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Os limites de uma guerra total
Com esperança e com grande temor de uma guerra total, que culminaria em uma grande crise civilizatória postamos semanalmente a análise da evolução de situações nas quais os limites de uma guerra total podem ser rompidos e ir para um inevitável confronto.
Agora países da Europa e Estados Unidos tentam entender estes limites, reconhecendo que Israel ultrapassou este limite ao assassinar o líder do Hamas em pleno território Iraniano, a ideia de por panos quentes na tensão criada corre o risco de não ser ouvida pelo Irã e uma guerra direta entre Israel e Irã envolveria as grandes potencias bélicas mundiais.
A situação na Ucrânia é parecida, embora num sentido inverso, o país foi duramente agredido e castigado nestes dois anos de guerra a caminho de uma destruição de suas fontes energéticas, agora organizou um ousado revide invadindo uma zona de fronteira russa e se estabelecendo numa área de cerca de mil quilômetros, na região de Kursk na Rússia (foto região de uma ponte destruída em Kursk).
No dia de ontem, domingo 18/08, Volodimir Zelenski falou pela primeira vez que o objetivo é criar uma “zona tampão” para evitar ataques na região da segunda maior cidade do país, Kharkiv, porém este avanço enfureceu os lideres soviéticos, que acusam o ocidente de preparar e ajuda a Ucrânia na invasão, também lá este limite foi ultrapassado.
O envio de um submarino com capacidade de disparar mísseis ao Oriente Médico, segundo o porta-voz da Casa Branca, John Kirby, que afirmou que a situação da região foi discutida com a França, Alemanha Itália e Reino Unido.
Por outro lado, um influente deputado russo, Mikhail Sheremet, disse na sexta-feira que a presença de arsenal militar em solo russo são provas “irrefutáveis da participação estrangeira” na ação militar ucraniana.
Tudo isto é um cenário de uma pré-guerra Mundial, não há mais um limite entre o envolvimento ocidental e estes dois focos de guerra, resta esperança sempre, os homens que provocam as guerras podem recuperar a serenidade e entender que estes limites não devem ser ultrapassados e ir a uma mesa de negociação, porém a tensão escalou no nível máximo.
Cresce a tensão mundial
O morte do líder do Hamas, Ismail Haniyeh, em pleno território iraniano por “um míssil de curto alcance” que estava no Irã para a posse do novo presidente do Irã Masoud Pezeshkian, elevou a tensão entre Israel e Irã ao nível máximo, e a resposta do Irã será inevitável.
O envio do ex-comandante das tropas na Ucrânia, Valerri Zaluzhnyi, para ser embaixador no Reino Unido, traz também sérias preocupações não só pela proximidade do governo britânico, que certamente se manterá informado das ações militares, o novo embaixador traçou um futuro sombrio e doloroso para o futuro da guerra no leste europeu.
A Ucrânia recebeu os esperados caças F-16 (foto) para reforçar sua defesa aérea, agradecei a Noruega, Holanda e Dinamarca, aparentemente os doadores desta remessa, entretanto ainda espera outras, o resultado político é um envolvimento maior das forças de outros países na guerra.
Países dos Balcãs e da Escandinava já começaram o recrutamento obrigatório para o serviço militar temendo uma expansão da guerra.
Também a América Latina sofre com a controvertida eleição Venezuelana, a agência de notícias AP obteve fotos de quase 79% das atas da eleição e comprovaria a eleição do candidato da oposição Edmundo Gonzáles, enquanto o CNE órgão de Maduro para apuração das urnas deu o ditador como ganhador.
As ruas tiveram vários protestos, e segundo o próprio Maduro já há mais de 2 mil detidos, havendo mortos e feridos nas manifestações que são reprimidas pelas forças militares.
Sempre há esperanças àqueles que acreditam na paz, respeito as diferenças culturais, religiosas e políticas, melhoria na distribuição de renda e socorro às populações carentes, os problemas do mundo atual são justiça e liberdade, a guerra só piora estas condições.
Apagão cibernético e as guerras
O apagão que aconteceu na semana passada é um dos maiores da história, causou confusão em muito aeroportos (veja o gráfico dos Voos nos EUA ao lado), TVs, bancos, hospitais e serviços que dependem de comunicação digital, porém não foi com motivação bélica, a empresa CrowStrike, por trás do apagão, declarou sexta-feira (19) que “isso não foi um ataque cibernético” e que a equipe da empresa “está totalmente mobilizada para garantir a segurança e estabilidade dos clientes da empresa”.
Segundo entrevista de Rob D’Amico, um ex-agente do FBI, apesar de não haver motivação bélica: “Eles podem não estar envolvidos no que aconteceu, mas estão observando o que aconteceu, quais foram as reações, os tempos de resposta, como isso foi corrigido, para que, se considerarem uma operação cibernética ofensiva contra os Estados Unidos, possam mapear o que foi feito”, disse em declaração à CNN.
É bom lembrar que o início histórico da Internet foi um projeto junto ao DARPA, um departamento americano para projetos estratégicos que previa um funcionamento em rede que não prejudicasse a comunicação, assim a primeira rede eletrônica chamou-se Arpanet.
Isto é extremamente estratégico porque uma pane pode cibernética pode deixar indefesas tanto o sistema de comunicação como a própria defesa, que depende de comunicações para serem acionadas, fragilizando extremamente o sistema que estiver sob ataque.
A Ucrânia tem anunciado que tem conseguido afetar diretamente os sistemas de comando e defesa da Rússia, enquanto a Rússia procura fragilizar o sistema de abastecimento de energia e canais de comunicação terrestre da Ucrânia, também planeja uma ferrovia em seus domínios em solo ucraniano, revelando táticas de defesa e ataque diferenciadas.
Na medida em que avançam as retóricas bélicas, também as guerras políticas e ideológicas cotidianas, um apagão se anuncia maior que o cibernético, as mentes e as almas se tornam cada vez mais turvas e o horizontes sombrio esconde esperanças, refúgios e clareiras.
Aos que lutam e desejam a paz nada falta, nem mesmo aquilo que a guerra e o ódio tentam retirar a paz cotidiana, o momento de descanso e lazer, não aquele fantasioso da orgia e das falsas liberdades que destroem uma vida frutífera e feliz, há sempre uma sombra, uma clareira e uma pausa para respiro em meio a aceleração moderna.
“Mesmo que eu passe pelo vale da sombra da morte nenhum mal eu temerei” (Salmo 23:4) diz o salmista do período sombrio do povo hebraico, e assim cantam alegres aqueles que desejam e lutam pela paz.
Catarse e moral limpa
O liberalismo político e moral não quer que o termo “estar limpo” seja utilizado, a maioria das pessoas que passaram por alguma dependência química, entretanto gostam de usar a palavra e o significado é mais profundo do que parece.
Sem uma força interior que nos ajude com frustrações e situações sociais complexas, não é possível entrar em um novo estado de espírito, em uma mudança de rota, isto significa que ocorre aquilo que os gregos chamam de catarse.
O termo vindo do grego “kátharsis” significa um estado de libertação psíquica (que também pode ser física e moral) em que o ser humano supera algum trauma, dependência ou medo que vem de uma perturbação psíquica.
Poucos percebem o valor de estar limpo moralmente, ao menos fazer um esforço para isto, o médico e psiquiatra Antony Daniels que escreveu diversos livros sobre a destruição da cultura, aquilo que de outra forma e análise Adorno chamou de “vida danificada” não é senão a constatação de um mal-estar na civilização, como analisou Freud ou o esquecimento do Ser.
Antony Daniels escreveu livros com o pseudônimo Theodore Dalrymple, em sua análise sobre o processo civilizatório esclarece: “A primeira exigência da civilização é que os homens estejam dispostos a reprimir seus instintos e apetites mais baixos: falhar nisso faz deles, precisamente porque são inteligentes, muito piores que meras bestas” e já chegamos a este ponto.
A ideia que estamos “libertando” as pessoas liberando seus instintos mais animalescos, não é outra coisa senão escraviza-la através de forma mais cruel que é a dependência, assim não é uma catarse, mas sim um caminho de difícil retorno, a dependência psíquica de algum apetite.
Na história, por ignorância, os portadores de hanseníase (lepra) eram considerados impuros, e eram excluídos socialmente, hoje esta impureza está relacionada aos vícios e a dependência moral ou química de instintos liberados e sem a necessária repressão.
Numa passagem bíblica do evangelho de Mateus um leproso se aproxima de Jesus e pede: “Senhor, se queres, tu tens o poder de me purificar”. Jesus estendeu a mão, tocou nele e disse: “Eu quero, fica limpo”. No mesmo instante, o homem ficou curado da lepra.
Tensões e pressão pela paz
A cúpula do G7 conseguiu reunir 90 países se reuniu sem a presença da Rússia e sem o aval da China que considerou fundamental a participação da Rússia, a reação do Kremlin foi de ironia em relação a reunião que exige que o território da Ucrânia seja mantido em toda sua integridade, apesar da vitória diplomática de Zelensky a batalha bélica segue cruel.
Na quinta feira (13/06) os EUA assinaram um pacto de cooperação de dez anos com a Ucrânia, o que coloca em nível de igualdade com a parceria com Israel, porém um navio nuclear russo que chegou a Cuba eleva o nível de tensão próximo a famosa crise dos mísseis na década de 60, embora hoje o envolvimento mundial na crise seja muito maior já que boa parte da Europa se sente ameaçada pelas incursões militares russas e a militarização é crescente assim como uma guinada política mais nacionalista evolui.
Além dos 7 países que compõe o G7 US, UK, Canada, Canadá, Itália, Japão e França, mais 82 países compareceram a reunião que discutiu um possível acordo de paz na guerra do leste europeu, destaca-se a presença do Papa Francisco, lembrando que o Vaticano é também um estado soberano.
Destaque também para o primeiro-ministro Modi da Índia defendendo o bem-estar do Sul Global, enfatizando a importância de África nos assuntos globais, um ponto que escapa em muito debates, mas alguns aspectos do colonialismo ainda sobrevivem, tanto no aspecto econômico quanto o cultural, e a defesa destes países é essencial.
Em 1918 com o fim da primeira guerra mundial o presidente Americano Woodrow Wilson (foto) fez uma proposta de uma “paz sem vencedores” ainda que a Alemanha deveria ser melhor analisada no acordo, ela é importante para entender as diversas possibilidades para a paz hoje (na foto os países do Tratado de Versalhes, 1919, que estabeleceu as fronteiras).
Pouco conhecida, os 14 pontos que estabeleciam uma nova política de paz depois da segunda guerra mundial, conhecida como 14 pontos eram os seguintes: 1. Diplomacia aberta sem tratados secretos, 2. Livre comércio económico nos mares durante a guerra e a paz, 3. Condições comerciais iguais, 4. Diminuir os armamentos entre todas as nações, 5. Ajustar as reivindicações coloniais, 6. Evacuação de todas as Potências Centrais da Rússia e permitir-lhe definir a sua própria independência, 7. Bélgica será evacuada e restaurada, 8. Retorno da região da Alsácia-Lorena e de todos os territórios franceses, 9. Reajustar as fronteiras italianas, 10. À Áustria-Hungria será dada uma oportunidade de autodeterminação,11. Redesenhar as fronteiras da região dos Balcãs criando a Roménia, a Sérvia e o Montenegro, 12. Criação de um Estado turco com livre comércio garantido nos Dardanelos, 13. Criação de um estado polaco independente e 14. Criação da Liga das Nações.
Hoje existem questões nova como as reais fronteiras da Ucrânia, a inexistência de um território para o povo palestino (o Hamas é só um grupo desta nação), o esquecido povo Curdo, os conflitos na região da Caxemira (há uma indiana e uma paquistanesa), o fim dos conflitos e tensões na África que escondem novos colonialismo e algumas garantias de paz nas fronteiras da Rússia que podem muito bem serem entendidas (a Rússia chama de regiões “neutras”) e a tensão complexa Taiwan x China.
Enfim não é algo impossível, mas é preciso desenhar um mapa global da paz e isolar governos e grupos que atentam contra a liberdade e autonomia dos povos.
Narrativas, guerras e perigos
Em um dos recentes ensaios de Byung-Chul Han, ao mesmo tempo que o autor lembra Hyppolyte de Villemessant, fundador do jornal francês Fígaro e de Walter Benjamin ensaísta e filósofo que faleceu na década de 40, o autor não deixa de associar a narrativa moderna associada as novas mídias, ao storytelling chamando de storyselling (produto para venda).
Assim ao invés de provocar uma reflexão sobre os grandes problemas da atualidade, entre eles a escalada das guerras, mas o problema é antigo: “o leitor do jornal moderno pula de uma notícia para à outra, em vezes de deixar seu olhar vaguear à distância, e demorar-se ali. O olhar longo, lento e demorado se perdeu” (Han, 2023, p. 17), ou seja, não há reflexão.
Assim trata-se de criar uma narrativa favorável a esta ou aquela visão ideológica, pouco importa a lógica e a humanidade, mesmo diante de tragédias estamos mais ocupados (não todos felizmente) em criar uma narrativa para justificar determinada posição do que para defender um princípio humanitário, há esta ou aquela guerra, mas todas matam inocentes, todas como disse Eduardo Galeano escondem desejos de poder e de exploração sobre a nação a ser dominada, mas grandes impérios sucumbiram apesar de toda a prepotência e genocídios.
O recrudescimento da guerra da Ucrânia, as ameaças ao último reduto de refugiados palestinos, as constantes ameaças a Taiwan, além de incursões na África e agora até a América do Sul, a Venezuela volta a ameaçar a Guiana com intenso movimento de tropas e as provocações entre os EUA e o Irã incendiam espíritos bélicos e até pessoas boas, mas inocentes, embarcam nestas narrativas, não há outro interesse nas guerras: saques, mortes de inocentes e desumanidades.
Os encontros entre nações no Brasil, na Europa e as tentativas de sensibilizar governos para os perigos desta escalada bélica não faltam no mundo todo, porém esbarram em narrativas parciais e partidárias, poucos são as mentes que se sensibilizam para o perigo grave e civilizatório desta escalada, em todo mundo o armamento é a única resposta que parece tocar os governantes, e assim crescem as narrativas de “atos heroicos” de fatos bélicos em todo mundo que deviam envergonham aqueles que invocam princípios humanitários, sendo a ONU as guerras e problemas ambientais levaram a fome mais de 700 milhões de pessoas.
Até mesmo para uma narração bíblica ou histórica, onde pretende-se construir um “todo” narrativo, há uma chamada para o humanitarismo, ao Caim matar o irmão Abel, a pergunta divina é “onde está teu irmão?” (Genesis 4,9) e a narração sugerida por Byung-Chul Han é a do rei egípcio Psammenit que foi capturado pelo rei persa Cambises, e após a derrota faz o rei se humilhar ao ver sua filha transformada em escrava e o filho sendo levado para ser executado (Han, pg. 21), porém o rei egípcio só sentirá ao ver um servo idoso e frágil entre os prisioneiros e “bateu em sua cabeça com os punhos e expressou profunda tristeza” (pg. 22), assim a narração, diz Han, “dispensa qualquer explicação” (Han, pg. 22).
Se formos capazes de reflexões longas, lentas e demoradas não é difícil entender o perigo da escalada das guerras, das pessoas simples como o serviço de Psammenit que sofrem e morrem por questões que mal compreendem direito, e que as narrativas não explicam, apenas tentam justificar o injustificável: a morte, a pilhéria e a mentira.
Como afirmar o filósofo Morin, é preciso uma resistência do espírito, estamos aos poucos perdendo o sentido de amor, esperança e solidariedade e se lermos e investigarmos as notícias e fatos das guerras veremos que não houve nada nelas que não fossem grandes genocídios, roubos e situações de fome e miséria, é preciso resistir ao ódio e a violência.
HAN, B.C. A crise da narração. Trad. Daniel Guilhermino. Petrópolis, RJ: Vozes, 2023.
Tragédia natural no sul do Brasil
Acompanhamos, geralmente nas segundas feiras a grave crise civilizatória que nada mais é que uma guerra mitigada entre as grandes potências, sempre com um risco de tornarem-se uma guerra total, três grandes impérios estão ali em conflito: o americano, o Chinês e o Russo.
Porém a tragédia natural com intensas chuvas no sul do Brasil nos lança um alerta solidário.
Os dados até a tarde do dia de ontem (05/05) são tristes e alarmantes: 334 municípios afetados, 16609 pessoas em abrigos, quase 90 mil desalojados, 780.725 pessoas afetadas, 155 feridos, 103 desaparecidos e 75 mortos confirmados (mais 6 investigados se sob ação das chuvas), além disto em 839 mil imóveis não há água e 421 mil residências estão sem luz, há 113 bloqueios em estradas.
Empresários, diversas organizações humanitárias, e a maioria dos órgãos de comunicação estão em campanhas de fundos e socorro aquela população, também o governador, os prefeitos e políticos do governo federal estão empenhados em mobilizar fundos para o socorro, houve quem comparasse esta ajuda emergencial como típica de uma guerra.
Os eventos sociais e esportivos foram adiados, embora tenha havido shows milionários no país onde sequer tiveram a sensibilidade de referir-se ao desastre natural (não darei publicidade), mas o povo brasileiro é solidário, se comove, chora junto com os gaúchos e se mobiliza.
Ainda há chuva nestes dias e os rios continuam subindo, a tragédia pode ser ainda maior, e depois o processo de reconstrução não será simples, temos uma chance de sermos mais unidos e solidários e não viver uma eterna polarização de ódios e incompreensões.
Felizmente os órgãos do país estão solidários e espero que permaneçam, seria bom também talvez uma nota de setores do judiciário, por exemplo, a OAB ou tribunais estaduais.
Despertar o espírito solidário neste momento pode representar uma boa tomada de consciência sobre as nossas dívidas com a sociedade e com o povo que está sempre em dificuldades, quem vive perto da população humilde percebe um momento grave.
Todo apoio humanitário ao povo gaúcho, serão confortados se sentirem todo nosso apoio.
Hiperpolítica e a guerra
Quando Peter Sloterdijk escreveu “Todos no mesmo barco: ensaio sobre a hiperpolítica” estávamos no limiar do terceiro milênio, Manuel Castells escrevia a Sociedade em Rede e Edgar Morin escrevia sobre Cabeça Bem feita, repensar a reforma, reformar o pensamento, eram tentativas de acordar e fazer a humanidade caminhar para um futuro menos sombrio.
Sloterdijk escreveu ainda “Se a Europa despertar”, chama-a de Império do Centro e atenta para seu passado colonialista e a necessidade de um novo futuro e repensa a guerra, um tema tão deligado no país que deflagrou a II Guerra Mundial.
São todos pensamentos que tentavam redirecionar um futuro sombrio da possibilidade de uma nova guerra, em Todos no Mesmo Barco, Peter Sloterdijk revisita o projeto político que nasceu na antiguidade clássica, a tentativa de organizar o Estado, e diz: “Como podem “falar” a tão grandes números de pessoas e convencê-las a se sentirem participantes daquilo que é “grande” – até chegar à disposição de ir ao encontro da morte em exercícios de milhões contra forças de igual ordem de grandeza, a fim de assegurar aos “próprios” sucessores aquilo que os ideólogos chamam de futuro” (Sloterdijk, 1999, p. 31).
Ao contrário do otimismo de Castells e Morin, não apenas justificável, mas desejável, de um futuro mais civilizado e humano, Sloterdijk alerta que essa hiperesfera conectada, vejam que as mídias sociais eram apenas nascentes para estes três grandes pensadores, era para o alemão, um futuro perigoso da hiperpolítica.
“Os primeiros gestos desse holismo instintivo são tentativas de descrever o cosmo como casa maior e os povos como famílias maiores” (Slotertijk, p. 32), e acrescenta que de fato, “o homo politicus e o homo methaphysicus se pertencem historicamente; propectores do Estado e prospectores de Deus são gêmeos evolucionários” (Sloterijk, p. 33), claro não é a visão de todos e muito menos dos homens do poder, os grandes estadistas que pensam nesse holismo já não existem e agora é império da força e do pensamento monolítico, autoritário e de ódio.
O projeto político dos gregos para ele pode ser chamado de “metalomaníaco”, mas alerta que este é o homem que “imiscui em grandes questões maiores para ter algo que correrá com os olhos e logo abandonará. Mas deverão chamar aqueles que, uma vez apreendidas as grandes coisas, não mais as abandonarão? Proponho megalopatas” (pag. 34).
Também grandes impérios: o persa, o romano, os mongóis que chegaram a dominar meia europa, o turco-otomano e mais recentemente napoleão e as “esquecidas” colônias da Africa que nada mais eram do que extensão do Império do Centro, como Sloterdijk chama a Europa.
“Humanismo de Estado é desde então a busca por um centro justo – e desde a recepção romana dessa ideia grega essa busca carrega o seu nome até hoje conhecido: a Humanidade” (pags. 35-36).
Sloterdijk questiona esse modelo do homo politicus, o “pontifex maximus”, “como nos tornamos rajá? Como nos tornamos César? Como nos tornamos cônsul, senador, imperador? Como deve viver alguém para entrar nos livros de história como Metternich, lord Morlborough ou Bismark? (pag. 37).
A ideia da política como metanóia, este era o intuito inicial da Paideia por exemplo, não é mais verdade na guerra, Sloterdijk cita Goethe: “não se educa o homem que não sofre flagelos”.
Poder em Foucault e Chul-han
Michel Foucault rompeu com as concepções clássicas do termo poder e define como uma rede de relações onde todos os indivíduos estão envolvidos, e entendemos a rede aqui com o sentido moderno de rede embora fosse vago no seu tempo, os indivíduos são tanto geradores como destinatários do movimento destas relações, entretanto ele as identifica como biopoder, enquanto Chul-Han vai identificar como psicopoder, e de certa forma agrega as mídias a isto.
A ideologia de Estado, nascida de Hegel é a base de toda história de poder contemporâneo, o autoritarismo e as guerras modernas nasceram de uma nova ideia de imperialismo e colonialismo, na qual estados mais fortes controlam o poder não apenas pelas armas, mas antes pelo biopoder e agora pelo psicopoder.
O biopoder de Foucault, o estado é o primeiro nível de poder (ele chama de setor), o mercado o segundo nível, e, o terceiro é a sociedade civil, a ideia de 4º. poder da imprensa vem daí.
Ele estudou o poder não para desenvolver uma teoria sobre ele, mas para identificar aspectos da subjetividade (na ontologia seria a questão do Ser), ou seja, sujeito sobre os outros sujeitos.
Isto é importante para diferencia-lo de Chul-Han, que parte das relações ontológicas entre os seres e identifica a ação de mídias e estruturas mídias que atuam sobre a psicologia do poder, assim sua ideia de poder (O que é poder) é como uma técnica de dominação que estabiliza e reproduz o sistema dominado por meio de uma programação e de um controle psicológicoc.
Foucault vê o biopoder, como no corpo como uma máquina de adestramento, já que a biopolítica, em meados do século XVIII, estava focada em controles reguladores da população, a ideia que era o aumento populacional que proporcionava a miséria e a fome.
Peter Sloterdijk que orientou a tese de doutorado de Chul-Han sobre Heidegger, defende que este processo de “adestramento” falhou e assim, o processo de controle desenvolve-se para o quarto poder, que Chul-Han focaliza excessivamente nas mídias, esquecendo do 4º. poder da imprensa, TVs e cinema que influenciaram enormemente.
Ele desenvolve patologias de autocentramento (narcisismo), instabilidade emocional (borderline) como respostas às demandas de uma sociedade intoxicada de exigências de eficiência, de aparência e de coerção disciplinar, escreveu o autor):
“É inerente à sociedade pré-moderna da soberania a violência da decapitação; seu medium é o sangue. A sociedade disciplinar moderna é, em grande medida, uma sociedade da negatividade, sendo regida e dominada pela coerção disciplinar, isto é, pela ‘ortopedia social’. Sua forma de violência é a deformação. Mas nem a decapitação e nem a deformação estão em condições de descrever a sociedade de desempenho pós-moderna. Ela é dominada por uma violência da positividade, que confunde liberdade e coerção. Sua manifestação patológica é a depressão” (Han 2018, pp. 183-184).
HAN, Byung-Chul. Psicopolítica: o neoliberalismo e as novas técnicas de poder. Belo Horizonte: Âyiné, 2018.
2 anos de Guerra e a diplomacia
Dia 24 de fevereiro completou 2 anos da guerra da Rússia com a Ucrânia, que o governo russo chama de “operação especial”, que já matou milhares de civis na Ucrânia, que provocou uma ruptura com o Ocidente e que não tem perspectivas de trégua e pode escalar para a Europa.
Apesar do enfraquecimento o discurso de Zelensky foi de promessa de vitória, embora tenha sofrido revezes neste início de ano em vários fronts, o discurso de Putin é cada vez mais feroz e eloquente e não é impossível um enfrentamento direto com as forças da Otan, o que seria uma tragédia para todo o planeta pelo potencial bélico e nuclear que estaria envolvido.
Na Palestina Israel continua com bombardeios já chegando a cidade fronteiriça com o Egito de Rafah, no subúrbio de Shaboura, segundo o ministério da Saúde de Gaza, 97 pessoas foram mortas e também em algumas aldeias vizinhas houve ataques.
O Catar sediará uma reunião entre o Hamas e Israel com objetivo de finalizar um acordo de trégua esta semana, segundo fontes egípcias, os Estados Unidos consideram sempre possível o acordo definitivo de paz, porém continuam dando apoio a Israel e seguem conflitos com os Houthis do Iêmen que impede a passagem de navios cargueiros de bandeira americana.
Uma nova estratégia no Iemen tem sido forças táticas, lideradas pelo Reino Unido (foto) que auxiliam tanto o mapeamento como o bombardeiro das bases terrestres dos Houthis, já que eles não têm embarcações, fazendo ataques aos navios a partir de bases terrestres.
O presidente brasileiro Lula causou uma grave crise com Israel comparando a atual guerra de Israel com o período nazista, justamente o maior genocídio e a mais cruel guerra contra o povo judeu e provocou reações do governo de Netanyaho, de seus aliados e de brasileiros judeus que reclamam um tratamento igualitário ao dado aos palestinos refugiados.
O conjunto das guerras e retaliações endurecem os corações e põe em combate as forças que polarizam o poder ao redor do mundo, poucos são os países que não se alinham embora a esperança de paz resista de maneira heroica.
Como diz o centenário educador e filósofo Edgar Morin, é preciso uma resistência do espírito.