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Atos de sabotagem e abertura das Olimpíadas
Horas antes da abertura das Olimpíadas de Paris vários “atos de sabotagem” foram realizados de maneira “preparada e coordenada” afetando as linhas ferroviárias da França, o primeiro ministro francês Gabriel Attal descreveu o evento, segundos fontes francesas, como “maciço e grave” e agradeceu aos bombeiros e expressou indignação pelos transtornos ao deslocamento de turistas e franceses.
A cerimônia de abertura foi com uma mensagem estranha e sem a beleza que sempre a acompanhou em versões anteriores, a apresentação de Lady Gaga foi gravada segundo explicações “devido a chuva”, uma cerimônia de pessoas trans numa mesa pareceu uma ironia com a santa ceia (aquela famosa pintura de Leonardo da Vinci) e um mascarado que aparece coma tocha olímpica parece um personagem dos jogos de videogame Assassin´s Creed.
Também o cavalo branco simulando um cavalgar sobre as águas é algo de simbologia enigmática, talvez o cavalo do apocalipse ou alguma alusão a guerra.
Salvo a famosa canção francesa L´Hymme á l´amour de Edith Piaf, interpretada por Celine Dion, desfilaram com a tocha diversos atletas franceses e acenderam um a pira olímpica num balão, cuja iluminação é mantida por um sistema elétrico.
Houve ainda no sábado uma parte de apagão em Paris e o próprio comité olímpico, através do porta-voz do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos Paris 2024: “assumimos que ultrapassamos a linha”.
As guerras continuam, a esperança de paz aumentou uma vez que a Rússia pela primeira vez chegou a admitir uma volta ao “acordo de Istambul” anterior a invasão da Ucrânia.
Apagão cibernético e as guerras
O apagão que aconteceu na semana passada é um dos maiores da história, causou confusão em muito aeroportos (veja o gráfico dos Voos nos EUA ao lado), TVs, bancos, hospitais e serviços que dependem de comunicação digital, porém não foi com motivação bélica, a empresa CrowStrike, por trás do apagão, declarou sexta-feira (19) que “isso não foi um ataque cibernético” e que a equipe da empresa “está totalmente mobilizada para garantir a segurança e estabilidade dos clientes da empresa”.
Segundo entrevista de Rob D’Amico, um ex-agente do FBI, apesar de não haver motivação bélica: “Eles podem não estar envolvidos no que aconteceu, mas estão observando o que aconteceu, quais foram as reações, os tempos de resposta, como isso foi corrigido, para que, se considerarem uma operação cibernética ofensiva contra os Estados Unidos, possam mapear o que foi feito”, disse em declaração à CNN.
É bom lembrar que o início histórico da Internet foi um projeto junto ao DARPA, um departamento americano para projetos estratégicos que previa um funcionamento em rede que não prejudicasse a comunicação, assim a primeira rede eletrônica chamou-se Arpanet.
Isto é extremamente estratégico porque uma pane pode cibernética pode deixar indefesas tanto o sistema de comunicação como a própria defesa, que depende de comunicações para serem acionadas, fragilizando extremamente o sistema que estiver sob ataque.
A Ucrânia tem anunciado que tem conseguido afetar diretamente os sistemas de comando e defesa da Rússia, enquanto a Rússia procura fragilizar o sistema de abastecimento de energia e canais de comunicação terrestre da Ucrânia, também planeja uma ferrovia em seus domínios em solo ucraniano, revelando táticas de defesa e ataque diferenciadas.
Na medida em que avançam as retóricas bélicas, também as guerras políticas e ideológicas cotidianas, um apagão se anuncia maior que o cibernético, as mentes e as almas se tornam cada vez mais turvas e o horizontes sombrio esconde esperanças, refúgios e clareiras.
Aos que lutam e desejam a paz nada falta, nem mesmo aquilo que a guerra e o ódio tentam retirar a paz cotidiana, o momento de descanso e lazer, não aquele fantasioso da orgia e das falsas liberdades que destroem uma vida frutífera e feliz, há sempre uma sombra, uma clareira e uma pausa para respiro em meio a aceleração moderna.
“Mesmo que eu passe pelo vale da sombra da morte nenhum mal eu temerei” (Salmo 23:4) diz o salmista do período sombrio do povo hebraico, e assim cantam alegres aqueles que desejam e lutam pela paz.
Um pouco de água fresca e comida quente
Enquanto poderosos lutam por domínios, colonizações e poder ignoram a vida de pessoas simples, de trabalhadores de serviços básicos que são necessários em qualquer país e cultura porque esqueceram de verdadeiros valores comunitários e morais.
Podem falar disto no dia a dia, porém suas mentes articulações e esforços estão em conquistas e poder, não a conquista de uma boa amizade, de algumas horas de alívio e prazer num dia a dia e numa sociedade que nos empurra a máxima eficiência e cansaço até o limite das forças.
Ao contratar alguns trabalhadores de serviços da construção civil, eles me disseram que gostaria que para trabalharem precisavam de uma boa água fresca e uma comida quente, as marmitas precisam ser requentadas e o suor é restaurado com uma simples água fresca.
Também são gratos com um tratamento de dignidade e um pouco de repouso após o almoço, é incrível que grande parte da sociedade abastada desconheça estas coisas simples e que podem trazer grande felicidade, equilíbrio e paz, a sociedade do cansaço ignora isto.
Os centros de poder são rodeados de pessoas ambiciosas e que sabem (ou pensam que sabem) como iludir o povo simples, mas desconhecem o dia-a-dia e a vida destas pessoas.
Vejo quando formam rodas de conversa, os assuntos e as preocupações, quase sempre também há também preocupações com as relações que se perdem, o uso de violência e produtos químicos que correm a vida familiar deles, na medida que os valores humanos desmoronam e caem também sobre eles as piores degradações e desumanidades.
Uma boa palavra, é também um pouco de água fresca agora num sentido figurado, mas não menos verdadeiro, verdadeiras culturas e religiões guardam esta “água fresca” em seus jarros térmicos e onde o alimento da alma pode ser digerido e dar disposição para o cotidiano.
A passagem bíblica na qual Jesus fala as multidões, e seus familiares o procuram, ele tem uma resposta surpreende Mt 12,49-50: “E, estendendo a mão para os discípulos, Jesus disse: “Eis minha mãe e meus irmãos. Pois todo aquele que faz a vontade do meu Pai, que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe”, não significa que ignore sua família, mas quer dar aquelas pessoas um pouco de bom alimento e água fresca.
Não se ignora o mundo que vivemos, aliás os donos do poder o ignoram, mas é bom trazer um pouco de paz e esperança as almas que sobrevivem numa sociedade do cansaço, do ódio e do descaso.
Insegurança na Europa e atentado nos EUA
A OTAN decidiu colocar mísseis americanos na Alemanha, os mísseis balísticos Tomahawk, que podem atingir alvos a até 2.500 km de distância e carregar munições nucleares, há também armas hipersônicas em desenvolvimento, que aumentam o poder de fogo europeu, a Rússia já possui armas deste tipo e que já estão espalhadas em locais estratégicos.
A reação russa veio através porta-voz do Kremlin Dmitri Peskov “A Europa está no ponto de mira dos nossos mísseis, nosso país está no ponto de mira de mísseis americanos na Europa. Já vivemos isso. Temos capacidade o bastante de conter esses mísseis, mas as potenciais vítimas são as capitais desses países europeus”, o que seria o estopim de uma 3G.
Os combates continuam duros, um documento secreto revela que o número de mortos já é imenso na guerra e a Rússia teria 750 mil soldados mortos ou feridos, o número da Ucrânia embora desconhecido deve estar perto deste valor, e os países vizinhos Polônia, Letônia e Lituânia além dos escandinavos ameaçam enviar tropas caso a Ucrânia se fragilize mais.
O ex-presidente e candidato a presidência Donald Trump sofreu um atentado quando fazia um comício de campanha na Pensilvânia, foram feitos vários disparos matando uma pessoa e ferindo outra, Trump foi atingido na orelha e retirado do local por seus seguranças, o atirador foi morto e o FBI investiga as motivações, a primeira é claramente política.
Embora o cenário seja assustador e não faltam espíritos belicistas, porém neste momento há uma crise civilizatória instalada porque desde o centro do poder até os cidadãos comuns há uma animosidade que não percebe o perigo da intolerância, violência como esta não só desperta espíritos mais autoritários como os fortalece, e não deveria ter aplauso de ninguém.
A boa notícia vem do Irã onde o moderado Masoud Pezeshkian, Presidente eleito do Irã afirma estar disposto à realizar ‘diálogo construtivo’ com a União Europeia, o anuncio foi feito em um jornal de língua inglesa trazendo grande esperança.
Resistência do espirito e pacifismo
Aquilo que Edgar Morin define como resistência do espírito, ele fez ontem 103 anos de idade (8/7), é além do pensamento e da força política, o que é espírito para a filosofia europeia é mediado pela ideia que formulamos sobre o mundo, e espírito aqui tem que ser além do pensamento atual cotidiano.
Os seres humanos são capazes em suas relações de pensar em paz, se cultua em sua interioridade, tema exaustivo na ontologia de Byung-Chul Han, e se aprofunda em valores como: humildade, fragilidade e a necessidade que temos uns dos outros, não vivemos isolados.
Enfim ter uma verdadeira alteridade, o medo da alteridade é quando há diferença e nos “pomos na defensiva”, aquilo por exemplo que é chamado de guerras preventivas, garantias de soberania sobre outros povos ou outras culturas, isto em geral iniciam as guerras e não as previnem como é o propósito dito.
A principal razão, dizem muitos autores, um que não é questionável por denunciar “as veias abertas da américa latina” é Eduardo Galeano, que disse que a grande razão é o roubo e a pilhéria dos povos a serem dominados, hoje além disto são também os impérios em choque.
O espírito de resistência e o pacifismo historicamente não é uma posição fácil ou “neutra”, é evitar a catástrofe humanitária que caracterizam todas as guerras, em uma escala mundial isto significa uma crise civilizatória sem precedentes, uma vez que o poderio bélico hoje é imenso.
É preciso um espírito bastante elevado, verdadeiramente altruísta e missionário, uma vez que as guerras atuais encontram aliados com facilidade, até mesmo na população simples, tanto a polarização quanto o uso das mídias para promover narrativas quase todas tendenciosas, são o que dão substância ao pensamento bélico e se difundem no tecido social.
Parabéns ao longevo Edgar Morin, sua resistência é visível pela idade, pela lucidez que ainda mantem e que suas palavras ecoem e a civilização encontre um caminho de resistência.
Ucrânia em perigo e mudança no Irã
O cenário nestas duas guerras, entre muitas outras que existem no planeta, tiveram pontos opostos nesta semana que passou, a visita de Vikton Orbán na sexta-feira (5/07) a Moscou, e a vitória do presidente moderado Masoud Pezeshkian no Irã, representa um alento para a paz.
Vikton Orbán não fala em nome da União Europeia e Putin está interessado apenas em discutir “nuances” de propostas para cessar-fogo, uma vez que neste momento as forças russas ameaçam a segunda maior cidade do país Kharkiv com mais de 1.5 milhão de habitantes e um centro industrial importante (na foto praça da prefeitura da cidade).
Guerras sempre envolvem ódios e crimes hediondos, claro devem ser investigados e punidos, mas dificilmente fica claro tudo o que é desumano e cruel que foi feito durante uma guerra, os prisioneiros trocados na semana anterior, por exemplo, apontavam sinais de torturas e maus tratos nas prisões russas.
No Oriente Médio segue Israel anuncia nova delegação enviada ao Catar para negociar a paz com o Hamas, mas uma operação com drones do exercito israelense deixou 6 mortos na Cisjordânia, e seguem os temores de uma guerra com o Hezzbollah no Líbano.
As eleições na França também estão num cenário deste tabuleiro de xadrez, a direita apoia curiosamente Putin e a esquerda aliada de Makron apoia a Ucrânia, uma frente republicana formada de última hora terminou as eleições com maior número de assentos na Assembleia Nacional da França.
Nos EUA seguem os temores de uma derrota de Biden para Donald Trump, o presidente americano parece não desfrutar mais de boa saúde e disposição, mas ainda não há opções.
Quando a perspectiva de paz é pequena significa que os homens se distanciaram de ver o mundo com um futuro estável e sustentável, os ânimos da diferença e do ódio estão soltos, porém como afirma Edgar Morin é preciso uma resistência do espírito, ter esperança.
Líbano, eleições no Irã e leste europeu
As eleições no Irã já ocorreram dia 28/06 indicando que o prognóstico correto de ligeiro favoritismo para o reformista Masoud Pezeshkian o mais votado com 44,40% sobre o ultraconservador Saeed Jalili com 40,38%, o segundo turno deverá ocorrer no próximo dia 05/07 e as eleições significam muito para o Ocidente e para o futuro da relação com Israel.
As eleições foram antecipadas devido a morte do ex-presidente Ebrahim Raisi em maio no acidente de helicóptero no norte do país, o regime está submetido a uma junta de clérigos sob o comando do Aiotalá Ali Khamenei, que sucedeu ao famoso líder Khomeini e o presidente se submete a esta junta de clérigos.
Porém a tensão na região do Líbano, onde é visto pela população e diversos governos como um ataque próximo por parte de Israel, é parte neste xadrez onde o Irã é visto como aliado do grupo Hezbollah que tem base neste país, alguns países já pediram aos seus cidadãos que não viajem ou saiam do Líbano com urgência.
A possibilidade de um governo reformista no irã e a crescente pressão sobre Israel pode ajudar a mudar o cenário da região de guerra e tensão em escalada e com um futuro muito sombrio.
A tensão no leste europeu também cresce, a escalada da guerra atingiu a Criméia sob governo russo e a retaliação atingindo as fontes energéticas da Ucrânia, a Russia sob o tom devido o crescente apoio do Ocidente a Ucrânia e acusa diretamente a França de enviar tropas, o que significa na prática uma declaração de guerra.
Nos EUA a pressão também cresce, no debate presidencial o tema foi relevante, as eleições no país ocorrerão no início de novembro, e no primeiro debate Biden se viu desgastado e agora se fala em substituição dele como candidato.
A Rússia sob o tom, comentando até a patética tentativa de golpe na Bolívia, vista pelo Kremlin como aliada russa, porém houve uma troca de 90 prisioneiros entre os dois países (foto) num raro momento de trégua em meio a toda uma zona de fronteiras sob forte contingente militar.
A paz sempre é possível, é preciso corações e mentes capazes de ultrapassar o ódio e a violência.
A guerra pode se estender ao Oriente
A inclusão de mais protagonistas num ambiente de guerra propicia sua escalada, e a resposta da Rússia ao encontro na Suíça foi imediata.
Putin se reuniu com o presidente da Coréia do Norte, um dos países mais fechados e bélicos do mundo, e depois foi ao Vietnã do Norte em busca de cooperação para a guerra na Ucrânia, a reação da Coréia do Sul foi Imediata, o presidente sul-coreano Yoon Suk-Yeol declarou: “é absurdo que duas partes com um histórico de lançar guerras de invasão, a Guerra da Coreia e a guerra na Ucrânia, agora prometam cooperação militar mútua com base na premissa de um ataque preventivo por parte da comunidade internacional que nunca acontecerá”, entretanto é uma clara ameaça.
O documento chamado de “Tratado Abrangente de Parceria Estratégica” tem o mesmo espírito da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) , que prevê assistência de todo bloco a qualquer ataque que um membro sofra, a Rússia já tem a parceria da Bielorrússia, e assim parecem se formar as alianças que antecederam a segunda guerra, na época o Eixo era Alemanha, Itália e Japão, e depois aliaram-se também a Bulgária, a Croácia, a Hungria, a Roménia e a Eslováquia (a Finlândia, que não participou) Stalin da Rússia chegou a acenar a um acordo e depois traído, tornou-se inimigo do Eixo e uniu-se a Aliança que os combatia (França, Reino Unido e EUA).
Pode-se imaginar que este clima era absurdo, povos que viviam em paz aliarem-se deste modo, porém se olharmos nosso cotidiano hoje não é diferente, se olharmos a visão quase sempre polarizada e criando narrativas para as guerras podemos entender como este clima se instala, desejar a paz é também uma opção e poucos pensam assim, neste momento o presidente coreano destaca em seu discurso a ideia clara que o país não vê motivo para a guerra, mas não descarta enviar auxílio à Ucrânia e assim um novo polo do conflito surge.
Reagir com passividade em um conflito não significa omitir-se ou contrário é a posição mais dura por que verifica que há equívocos sempre que o recurso é a guerra, a leitura de uma narrativa não é a narração, conforme afirma Byung-Chul Han e Walter Benjamin (O narrador), lembram que a história contada por Heródoto do rei Psammenit “serve como exemplo de sua arte da narração” (Han, 2023, p. 21).
Nela o rei egípcio Psammenit ao ser derrotado na guerra pelo rei persa Cambises, após ver a filha reduzida a criada e o filho sendo levada para ser executado permanece com os olhos para o chão, porém ao ver entre seus servos prisioneiros, um homem idoso e frágil “bateu em sua cabeça com os punhos e expressou profunda tristeza” (Han, 2023, p. 22) pois talvez preferisse estar no lugar daquele pobre homem, a guerra destrói nossa humanidade mais profunda, a narrativa distorce e desumaniza a história.
Assim é preciso uma narração sensata, serena, o atual potencial bélico do mundo pode nos levar a mais séria crise civilizatória muito além da barbárie podendo chegar ao extermínio ou a um limite intransponível de ódio e violência, temos esperança de paz se ainda houver pacíficos. Diz a leitura bíblica: “Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus!” (Mt 5, 9).
Han, Byung-Chul. A crise da narração. Trad. Daniel Guilhermino. Petrópolis: ed. Vozes, 2023.
O Justo, a ira e a serenidade
Martino Bracarense, autor do século V d.C. pouco conhecido porém é um dos responsáveis pelos dias da semana no galeco-portuguesa segunda feira, terça, etc., afirmou que “A ira transforma todas as coisas do melhor e mais justo em seu contrário”, não são poucas as reflexões filosóficas, psicológicas e até poéticas sobre a ira, William Shakespeare afirmou que: “a raiva é um veneno que tomamos esperando que o outro morra” (a foto ao lado é de Andre Hunder no unsplash).
Em tempos tempestuosos para guardar a justiça e a serenidade é necessário um grande esforço de caráter e temperança pois o normal é reagir a dor do ódio com alguma forma, mesmo que dissimulada de ódio, Aristóteles afirmava: “um desejo, acompanhado de dor, de vingança percebida, em razão de uma desconsideração percebida em relação a um indivíduo ou seu próximo, vinda de pessoas das quais não se espera uma desconsideração” (Retórica de Aristóteles).
O que significa acompanhada (a ira) pela dor? Isto exige a definição de pathê que Aristóteles: “que as emoções sejam todas aquelas coisas em razão das quais as pessoas mudam seus pensamentos e discordam em relação aos seus julgamentos, sendo acompanhadas de dor e prazer, por exemplo raiva, piedade, medo e todas as outras coisas semelhantes a seus contrários”, claro não é uma definição exaustiva da ira, pois ela precisaria de elementos psicológicos, patológicos e uma análise mais aprofundada do tema.
O importante é saber que ela: escapa da justiça, produz uma intemperança e colocada em uma sequencia de ódios estruturais acaba por criando uma total ausência de serenidade, de capacidade de reflexão e no final das contas é produtora de uma grande fonte de injustiças e até mesmo psicopatologias.
Outro ponto é pensar no antídoto deste estado de ânimo, muitas vezes cultural, estrutural e produzido por aqueles que julgam defender a paz, claro que em essência estes mesmo indivíduos são eles próprios casos patológicas, porque a ira dissimulada, ou como diz o dito popular “o veneno destilado” ao contrário da medicina não é antídoto, ele é o veneno em doses continuas e progressivas.
Onde encontrar então a serenidade? A resposta é simples na esperança, aquela mesmo que espera, que respira e que medita e contempla, tema exaustivamente elaborado em Byung-Chul Han em quase todos seus ensaios, No enxame onde exorta “o respeito” como única forma de simetria, o silêncio e a contemplação em “Vita Contemplativa” e o conceito de tonalidade afetiva em sua obra “O coração de Heidegger: sobre o conceito de tonalidade afetiva”, embora nunca site o termo diretamente, penso que é o que no fundo ele pretende contribuir para o pensamento contemporâneo para recuperar sua capacidade de pensar, contemplar e Ser.
Também o pensamento religioso de nosso tempo precisa recuperar mais que a serenidade, a sobriedade, porque parecem envoltos de certas embriaguez de nosso tempo, como afirma o pensamento judaico-cristão veio o vento e Deus não estava lá: “depois do terremoto houve um fogo, mas o Senhor não estava nele. E depois do fogo houve o murmúrio de uma brisa suave” (livros dos 1Reis 12) e também é famosa a tempestade de Jesus entre os apóstolo dormindo e uma tempestade acontecendo, Ele acordou e manda o mar se acalmar para espanto dos apóstolos (Marcos 4,39).
Tensões e pressão pela paz
A cúpula do G7 conseguiu reunir 90 países se reuniu sem a presença da Rússia e sem o aval da China que considerou fundamental a participação da Rússia, a reação do Kremlin foi de ironia em relação a reunião que exige que o território da Ucrânia seja mantido em toda sua integridade, apesar da vitória diplomática de Zelensky a batalha bélica segue cruel.
Na quinta feira (13/06) os EUA assinaram um pacto de cooperação de dez anos com a Ucrânia, o que coloca em nível de igualdade com a parceria com Israel, porém um navio nuclear russo que chegou a Cuba eleva o nível de tensão próximo a famosa crise dos mísseis na década de 60, embora hoje o envolvimento mundial na crise seja muito maior já que boa parte da Europa se sente ameaçada pelas incursões militares russas e a militarização é crescente assim como uma guinada política mais nacionalista evolui.
Além dos 7 países que compõe o G7 US, UK, Canada, Canadá, Itália, Japão e França, mais 82 países compareceram a reunião que discutiu um possível acordo de paz na guerra do leste europeu, destaca-se a presença do Papa Francisco, lembrando que o Vaticano é também um estado soberano.
Destaque também para o primeiro-ministro Modi da Índia defendendo o bem-estar do Sul Global, enfatizando a importância de África nos assuntos globais, um ponto que escapa em muito debates, mas alguns aspectos do colonialismo ainda sobrevivem, tanto no aspecto econômico quanto o cultural, e a defesa destes países é essencial.
Em 1918 com o fim da primeira guerra mundial o presidente Americano Woodrow Wilson (foto) fez uma proposta de uma “paz sem vencedores” ainda que a Alemanha deveria ser melhor analisada no acordo, ela é importante para entender as diversas possibilidades para a paz hoje (na foto os países do Tratado de Versalhes, 1919, que estabeleceu as fronteiras).
Pouco conhecida, os 14 pontos que estabeleciam uma nova política de paz depois da segunda guerra mundial, conhecida como 14 pontos eram os seguintes: 1. Diplomacia aberta sem tratados secretos, 2. Livre comércio económico nos mares durante a guerra e a paz, 3. Condições comerciais iguais, 4. Diminuir os armamentos entre todas as nações, 5. Ajustar as reivindicações coloniais, 6. Evacuação de todas as Potências Centrais da Rússia e permitir-lhe definir a sua própria independência, 7. Bélgica será evacuada e restaurada, 8. Retorno da região da Alsácia-Lorena e de todos os territórios franceses, 9. Reajustar as fronteiras italianas, 10. À Áustria-Hungria será dada uma oportunidade de autodeterminação,11. Redesenhar as fronteiras da região dos Balcãs criando a Roménia, a Sérvia e o Montenegro, 12. Criação de um Estado turco com livre comércio garantido nos Dardanelos, 13. Criação de um estado polaco independente e 14. Criação da Liga das Nações.
Hoje existem questões nova como as reais fronteiras da Ucrânia, a inexistência de um território para o povo palestino (o Hamas é só um grupo desta nação), o esquecido povo Curdo, os conflitos na região da Caxemira (há uma indiana e uma paquistanesa), o fim dos conflitos e tensões na África que escondem novos colonialismo e algumas garantias de paz nas fronteiras da Rússia que podem muito bem serem entendidas (a Rússia chama de regiões “neutras”) e a tensão complexa Taiwan x China.
Enfim não é algo impossível, mas é preciso desenhar um mapa global da paz e isolar governos e grupos que atentam contra a liberdade e autonomia dos povos.