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Arquivo para fevereiro, 2020

A tradição e a verdade do devir

14 fev

Muito do que se prega e se vive em nossos dias é a tradição, aqui não vista como o pensamento que construiu a história da humanidade, mas apenas costumes e hábitos repetitivos e aparentemente “estáveis” que o tempo se encarregou de mudar.

É assim que a religião que deveria construir uma verdadeira ascese do devir, ou do vir-a-ser constrói laços preconceituosos e tradicionalistas que impedem o progresso da humanidade.

Não por acaso combaterem Giordano Bruno e Galileu Galilei, suas obras representavam uma mudança na visão de mundo, neste caso uma visão cosmológica, mas a cosmovisão significa antes de mais nada uma visão ampla dos fenômenos e da vida.

O mundo não muda porque pensadores que deveriam apontar para o futuro mostram apenas seus temores, sua arrogância fixa em conceitos da tradição e sua falta de criatividade.

Em uma passagem que Jesus e seus discípulos comiam espigas com as mãos e os tradicionalistas exigiam o cumprimento da lei de lavar as mãos, o Mestre mostra que as palavras destes homens não coincidiam com suas atitudes.

Diz Jesus na passagem bíblica de Marcos (Mc 7:6-8): “Bem profetizou Isaías a vosso respeito, hipócritas, como está escrito: ‘Este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim. De nada adianta o culto que me prestam, pois as doutrinas que ensinam são preceitos humanos. Vós abandonais o mandamento de Deus para seguir a tradição dos homens”.

É neste sentido que diz o parágrafo seguinte (Mc 6, 9): “Vós sabeis muito bem como mudar os mandamentos para seguir a tradição”, e também é de certa forma este o sentido que diz o evangelista Mateus (Mt 5, 20): “Se a vossa justiça não for superior a dos escribas e fariseus, não entrareis no rei dos céus”, eis a essência da moral cristã que bem observada é universal.

 

A moral e seus diversos conceitos

13 fev

Pensamos em moral como moralismo, o puritanismo ou “certa” moral cristã, ela como um todo envolve o amor e assim envolve também o diálogo, mas a moral é mais confusa ainda porque se mistura com a moral idealista kantiana e a moral do estado, a chamada “justiça”.

A moral helênica, da antiguidade clássica é uma fusão da moral grega quando esta se difunde pela Ásia Menor e pelo Mediterrâneo vai se encontrar com o “direito” romano, que é uma moral de estado nascente, mas separa-se desta como uma forma de estoicismo.

Este período foi chamado pelo historiador alemão Johann Gustav Droysen (1808-1884) pela primeira vez de helênico, e incluem entre os pensadores Plotino, Cícero, Zenão e Epicuro, guardam noções geométricas e astronômicas que se fundem com as ideias morais, conhecemos grandes frases deste período, mas não o pensamento como Droysen o fez.

Pode-se sintetizar em duas correntes, o individualismo moral ou a moral “interior” e o neoplatonismo de Plotino, que é parecido ao pensamento de Agostinho de Hipona, mas diversos quanto na moral teleológica, para Agostinho o mal é a ausência de bem, não oposto.

A moral kantiana é essencialmente individualista, “age de tal forma que seja modelo para os outros” enquanto a moral do estado será as regras que geriram o contrato social (post anterior), a moral cristão enquanto correntes desde o tempo de Jesus pode ser farisaica e tradicionalista (o que se chama fundamentalista), em essência deveria ser universal.

Amar a todos incluindo os inimigos não é o que fazem a maioria dos moralistas religiosos, sua essência ainda é o “combate do mal” e não a sua superação através do amor e nunca do ódio.

 

 

O estado moderno e a in-formação

12 fev

É impossível pensar o estado moderno, sem pensar em suas leis e o contrato social que se estabelece a partir delas, e não por acaso elas surgem após a prensa de Gutenberg (e o livro).
Pode-se pensar de modo igualmente ingênuo que isto é apenas teoria, é fácil demonstrar que não é a forma-ação da polis é impossível de se pensar sem a polis grega, e os pensamentos que vão desde os pré-socráticos até os contratualistas modernos: Thomas Hobbes, John Locke e o suíço (não era francês não) Jean Jacques Rousseau.
A in-formação do estado moderno vem da ideia básica destes pensadores é que a relação entre governantes e governos devem se estabelecer na forma de um contrato, e que discutem de fundo é que o homem é lobo do homem Thomas Hobbes, o homem é determinado pela relação social John Locke, isto é nasce bom e o meio o molda, e homem é um bom selvagem que o meio o corrompeu, o pensamento de Rousseau.
O que alguns autores contemporâneos vão dizer é que estas formas, ou estas regras de dominação social entraram em colapso, quer seja pela emancipação do espectador como advoga Jacques Rancière, quer seja pela falência das regras do parque humano como explora Peter Sloterdijk, claro há outras interpretações possível, como a conservadora em moda, retomar o estado sólido.

 

A forma da In-formação

11 fev

A filosofia do ocidente se construiu por um caminho que não necessariamente era o único disponível, assim não há determinismo nem do pensamento e por consequência nem da história, isto pelo fato que se privilegiou algumas categorias em detrimentos de outras.
Ainda que fosse possível pensar em um único modelo de pensamento, socialmente é impossível pensar por um único método ou um único caminho, isto pode parecer contraditório com o pensamento anterior, mas não significa que no bojo de um conjunto de pensamentos e categorias de determinadas época fez-se por diversos motivos, incluindo os políticos, econômicos e culturais, fez-se a opção por determinadas formas de pensamento.

A forma da informação se desenvolveu assim a partir dos pensamentos e visões de mundo que influenciaram a cultura ocidental.
O objetivo deste post não é esgotar este pensamento, mas percorrer com ajuda de alguns leitores especiais, como Aristóteles e Platão, Agostinho de Hipona e Tomás de Aquino, René Descartes, Immanuel Kant, David Hume, Hegel, Marx, Nietzsche, Husserl, Heidegger, Gadamer, Paul Ricoeur, Emanuel Lévinas, Peter Sloterdijk, Byung Chull Han, só para citar alguns que considero fundamentais, mas sem a pretensão de esgotar o pensamento de qualquer um deles.
É possível pela análise da penetração destes pensadores no cotidiano tanto quanto nas estruturais de governos, estados e políticas mundiais, como estas influencias aconteceram e acontecem determinando o nosso pensamento, ainda que possamos por ingenuidade imaginar que o que pensamos é original, ou por pragmatismo que o que existe é a vida prática e a necessidade, aliás mesmo que neguem estas são formas de pensamento ligadas a determinadas formas de pensamento, como o empirismo, o ceticismo e o pragmatismo.
Assim através da cultura, da educação e principalmente de formas de intervenção social por meios de comunicação e propaganda, existe uma forma-ação de implantar estas ideias no seio da sociedade e uma vez constituída como um conjunto organizado de conhecimento (uma episteme) implantar no seio da sociedade a in-formação, isto é, implantar as ideias no seio da sociedade.
Desde Sócrates que em essência queria “instruir” os homens, passando por Platão e Aristoteles, até o estado moderno, a forma-ação dos cidadãos através da in-formação é como as ideias se formam e são disseminadas no tecido social.
Pode-se pensar de modo igualmente ingênuo que isto é apenas teoria, é fácil demonstrar que não é a forma-ação da polis é impossível de se pensar sem a polis grega, e os pensamentos que vão desde os pré-socráticos até os contratualistas modernos: Thomas Hobbes, John Locke e o suíço (não era francês não) Jean Jacques Rousseau.

 

O Oscar do Parasita

10 fev

Estava convencido que a Academia daria este ano o Oscar ao Coringa, mas não por razões políticas, parecia por retornar a valores nacionalistas e autoritários pelos filmes.violentos e autocráticos.
Diferenciando autocracia difere da ditadura, quando o poder (Kratos) é exercício por si próprio (auto) significa o poder pelo poder, enquanto ditadura é a negação da democracia, e o que emergiu no mundo contemporâneo é uma mistura das dois pessoas, em eleições livres.

O Coringa teve o premio justo é uma boa atuação, é razoável que se dê o Oscar de melhor ator, embora o personagem seja uma mistura patológica de ingredientes maldosos, com a indicação a 11 categorias e foi um sinal de certo “exagero” pelo filme, mas foi o que resultou foi justo, e a Academia provou que está viva e mantém o senso crítico.
Lembro que A Malvada (1950) e Titanic, além do recente La la Land que tiveram 14 indicações.
Os Dois prêmios dados,  por critério exclusivamente artístico (esquecendo o ético e o político), para mim seria apenas de ator mas ganhou também melhor trilha sonora.

Barbadas foram Brad Pitt melhor ator coadjuvante, melhor roteiro adaptado Taika Waititi em Jojo Habbit  e Bong Joon Ho diretor de Parasita.
Tinha decidido não comentar, mas a indicação de Dois Papas (do brasileiro Fernando Meirelles) e o polêmico documentário A democracia em vertigem, a propósito do que afirmo aqui, ia na contramão do Coringa, mas O Parasita ganhou e mereceu as 4 estatuetas, e premio de consolação para roteiro adaptado de Dois Papas.

Deixo meu protesto, sem dúvida 1917 (3 estatuetas) tem grandes qualidades e poderia ganhar mais, e parabenizo quem assistiu Parasita (Oscar de direção) sabe que merecia, o filme quase nos hipnotiza e Era uma vez em Hollywood (2 estatuetas) mereciam mais, surpresa a melhor atriz para Renné Zellweger em Judy: Muito Além do arco-íris.
Por último como animação a estatueta foi para Toy Story 4 que julgo merecido.

 

Fazer a diferença

07 fev

Fazer a diferença não e portanto, perder a identidade,somente o conceito idealista de auto identidade vê assim, por isto criamos um mundo da mesmice em que tudo é muito parecido, antes de ser um elemento da cultura foi um elemento do pensamento, o imperativo categórico kantiano: “age de tal forma que seja modelo para os outros”.

Depois a indústria cultural, os meios de comunicação em massa radio e televisão desenvolveram isto criaram padrões de beleza, de consumo e até de moral, a moral do estado antes de ser uma moral individual, é uma moral “coletiva” de valores e costumes, que não significam uma ética e uma identidade “sólida”, isto inclui o amor aos símbolos pátrios e valores patrimoniais.

Fazer a diferença significa sim ter uma identidade com princípio éticos e morais, que inclui crenças e até mesmo comportamento (ver post anterior), mas que admite o diálogo e os costumes culturais diferentes do nosso, para que possa indicar para os outros um comportamento e uma ação capaz de incluí-los e mostrar a dignidade humana e social assim influenciar culturalmente mostrando a “diferença” de valores verdadeiros e eternos que beneficiam a sociedade toda.

Verdadeiras culturas e filosofias devem incentivar isto, devem fazer a diferença não de modo a impor opiniões e costumes, mas de modo a que inclua o Outro, por isto jamais acompanha o ar superior, a arrogância e a ideia de que o diferente é errado, isto é maniqueísmo e nunca amor.

A ideia Bíblia que a cultura do Amor deveria fazer a diferença, isto é ser “sal e fermento”, traz junto a ideia de que para fazer a diferença é preciso pouco, mas o sal e o fermento não podem estar estragados pois o efeito sobre os alimentos não será notada.

A verdadeira cultura cristã estabelece em Mateus (Mt 5,13): “Vós sois o sal da terra. Ora, se o sal se tornar insosso, como salgaremos? Ele não servirá para mais nada, senão para ser pisado pelos homens e para ser jogado fora.”.

A identidade como auto afirmação, como arrogância não é outra coisa senão sal insosso.

 

Identidade e fazer a diferença

06 fev

Parecem contraditórios identidade e diferença,  já colocamos nossa posição que o problema não é lógico, mas onto-lógico, isto relativo ao Ser, e na ontologia moderna a contradição é possível e então não-Ser também pode Ser, e isto dá origem ao Devir, rompendo barreiras estáticas.-
A capacidade e integridade do Ser significa que nos conhecemos como somos, entendemos nossa visão de mundo e as limitações que ela tem, mesmo a ciência mais avançada tem limites, o conhecimento absoluto é possível com um a verdadeira espiritualidade, onde está a alma.
Dizemos de maneira imprópria que onde está o coração, nossos anseios, desejos e projeções sobre o que somos, a maioria das enfermidades, em especial as psicológicas, vem destas projeções quando são falsas, irreais ou experiência reais que nos machucaram.
O não Ser significa que entendemos o que somos e estão preparados para não Ser, para receber o Outro, o diferente e a diversidade cultural e política do mundo, o radicalismo de defender a própria identidade e apegar-se em demasia a própria visão de mundo, já dissemos não é identidade, mas auto-identidade, muitos que criticam o individualismo cultuam a auto-identidade.
Não ser é a abertura ao outro ao diálogo, de onde surge o devir passa necessariamente por um não Ser, boa parte do extremismo do mundo atual, com péssimos reflexos na política é o exercício do culto da “identidade” coletivamente, falsos coletivos e falsos “nós” que são estruturas fechadas e autoritárias.
Dentro deste radicalismo existe uma semente do Outro, do acolhimento da diferença e da verdadeira espiritualidade, é preciso que esta identidade “exacerbada” se abra ao diferente, ou contraditório e principalmente modifique sua forma de “pensamento”, e sua “cultura” fechada.
Do pensamento surgem duas tendências o simplismo que reforça a autoidentidade e a complexidade, conforme propõe Edgar Morin, que facilita e amplia a visão de mundo e de Ser.

 

As primárias americanas

05 fev

Depois de um fiasco tecnológico, curioso que isto aconteça nos EUA e aqui duvidem das urnas, sai os primeiros resultados com 62%, mais curioso ainda é o sistema de contagem pois embora Bernie Sanders lidere, de fato um candidato a esquerda, os resultados até a noite de ontem eram:
Pete Buttigieg lidera com 26,9% dos delegados do estado para indicarem o candidato, enquanto Sanders logo atrás em 25,1% dos valores, seguem a senadora Elizabeth Warren com 18,3%, Joe Biden com 15,6% e Amy Klobuchar com 12,6%, um deles irá disputar com Trump que ganhou lá.
Pode-se especular sobre os verdadeiros motivos do atraso, suspeitas a parte, o crescimento de Bernie Sanders pode significar uma polarização futura nas eleições uma direita radical contra uma esquerda (nos moldes americanos) também radical, é quase uma tendência mundial.
O importante é entender por que isto ocorre, e claro se espalha por toda a sociedade, primeiro a dificuldade em situações extremas de pensar sobre situações políticas quando os discursos foram para extremos e segundo porque a imposição de um presidente radicalizado desperta reação.
É possível retomar a serenidade e voltar a refletir sobre os urgentes e dramáticos problemas mundiais, da ecologia a distribuição de renda, seria saudável para a democracia, para os cidadãos e para a cultura conforme refletimos ontem sobre os indicados para o Oscar que tem o dedo de dois diretores brasileiros, porém o cenário americano e mundial preocupa.
Radicalização favorecem a ditadores, nunca a democracia, creio que quando Alexis Tocqueville escreveu “Democracy in America” (1832) não poderia supor uma radicalização deste tipo.

 

Entre a Vertigem e Dois Papas

04 fev

A democracia brasileira de fato ainda não tem profundidade e maturidade, tudo é polarizado entre dois pontos de vistas exclusivos e ambos autoritários, mas nem é o caso de Democracia em Vertigem com uma clara interpretação dos fatos da jovem diretora Petra Costa, nem Dois Papas sob a direção de Fernando Meirelles, são bons diretores e tem uma visão dos fatos.
Começo por Fernando Meirelles pois foi sua entrevista no Roda Viva que me incentivou a falar sobre as indicações brasileiras ao Oscar, que devia nos orgulhar a todos, ainda que possamos discordar, precisamos aprender este direito democrático, ambos têm fundamentos culturais.
Meirelles explicou sua visão de Francisco, que seria o roteiro original do filme, que aos poucos tornou-se o diálogo e a admissão de erros papais, ambos cometeram erros, como todos nós os cometemos na vida, mas ambos conseguem dialogar e olhar para o futuro da igreja e do homem.
Falta a democracia brasileira isto admitir os erros do passado, mas é claro antes de tudo conhece-lo bem senão isto jamais será possível e neste sentido valorizo e gostei do filme de Pedra Costa.
Aliás sobre ela mesmo é preciso conhecer sua história, Elena seu primeiro filme tem aquilo que a caracteriza e parece ser o fio condutor de seu estilo, coloca o seu “olhar”, o que está claro ao por no documentário ela faz uma dança em rodopios, lembrando a irmã falecida e fecha num close-up do seu olho, quero dizer, ela própria vê que está colocando sua visão nos fatos.
Vendo o debate, e lembrando dos filmes de Meirelles: O Fiel Jardineiro (2005) e Cidade de Deus (2002), vejo que os debatedores conhecem pouco a obra dele e se fixaram nas próprias opiniões polarizadas sobre o filme, destaco ainda o pouco badalado mas excelente filme “Ensaio sobre a cegueira” (2008) que caberia muito bem para o que acontece na cultura brasileira.
Ambos o documentário de Petra e o filme de Meirelles tem emoção, tem boas imagens e fotografia, enfim são bons, mas a maioria ficará com a polarização e não com o diálogo que a arte procura.

 

Ainda a identidade

03 fev

A filosofia conceituou a questão da identidade usando apenas o princípio lógico, A deve ser A não podendo não ser não-A, mas a própria questão de “ser” tem fundamento metafísico e ontológico pois o que é ser A ou não ser, enquanto Ser esta identidade lógica é apenas auto-identidade.
Assim grupos culturais e religiosos que buscam a própria identidade só podem se definir como ser se estão em relação ao não-A, este segundo princípio é a diferença, mesmo Hegel afirma que é esta negatividade que pode permitir o que a reflexão ser A pode ter em si.
Heidegger após explicar este princípio da identidade lógica A = A, ao afirmar que “é cada A ele mesmo o mesmo; ela diz antes consigo mesmo é cada A ele mesmo o mesmo. Em cada identidade reside a relação ´com´, portanto, uma mediação uma ligação, uma síntese, a união numa unidade” (Heidegger, 2006, p. 39), expliquemos melhor usando o próprio Heidegger.
Ele expõe logo em seguida que na história ocidental, ao contrário do que se imagina e se diz, a identidade “aparece, através da história do pensamento ocidental com o caráter de unidade” (idem), e ela não é um “insípido vazio daquilo que, em si mesmo desprovido de relações, persiste na monótona uniformidade” (idem), ou seja, ela é diversa, existe e persiste a diferença.
Como então esta ideia de identidade do mesmo, do nós fechado em grupos, de falsa coletividade e diversidade persistiu, as razões são igualmente históricas, como afirma Heidegger: “somente a filosofia do idealismo especulativo, preparada por Leibniz e Kant, funda, através de Fichte, Schelling e Hegel, um lugar para a essência em si mesmo sintética de identidade” (ibidem, p. 39).
Assim, esclarece Heidegger: “permanece vedado ao pensamento representar a unidade da identidade como monótona uniformidade e abstrair da mediação que impera na Unidade” e conclui: “Onde tal acontece, a identidade é representada apenas abstratamente” (ibidem).
Isto é claro não fica sem uma negatividade ontológica, pois o ser vê-se obrigado a exigir a sua diferença, a sua negatividade e muitas vezes o faz de modo radicalmente contestador, porque há uma ausência de mediação, o que se faz em abstrato é falar do diverso, do diferente, mas no concreto ignora-o, expulsa-o assim que ele se manifesta como um Outro.
Heidegger, M. Que é isto – a filosofia – Identidade e diferença. RJ, Petropolis: Editora Vozes, 2006.