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O pensamento quântico e a nova visão do cosmos
A física quântica passou a lidar com as ideias de matéria e energia muito diferente daquilo que herdamos da física clássica, ao olhar em escalas subatômicas e situações como a efeito de tunelamento (tunneling) e buracos de minhocas (wormholes) as nossas intuições e formas de pensar sobre natureza, realidade e espiritualidade mudam profundamente.
Boa parte do pensamento ainda está atrelado a visão idealista de matéria e energia, e as observações do megatelescópio James Webb parecem ir mais longe sugerindo que a teoria das cordas (uma visão nova da matéria como vibração) e o paradoxo da informação dos buracos negros (na verdade a informação não se perde ali e sim algo “escapa” do seu aprisionamento).
Embora o modelo da Física Padrão tenha estabelecido a principal unificação das partículas subatômicas, e a descoberta do bóson de Higgs no experimento do CERN foi um passo fundamental, ainda restavam as explicações da matéria escura e dos buracos negros.
A teoria das cordas (figura acima) é uma das principais candidatas a essa unificação, pois apresenta uma conexão entre as forças fundamentais do cosmos.
O problema central é a unificação da teoria da relatividade de Einstein e a Física Quântica que tem inúmeras questões já resolvidas como o fenômeno EPR, nome dado pelo artigo de Einstein, Podolski e Rosen, que contestavam o efeito “fantasmagórico” da energia, cuja equação matemática é chamada de Desigualdade de Bell, um problema que estabelece que seria impossível ter o mesmo resultado de medição em duas partes de um sistema quântico, independente da distância que separa as duas partes, em 2022 Alain Aspect ganha o Nobel ao provar isto.
Os princípios da relatividade especial estabelecem que a informação não pode ser transmitida mais rapidamente que a velocidade da luz, por isto um efeito igual “a qualquer distância” seria algo fantasmagórico e isto questiona o princípio do comportamento do quantum sem distância.
Já a teoria da relatividade geral não consegue explicar a teoria do Big Bang, nem o comportamento dos buracos negros, Stephen Hawking criou uma teoria chamada de Paradoxo da Informação, que propunha matematicamente que a informação escapa da voracidade dos buracos negros.
A ideia de Hawking era apenas a ideia de radiação térmica, ou calor que escaparia, no entanto não carrega nenhuma informação sobre a origem do buraco negro ou a matéria que engoliu.
A teoria das cordas foi desenvolvida na tentativa de unificar essas duas principais teorias da Física Moderna, foi primeiro proposta em 1919, por Theodor Kaluza, depois houve uma inovação feita por Edward Witten entre 1994 e 1997 e agora algo que está sendo chamado de “cabelos” quânticos, onde a informação escapa dos buracos negros.
A ideia do cabelo surgiu pelo seu inverno, o físico John Wheeler dizia que os buracos negros não têm características distintivas, nenhum “penteado’, ‘corte’ ou ‘cor’ para diferenciá-los.
Entretanto Calmet e outros, em artigo de 2022 intitulado “Quantum Hair from Gravity”, descobriram que os buracos negros podem de fato “ter cabelos”, embora muito sutis, em 2023 avançaram um pouco mais mostrando evidencias de sua criação em buracos negros.
Inicialmente mudamos nossa visão de espaço e tempo, depois nossa visão de matéria e partícula, agora encontramos algo mais profundo que o universo não perde nenhuma informação, os cálculos matemáticos e as observações cósmicas são complexas, mas estamos cada vez mais perto de desmontar o edifício idealismo do dualismo físico e real.
CALMET, Xavier, Casadio, R., Hsu, Stephen D.H., Kuipers, Folkert. Quantum Hair from Gravity. Phys. Rev. Lett. 128, 2022.
CALMET, Xavier, Hsu, Stephen D.H., Sebastianutti, M. Quantum gravitacional to particle creation by Black holes. Physics Letter B 841, 2023.
O pensamento ontológico, o terceiro incluído e o Outro
O pensamento ontológico desde a antiguidade admitia dois níveis de realidade (poderia ser da verdade, mas a aletheia desde os clássicos gregos é outra coisa), Parmênides sintetizou em o ser é e o não ser não é, Heráclito vai além ao descobrir que a tudo flui, não podemos passar duas vezes pelo menos rio porque as águas correm sobre nós, mas é o rio é, embora mude.
Este pensamento evoluído para a física mecânica, ação e reação, inércia e movimento, atributo e força, enfim tudo aquilo que parece muito “natural” no dia de hoje, porém a mecânica quântica já ultrapassou isto e foi Stéphane Lupasco que teorizou o terceiro incluído, já provado pela física quântica atual.
Este terceiro incluído revela um paradoxo lógico que o físico Barsarab Nicolescu desenvolveu como um terceiro nível de realidade (figura acima), e chegou pedir uma reforma da Educação e do Pensamento (Barsarab, 1999) afirmando: “uma coisa é certa: uma grande defasagem entre a mentalidades dos atores e as necessidades internas de desenvolvimento de um tipo de sociedade acompanha invariavelmente a queda de uma civilização” (Nicolescu, 1999), em outros tempos os modelos eram: a mecânica aristotélica (motor imóvel) e o deus do pensamento platônico (Sumo Bem) que estão até hoje influenciando a sociedade.
Como já postamos algumas vezes o pensamento de Agostinho de Hipona que superava o maniqueísmo, sua crença anterior ao cristianismo, ultrapassa esta realidade dualista e o que o idealismo colocou em “ação” não foi senão uma ideia, faltou-lhe o movimento fora desta lógica.
A revolução copernicana apontou para o movimento dos astro e o heliocentrismo, hoje temos um buraco negro como centro de nossa galáxia, e cada vez mais penetramos neste mistério e das partículas subatômicas e nos defrontamos com o efeito de tunelamento (um estado intermediário entre as partículas quânticas) e os buracos de minhocas (caminhos no universo além das dimensões espaço temporais).
O pensamento moderno incluído a questão do Outro, não mais como um não-Eu, é uma nova hermenêutica além da afirmação de sujeito e objeto (idealista), Paul Ricoeur escreveu “O si-mesmo como outro”, Habermas “A inclusão do outro” como uma teoria do re-conhecimento, Byung-Chul Han escreveu a “Exclusão do Outro” como a perspectiva midiática de nossos dias, o livro de Emmanuel Lévinas “Humanismo do Outro Homem“, representa uma alteridade radical que desafia o pensamento ocidental e sua filosofia da identidade, muito atual quando pensamos no nacionalismo.
Martin Buber (Eu-Tu) vai além e vê no Outro uma relação ontológica, não é só uma questão da ética, é a visão de um ser para-o-outro no mundo, supera o ser com o outro ser, o “il y a” de Levinas, um passo fundamental nas relações é descobrir então um terceiro incluído e pensar que são possíveis relações trinitárias, raras como no universo quântico, mas existem.
NICOLESCU, Basarab. O manifesto da transdisciplinaridade. Trad. Lúcia Pereira de Souza. São Paulo: Trion, 1999.
Cosmovisão, filosofia e religião
A cosmovisão está mais estreitamente relacionada a filosofia e a cosmologia, mas na literatura ela não deixa de estar ligada a ciência e a religião, o geocentricismo (a terra como centro do universo) e a revolução copernicana que declarou o sol como centro do universo, correspondem a visões científicas e religiosas e ambas eram cosmovisões limitadas, no centro da nossa galáxia temos um buraco negro, por isto é correto pensar também nos “cosmos”.
Na visão ontológica de Heidegger, ele atualiza o termo Weltanschauung que aparece a primeira vez com Kant, que compreendia esta ideia de cosmovisão apenas através da experiência com o mundo sensível, para Heidegger são valores, impressões, sentimentos e concepções de natureza intuitiva, anteriores à reflexão, e assim corresponde a uma “visão de mundo”.
A conexão com a cosmologia é importante, já salientamos a revolução copernicana, e hoje a influência das descobertas do observatório espacial James Webb tem contribuído até mesmo para uma visão mais ampla da criação do universo, e se não foi criado, e existiu “sempre” isto favorece ainda mais a cosmovisão do eterno e do infinito.
O universo também nos informa de fatos científicos e religiosos, a visão do paradoxo da informação teorizada por Stephen Hawking sobre pequenas radiações que “escapam” do buraco negro amplia a visão cosmológica e científica, enquanto a estrela guia que indicou o local do nascimento de Jesus poderia muito bem ser uma nova ou uma supernova, uma estrela que nasce ou que morre.
Os cientistas e observadores do cosmos aguardam para os próximos dias o nascimento de uma estrela “nova”, nome dado a conjuntos binários de uma estrela anã e uma gigante vermelha que explodem e dão um brilho mais intenso de uma estrela nascente.
O assunto tomou conta da fantasia dos astrônomos porque desde setembro de 2024 a TCrB (T Coronae Borealis) o sistema binário próximo a constelação da Coroa está para explodir.
Os astrônomos preveem que está explosão está próxima podendo ocorrer na madrugada do próximo dia 27 de março, a TCrB (agora já chamada de Blaze Star ou Estrela Flamejante) está a 3 mil anos luz de distância e a constelação da Coroa está próximo a da serpente (Serpens Caput) e da Bota (Bootes) (figura acima).
Enquanto observamos eclipses, cometas e meteoros, nossa visão ainda era geocêntrica, olhar para um universo mais amplo corresponde a uma visão de mundo mais ampla, saímos de nossa bolha terrestre para admitir realidades celestes e mais universais que nosso pálido ponto azul.
Esta expressão surgiu de quando a sonda Voyager 1, no dia 14 de fevereiro de 1990, estava a uma distância de seis bilhões de quilômetros da Terra (passando o planeta Saturno), e havendo cumprido sua missão, por sugestão de Carl Sagan, vira-se para a Terra e olha para trás tirando uma foto.
Partículas, sons e linguagem
A matéria foi sendo estudada em partículas cada vez menores, os átomos idealizados por Demócrito (460-370 a.C.) ainda na antiguidade, porém para ele seriam indivisíveis, eternos e imutáveis, mas a ciência moderna começou a enxerga-los em subpartículas cada vez menores.
Inicialmente prótons, elétrons e nêutrons, na década de 30 o físico austríaco Wolfgang Pauli previu o neutrino, mas sua detecção foi feita somente em 1956 por Clyde Cowan e Frederick Reine, na década de 60 George Zweig e Murray Gell-Mann previram os quarks, a descoberta aconteceu em 1968 no Centro de Aceleração Linear de Stanford.
Depois vieram os Gluons, Leptons, Mesons e Hadrons vieram complementar o Modelo da Física Padrão, nome dado a teoria unificada da física na década de 1970, em 2012 o Grande Colisor de Hadrons (LHC de Genegra) detectou o bóson de Higgs, que era uma subpartícula prevista para unificar a teoria, mas restam perguntas: o que é a matéria escura, o que ocorre num buraco negro, o que provoca a força gravitacional, haveriam partículas grávitons
Uma teoria elaborada para responder estas questões foi a teoria das cordas, que vem desde 1919 quando foi elaborada por Theodor Kaluza, depois Yoichiro Nambu, Holger Bech Nielsen, Leonard Susskind, John H. Schwartz e Michael B. Green, só para citar alguns nomes de físicos importantes que trabalharam nesta teoria.
Os quarks up e down que compõe prótons e nêutrons, unidos a força de glúons formariam diferentes vibrações que se comporiam formando as partículas elementares, assim todo o universo poderia ser resultante de formas primitivas de vibrações, sons que poderiam estar fora das faixas audíveis.
Ela tenta unificar a mecânica quântica e a teoria da relatividade, e pode ser um modelo mais unificador que o da Física Padrão.
Assim podemos dizer que os sons são a “linguagem” primordial do universo e tudo poderia ser composto a partir dele, as observações de formação de galáxias e comportamentos em buracos negros feitos pelo James Webb podem chegar a confirmação ou negação desta teoria.
Assim também o universo seria um ser de “linguagem” na forma de vibrações formadas pela teoria das cordas, e nossa palavra seria algo muito mais importante do que nós imaginamos, não apenas porque tem certa potência, mas principalmente porque faz parte do universo primitivo e se desenvolve com ele em suas formas mais complexas das nebulosas que formam estrelas gigantes e pequenas, gigantes vermelhas, anãs brancas, novas e supernovas, estrelas de nêutrons e buracos negros.
O universo complexo seria em sua forma mais elementar através de quarks up e down, diversas formas de cordas que compostas formariam o que chamamos de matéria.
Um artigo do diretor do Instituto Kavli para a Física e Matemática do Universo (Kavli IPMU), Ooguri Hirosi, e do investigador do projeto, Matthew Dodelson, sobre os efeitos teóricos das cordas fora da esfera de fótons do buraco negro, foi publicado na revista Physical Review de 24 de março de 2021.
Um evento que não ocorreu em 2025
Cientistas previam a formação de uma estrela, a partir de uma anã branca e uma gigante vermelha, a T Coronae Borealis (T CrB), por volta de setembro, o encontro destas duas ocorreria uma grande explosão que seria visto até mesmo a olho nu, mas ainda não ocorreu.
Elas formariam uma Nova, que diferente de uma Supernova que é uma estrela “morrendo”, os termos são imprecisos astronomicamente e é apenas didático, a Nova é o nascimento de uma estrela, assim o fenômeno de vida e morte no universo é muito comum e maravilhoso.
A formação de uma nova ocorre da aproximação de uma Anã Branca, que é um corpo com massa muito densa comparável ao Sol e volume pequeno comparável a Terra, como não há fusão dentro da Anã Branca sua luminosidade é fraca, já a Gigante Vermelha tem uma luminosidade baixa ou intermediária, nelas há um processo de fusão de hidrogênio em hélio.
A aproximação das duas forma uma nova estrela e esta “explosão” era o que estava previsto para este ano, assim por enquanto, a T Coronae Borealis, é uma estrela binária (uma anã branca e uma gigante vermelha) cuja fusão formará uma estrela com este nome, por se situar próxima a constelação de Coroa Boreal.
Já uma Supernova ocorre quando um “sol gigante” com massa superior a 10 vezes nosso Sol, explode e chega ao fim da vida e também produz um brilho muito intenso, formando ou uma estrela de nêutrons ou um buraco negro, a mais conhecida é a Betelgeuse (ou Alpha Orionis por estar na constelação de Orion), em outubro teve uma queda em seu brilho o que pode ser a indicação de que sua explosão está próxima, mas sem definição de datas.
A T Coronae Borelis está cerca de 75 anos luz do nosso Sol, o que é relativamente perto em termos de localização astronômica, a Alfa Centauro nossa galáxia vizinha está a 4.367 anos luz.
É o ciclo da vida também no universo, e explosões e crises em Novas e Supernovas não apenas dão um brilho intenso, mas também indicam uma nova realidade para os corpos celestes.
De que é composto o universo e qual sua origem
Os filósofos gregos do século 6 a.C. acreditavam que os quatro elementos de toda natureza eram: fogo, terra, água e ar, Pitágoras propôs uma escola praticamente religiosa que tudo eram números enquanto Demócrito propôs o átomo e que eles teriam formas arredondadas, lisas, irregulares e lisos podendo formas uma infinidade de elementos, mas até o final da idade média se acreditava que o fogo eram composto de uma destas partículas: o fogisto, devemos a tabela química a Dimitri Mendelev que em 1869 organizou os seus elementos químicos, antes o alquimista Henning Brand descobriu que o fósforo aquecido com resíduos de urina provocava chamas e Antoine Lavoisier em 1789 organizou alguns elementos em simples, metálicos, não metálicos e não metálicos.
A física padrão atual estabeleceu 7 elementos: neutrinos, elétron, quarks, fóton, gráviton, glúon e bóson de força fraca, mas há um mundo quântico mais misterioso o das supercordas, parece assustador ou usando a palavra dos físicos fantasmagórico (Einstein a usou a primeira vez ao perceber que há um terceiro estado na física quântica em que o elemento nem é nem não é, chamado mais tarde de Terceiro Incluído).
A teoria do universo mais convincente até recentemente era a do Big-Bang e um universo em expansão, a entropia, Stephen Hawking foi seu grande teórico, embora esta teoria já existisse antes, e propôs assim uma “flecha do tempo” em seu livro mais famoso uma “Uma breve história do tempo” (1988), porém as descobertas do James Webb colocaram em cheque ao encontraram nos confins do universo galáxias e corpos celestes que não deveriam estar lá, agora até mesmo a flecha do tempo é questionada.
O importante ao olhar para o universo é entender de onde veio tudo e se este todo e a vida inteligente, que por enquanto só encontramos em nosso planeta terra, teve um início e mais importante que isto teve uma intenção.
O “fiat lux” bíblico parece concordar tanto com a teoria do Big Bang, antes dos átomos haveriam ondas ou “cordas” criadas nos primeiros 10−44 segundos (tempo de Planck) e depois criados os elementos subatômicos, no caso das cordas, tudo é formado inicialmente por cordas unidimensionais que se dividiriam em cordas “abertas” (lineares e cordas “fechadas” (em força de laço), vibrando em diferentes frequências que dariam origem não apenas aos 7 elementos, mas também as moléculas iniciadoras da vida.
Seja como for existiu um momento inicial, e a forma deste “ente” deve ter sido precedida por um “ser” criador, o paleontológico e teólogo cristão Teilhard Chardin propôs que todo universo seria corpo deste supremo “Ser” do “ente”, assim ele deveria ter uma realidade divina e outra material (humana), assim propôs que o universo é cristocêntrico.
Do nada não é possível ter surgido o Tudo, e se há uma forma original do Todo, de algum “elemento” o mundo físico é composto, assim há um “Corpus” deste Todo, com a diferença que Ele é criador e todo o resto criado, mas criado com algum substrato do seu próprio Supremo Ser, claro a teoria para isto é mais elaborada, mas a sua compreensão é simples, somos parte de um corpo, de um conjunto que se comunica, a ideia da individuação do universo não é plausível, porque lá no início éramos uma coisa só: um pequeno corpúsculo cósmico, um conjunto de cordas vibrantes (poderíamos pensar até mesmo num coro fazendo uma música), porém houve uma momento de criação e um Ser o criou a partir de si mesmo.
Eu, o Outro e o Terceiro Oculto
O princípio da incerteza que vinha da física, a partir de Heisenberg, no início do século passado aos poucos colocou a Física em cheque, pondo o determinismo científico, o logicismo também em cheque devido o paradoxo de Gödel que determinava que um sistema matemático axiológico ou é completo ou consistente, não podendo ser os dois ao mesmo tempo, porém uma nova visão científica e ontológica se desenhava, a Ontologia Transdisciplinar.
Na semana de 13 a 17 de julho de 2008, a 9ª. Conferência anual do Instituto Metanexus, realizada em Madrid, Espanha, entre filósofos, biólogos, físicos, cosmólogos, neurocientistas, cientistas cognitivos, historiadores, educadores, teólogos e líderes de comunidades aconteceu com o tema “Subject, self, and Soul: Transdisciplinary approches to Personhood”, onde Barsarab Nicolescu foi convidado a abrir a Conferência.
Nela Nicolescu vai desenvolver a ideia do terceiro oculto, a filosofia já havia falado do Outro através de Lévinas, Ricoeur e o educador Martin Buber, que no livro “Eu-Tu” reconhece no outro um algo “divino”, mas para aí como os outros, para na beira do conceito de alteridade.
Nicolescu foi a frente, escreve como Heisenberg um modelo de ultrapassar o dualismo sujeito x objeto, característico da modernidade: “: “Nunca podemos chegar a um retrato exato e completo da realidade (Heisenberger, 1998, p. 258). A incompletude das leis da física está presente em Heisenberg, mesmo que ele não faça nenhuma referência aos teoremas de Gödel. Para ele, a realidade é dada como “texturas de diferentes tipos de conexões”, como uma “abundância infinita”, sem qualquer fundamento último” (Nicolesceu, 2008)
Citando ainda Heisenberg, afirma Nicolescu citando a consonância com Husserl, Heidegger, Gadamer e Cassirer (que ele conheceu pessoalmente), que é preciso suprimir qualquer distinção rígida entre Sujeito e Objeto.
O ideia do sujeito oculto em Nicolescu está além do limiar Eu e o Outro, está na concepção que vem da física que existe um terceiro estado na natureza, o Terceiro Incluído além do Ser e do Não-Ser, chama-os de Objeto-Transdisciplinar e Sujeito-Transdisciplinar, na física quântica já estava claro que a análise de um fenômeno do Objeto deve ser transdisciplinar devido um estado então desconhecido na natureza, agora também um Sujeito Transdisciplinar é descrito por Nicolescu (chama-o TD-Subject) que desvela o Terceiro Oculto.
Embora o tema fale da alma e chega a falar de espiritualidade, para uma boa leitura bíblica é preciso entender o desvelamento de Jesus após sua morte (aparição é um termo limitado) que se revela de modo surpreendente e divino aos discípulos, o Terceiro Oculto é Ele próprio.
Na passagem de discípulos que estão caminhando para Emaús e um Terceiro caminhante se infiltra entre eles, ao verem partir o pão logo vão lembrar de sua “conversa”: “ Então um disse ao outro: “Não estava ardendo o nosso coração quando ele nos falava pelo caminho, e nos explicava as Escrituras?” (Lc 24,32).
NICOLESCU, B. “Subject, self, and Soul: Transdisciplinary approches to Personhood”, Metanexus Conferece, Madrid, 2008.
O paradoxo da informação no cosmos
A questão da informação com os buracos negros é que qualquer objeto que cai lá e você jamais o verá ou terá alguma informação que sobre o que aconteceu, até mesmo a fusão de dois buracos negros é impossível de ser desfeita, não se pode separá-los e o que acontece?
Os buracos negros simplesmente parecem não preservar nenhuma informação.
Em toda história da ciência as nossas leis científicas foram sendo escritas a partir de observações quantificáveis, essas informações são certas propriedades físicas mensuráveis de matéria e energia. Uma molécula ou uma partícula, como um próton ou um elétron por exemplo, contém um valor de massa, uma carga elétrica, um spin e diversas outras propriedades quânticas (número de bárions, léptons, hipercargas etc.).
Porém havia a famosa partícula de Higgs ou “de Deus” algo que atribuía massa as outras e uma experiência no Grande Colisor de Partículas (hadrons (LHC) conseguiu detectá-la, num buraco negro que absorva determinada quantidade de partículas, de matéria e energia ao longo do tempo, ele própria seja constituído de partículas com propriedades únicas, e assim ele deveria conter uma significativa quantidade de informação, mas onde está ?
A pergunta certa é para onde foi esta quantidade de informação? Em teoria, um buraco negro feito a partir do colapso de uma estrela normal, onde pode-se observar o buraco negro que surge, tem informações codificadas totalmente diferentes do que as de um buraco negro feito a partir do colapso de uma estrela de antimatéria (considerando-o possível), por exemplo.
Isto não é uma violação das leis físicas newtonianas, mas sim a própria teoria quântica, pois quando Stephen Hawking aplicou as regras da mecânica quântica aos buracos negros ele descobriu (ou supôs) que sistemas isolados emitiriam uma forma de radiação, chamada por isto de radiação de Hawking, que seria independente do estado inicial do buraco negro e dependeria apenas de sua massa, carga elétrica e momento angular.
Se a informação não se preserva ou se evapora inteiramente através da radiação de Hawking, tem-se um paradoxo, entre as hipóteses mais aceitas atualmente está a teoria das cordas, a principal candidata a uma nova teoria unificada da natureza, que aceita que a informação realmente escapa de um buraco negro.
Assim se você pular em um buraco negro, não irá necessariamente embora para sempre; ao invés disso, a informação do seu corpo poderá emergir, partícula por partícula, para reconstitui-lo de alguma forma a partir destas pequenas ondas, chamadas de “cordas”.
As observações do super laboratório espacial James Webb e os contínuos estudos para as fronteiras do pensamento nos levarão ainda mais longe, rumo as confins e enigmas do Cosmos.
O terceiro incluído da física e o pensamento
O fato que estamos presos ao dualismo, A e não-A, o Ser é e o Não Ser não é, e agora transformado em pensamento político como se a natureza e a sociedade houvesse apenas sempre duas opções em conflito não havendo uma terceira (ou mesmo quarta e quinta opções) é um pensamento desatualizado se olhamos o paradoxo lógico desenvolvido pelo físico Barsarab Nicolescu que encontra paralelo não só na física quântica (foto), mas também no pensamento social e ontológico: a terceira opção (figura).
Tanto que isto é verdade que o próprio texto de Barsarab que pede uma reforma da Educação e do Pensamento (Barsarab, 1999) indica que pode-se ver nesta mudança uma saída do centro de uma crise maior que as questões físicas ou lógicas, afirma Barsarab: “Uma coisa é certa: uma grande defasagem entre a mentalidade dos atores e as necessidades internas de desenvolvimento de um tipo de sociedade acompanha invariavelmente a queda de uma civilização”, ou dita de outra forma, mais ontológica, ente o Ser e o não-Ser há um estado Não-Ser-sendo que rompe dualismos e paradoxos.
Tanto a carta de Barsarab que pede uma reforma da educação, como outros pensadores como Edgar Morin e outros perceberam uma crise na modernidade com raiz no pensamento e na educação, o teórico do Terceiro Incluído T, dá uma sentença preocupante: “O risco é enorme, porque a contínua expansão da civilização ocidental, em escala mundial, faria com que a queda dessa civilização fosse equivalente ao incêndio de todo o planeta, em nada comparável às duas primeiras guerras mundiais”.
Existe ainda um pensamento linear e monodirecional onde a intencionalidade é sempre polarizada e criar um caminho “único” e monocromático, com o eterno perigo de autoritarismo e desvios de poder, para distensionar será necessário um mundo mais aberto e onde todos fossem incluídos e não apenas o que é conveniente ao poder.
A educação deve caminhar e auxiliar este contexto, Barsarab diz em sua carta: “A harmonia entre mentalidades e saberes pressupõe que tais saberes sejam inteligíveis, compreensíveis. Mas será que essa compreensão pode ainda existir, na era do big bang disciplinar e da extrema especialização?”
A dura realidade da pandemia mostra que oscilamos entre uma verdadeira solidariedade e uma distensão para enfrentar a crise, e a polarização oportunista que quer tirar vantagem sobre as mortes e os desvios de uma crise sanitária mal gerenciada, em alguns países mais, mas em quase todos.
A sentença de Barsarab que parece dura não o é: “Existe alguma coisa entre e através das disciplinas e além de toda e qualquer disciplina? Do ponto de vista do pensamento clássico não existe nada, absolutamente nada. O espaço em questão é vazio, completamente vazio, como o vácuo da física clássica”, neste epoché (a visão grega do vazio) pode florescer uma verdadeira filosofia, também ela quando não é (a suspensão de juízo, os novos horizontes além dos pré-conceitos, etc.) é que ela é.
NICOLESCU, Basarab. O manifesto da transdisciplinaridade. Trad. Lúcia Pereira de Souza. São Paulo: Trion, 1999.
Globalismo ou Universalismo, um novo período
A atual crise aponta claramente por uma crise civilizatória, as visões eurocêntricas e iluministas já mostravam seu esgotamento em períodos anteriores, por pensadores como Nietzsche e Shopenhauer que foram buscar elementos na filosofia ocidental, porém a física quântica e estudos sobre uma era chamada de “antropoceno” como os estudos transdisciplinares de Anna Tsing, fundadora da AURA (Arhus University Research on the Antropocene) e uma das editoras do Feral Atlas (feralatlas.org) publicado pela Stanford University Press.
Assim as teorias do globalismo e NOM (Nova Ordem Mundial) não passam de teorias conspiratórias, embora as forças políticas em jogo possam ter também influências de diversas organizações políticas que desejam formas novas de imperialismo e controle populacional.
O simples olhar para um universo cada vez mais complexo em que morrem velhos paradigmas copernicanos e newtonianos, de grande influência no pensamento ocidental, mostram uma realidade muito mais complexa, como a teoria das cordas apontada por Michio Kaku como uma das poucas alternativas para explicar o universo como vemos agora por megatelescópios.
Mesmo a ideia de Einstein de entender a mente de Deus é muito distante daquilo que significa realmente uma teoria do Tudo e do Todo, onde é quase impossível não pensar em um Ser com uma inimaginável inteligência que criou tudo, uma simples energia ou acaso é simplista demais e mesmo físicos teóricos como Albert Einstein, Stephen Hawking e Michio Kaku admitiram esta hipótese.
Porém é difícil imaginar uma consciência mega-inteligente diante de raciocínios tão primários que envolvem a maioria dos pensadores cristãos, figuras como Agostinho de Hipona, Thomas de Aquino, Duns Scottus e Boécio, estes dois últimos são considerados santos pelos católicos, parecem estarem ofuscados por um primarismo fundamentalista que ignora o universo complexo que vivemos e que se revela ainda incompreensível para os limites humanos.
Para religiosos sérios bastaria examinar a visita dos reis magos (veja o documentário da Discovery) que vieram adorar o recém-nascido em Belém para tomarem consciência que Deus é universal e não se limita aos ditames e costumes humanos, mas há muita falsa profecia.
O limite de um verdadeiro cristianismo deveria ser como dizia Agostinho de Hipona: “o limite do Amor é amar sem limites”, isto deveria ser essencial a um verdadeiro Deus de Amor.
Os 3 Reis Magos – Documentário Discovery Civilization l Dublado l (youtube.com)