo contrário a “deep Web”.

Há um lado obscuro em toda a humanidade, a internet e a Web não são exceção.

 

Entre as técnicas e o humanismo

10 abr

Seria a técnica uma espécie de condição humana ou estaria ela separada do homem ? Heidegger e Sloterdijk abraçaram estaParqueHumano questão pirmeiro entendendo que a modernidade já cumpriu uma de suas promessas, abrindo novas possibilidades do estar-no-mundo (uma das traduções possíveis do dasein),mas passados milhares de anos o homem conseguiu uma promessa: distinguir-se radicalmente deste mundo, não como um sujeito autônomo e longe de suas circunstâncias mundanas, mas como ser junto a outros seres, animados ou só coisas.

O homem também conquistou aquilo que sonhavam os realistas não mais como tendo uma interioridade elevada que pudesse servir como abrigo, fugidio deste mundo, onde ele poderia eventualmente escolher aquilo que desejasse ser, ultrapassando o ser animal, o zoé.

Mas se Heidegger parou nas suas reflexões sobre a modernidade técnica, uma das diversas liquidez de Bauman, que lançaria o homem a beira do abismo aberto pelo desocultamento técnico desenfreado, Sloterdijk tenta alcançar o outro lado, sem medo de ver a técnica como feita para “melhorar o homem” de suas condições imunológicas.

Assim surge o seu antropotécnico, ou ainda o complemento deste que seria o onto-antropotécnico, não de seres ciborgues e do técnico avançando sobre a privacidade e o olho-no-olho de humanos, utilizando para isto um conceito de “espuma” ., o que quer dizer que a “sociedade” não pode mais ser entendida “de fora”, seguindo assim uma conceituação hierárquica e geral, mas vista “de dentro” como um conjunto de subculturas, comunidades e redes, formando um conjunto de unidades isoladas, mas conectadas midiaticamente, o que significa técnica desde sempre.

E se ela precisa ser interpretada “de dentro” como conjunto de subculturas, comunidades e redes, um conjunto de unidades isoladas, elas já não podem ser pensadas fora do que é a técnica desde o início, envolta de humanidade e “de dentro” da questão atual, numa linguagem menos filosófica próxima dos jovens: não há um mundo B.

É pela noção heideggeriana de linguagem como casa do ser que o homem pode passar a existir por ser a linguagem (a fala, em Ser e tempo) guardadora da verdade do ser. O processo de cuidado do homem com sua formação (Bildung) na saída em direção à clareira gera, em Sloterdijk, uma antropotécnica, a qual constitui uma onto-antropologia, ou se preferirmos, uma antropotécnica, no sentido antrópico.

O jovem filósofo argentino Fabian Ludueña, aproxima a visão antropotécnica da biopolítica e também da condição humana de Hannah Arendt, define ele: “técnicas mediante as quais as comunidades da espécie humana e os indivíduos que a compõem atuam sobre sua própria natureza com o fim de guiar, expandir, modificar ou domesticar seu substrato biológico com vistas à produção daquilo que, primeiro, a filosofia e logo as ciências biológicas e humanas costumam denominar ‘homem’ ”.

Ludueña, Fabian.  O (des)governo biopolítico da vida humana, XI Simpósio Internacional IHU, 2010.

Sloterdijk, P. Regras para o parque humano: uma resposta à carta de Heidegger sobre o humanismo. São Paulo: Estação Liberdade, 2000.

 

O homem comum, política e as redes sociais

09 abr

Foi Platão e depois Aristóteles que pensaram a política grega, para o segundo a vida pura e simples de um ser viventeHomoSacer era um zoé (aquele que vive a mera existência biológica, uma vida nua), porém pelo fato do homem possuir a linguagem ele terá uma vida social, ele passa de zoé a politikón zôon (animal político), e isto construirá aos poucos a proposta da democracia, a participação do cidadão (o habitante da cidade-estado grega) de modo ativo na vida ativa em sociedade.

Giorgio Agamben em sua Cidade Nua, afirma que a teoria biopolítica de Foucault converge com aquela desenvida em Hannah Arendt em “A condição Humana”, na qual vê que na modernidade, o homo laborens passa a ocupar um lugar nas relações sociais de forma que ocupe o vértice das relações de poder, abandonando com isto o espaço público, assim ambos desenvolvem uma visão convergente sobre as relações políticas na modernidade.

O homo sacer foi utilizado por Hanna Arendt, Foucault, Agamben, Bauman e recentemente por Slavov Sizek, que explica o termo usando uma imagem do período da guerra do Afeganistão, onde após um avião ter bombardeado um território, outro avião passa distribuindo alimentos.

No Brasil é a figura do “homem cordial”, a visão de um político preocupado com as condições das populações de baixa renda, mas que insiste na ideia que este povo jamais terá cultura suficiente para se tornar independente e se puder romper com o domínio existencial que tem do assistencialismo paternal.

As redes sociais são uma forma nova de superação deste anonimato político, ainda que de maneira difusa, até mesmo um pouco agressiva, é o único espaço onde pessoas desconhecidas podem expressar o que sentem, mostrar sua identidade e sair da cidade nua.