Arquivo para janeiro, 2017
Empresas de TI e Trump
As empresas que mais empregam cérebros e mão de obra estrangeira são as empresas de tecnologia, e os reflexos da tentativa de nacionalizar os empregos já provocou reação da maioria das empresas.
Ontem diversas empresas haviam se manifestado, entre elas as gigantes Google, Facebook, Apple e Microsoft, que entre outras medidas vetou o acesso de nativos de sete países com maioria muçulmana de virem aos Estados Unidos, a medida vale por 90 dias e a reação foi mundial, com manifestação inclusive de alguns governantes, como da Arábia Saudita.
O diretor executivo Sundar Pichai, cujo nome já mostra a nacionalidade, disse que na Google a ordem de Trump atinge cerca de 100 funcionários.
Ontem o Canadá, que teve um atentado pontual contra uma mesquita neste país, foi as televisões para declarar o apoio e a solidariedade aos muçulmanos, assim como seu desejo de receber os emigrantes que não possam entrar nos Estados Unidos, em longo prazo isto poderá inclusive resultar na transferência de alguns escritórios destas empresas para o Canadá.
O dono da Tesla Elon Musk, empresas que tem inovações revolucionários com uso de energia solar entre outras mudanças tecnológicas bombásticas, que assessora o governo Trump.
A medida é um grande retrocesso, remontando ao início do capitalismo industrial quando Adam Smith escreveu o clássico “A riqueza das nações”, hoje a matéria prima, cérebros e mão de obra são mundiais, e, diga-se de passagem, que os Estados Unidos foi o maior beneficiário, o efeito desta volta atrás resultará em atraso mundial, mas também para a maior potência do planeta, ainda que afete de imediato seus parceiros comerciais, como México e Canadá.
Este processo equivale a uma desglobalização, pois também alguns países da Europa como França e Reino Unido caminham nesta direção, a visita de Trump à este país já provoca muitas manifestações e uma petição com mais de 1 milhão de assinaturas já foi feita.
Campus Party começa amanhã
Acontece no pavilhão do Anhembi, em São Paulo, a décima edição do Campus Party, concentração de fãs, trabalhadores, empresas e até mesmo pensadores que usam um espaço amplo para trocarem experiências, produtos e ideias dos avanços do mundo digital.
Deve predominar este ano duas ondas que já bombam neste meio: a internet das coisas e o compartilhamento, que saiu de produtos digitais e foi para diversas áreas: como brinquedos, alugueis temporários de casas, disponibilidade de vagas em carros para viagens, etc.
No palco principal onde alguns nomes interessantes são chamados e outros nem tanto, aparecerá este ano figuras como: Michel Nicolelis (brasileiro que é nome mundial na neurociência), Camille François (ciberativista que defende questões sobre privacidade, anonimato, pesquisadora em direito na Universidade de Harvard) e Paul Zaloom, (ator famoso nos anos 90 com programa O Mundo de Beakman), e outros claro.
Outra novidade é a ligação estabelecida com o PNUD (Programa de Desenvolvimento da ONU), que tem 17 objetivos de desenvolvimento sustentável, em 100 horas será desenvolvido o que se chama Big Hackathon onde projetos são propostos e poderão ser encampados pela iniciativa pública ou privada com financiamento compartilhado pela ONU.
Destaco entre estes objetivos 8 que considero inadiáveis: Erradicação da pobreza, Fome zero e agricultura sustentável, educação de qualidade, energia limpa e acessível, trabalho decente e crescimento econômico, redução das desigualdades, ação global sobre o clima e paz/justiça/ instituições eficazes.
O evento começa amanhã e a entrada custa R$ 240.
Fusão de horizontes e diálogo
É possível falar de diálogo sem exercitar nenhum processo diálogo, é um discurso comum porque todos querem reivindicar para si a universalidade do próprio discurso, mas isto é uma ruptura dentro do processo de construção de um discurso coletivo.
O importante de muros é que por trás deles há aqueles que constroem pontes e estas fatalmente dão mais mobilidade do que os muros, e assim encontrar caminho mais fácil.
Em filosofia é o que se chama de fusão de horizontes, enquanto o discurso do diálogo anti-dialógico fecha-se num círculo hermético da aprovação de seus pares, o processo que vai além do diálogo, pois é hermenêutico, constrói estrada da verdade que são seguras e pavimentadas.
O fechamento hermético em teoria/prática, discurso idealista da modernidade, o compreender, enquanto modo de ser mais básico do homem e sua inserção no horizonte da vida prática indica uma é uma questão muito mais chave na tradição hermenêutica.
Longe de ser idealista, é possível falar de engajamento hermenêutico com uma nova “práxis” que acontece na medida que desenvolvemento uma relação aberta ao discurso do Outro.
Gadamer, um dos artífices desta nova articulação dialógica, vê em muitos casos que a reflexão sobre o que é práxis não tem deve substituir nossa imersão dentro da lógica da vida, enquanto ela se seja realizável e objetiva em fatos vistos e não apenas imaginados.
Para o filósofo da nova hermenêutica, “a compreensão deve ser pensada menos como uma ação da subjetividade que uma participação em um evento da tradição, um processo de transmissão no qual o passado e presente são constantemente mediados” (Gadamer, 2003).
David Waberman, um dos leitores de Gadamer afirma que: “A compreensão é, de modo geral, um caso de fusão de horizontes”, e, no caso da compreensão do passado, uma “mediação pensante” (thoughtful mediation) tnato do passado quanto do presente (Waberman, 1999).
Assim o sentido que damos de um texto que estamos lendo ou mesmo (talvez mais ainda) obra de arte, não devemos ter a pretensão de reconstruir a intenção original do autor, mas compreendê-lo de tal modo que sua verdade se manifesta a nós.
Independente da nossa situação histórica, todos estamos vivendo-a no mesmo momento, e esta necessariamente envolve uma compreensão sempre diferenciada, e sempre diferentemente do modo como a obra foi originalmente pretendida, assim também a vê o autor Waberman, logo podemos “dialogar” sobre ela se estamos abertos ao horizonte do Outro, na maioria das vezes isto é feito sem o diálogo do Outro diferente, mas do outro que repete o meu próprio discurso, sem a necessária dialogia.
A diferença dialógica é que uma constrói muros, mesmo afirmando o contrário, e a outra constrói pontes, mesmo que seja com as pedras atiradas.
GADAMER, H. G. Verdade e Método. Petrópolis: Vozes, 2003
WEBERMAN, David. Reconciling Gadamer’s non-intentionalism with Standard conversational goals. In The Philosophical Forum, v. XXX, n.4, p. 317, dez/1999.
Stonehenge e a antropotécnica
Antropotécnica é o nome dado a ideia que é possível ligar a antropologia e seus desenvolvimentos humanos ao desenvolvimento de técnicas que influenciaram mudança civilizatórias e até mesmo estruturais na forma de organização humana, o termo é devido a Peter Sloterdijk que tenta explicar os processos atuais de tecnologia na modernidade.
Stonehenge é um monumento do período neolítico, que se acredita ter surgido num período chamado por arqueólogos de mesolítico, entre 8500 a 7000 a.C. (Vatcher e Vatcher, 1973) e descobriu-se recentemente que faz parte de círculos maiores (figura 1)
Não se sabe como os primeiros monumentos de pedras (post-holes) apareceram ali, mas uma hipótese razoável é que alguns já existiam e depois outros foram sendo trazidos por um longo período de cerca de mil anos, alguns vindos de muito longe de regiões como o País de Gales.
Uma possibilidade estudada é que a paisagem da região de Stonehenge no passado pode ter sido especialmente aberta, que aperta de exigir alguma tecnologia para transportar as enormes pedras, haveria uma espécie de terraplanagens retangulares (a Maior chamada de Stonehenge e a menor de Cursus) que permitiu a movimentação das pedras em troncos de árvores ou mesmo em geleiras glaciares que possibilitaram o movimento das pedras (French, 2012), conforme a figura 2.
Duas pedras conhecidas como Heel Stone (calcanhar) e North Barrow foram as componentes iniciais de Stonehenge, mas a vala circular com bancos internos e externos foram construídas em 3000 a.C. e foram trazidas de fora para lá (figura 3)
É possível que características como a Pedra do Calcanhar eo montículo baixo conhecido como o Barrow Norte fossem componentes iniciais de Stonehenge, mas o evento principal mais antigo conhecido foi a construção de uma vala circular com um banco interno e externo, construído sobre 3000 aC (Field e Pearson, 2010). Esta área fechada cerca de 100 metros de diâmetro, e tinha duas entradas. Era uma forma adiantada do monumento do henge (LAST, 2011)
Dentro dos bancos e de cerca de 60 valas foram encontrados vários instrumentos de madeira, de pedras e alguns deles que chamaram a atenção por serem de cobre, como aquele que foram chamados de valas de Aubrey, as pessoas enterradas ali eram cerca de 150 individuos, sendo o maior cemitério neolítico (PEARSON, 2012).
Uma pedra (gneiss) e pinos de osso encontrados associados com restos humanos cremados nos furos de Aubrey em Stonehenge, dizem que lá foi um cemitério.
VATCHER, G e VATCHER, M., ‘Excavation of three post-holes in Stonehenge car park’, Wiltshire Archaeological and History Magazine, 68 (1973), 57–63.
FRENCH, C. et al, ‘Durrington Walls to West Amesbury by way of Stonehenge: a major transformation of the Holocene landscape’, Antiquaries Journal, 92 (2012), 1–36.
FIELD, D. and PEARSON, T. World Heritage Site Landscape Project: Stonehenge, Amesbury, Wiltshire Archaeological Survey Report, English Heritage Research Department Report 109-2010 (Swindon, 2010).
LAST, J., Introduction to Heritage Assets: Prehistoric Henges and Circles (English Heritage, 2011).
PARKER, M.; CHAMBERLAIN, A., MARSHALL, M. J., POLLARD, RICHARDS, C. THOMAS, J., TILLEY, C. e WELHAM, K., ‘Who was buried at Stonehenge?’ Antiquity, 83, 2009, 23–39.
PEARSON, M Parker, Stonehenge: Exploring the Greatest Stone Age Mystery (London, 2012), 193.
Indicações do Oscar 2017
É provável que haja contestações de Trump, alguma referência ao Oscar branco do ano passado, mas nada mais patriótico e americano do que os festivais, La la Land é interessante, mas 14 indicações diz o que de fato Hollywood é muito americana, como não lembrar os famosos musicais de Hollywood ? é bom sim, mas nem tanto assim.
Como isto La la land igualou a Titanic em 1997, e A malvada em 1950, em indicações centrais como melhor filme, melhor diretor (Damien Chazelle que já ganhou dois globos de ouro), melhor ator (Ryan Gosling) e melhor atriz com Emma Stone.
Bem atrás do musical, estão filmes com 8 indicações e o drama Moonlight: Sob a luz do luar, a ficção científica “A chegada”, e depois Manchester à beira-mar com 6 indicações e que já dissemos que não é tudo isto.
Ainda no estilo hollywoodiana não poderiam faltar um filme de guerra, a “Até o último homem”, de Mel Gibson e um faroeste moderno como a “A qualquer custo”; quanto aos dramas, estão: “Estrelas além do tempo”, “Lion: Uma jornada para casa” e “Cercas” (em inglês Fences), que é um dos meus preferidos junto com “A chegada”.
Meryl Streep, que no globo de Ouro onde foi homenageada de honra deu uma sapatada em Donald Trump, bate seu record com 20 indicações ao Oscar (só ganhou 3) como melhor atriz por seu papel em “Florence: Quem é Essa Mulher?”.
Destaco ainda a indicação da inglesa Isabelle Huppert (“Elle”) (primeira foto acima), que não deve levar, mas estou na sua torcida, junto com “A chegada” (foto da direita),
Viola Davis já ganhou o prêmio Globo de Ouro de melhor atriz coadjuvante, poderia ganhar de novo, mas é provável que vá para, Naomi Harris (“Moonlight: Sob a luz do luar”) (foto abaixo), sendo as outras indicações: Nicole Kidman (“Lion: Uma jornada para casa”) e Octavia Spencer (“Estrelas além do tempo”) não merecem.
Talvez Star Wars (“Rogue One: Uma história Star Wars”) (foto abaixo) tenha um premio de consolação de efeitos especiais ou mixagem de som, os aficionados esperavam mais alguma indicação.
Em animação Trolls não teve indicação, talvez Moana: uma aventura do mal talvez ganhe, fui assistir com crianças que acharam um pouco difícil a linguagem, os outros exceto Zootopia, que tem algo diferente, “Minha vida de abobrinha”, “A tartaruga vermelha” e mesmo o badalado “Kubo e as cordas mágicas” não tem nada de especial.
O prêmio será daqui um mês, dia 26 de fevereiro e será apresentado por Jimmmy Kimmel.
Uma nova revolução eletrônica?
Enquanto crescem as pesquisas e especulações da fotônica (computação baseada em fótons) e a computação quântica, as pesquisas com nanotubos de carbonos e grafeno (um composto feito de nanotubos) chegam mais rápidas a resultados práticos e diretamente aplicáveis na computação atual.
A computação atual realiza operações usando uma tecnologia que usa minúsculas ligações usando óxido de metálico sobre o silício (ou CMOS – Complementary Metal Oxide Semicondutor) conseguem operações na casa de nonossegundos (10-9 do segundo) colocando micro transistores numa escala de nonometros (10-9 do segundo) isto tem limitado o avanço dos chips de computadores pois esta é uma barreira máxima para tal tipo de tecnologia
Agora pesquisadores da Universidade de Pequim na China dizem ter encontrado uma forma de colocar transistores baseados na tecnologia de nonotubos de carbono, que superam em muito estes feitos com tecnologia baseada em metal-óxido sobre o silício, os transistores são bem menores na casa dos femtomsegundos (10-15) construídos em silícios em escaladas abaixo dos nanômetros.
Ao contrário das técnicas convencionais que eram crescer nanotubos de carbono em silício, que tinham muitas propriedades indesejáveis, eles colocaram apenas alguns nanotubos e testaram as propriedades feitas em folhas minúsculas de grafeno (métodos de construir por processos parecidos a revelar fotos em estruturas muito microscópicas de transistores), e obtiveram ótimos resultados.
As portas lógicas (gates em inglês) que fazem as operações passaram a operar, graças a capacitância deste novas estruturas, na casa dos femtosegundos, o que garante uma velocidade mil vezes mais rápidas que as tecnologias atuais dos chips de silício.
Mais do que isto, os operadores dizem que seu trabalho oferece evidências físicas de que todo o dinheiro gasto na pesquisa de nanotubos de carbono como substituto das atuais tecnologias de silício, será pago quando a produção em massa destes chips for viabilizada.
O artigo está publicado na phy.org que é uma revista especializada em trabalhos de nanotecnologia.
Holografia chegou para ficar
Holografia já veio para ficar, já existem técnicas de projeção tanto como uso de cubos ou pirâmides de vidros com uso de óculos(holographic glass) ou sem vidros e sem óculos (no glass), tais como as fotos ao lado.
Como sempre é a agressiva indústria de games a que primeiro desponta com novas tecnologias, foi assim a realidade aumentada com os Pokemons, e agora a holografia com óculos e games no Windows Holographic VR headset (Virtual Reality) com o handset de 350 gramas, 200 gramas menos que o HTC VIVE, ambos em lançamento previsto para este ano.
As informações contidas no site especializado do The Verge, diz que o design é confortável do novo equipamento da Lenovo utilizando painéis OLED com resolução 1440×1440, mais definida que Óculos Rift, mas o protótipo levado ao último evento da CES 2017 não estava funcionando (rs).
Um detalhe apontado como importante é que seus sensores internos permitem que o equipamento seja usado caso seja necessário se ter uma câmera externa de detecção, isto não é pouca coisa, pois ambientes holográficos com imersão total podem surgir a partir daí.
O preço final especulado em alguns sites, entre eles o The Verge é que ficará próximo aos US$ 300, que aqui daria algo em torno dos R$ 1 mil reais, mas com os impostos sabe-se lá para o teto que vai.
Algumas “promessas” de Trump
Começa hoje o mandato dos mais polêmicos de um presidente dos EUA, e se construir o muro na fronteira com o México se tornará ridículo.
Sobre a imigração, não é sofisma, claro que ele fala dos 11 milhões de migrantes clandestinos que vivem no país, mas muitos já tem filhos e famílias radicadas lá, e o simples fato de ser de outra religião ou raça não poderia nunca diferenciar uma pessoa e seus direitos civis.
Reformar Washington, o que chama de tirar os “amigos de Clinton” em muitos casos são senão profissionais ou até mesmo pessoas com preferencia partidária pelos democratas, e para toma emprestada a ideia de Abraham Lincoln, feita num famoso discurso de 1863, em que pediu a união dos americanos, mas o contexto era bem diferente, e pode ser visto no filme com recente do filme Lincoln, onde entre outras coisas lutou pela igualdade racial.
Quer assinar a maior “revolução tributária” do país, hoje o teto está em 35% de cobrança dos lucros, ele quer limitar a 15%, isto beneficia apenas a concentração de renda e as consequencias para os programas sociais são mais do que óbvias, vai faltar dinheiro.
Vai rever todo o comércio exterior, fez campanha contra a Parceria Transatlântica de Trocas e Investimentos (TTIP) que seria uma cooperação com a União Europeia, também os tratados com Canadá e México seus vizinhos e os acordos da NAFTA serão revistos, será uma guerra comercial.
A política externa é ainda mais ameaçadora, é contra acordos de paz com a Palestina, vai rever a proteção aos aliados da OTAN e quanto a Síria irá apenas combater o Estado Islâmico, é mais lenha na fogueira da guerra
Sem as duas nações mais industrizalidas do mundo aderirem aos programas ecológicos propostos desde a Rio 1922 (Rio92) chegando a Paris 2015 (COP2015) os ativistas e defensores do planeta sofrem uma dura derrota, para Trump: “o conceito de aquecimento global foi criado por e para os chineses manterem o setor industrial dos EUA não-competitivo”, escreveu num twitter e repediu na campanha.
O conceito mais retrógrado e duro com os próprios americanos é a ideia de apagar todo o legado Obama, hoje admirado no mundo inteiro, de acordo com Stephen Moore, que era seu conselheiro de campnha, há pelo menos 25 “ordens executivas” para Trump reverter e apagar o que Obama deixou.
Por último o aspecto legal, por que alguém pode imaginar que com tanto autoritarismo, talvez possa sofrer um impeachment, a subita morte de Antonin Scala, membro do Supremo Tribunal de lá, e a indicação do substituto por Trump dará maioria conservadora ao Supremo, e muitas leis serão revistas.
Se é que isto é uma noticia boa, do outro lado podemos prever um isolamento dos EUA, muita crise interna e uma militância acirrada já prometida por ativistas, artistas e democratas.
Hermenêutica, senso comum e formação.
Com o conceito de senso comum, usará outro conceito guia: o juízo, e usará para isto algo de Kant, depois de tê-lo criticado, para ele juízo: “é, enfim, não tanto uma faculdade, mas uma exigência a ser apresentada a todos” (p. 78).
Finalmente apresentará o conceito guias: juízo ao gosto, aqui esclarece claramente que não é nenhum conceito ideal, nem ‘questão de gosto´, mas algo social:
“O gosto não é somente o ideal que apresenta uma nova sociedade, mas em primeiro lugar vem a formar-se, sob o signo desse ideal do ´bom gosto´ aquilo que, desde então, se denomina a “boa sociedade” (p. 84), Gadamer faleceu em 2002, mas pode bem servir para hoje.
Se não ideal como chegar-se a ele? E responde: “não mais através do nascimento e do status, mas basicamente, através da comunhão de seus julgamentos, ou melhor, sabendo elevar-se da parvoíce dos interesses e da privacidade das preferências para exigência do julgamento” (idem).
Não é o conceito guia, mas toda a fenomenologia está fundamentada na vivência, isto é, os conceitos e questões devem ser desenvolvimento e aprovados socialmente, ou seja:
“A vivência possui uma imediaticidade que se subtrai a todos as opiniões sobre o seu significado. O que denominamos enfaticamente de vivência significa, pois, algo inesquecível e insubstituível, que é basicamente inesgotável para uma determinação compreensível de seu significado ..” (pag. 126), e assim.” Algo se obtém, de fato, a cada vivência.” (pg. 130).
É desta formulação que brotará a ideia de horizontes, e fusão de horizontes, enfatizada que ela é um conceito particular de situação, que no diálogo com outro significa sua posição:
“Esse não é um verdadeiro diálogo; não se ´procura o entendimento sobre um tema, já que os conteúdos objetivos do diálogo não são mais que um meio para conhecer o horizonte do outro … o outro se torna compreensível em suas opiniões, a partir do momento em que se tornou reconhecida sua posição e horizonte, sem que, no entanto, isso implique no fato de que chegamos a nos entender com ele …” (pg. 553)
Mas antes de concluir o volume I procurará responder a questões fundamentais: “trata-se de uma descrição correta e suficiente da arte da compreensão histórica, a de que é necessário aprender a deslocar-se a horizontes alheis? Pode-se dizer, nesse sentido, que existem horizontes fechados?” (pag. 554), onde lembra as objeções de Nietzsche sobre o historicismo e sua ligação “fechada” com o mito, e esclarecerá que toda a compreensão histórica do Iluminismo não foi senão a perspectiva romântica do indivíduo solitário, da mesma maneira queo horizonte fechado “que cercaria uma cultura é uma abstração” (pg. 455), pois o “horizonte é antes, algo no qual trilhamos nosso caminho e que conosco faz o caminho” (idem), ou seja, nossa meta.
Isto não é um resumo, nem mesmo uma gota do pensamento de Gadamer, mas procuramos aqui delinear algumas chaves de leitura para poder indicar um pensamento contemporâneo maduro e profícuo.
GADAMER, H.G. Verdade e Método, Petrópolis: Vozes, 1996.
Verdade & Método e sua hermenêutica
Depois de esclarecermos a questão do método, ela é importante por causa da questão da ciência, deve-se entender que este não é o problema fundamental dela, embora esteja relacionada com conhecimento e verdade ela o é, assim afirma Gadamer (pag. 31-32 )
“O fenômeno da compreensão que perpassa não somente tudo o que diz respeito ao mundo do ser humano. Seu propósito é o de procurar por toda parte a experiência da verdade, que ultrapassa o campo de controle da metodologia científica, e de sua própria legitimação, onde quer que a encontre .” (pag. 30)
O objetivo principal, ainda que não declarado explicitamente, é o de demonstrar a fragilidade do pensamento filosófico contemporâneo, pois via a noite do pensamento ocidental:
“… o juízo que, em nosso tempo, inundado de rápidas transformações, se encontra ameaçado de obscurecimento. O que está se transformando impõe-se à vista, incomparavelmente mais do que algo que continua como sempre foi. As perspectivas que resultam da experiência da transformação histórica estão, por esta razão, sempre correndo o risco de se tornarem distorções, por esquecerem a ocultação daquilo que persiste.” (pag. 34)
Gadamer deseja retomar a boa tradição humanística, claro isto é um juízo de valores, mas já desenvolvemos algo aqui, mas um ponto central é o contributo hegeliano sobre a “formação”:
“Aqui formação não significa mais cultura, isto é, aperfeiçoamento de faculdades e talentos. A ascensão da palavra formação desperta, mais do que isso, a antiga tradição mística, segundo a qual o homem traz em sua alma a imagem de Deus , segundo a qual ele foi criado, e tem de desenvolvê-la em si mesmo.”(pag. 50), isto independe de religiosidade, significa interioridade.
Retoma também conceitos de Hegel, que usou o conceito de formação, disso desta forma “foi justamente a isso que, seguindo Hegel, salientamos como uma característica universal da formação, o manter-se aberto para o diferente, para outros pontos de vista mais universais.” (pag. 50-58).
Por isso escrevemos desde o início deste blog: “o in-formar”, a palavra informação tem este sentido e isto pode também ser encontrado na literatura das assim chamada “Ciência da Informação”, esclarece usando o conceito de “senso comum” de Vico e o que é bem comum:
“.. não somente aquela capacidade universal que existe em todos os homens, mas, ao mesmo tempo, o senso que institui comunidade. É um sentido para a justiça e para o bem comum … parece com uma virtude do trato social, mas há, na verdade, um embasamento moral, mesmo metafísico.” (pag. 70-76).
Gadamer definirá isto a partir dos conceitos de senso comum e formação.
GADAMER, H.G. O problema da consciência histórica, 3ª. Edição. Rio de Janeiro: FGV, 2006.