Arquivo para maio, 2017
Existe espírito da verdade
Já fizemos alguns posts falando da verdade ontológica, ou seja, existe enquanto Ser e não apenas no sentido lógico como foi explorada pelo positivismo e por uma falso espírito científico, e neste caso espírito significa um conjunto de que validam (são critério de verdade) a alguma hipótese, até então explorada somente pela razão e pela experiência.
O fato que falamos de espírito, por exemplo, no direito é usado comumente o “espírito da lei”, neste caso como o sentido para o qual aponta, mas como nosso objeto é a hermenêutica e dentro dela a verdade, referimos ao que pode ser chamado tanto à consciência como a verdade.
As noções de espírito e alma também muitas vezes se sobrepõem, no sentido que não anulam o sentido da hermenêutica, mas de certa forma o complementam, por exemplo, na origem etimológica do latim spiritus, é no sentido de “sopro” ou “respiração”, e aqui se dialoga.
O problema de certo espiritualismo idealista, que pode ser confundido com o dualismo corpo e alma, na verdade é uma construção única e exclusiva da modernidade, na antiguidade clássica onde a ideia (o eidos) e a substância estão em relação, o idealismo separa sujeito de objeto ou seja, o verdadeiro, não é “substância”, mas sim: isolados “sujeito”, “pensamento” e espírito.
A verdade hermeneutica, aquela da consciência histórica, já postamos que não é a romântica de Dilthey mas a hermeneutica da facticidade de Heidegger e “da vida” como chamaos a de Gadamer, ultrapassa o conceito realista por que este “em si” idealista de Hegel irá se tornar não mera interpretação, mas relação dentro do círculo hermeneutico onde sempre é possível a fusão de horizontes e novas relações.
Então este espírito da verdade se opõe ao espírito do engano, não na lógica maniqueísta o bem contra o mal, mas a ausência de bem onde o mal prevalece, as narrativas mentirosas e incapazes de realizar um verdadeiro diálogo, ainda que muitas vezes pretendam ter este nome, não passam de proselitismo, repetição de argumento e de interpretação de modo dogmático, mesmo que não religioso e certamente muito presente em discursos fundamentalistas.
O diálogo que parte dos fatos históricos, daquilo que é a experiência pessoal e coletiva de muitos, como diz Paul Ricoeur “o eu estive ali”, mesmo que sujeito a interpretações equivocadas não podem deixar de ter na vivência dos fatos, o espírito de verdade e da experiência vivida e não apenas relatada ou interpretada.
Porque parte da fenomenologia ontológica, da coisa em si e não da especulação ou do ideologismo, toda experiência humana vivenciada não pode ser desprezada sob pena de deixar morrer o espírito de verdade, não são conjunto de fatos lógicos, mas de fatos que mesmo sendo ilógicos como a guerra, revelam o espírito da verdade atrás dos fatos, mas a história humana tem uma origem e uma escatologia.
Esta origem e escatologia que Teilhard Chardin explora para afirmar a existência de uma esfera do Espírito, uma Noosfera.
O espírito da Verdade no idealismo
O idealismo moderno iniciado com Fichte (1762-1814) e Schelling (1775-1854), como certa oposição a filosofia kantiana que é também idealista, terá seu ápice com Hegel (1770-1831), que afirma existir um “espírito absoluto” e que é ele com o qual o homem se relaciona mais profundamente, podendo se conhecer e que pode ser desdobrado em três níveis relevantes: a arte, a religião e a filosofia.
Parece forte e até verdadeiro, mas há críticos severos que dizem que a morte da arte acontece com Hegel, Marx de certa forma tenta anunciar o fim da filosofia ao afirmar que “os filósofos agora devem transformar o mundo”, e por último, a religião de Hegel não é senão a mais pura filosofia de Deus, não podendo alcançar o mundo e o homem concreto.
Claro a culpa não é exclusiva de Hegel, mas filosofia, arte e religião estão decididamente em crise atestam quase todos filósofos e teólogos, lendo o “último testamento de Bento XVI”, ele afirma que desde 1956 já ocorre um processo de “desmundialização” da religião, ou seja, a perda de sua universalidade.
Sobre o objeto da arte, lembro o texto de Heidegger sobre a questão da técnica, mas cuja crítica mais profunda é a da arte ao afirmar questionando-se sobre verdade, liberdade e acontecimento do ser e do ente, afirmará que “a arte é histórica no sentido essencial [… visto que] deixa a verdade brotar. A arte, enquanto um conservar que funda, deixa brotar a verdade do ente na obra”, mas vê que ela hoje necessita de um desvelar.
A filosofia idealista expressa o “espírito absoluto” assim em Hegel: “O espírito só é espírito, na medida em que é para o espírito; e na religião absoluta é o espírito absoluto que se manifesta, não mais seus momentos abstratos, mas a si mesmo”. (HEGEL, 1980, p.346).
È um fechamento do espírito em si em um puro espiritualismo, sem uma para si que seja a abertura ao outro, esta é a religião contemporânea que quando manifesta-se em relação ao objeto externo não o vê dentro de si em sua subjetividade, Hegel expressa isto assim: “A filosofia se determina de modo a ser um conhecimento da necessidade do conteúdo da representação absoluta, como também da necessidade das duas formas: de um lado, da intuição imediata e de sua poesia, e da representação, que pressupõe da revelação objetiva e exterior; de outro lado, primeiro, do adentrar em si subjetivo, depois do movimento para fora subjetivo e do identificar da fé com a pressuposição.” (HEGEL, 1980, p.351).
A filosofia contemporânea, a partir de Heidegger com Gadamer, Paul Ricoeur e Emmanuel Lévinas, abre-a com a hermenêutica presente na Questão da consciência da história de Gadamer, no Outro de Paul Ricoeur e em Totalidade e Infinito de Emmanuel Lévinas.
HEGEL, G.W.F. Fenomenologia do Espírito. Tradução Henrique Cláudio de Lima Vaz, Orlando Vitorino, Antônio Pinto de Carvalho. 2. ed. São Paulo: Vozes, 1980.
Nectarios G. Limnatis, German Idealism and the Problem of Knowledge: Kant, Fichte, Schelling, and Hegel, Springer, 2008.
O ataque hacker mundial
Já é o maior ataque mundial, os números contabilizados até o domingo (14/05) já ultrapassavam 200 mil computadores infectados em 150 países, mas como todo vírus digital não há prazo para ele acabar a menos que os sistemas estejam protegidos definitivamente, por isto a atualização é tão necessária.
O tipo de vírus um ransonware, um malware que se instala no computador, faz a encriptação de todos dados e os bloqueia exigindo pagamento (neste caso em bitcoins, moeda digital) e não permite que você acesse seus próprios programas e dados.
Foi chamado pelos próprios hackers de Wanna Cry, considerado um malware de alto-nível, distribuído como Deep Web, e as informações dizem que foi uma adaptação de um programa do NCSA americano (departamento de inteligência) e este seria justamente para encriptar e capturar dados de cidadãos e empresas.
Para quem tem facilidade no uso do ambiente Windows, indo em configurações você vai encontrar a tela Atualização e Segurança (Windows update) e deve aguardar a atualização que pode demorar um pouco, mas vai atualizar também o Windows Defender, que na versão atual já tem a vacina contra este vírus.
Se o programa não atualizar completamente, é porque seu Windows não é original, então significa que ainda assim não estará seguro.
Sobre a possibilidade de encontrar os responsáveis diversos caminhos devem estar sendo tentando, no entanto os investigadores não vão divulgar as estratégias, mas que basicamente podem ser três: rastrear a origem histórica do ataque, rastrear de onde estão vindo os ataques atuais e mecanismos não convencionais de verificar o uso dos bitcoins, já que são pseudônimos (pseudo-moedas) que devem ser transformadas em produtos ou moedas existentes para serem resgatados os valores do sequestro de dados feitos pelos hackers.
É cada vez mais importante manter cópia de dados em backups em nuvens ou um HD externo.
A corrupção e a demanda por mudança
A demanda por mudança é também uma demanda por mudança de mentalidade, e sem qualquer dúvida, as grandes mudanças necessárias na nossa sociedade são a participação do dinheiro público em setores essenciais: saúde, educação e segurança, isto sem esquecer da profunda desigualdade que o Brasil tem, mas não a qualquer preço e que preço ?
Para uma autentica mudança a mentalidade do que é governo, do que é estado, e a quem estas pessoas servem, no caso brasileiro, precisa de uma profunda mudança de mentalidade, e basta ler a literatura do país para saber que a raiz desta mentalidade é cultural e estrutural.
Também no tempo bíblico, a mentalidade religiosa precisava ser mudada, e a mensagem de Pedro após a morte e ressurreição de Jesus é muito clara: “Com muitas outras palavras, Pedro lhes dava testemunho, e os exortava, dizendo: Salvai-vos dessa gente corrompida!” (At 2,10), claro dentro de nosso contexto é um pouco diferente.
Mas não o ato corruptivo, pois ele não é apenas o aspecto econômico, mas o que está corroendo e destruindo uma sociedade, e não é possível mudar a mentalidade, sem mexer com as pessoas que representam este modelo corruptivo e que detém poder para isto.
Não como mudar sem mudar valores, posturas e principalmente aquilo que é o fundamento de uma função pública: serviço ao conjunto da comunidade e não aos interesses próprios,
Uma sociedade nova exige homens novos, nos quais a mudança de mentalidade já tenha acontecido, pessoas que tenham princípios os quais não negocia, e isto é utopia no sentido que Paul Ricoeur defende e para quem entende a boa ideologia, é ideologia.
Imaginário, utopia e ideologia
Embora tenhamos feito uma tradução nossa, preservamos o texto original, pois os conceitos aqui como, por exemplo, boa vida, não tem relação com bon vivant e o original é importante.
Imaginário já teve para o pensamento a mesma confusão que existe hoje para o virtual, o esclarecimento de Ricoeur em sua obra desfaz esta confusão: “a evocação arbitrária de coisas ausentes, mas existindo alhures” (Ricoeur, 1986, p. 215), assim como os “retratos, quadros, desenhos, diagramas, etc. … cuja função é fazer o papel das coisas que representam” (Idem).
Mas não deixa de perceber que existe o uso da imagem no sentido irreal, neste sentido imagem e imaginário tem funções práticas, designa “as ficções que não evocam coisas ausentes, mas coisas inexistentes … aplica-se ao campo das ilusões” (idem) que leva aquele que se entrega a elas a acreditar que o objetivo visado é um objeto real.
Faz aqui uma importante relação aos conceitos idealistas de sujeito e objeto: “as ficções que não evocam coisas ausentes, mas coisas inexistentes … aplicação ao campo das ilusões” (idem) que leva ao que se entrega a ela a acreditar que o objeto visado é real, eis o que é ideologia no sentido ideal, mesmo que não sejam objeto de conceitos liberais, são ainda hegelianos.
Este tipo de consciência leva “do lado do sujeito, ao eixo da consciência fascinada e da consciência crítica (idem), e aqui Ricoeur supõe que o imaginário, o simbólico, o mítico e o ficcional podem ter um valor de verdade, isto é, permitem descrever a condição humana, fazendo perceber novas possibilidades existenciais, e isto nos parece muito atual.
O que Ricoeur propõe é discernir as funções positivas tanto da ideologia como da utopia: esta constitui “uma interpretação da vida real (sendo) a expressão de todas as potencialidades de um grupo que se acham reprimidas pela ordem existente” (Ricoeur, 1986, p. 387-388).
Ricoeur entretanto, dá uma diferença essencial entre as duas, o tema do poder, e na medida em que “quer ser uma escatologia realizada”, deve ter a função, este é o problema, de “manter aberto o campo do possível” (1986, p. 389-390) e nisto entra a ética.
Escreve ainda uma pequena ética em discerne a ação uma nova cultura de paz ” e seu desafio é a mundialização da não violência”, “face externa da virtude da prudência” (1986, p. 402).
Nisto entra a função da ética da utopia, pois esta pode instaurar um bem viver “juntos”, que o autor deixa claro ao criar uma regra de ouro resumida como “viver a vida boa, com e para os outros, em instituições justas” (1990, p. 199-236).
Claro que isto remete ao conceito de bem que é o da vida boa, não adotar aqui o sentido jocoso de bon vivant não é isto, mas o bem da filosofia clássica, assim a cidade do futuro e não o governo do futuro, pois lá vivem cidadãos que fazem sua micropolítica, sendo aquela que vai em direção a cidade ideal pela “educação de todos para a liberdade, pela discussão” (1986, p. 400), embora é claro, isto exija um Estado ético, mas não é ele senhor das opiniões.
O estado ético, definido por Ricoeur define-o como“sua virtude é a prudência
RICOEUR, P. Du texte à l´action. Paris Seuil, 1986.
RICOEUR, P. Soi-même come un autre. Paris: Seuil, 1990.
Utopia e um novo tempo
Para entender a importância de Ideologia e Utopia e o início da discussão a partir de Karl Mannheim (1893-1947), deve-se lembrar que este além de abordar os temas foi aluno de Alfred Weber e colega de trabalho de Theodor Adorno e Max Horkheimer, além dele (Mannheim) ter lecionado na London School Economics, e foi o primeiro a escrever sobre Ideologia e Utopia.
Isto mostra o perfil de alguém que escreveu antes da era ou sociedade da informação, fez uma sistematização de uma sociologia do conhecimento, fonte importante para uma concepção inicial do que Edgar Morin definirá mais tarde como “complexidade”.
Mannheim que não viveu a moderna sociedade da informação, já analisava as mudanças geracionais que e que cada geração significa: “entrada de novas pessoas obstrui os bens constantemente acumulados, mas também produz inconscientemente nova seleção e revisão no campo do que está disponível; nos ensina a esquecer o que já não é útil e a desejar o que ainda não foi conquistado.” (Mannheim, 1972, p. 532).
O conceito de utopia em Mannheim compreende uma forma de mentalidade do grupo, hoje potencializada pelas mídias, as quais de modo análogo a ideologia, também ultrapassa o que é denominado por realidade e aponta para um futuro possível, isto é, virtual.
Tomando o conceito de realidade como aquilo que é sócio-historicamente construído por um grupo dominante, deve-se entender como diálogo com a tradição de Gadamer, a possibilidade utópica é segundo Mannheim (1972, p. 216) “somente aquelas orientações que, transcendendo a realidade, tendem a se transformarem em conduta, a abalar, seja parcial ou totalmente, a ordem de coisas que prevaleça no momento”, ou seja, é preciso um horizonte novo, conforme o texto capaz de “transformarem em conduta”, ou seja, mudar a mentalidade e a ação. Aliás o termo utopia foi cunhado por Thomas Morus, uma pessoa reta e considerada santa pela Igreja Católica.
O texto de Ricoeur é bem mais complexo e rico, a leitura de Mannheim não é obrigatória, mas para aqueles que desejam um estudo sistemático, e apostar numa utopia possível, neste caso é uma leitura obrigatória, anterior a ideologia e Utopia de Ricoeur.
Referências:
MANNHEIM, Karl. Ideologia e Utopia. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1972.
Entre a ideologia e a Utopia
A corajosa obra de Paul Ricoeur Ideologia e Utopia, publicada em 1986 e disponível na versão portuguesa em 1991, hoje também há edições brasileiras como a da Autêntica Editora.
A obra que Ricoeur ministrou na Universidade de Chicago, em 1975, e analisa os temas desde Mannheim, até Althusser, Weber, Habermas e Goertz.
No entanto ele foi primeiro a abordar a ideologia e a num dentro de um quadro conceitual, por isto acrescentei o “entre” porque na verdade navegamos livremente hoje entre estes dois modelos de uma nova sociedade, e a demanda por uma mudança existe, mal qual ?
A justaposição que Ricoeur supõe, e a intersecção que uso (o “entre”) é para desfazer o contraste entre ambas, ainda que resistam diferenças, conforme está na introdução: “a justaposição … define e demarca melhor ambas, e diferencia-as marcadamente de formulações conceituais anteriores, em que a ideologia tem sido posta em contraste tanto com a realidade, como com a ciência, e a utopia vista como um mero sonho, uma fantasia desejável … “ (Introdução, p. 16)
Embora seja inquestionável a relação entre Ideologia e Utopia, quanto ao fato de apontarem para um “futuro”, com estes conceitos acontece, o que com muitos outros que já foram chamados de irritantes por F. Dumond em les Ideologies, e confusionantes em Crítica da Comunicação Pura de Lucien Sfez.
Ricoeur ao fazer a releitura de Mannheim, Saint-Simon e Fourier, a utopia, não dica reduzida a pura patologia desconectada da realidade, mas promove um necessário afastamento crítico e fecundo da realidade, utopia como poesia para tornar a crítica mais humana.
Foi Marx que ao escrever “Do socialismo utópico ao científico”, sem que se questione o que era ciência em sua época e verificar seus equívocos, que tornou o utópico como algo irreal.
Esclarece Ricoeur na Introdução; “tipicamente, a ideologia tem sido um tópico para a sociologia ou para a ciência política, a utopia para a história e a literatura.” (idem, pag. 16)
O que Ricoeur faz ao realizar uma conjunção entre utopia e ideologia é aquilo que ele próprio chama de imaginação social e cultural, e é neste ponto que se insere o momento crítico na hermenêutica, propondo uma alternativa ao modelo fracassado que opôs ciência à ideologia, uma vez que a própria ciência é questionável hoje em sem modelo positivista e matemático.
O que podemos extrair do texto de Ricoeur, mais que a clareza teórica do que é de fato ideologia e utopia, é o fato que realiza um profundo diálogo com a psicanálise, a linguística, o estruturalismo, a crítica literária, as teorias sociais e a história, e fazendo deste “pensamento complexo” como reivindica Edgar Morin, um novo modelo para a consciência histórica, como a hermenêutica de Gadamer exige.
RICOEUR, P. ideologia e Utopia. Trad. Teresa Louro Perez. Lisboa, edições 70, 1991.
MacronLeaks e eleições na França
Mesmo com a vitória de Macron no segundo turno das eleições francesas, e a derrota da ultra-direitista Marine Le Pen, não deixou ser notado um caso que foi o mais sério de ataque Hacker já conhecido para tentar influenciar uma uma eleição.
Tempos de pós-verdade, após a urgência na manhã do sábado do Comitê Nacional de Controle da Campanha Presidencial na França que implorou que a imprensa não divulgassem as informações sobre Macron, o fato no universo digital que é que não há controle à rigor de como controlar uma informação falsa, a única possibilidade é desmenti-la publicamente.
Após reunião de urgência na manhã deste sábado (6) para examinar o caso, a comissão estendeu o aviso a toda a população e usuários de redes sociais alertando que a divulgação desses documentos (o “MacronLeaks”, como já vem sendo chamado na França) pode envolver “responsabilidade penal” de seus autores.
Ainda não esforço de desespero, pois as pessoas que fazem este tipo de ação não tem uma consciência ética sobre o fato, o organismo pediu que “os atores presentes em sites da internet e nas redes sociais, em primeiro lugar os meios, mas também todos os cidadãos, a ter responsabilidade e não transmitir esses conteúdos, com o intuito de não alterar a transparência da eleição, não infringir a lei e não se expor a uma infração penal”.
Além disto alertou fato de terem sido “misturados com informações falsas”, assim a retransmissão destes fatos está “suscetível a receber uma qualificação penal de muitos tipos e de acarretar a responsabilidade de seus autores”.
O partido Em Movimento (En marche), fundado por Macron após romper com o governo Holland de esquerda, informou na noite de sexta que foi vítima de um ataque hacker “em massa e coordenado” que levou ao vazamento “nas redes sociais de informações internas de diversas naturezas”, estamos aguardando o resultado final das eleições para análise.
Mas um fato irreversível é que será necessário, daqui para frente, alguma forma de controle sobre informações falsas em campanhas eleitorais porque o efeito rede pode torna-las fatos incontroláveis de versões mentirosas sobre os candidatos invertendo opinião e as forças em uma campanha.
Os jornais europeus falam em “alívio”, “obrigado a França” e fortalecimento da união europeia, mas forças “ocultas” podem favorecer posições autoritárias e conservadoras.
A verdade, os erros e preconceitos
A presente época de crise da modernidade, já que pós-modernidade e outros não são aceitos por aqueles que defendem o status quo do pensamento vigente, agora é chamada de pós-verdade ou até mesmo de pós-factual, assim fatos dependem não mais de sua “materialidade” como diz o advogado, se trataria apenas de pura interpretação.
Santo Agostinho (1997, p. 297) afirmou que “o amor da verdade é tal, que os que amam algo diferente querem que aquilo que amam seja a verdade. Como não admitem ser enganados, detestam ser convencidos do seu erro. Assim, odeiam a verdade porque amam aquilo que supõem ser a verdade”, assim no dizer de hoje ninguém quer ser contestado, indagado ou mesmo corrigido para não permanecer no erro, eis a raiz da pós-verdade.
Nada é mais pós-verdadeiro que o preconceito e o fanatismo, e olhando para a filosofia contemporânea, é justamente pelo Outro que podemos não cair nestas supostas verdades, nada mais próprio para a conjuntura brasileira e internacional, vide França e EUA.
Platão, Aristóteles e Tomás de Aquino, embora cada um com particularidades, tinham em comum a concepção de que a verdade é a adaptação do pensamento/discurso com a realidade, ainda que de modo equivocado Platão seja visto como fora deste contexto, apresento o argumento simplista dele veio a filosofia Aristotélica, então há algo comum aí.
Tomas de Aquino afirma que há algo de imutável no intelecto divino: “A verdade do intelecto divino é imutável; ao passo que é mutável a do nosso, não porque seja sujeito a mutação, mas porque o nosso intelecto se muda da verdade para a falsidade” (AQUINO 1973, p. 175), sem o argumento teológico, podemos dizer de modo análogo: há algo de divino na verdade.
Na Bíblia, no capítulo 10 de João, ele atribuiu a Jesus a fala: “Em verdade, em verdade vos digo, quem não entra no redil das ovelhas pela porta, mas sobe por outro lugar, é ladrão e assaltante”, nada mais próprio do que este argumento para dizer a verdade é ontológica, é ser, antes de ser puramente lógica, portanto deve-se discuti-la entre seres e não apenas entre argumento, deve-se estar em diálogo e não num monólogo, mesmo que grupal.
Ou seja, não basta estar em “comunidade” é preciso estar alerta ao Outro, o diferente, deste modo estamos distantes de preconceitos e fanatismos, tão comuns hoje em dia.
AGOSTINHO, Aurélio. Confissões. São Paulo: Paulus, 1997
AQUINO, Tomás de. Súmula contra os gentios. São Paulo: Abril cultura, 1973
O último testamento
O mais recente livro do papa emérito Bento XVI está nas bancas, pouco estimado mesmo dentro da igreja e pouco lido e compreendido pelo círculo estreito dos “exegetas” e vaticanistas, ele rompe o silêncio a favor da verdade, que ama tanto quanto o Evanlgeho.
Foi anunciado no site Bloomsbury Publishing, que gente que gosta de leitura deveria ver, bem melhor que evangelho ideológico ou homilias despreparadas, o site diz que a publicação tem 224 páginas, e vai ser muito lido pelo povo, que a igreja jura amar, mas está longe.
O Bentinho, como o chamo, vai falar de coisas que ninguém imagina que falaria, mas como amante da Verdade, imagino que um dia ia falar, claro escrever, o papa fez 90 anos na Páscoa.
O caso que ficou conhecido como “Vatileaks”, que o mordomo chamado de Gorgeous George, porque gorgeous quer dizer bonito, um misterioso secretário que vazou as cartas pessoas de Bento, que alegavam corrupção e escândalos dentro do Vaticano.
Fala de sua suposta formação no partido nazista, suas tentativas de resolver a “sujeita da igreja” (abusos sexuais, pedofilia, gays, etc.) e como de fato vê tudo isto, vou ler.
Bento tentou desfazer grupos de pressão dentro do Vaticano, e apesar de se dizer surpreso com Francisco, pessoalmente penso que ele preparou sofrendo o caminho de um sucessor com uma nova proposta, mais aberta e realmente ligada ao “povo”.
Segundo comentários, ele fala com alegria do sucessor, e fala tanto do homem como do papa, mas confessa que não o imaginava como sucessor, Deus sempre surpreende em suas “escolhas”.