Arquivo para a ‘Economia’ Categoria
O vírus e suas lições
De repente a sociedade que não podia parar, a “sociedade do cansaço” do ritmo alucinante, dos espetáculos diários, tem que retomar uma visão que já não conhece mais, parar ou ao menos diminuir o ritmo, ficar em casa, conviver com os familiares que são quase estranhos.
O fato é que o universo, a natureza e nela a natureza humana tem suas leis, e estas podem ser além de um Big Bang, podemos estar dentro de uma bolha e cujas leis vem de “fora” dela.
Vi uma hashtag disparar e me surpreendi primeiro, mas depois fui aos poucos entendendo, principalmente jovens usavam #stayfuckatHome como resposta a “StayAtHome, claro não é fácil para quem nunca teve este hábito cultivado, agora ter que enfrentá-lo.
Não consegui com as ferramentas mensurar ambas as hashtags, mas o universo conspira e nos leva a parar e a ficar em casa, pois eventos são cancelados, não há o que fazer na rua, mesmo o comércio dá seus sinais de parada, e é claro que continuam a pensar no lado econômico.
Bom devemos salvar a economia, mesmo que isto signifique uma rápida explosão de um vírus, enfim o universo deu sua lição, não é a economia que vive para o homem, mas o homem que vive para que haja economia, e se ela tem suas próprias leis, que elas não contrariem a natureza e o homem, parece que temos um cheque mate.
As lições para o universo online são duplas, por um lado o presencial retoma um curso que nunca deveria ter saído, o mundo relacional presencial e os círculos fraternais e de outro a necessidade de relações que são públicas ou privadas terem ferramentas online adequadas.
O conflito existe nas duas pontas, nem fazemos as relações presenciais satisfatórias, são fugidias, autoritárias ou o que é pior indiferentes, e nem sabemos como nos comportar no mundo online (o virtual existe antes da internet e do universo digital), e sempre os que criticam usam mal e não compreendem a “lógica” deste universo que pede relações diferentes das presenciais.
Agora temos que marcar reuniões online, usar chats e vídeos e finalmente iremos além da pregação religiosa e ideológica para relações não-presenciais que sejam de fato “relação”, por que virtual vem do latim “virtus” que é parecido a “potencial” quer dizer devemos “cultivar” o virtual para se tornar de fato relação real (virtude vem de virtus), o presencial não garante a “relação”.
A grande lição, haverá muitas outras, é que devemos compartilhar e codividir responsabilidades para superar a crise pandêmica, que já é social e econômica, e depende da atitude de cada um.
Uma ontologia incompleta: a afirmação do Ser
A roda da Fortuna é o acaso porque a lógica do laissez faire, o acaso levado à economia, é também a lógica da afirmação do Ser, no sentido clássico; o Ser é e o Não-Ser não é, não há um devir.
O não-Ser também é Ser, a afirmação, a vontade de Poder, leva consigo a lógica da guerra, o dualismo, o maniqueísmo e seu destino falta é a guerra, a dificuldade de compreensão do Outro, o diálogo feito como forma de hipocrisia, porque no fundo, é a negação do Outro e a afirmação do Ser, na lógica “nós temos a verdade”, mesmo que dita de forma religiosa, é sua negação.
A impossibilidade do convívio, de onde surge a violência física, até a violência psíquica e moral, o desejo inconsciente de desmoralizar e minar o Outro, que é nesta lógica não-Ser, e assim vive-se de modo falso o momento que passa, como fugaz e com o sentido de máximo afirmação do Ser.
Parece loucura dizer que o não-Ser também é, mas é justamente no seu exercício que negamos a guerra, negamos o conflito como necessário, fazemos o dualismo tornar-se diálogo sincero e podemos entrar na lógica do Outro e descobrir um complemento do Ser, enquanto não-Ser.
Afirmar que o Não-Ser é destrói a lógica do poder, da exclusão, do conflito, porque permite ao Outro sua existência, nega a psicopolítica porque não tem necessidade de opressão “psíquica” do Outro, para afirmação do Mesmo, do espelho, mesmo que exercido coletivamente, é um nós egoísta e vinculado exclusivamente ao próprio poder e prazer.
Assim dizem os discursos contemporâneos sobre a filosofia, que enchem plateias e enaltecem filósofos e eloquentes religiosos: “você veio para vencer, afirme-se, diga que é o melhor”, etc.
A ontologia completa, é oposta também ao fundamentalismo religioso e ao farisaico, porque é exercida também enquanto não-Ser, diz o evangelista Mateus sobe o ensinamento do Mestre aos seus discípulos (Mt 5.38-39): “Vós ouvistes o que foi dito (ainda o é em nossos dias): olho por outro e dente por dente!, Eu porém, vos digo: “não enfrenteis que é malvado” Pelo contrário se alguém te dá um tapa na face direita, oferece-lhe também a esquerda!”, eis a lógica “oculta” do não-Ser.
A meia ontologia da afirmação do Ser não é a vivência do momento presente, é só a vivência somente em momentos de euforia, não é “eudaimonia” no sentido grego, porque é alegria do Ser físico e não da alma, não experimenta o gaudio, a alegria do Ser em sua totalidade, corpo e alma.
Das trevas para a Luz
A relação entre tradição e mudança é maior que se pode pensar, até mesmo Marx foi estudar economistas ingleses, o idealismo alemão e a política francesa para pensar sua mudança, é fato que também este pensamento hoje já faz parte da tradição, então o que será o novo ?
Iniciamos a semana falando em Buzzwords, entretanto a grande mudança que acontece em nossos dias é no aspecto da produção e consumo a mudança digital, o mercado e os apressados já usam a palavra “transformação digital”, uma forte buzzword, entretanto não se trata de ignorá-la, mas compreender no contexto das mudanças que estão em curso.
Todos os tons da mudança concordam que deve-se pensar em formas coletivas de trabalho, de pensamento, entretanto o que é chamado de coletivo está em diversos nichos sociais, econômicos e até religiosos, é um “nós” fechado em grupos e correntes de pensamento.
A tradição procura o centro, onde está o poder e a riqueza, a mudança procura a periferia.
Porém é da crise que nasce a luz, é curioso que a profecia bíblica, assim como o texto de de Mateus (Mt 4,15): ”Terra de Zabulon, terra de Neftali, caminho do mar, região do outro lado do rio Jordão, Galileia dos pagãos!” fala de um povo e uma terra distante da religião e para onde Jesus foi para colher seus primeiros discípulos, porque os “religiosos” eram fariseus.
E o diálogo com a tradição, sim Jesus vai dialogar o tempo todo com fariseus, que lição pode-se tomar para o mundo contemporâneo e sua crise cultural e espiritual.
O novo precisa de “odres novos”, assim vinho novo em barril novo, mas não se despreza a cultura do vinho e sim melhora sua apreciação e produção, não se trata de um processo novo, e sim de um plantio em solo novo, em terra fértil e onde os corações estejam abertos.
America do Sul e Agenda pós-2015
Quando a ONU organizou a sua Agenda de Desenvolvimento Pós-2015, parecia que as organizações da sociedade civil caminhavam para uma concentração maior em assuntos da pobreza e da fome, nos aspectos urbanísticos e na educação, no desarmamento nuclear e no empoderamento da mulher, outros assuntos relacionados com a pessoa, a luta por maiores regalias e poderes, a volta do nacionalismo caminhou em sentido contrário.
Afirmava o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, em setembro de 2014> “nosso mundo precisa de mais energia eólica e solar. Mas creio em uma fonte de energia ainda mais forte, o poder das pessoas”, o caminho parecia seguro e não era, pode-se agora avaliar o erro.
Os números anteriores a reviravolta conservadora eram na América Latina ainda “muito desiguais”, afirmava Eduardo Frei que o Chile que governou de 1994-2000, com várias iniciativas que promoveram a democracia e a justiça social, tinha reduzido a pobreza de 38,6% para 7,8% da população, e a pobreza extrema de 13% para 2,5%, mas em 2015 a América Latina tinha outro perfil, apesar do crescimento do PIB de 2015 a 2018 (foto acima).
Era ainda uma região “mais desigual” do que outra, dos seus 600 milhões de habitantes ainda 167 milhões viviam na pobreza e 71 milhões na extrema pobreza, este contraste revela um fosso social perigoso e profundo, segundo afirmou o próprio Frei em 2015.
Com vistas ao futuro, Frei afirma que a luta contra a pobreza e as desigualdades exigiam junto ao esforço de sustentabilidade outro esforço de fundamento ético, e nessa encruzilhada, seria hora dos governos darem um maior impulso ao “movimento moral” que não aconteceu.
Juan Somavía, ex-diretor da Organização Internacional do Trabalho, disse na elaboração da agenda pós-2015 que uma boa base para negociações seria: “o documento reflete uma visão extremamente ambiciosa, com suas 17 metas e 69 indicadores centrados no conceito de desenvolvimento sustentável focado nas pessoas e na erradicação da pobreza”, afirmando que o apoio político da ONU era fundamental.
No 20º. aniversário da CMDS (Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável), Oh Joon, o vice-presidente do Conselho Econômico e Social da ONU (Ecosoc), afirmou que o problema da erradicação da pobreza foi incorporado aos objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), adotados em 2000, mas os outros dois: o emprego produtivo e a integração social, foram excluídos, e não é mera coincidência.
E integração social é um conceito mais amplo quando pensamos em uma cidadania global.
Terra-planetarismo, uma cosmovisão planetária
Já mencionamos que a cosmovisão depende de uma visão do cosmos e da própria vida, falta ainda uma cosmovisão cidadã, o Edgar Morin chamou de terra-pátria e que chamo de terra- planetarismo.
Ver o planeta como Pátria, como “casa comum” na visão místico- religiosa, como Gaia em uma visão mitológica, incorporam esta visão, pois o próprio planeta, os seres viventes incluindo animais e plantas e as culturas que são a cidadania dos povos viventes no Planeta, ampliam uma visão cosmo-planetária da Terra que habitam.
No livro de Edgar Morin ele traça nos capítulos 2 e 3 o que seria esta identidade planetária, e ao mesmo tempo revela um esgotamentos e uma agonia planetária, há algo que envolve além das tradições e das questões culturais em jogo, esta cosmovisão depende de como o homem se vê como um todo, e isto implica numa cosmovisão avançada, que admite os novos telescópicos, que fizeram a revolução copernicana, que agora são presentes nas novas mídias e numa visão ampla do universo.
O terraplanismo é o lado mais extremo desta visão, mas o apego a uma visão anterior a física quântica, aos buracos negros, a visão de um multi-verso, implica que a cosmovisão planetária ainda é iluminista e idealista, presa a uma ideia de cidadania, de estado e de planeta que já está a muito superada, e agoniza em sucessivas crises.
No livro de Morin e Anne Brigite Kern, apontam que o fenômeno-chave para entender esta crise de proporções planetárias é “o subdesenvolvimento moral, psíquico e intelectual” (Morin e Kern, 2011, p. 115) inclusive do que é desenvolvimento, e a proliferação de ideais geras “ocas e de visões mutiladas, a perda do global, do fundamental e da responsabilidade” (idem).
Ampliar esta visão requer abandonar princípios pseudo-planetários que são eurocentristas, terceiro-mundistas, imperialistas e neocolonizadores presentes em “salvadores da pátria” sejam de esquerda ou direita, em geral pouco solidária e de cosmovisão limitada.
Uma nova visão planetária, que respeito a própria natureza, exige uma visão de um universo ainda mais amplo que foi visualizado por Copérnico, Galileu, Newton e os iluministas, o eterno dualismo materialismo x idealismo, a religiosidade imperial de algumas religiões.
Falta sabedoria aos humildes e humildade aos sábios, é tempo de repensar o pensamento, como queria Edgar Morin, tempo de transdisciplinaridade de multi-verso (vários universos).
MORIN, E., KERN, A.B. Terra pátria. Trad. Paulo Neves. 6ª. edição, Editora Sulina, 2011.
Esta apresentação no SESC em São Paulo Brasil, fala sobre este tema:
Tempo de pausa: será que conseguimos
Ainda há um resto de novembro e dezembro já aparece no horizonte, em todo mundo é um tempo esperado para algo que deveríamos fazer sempre: pausa, espera e encontro com os amigos e familiares, a questão é: será que conseguimos?
Olhando o mundo os sinais sombrios continuam, maiores que os líquidos, pois se algo fosse realmente mudado de estado, do sólido para o líquido, até seria desejável porque algo estaria se movendo, mas parece a mesmice, tudo vai ficando com cara parecida.
Os protestos contra Macron e seus impostos, não é tão diferente de Portugal ou do Brasil, o Estado é enorme e pesa para a sociedade, quem pagará as contas, e os aposentados serão os que pagarão a conta ? incertezas e uma única coisa realmente clara: crise de época.
Há sinais de algum reflorescimento, palavra usada pela filósofa Martha Nussbaum, diria que sim, mas justamente onde as críticas mais pesadas caem: o mundo globalizado, a internet e o Estado “sólido” que vai tomando um feito mais sombrio, perigos à direita.
Participei de um evento de 100 anos do Padre Manuel Antunes, esse homem transdisciplinar, foi o tema de uma palestra escrita com um amigo, em sua obra Repensar Portugal, dizia que era preciso buscar em política, as “zonas temperadas” onde a natureza humana se sente mais confortável, porém a amostra de 2018 é de regiões mais radicalizadas, no sentido mal do termo.
É preciso pausa, ainda que forçada e no desconforto, olhar o futuro de modo que seja possível ter esperança, a paz e uma maior aproximação dos povos, o radicalismo nacional é perverso, a Europa costura um acordo possível para a saída da Inglaterra do bloco, o chamado Brexit.
Os EUA terminam o final do ano com o sonhado muro de Trump, e mexicanos pressionando do outro lado do muro, o que prova que não foi uma solução, mas o anúncio de uma crise.
Novos governos à direita no Brasil e na Colômbia, a esquerda no México vence depois de muitos anos de um partido monopolizar o poder, enquanto Nicarágua e Venezuela desfilam catastróficos governos de esquerda, Bolivia, Equador e Uruguai ficam em zonas temperadas.
Pensar um mundo mais integrado, a questão climática e a distribuição de renda se tornou mais difícil, o que se pode esperar é uma vigorosa reação do pensamento humano, o homem sempre foi capaz de enfrentar os desafios que apareceram, talvez o recuo seja uma retomada.
Web Summit em Lisboa
Um dos maiores eventos da Web realizou-se esta semana, estava num evento paralelo, só pude acompanhar por vídeos e noticias, sem dúvida a maior estrela foi o fundador da Web Tim-Berners Lee que já tem um grande projeto novo, embora tenha falado nas entrelinhas.
Começou uma entrevista, que na verdade ele falou a vontade sem muitas perguntas dizendo o início da Web e como seu crescimento foi também surpreendente para ele, contou detalhes técnicos como “escrevi o código do primeiro servidor e o código do primeiro browser, chamava-se WorldWideWeb.app” e estava no site info.cern.ch .
Depois contou que sua preocupação é a mesma de todos, depois de 25 anos devemos lidar com: cyberbullying, desinformação, discurso de ódio, questões de privacidade e disse o que muitos estão a falar: “Que raio poderia correr mal?” dirigindo-se ao público: “nos primeiros 15 anos … grandes coisas aconteceram. Tivemos a Wikipedia, a Khan Academy, blogs, tivemos gatos” claro disse brincando, e acrescentou: “a Humanidade conectada deveria ser mais construtiva, mais pacífica, que a Humanidade desconectada”, mas sqn (só que não).
“Porque estamos quase no ponto em que metade do mundo estará online”, explicou o engenheiro britânico se referia-se ao momento ’50/50’, isto é metade da humanidade conectada que se esperava em 50 anos, mas deve chegar a este ponto em maio de 2019.
Depois de tentar argumentar responsabilidades de governos e empresas, creio que podem acontecer mas serão lentas, falou indiretamente de seu projeto SOLID (Social Linked Data), ao afirmar que ”como indivíduos temos de responsabilizar as empresas e os governos pelo que se passa na internet” e “a ideia é, a partir de agora, todos serem responsáveis por fazer da Web um lugar melhor”, disse incentivando start-ups também a entrar neste processo.
Pensar no desenvolvimento de interfaces onde os utilizadores conheçam pessoas de culturas diferentes, mas acima de tudo garantir a universalidade da Web, segundo Berners-Lee o principal aspecto deve ser (falando indiretamente de novo do SOLID) que a intervenção popular a nível global e que fez da Web “apenas uma plataforma, sem atitude, que deve ser independente, pode ser usada para qualquer tipo de informação, qualquer cultura, qualquer língua, qualquer hardware, software”, linked data poderá auxiliar isto.
Tim Berners-Lee apresentou o movimento #ForTheWeb no mesmo dia em que a sua World Wide Web Foundation divulgava o relatório “The Case for the Web”, o evento teve uma superaudiência, mais de 30 mil pessoas, há vários vídeos, mas o da Cerimonia de Abertura é um dos mais marcantes e tem Tim-Berners Lee também, veja: https://www.youtube.com/watch?v=lkzNZKCxMKc
Amanhã voltamos ao tema político, porém a Web se tornou política e por isto deve ser pensada por todos.
A vontade de poder e o sagrado
É fato que os conceitos de Nietzsche são fortes: em nossos instintos estão sempre presentes as ideias de vontade de poder, enquanto nada muda ficamos no eterno retorno (Ewige Wiederkehr) e nos imaginamos um super-homem (übermensch), porém isto é uma forma de esvaziamento, o niilismo.
Há outros instintos que nos ligam ao sagrado, a ideia de servir e o respeito ao outro (que são os limites para nossa vontade), e sem eles qualquer âmbito da nossa relação social podem cair naquilo que vou chamar de “niilismo social”, ou seja, o esvaziamento do pensamento social.
Limitados a vontade de poder, são apenas nossos instintos que falam, e as atitudes mesmo na política tornam-se emocionais, apaixonadas no mal sentido, é possível apaixonar-se pelo Bem.
Coloco o Bem em maiúsculo porque não deve ser confundido com o bem maniqueísta, ao imaginar que estamos lutando contra um “mal” muitas vezes simbólico (leia-se A simbólica do mal de Paul Ricoeur) voltamos em “eterno retorno” aos nossos instintos de poder e intolerância.
O ponto que Nietzsche tinha razão é que tais instintos existem, são eles que levam ao falso conceito de autoridade como mão de ferro, e estes levam a totalitarismos, mesmo na vida cotidiana, que esvaziam o sentido de educação, de serviço, o que chamo de “niilismo social”.
Ligado ao sagrado este conceito se purifica, pode tornar-se generosidade, benevolência e até mesmo uma virtude teologal que é a “caridade”, e sem este o “niilismo social” é um caminho.
É isto que faz mesmo pessoas com boa intenção cair na tentação da mosca azul, o poder pelo poder, mesmo os discípulos que caminharam ao lado de Jesus tiveram esta “tentação”, pedem a Jesus no teu reino: “deixa-nos sentar um a direita e outro a tua esquerda” (Mc, 10,37).
Jesus dirá que não sabem o que pedem, diríamos nos dias de hoje não sabem o que escolhem, a ideia de um poder forte que resolva questões sociais profundas, que dependem de uma nova visão de mundo, para sair do eterno retorno, dependem da mobilização da vontade popular e não de um poder central mais forte, é uma tentação também para quem defende o social.
Foi a ideia de um estado forte, conduzido por líderes com “carisma”, que levou o mundo a uma segunda guerra mundial, a sociedade em rede, e a rede são pessoas, precisa sair do seu “niilismo social”, saber que é preciso passar por sacrifícios para mudar, Jesus perguntou aos apóstolos que queriam sentar-se ao seu lado: “Podeis beber o cálice que vou beber?” Mc 10,38.
A grande mudança que necessitamos requer uma cidadania global e não um retorno ao tempo da “Riqueza das nações” de Adam Smith, ainda que o sentimento de nação e povo sejam bons.
Sustentabilidade e economia
Os ganhadores do prêmio Nobel de Economia: William Nordhaus da Universidade de Yale e Paul Romer da Universidade de Nova York, embora toda a imprensa esteja falando apenas do aspecto da sustentabilidade pelo clima, tem o lado da tecnologia como fundamental, Romer fez teses importantes nesta área.
Deixo os comentários sobre William Nordhaus sobre “Economics and Policy Issues in Climate Change” para economistas e ecologistas, não consigo avaliar o alcance do seu trabalho.
Romer ganhou principalmente pelo trabalho “Increasing Returns and Long run Growth”, pois o prêmio conjunto é justificado pelo aspecto da sustentabilidade, mas seu trabalho “Endogenous Technological Change” tem igual importância.
Só para se ter uma ideia, o artigo de tecnologia tem mais de 27 mil citações, pois a tese central que a tecnologia auxilia o desenvolvimento, contradiz a falácia que a tecnologia prejudica o desenvolvimento e ajuda a concentração de renda, contra isto trabalhou também Elinor Ostrom (a primeira mulher Nobel de Economia), Saskia Sassen e até mesmo o marxista Frederic Jamenson.
A definição necessita de conhecimento do Modelo de Crescimento Solow Grow (Jones, 1988), que indica que o progresso técnico exógeno, entenda-se de influência externa, assim como endógeno é aquilo que tem influência interna, isto é central, pois as análises são feitas de modo sistemicos.
Isto acontece por razões não explicadas no modelo, as técnicas de inovação endógenas de mudança atribuem progressos técnicos a esforços sistemáticos pelos agentes de economia, uma inovação claramente não é fator previsto num sistema.
O modelo de explica, por exemplo, quantas empresas poderiam começar a gastar recursos melhorando a tecnologia, em vez de simplesmente aumentar quantidades de recursos e capitais, pode-se pensar, mas a empresa vai demitir, não é assim.
Se os custos adicionais são apenas relativos a tecnologia eles podem e em geral são menores que os investimentos em passivos e pessoal, não se justificando diretamente as demissões, o que acontece é que a inovação desativa algumas funções, mas cria novas, muitas vezes em número igual ou até superior e com salários maiores pela especialização.
Para entender estes efeitos há um trabalho, o que li para este post, escrito com Luis A. Rivera-Batiz (pdf), intitulado. “International trade with endogenous technological change”, no qual usam dois setores fundamentais na industria: um setor de pesquisa e desenvolvimento que produz inovações, e outro, de manufatura que produz bens de consumo e capital físico.
Analisam o efeito de alocação, que refere-se a mudanças na produção setorial pela alocação de insumos básicos entre setores, como um modelo de países, justamente na contramão do que diz o pensamento de conservador de hoje, favorecer os insumos “dentro” dos países, também usado no Brasil ao nível de comércio que era favorecer o consumo interno, o modelo mostra que isto não é sustentável a longo prazo, por isto sustentabilidade a longo prazo.
Jones C (1998). Introduction to Economic Growth. W.W. Norton, 1998, 1rst Edition, 2002 Second Edition.
Entre a ingenuidade, a inocência e a malícia
Ingênuo vem de ingenuus, ou seja, livre de nascença, o ingênuo não tem malicia, não deixa de ser uma qualidade, principalmente para as crianças, mas destas devemos dizer inocência, não há pela aquisição pouca de conhecimento e de vivência, ainda uma capacidade de discernir entre a maldade em atitudes do dia-a-dia, os que votam não são inocentes.
Talvez alguns ingênuos, porém sem desculpa para cooperar com aquilo que é confessamente odioso, desrespeitoso ao ser humano seja qual for a raça, crença ou partido, o que se pode ver é que uma descrença geral pode levar a atitudes que não percebem a malícia e astúcia.
É importante guardar da infância alguma pureza de sentimentos, uma crença na vida e nas pessoas, porém é perigoso se a maturidade não chega e a crueldade não é percebida.
As palavras, o comportamento e até mesmo o olhar das pessoas podem dizer muita coisa, é inaceitável, portanto que os adultos, que são as pessoas que votam, não percebam a malícia.
É um fato que chegamos a um ponto de desequilíbrio social, moral e até mesmo afetivo, o que não pode admitir é que isto justifique a violência de algum tipo, que ofende a todos.
Vamos fazer uma opção, que deverá durar 4 anos, a estrutura do país será decidida agora.
Qualquer violação dos direitos fundamentais, de opinião, de ir e vir, de regras civis será inaceitável, e com certeza terá oposição de muitos brasileiros que lutaram pela democracia.
Esperamos ainda que um provável segundo turno traga mais debate de proposta e do que é de fato o programa dos candidatos que forem para a segunda rodada, e superemos a confusa etapa de debates deste primeiro turno da eleição brasileira.
Que ainda possamos olhar para a inocência de uma criança e desejar-lhe um melhor futuro.