Arquivo para dezembro 21st, 2015
Um Natal mais pobre e santo
Se o Natal foi confundido com festas, luzes e o Papai Noel de uma empresa de refrigerantes, podendo até ter urso polar e neves, este Natal é diferente, primeiro por que as finanças estão curtas, e mesmo família abastadas e pessoas com possibilidade de gastar, vão economizar.
O quadro vem do clima em todo o país, lojas de departamentos fechando e um comércio em crise a olhos vistos, aqueles que não acreditavam que há de fato uma crise, agora basta sair nas ruas para comprar, mesmo que seja o necessário, vão perceber preços subindo e o consumidor cada vez comprando mesmo, pela falta de dinheiro ou de confiança.
Mas há o lado positivo disto tudo, talvez a festa religiosa seja lembrada, mesmo para aqueles que só pensam na política (a desonesta, porque a honesta está em falta), é tempo de silêncio.
É difícil silenciar uma sociedade ruidosa, há os que culpam o mundo digital por isto, mas isto já era assunto muito antes da internet nascer, filósofos e místicos falavam do “mundo ruidoso”.
Ruído é aquilo que inibe o sinal limpo e verdadeiro num sistema de comunicação, e na vida diária é tudo aquilo que não deveria ser confundido com religião, com sabedoria e até mesmo com a política, pois pólis é o local de todos e que foi indevidamente apropriado.
A partir do século VIII a.C., com o florescimento do comércio entre as nações, a paz torna-se importante para acabar com o isolamento das vilas e aldeias.
Aos poucos as cidades sofreram uma mudança radical passando a ser uma ágora, a praça pública, onde o comércio se desenvolve e as discussões sobre a vida e a sociedade acontecem e como diz Bakhtin: o homem moderno está a procura da praça pública, da sua ágora.
É Natal e o locus de sua celebração são as reuniões comunitárias, mas a necessidade de silêncio e respeito remete as igrejas, aqueles que entenderam isto serão ágora e as que não entenderam e ficam no discurso vazio dos problemas humanos insolúveis, se esvaziam.
Se Jesus é o homo sacer nascido num estábulo e colocado numa manjedoura, o locus sacer é aquele que consegue atrair esta presença sobrenatural de um Deus frágil e pobre.