Arquivo para dezembro 17th, 2015
Religião e Estado, em tempo do Natal
Aqueles que querem conciliar as duas coisas, historicamente se deram mal, a igreja quando ocupou o papel de estado corrompeu-se e corrompeu a sociedade, quando tentou viver a margem do estado foi perseguida e martirizada.
Os contratualistas, aqueles que historicamente construíram o moderno estado liberal ou democrático como quiserem, fazem ironia a religião desde o nascimento da ideia de estado, Voltaire fez isto ao escrever “Candido ou otimismo” que é uma crítica direta a igreja, dizendo que ela tem um princípio provinciano, em parte tem razão, poderíamos dizer “paroquial”.
O Leviatã de Hobbes é uma referência direta a religião, já que Leviatã é um outro nome para o demônio, e tinham feito forte oposição ao poder monárquico, mas Locke avançaria mais.
Era uma liberal clássico, e conciliou o idealismo com o empirismo em termos de filosofia, escreveu sobre a religião: “Considero a igreja como uma sociedade livre e voluntária. Ninguém nasceu membro de uma igreja qualquer; caso contrário, a religião de um homem, juntamente com sua propriedade, lhes seriam transmitidas pela lei de herança de seu pai e de seus antepassados” (em cartas sobre a tolerância).
Jean Jacques Rousseau, como calvinista que era de nascença, contrariando Locke, escreveu que “O Cristianismo é uma religião totalmente espiritual, preocupada somente com as coisas do céu, a pátria do cristão não é deste mundo”, e muito dessa visão está tanto na democracia europeia como na America.
Mas Rousseau queria conciliar religião nacional com os conceitos nacional e civil, diz ele que “ela reúne adoração divina a um amor da Lei, e que, em fazendo a pátria o objeto da adoração do cidadão, ela ensina que o serviço do estado é o serviço do Deus tutelar”, visão que entrou depois em outras igrejas.
Vale a pena ler “Democracia na América” de Alexis Tocqueville, que é uma fusão das duas visões, e que aprofunda de certa forma a visão de Rousseau para um tipo de “religião Civil” do Estado.
Mas na base disto tudo como está o idealismo, que Hegel é uma síntese, a ideia que o Estado ocupou o lugar do teocentrismo da idade média está ali presente, e em muito do pensamento religioso de hoje.
O que o Natal tem a ver com isto, ao entrar na história, pode-se negar Jesus como Deus, mas não como alguém nascido na história, num estábulo por falta de hospedagem, perseguido logo em seguida por Herodes que obrigou uma fuga para o Egito, é um resumo da cidadania ausente, do “homo sacer”.