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A saída educacional
Apesar de grandes melhorias nos últimos anos, o progresso em direção à educação para todos estagnou a nível mundial, poucas iniciativas existem no sentido de darem saltos mais altos, Educação Aberta para Todos em Cursos Massivos Online pode ser a solução?
No total, 263 milhões de crianças, adolescentes e jovens tão fora da escola para o ano letivo que terminou em 2016, as estatísticas para 2017 não foram nada otimistas.
Isto significa que um progresso mais equitativo se tornará cada vez mais difícil se enormes barreiras são construídas já na educação juvenil estará fadada a recursos emergências e não a uma melhoria equitativa e sustentável da distribuição de bens em todo o planeta.
O porquê deste processo não ser equitativo tem algumas evidências: as crianças enfrentam as barreiras mais severas quanto à educação terão menores chances de desenvolvimento profissional e pessoal, isto se torna dramático quando elas estão associadas a gênero, pobreza, deslocamento, nomadismo, deficiência e / ou etnia, e ainda quando são deixadas para trás em deslocamentos devido às guerras.
Há um número desproporcional de crianças fora da escola vivendo em países caracterizados por instabilidade e conflito e/ou pobreza extrema, pouco se fala da África, mas a cada dia há um novo conflito.
Muitos dos países com maior número de crianças fora da escola não tem ajuda ou financiamento externo adequado para atender às suas necessidades, e as ONGs e ações de alguns países são localizadas e deficitárias.
Fantasmagóricos e realismos
Sem dúvida, a realidade pode não ser apenas aquilo que nossos sentidos indicam, mas também os sentidos fazem parte de uma boa descoberta da realidade, pode-se usar um óculos, um microcóspico e um potente telescópio para ver a realidade, mas usando o olho.
O que é difícil de se imaginar é como construção de narrativas podem iludir a realidade, podem torná-la diferente daquilo que a simples visão indica, jamais por exemplo, poder-se-ia imaginar que a física quântica daria origem a uma olha visão do chamado “mundo físico”.
Einstein, Podolsky e Rosen; três eminentes físicos na época, escreveram um artigo que se contrapunham a ideia da física quântica, que os quanta ocupavam um espaço entre “pulsos” e que entre eles não havia nada, eles três físicos diziam que era um ação a distância “fantasmagórica” e matematicamente foi demonstrado ser algo impossível, o fenômeno ficou conhecido como EPR (letras iniciais dos autores).
Recentemente, em estudo liderado por Ronald Hanson e publicado na revista Nature em 2015, a Universidade de Tecnologia de Delft, na Holanda, relata ter feito um experimento que, segundo eles, comprova uma das asserções mais fundamentais da teoria quântica –de que objetos separados por uma grande distância podem afetar um ao outro.
As aparições de Jesus, em diversos eventos, após sua partida e ressurreição trazia espanto e até mesmo medo aos seus discípulos, numa passagem pouco conhecida aparece a várias pessoas e diz (Lc 24,38-39): “Por que estais preocupados, e por que tendes dúvidas no coração? Vede minhas mãos e meus pés: sou eu mesmo! Tocai em mim e vede! Um fantasma não tem carne, nem ossos, como estais vendo que eu tenho”,
Infelizmente ainda hoje ele é um fantasma e até uma lenda para muitos, ainda que existam fatos históricos.
As (im)possibilidades reais
Além do pensamento idealista contemporâneo, rendo-me ao fato que parte dele partiu de pressupostos religiosos presos ao mecanicismo e à ordem do universo, há um conjunto de possibilidades que a muito tempo já vem sendo pensado, e alguns comprovados, como postamos anteriormente ligados a física quântica e as possibilidades reais da ciência.
Em A física do impossível, Michio Kaku, que tem um livro famoso sobre o hiperespaço, usa um recurso inesperado, a ideia que em todas religiões existem outras dimensões da vida, escreveu: “a igreja acreditava no Céu, no Inferno e no Purgatório. Os Budistas têm o Nirvana e diversos estados de consciência. E os Hindus têm milhares de planos de existência” (p. 236), não conhece mas poderiam ser citadas as cosmogonias de diversas culturas e religiões onde a oralidade prevaleceu e muitos destes contos falam de outras dimensões.
Reconhece o autor que na literatura há pelo menos três tipos de universos paralelos: o hiperespaço, ou dimensões de ordem superior, o multiverso (não uni-verso) e os universos paralelos quânticos.
O fato que estamos presos as três dimensões, esclarece o autor vêm de Aristóteles, que sua obra Sobre o céu, estabeleceu a largura, a altura e a profundidade, que são traduzidas em três dimensões ideais: o ponto, a reta e o plano, que inexistem se examinados na natureza real, os fractais são uma redescoberta moderna (um monge já havia conjecturado) da ruptura destas dimensões para o um plano natural, é o fracionário natural, onde dimensões 0,7 ou 2,78 existem. que são os fractais.
O autor conta que Carl Gauss já havia conjecturado estas dimensões, mas foi um aluno seu que desbancou com um exemplo simples esta teoria idealista supondo uma esfera, nela a distância mínima entre dois pontos é uma arco e não uma reta, e um triângulo terá mais de 180 graus na soma dos ângulos.
Para a quarta dimensão vai buscar um recurso também surpreendente que é da historiadora de arte Linda Darymple Henderson, que escreveu: “Tal como o buraco negro, a ´quarta dimensão´ possuía características misteriosas que não podiam ser totalmente compreendidas, nem sequer pelos próprios cientistas.” (pag 238), reconhecendo a importância desta teoria.
Cita ainda o quadro Christus Hypercubus (imagem estilizada acima), de Salvador Dali, ele está “crucificado diante de uma cruz trimensional estranha e a pairar que é uma realidade em “tesseracto”, um cubo tetradimensional desdobrado.” (pag. 238)
Filmes como “Contato” feita a partir do romance de Carl Sagan e “Interestelar” onde naves viajam na quarta dimensão, os wormholes (buracos de minhoca) podem já sua virtualmente possíveis, um projeto que conta com mais de 100 milhões de dólares, foi lançado na Inglaterra em 2016 e conta com apoio de Stephen Hawking, micro-naves poderiam viajar nesta dimensão?
O futuro ainda trará surpresas, mas não faltarão falsos profetas fazendo sucesso contra ele, a crítica é a impotência posta em prática, quer dizer pouco ou nada fazem.
As redes e relações (in)visíveis
Um dos assuntos em foco hoje são as redes sociais, elas não são de hoje, o problema é que hoje elas estão em evidencia, mas continuam a guardar certos aspectos de invisibilidade, confundidos com virtualidade, façamos uma análise histórica.
As redes de comércio na antiguidade, por mar e por terra, os colégios invisíveis, definidos por Solla Price em seu trabalho “O desenvolvimento da ciência: análise histórica, filosófica, sociológica e econômica”, de 1976, chama as redes científicas de redes colaborativas, onde os pesquisadores se comunicam, trocam informações e experiências, significa que mesmo na ausência, através dos trabalhos impressos e das conferências, os autores colaboram.
Essencialmente, uma rede é uma teia de nós (elementos) e links (conexões) entre os nós, embora estes participantes sejam autônomos, as consequências das conexões em redes podem ultrapassar os seus próprios limites por conexão para “fora” através dos laços fracos.
Na análise de redes podem ser identificados apenas por razões didáticas, três tipos: as redes egocentradas (ego networking), as redes de análise global (Global Networking) e as redes de relações entre atores, chamadas TAR (Teoria Ator-Rede) com origem nos trabalhos de Michel Callon.
As redes de aeroportos, as redes de transportes de containers a nível mundial, as redes de telecomunicações e evidentemente a internet, a Web é uma camada sobre esta rede.
As redes globais são influenciadas fortemente pelas mídias, e elas criam certa dose de invisibilidade, uma vez que as redes colaborativas de publicações são também foram chamadas de colégios invisíveis por autores como Solla Price, mas aceleradas pela velocidade dos meios, os mídias eletrônicas tem maior velocidade de publicação e comunicação que a impressa, então blog, twitter e as mídias de redes sociais como Facebook ocupam um papel novo na atualidade, mas não são em si redes, mas mídias de redes.
Diversas medidas podem ser pensadas, a centralidade de proximidade (closeness) de um ator mede o quanto um nó está próximo de todos os outros, maior será a medida de proximidade, a centralidade de intermediação (betweenness) mede a importância de um nó na circulação da informação.
Então, para efeito de informação, o betweenness é a medida do controle que um ator detém no fluxo de informação e closeness é a facilidade que um ator tem do acesso à informação.
A invisibilidade, enfatizando presente nos colégios “invisíveis” na modernidade, é relativa ao processo de comunicação e informação que pode ir além dos autores-atores ao longo da rede, a virtualidade por sua vez refere-se a potencialidade de aumento da capacidade da rede.
Ver e crer: sentir o real
Ao contrário do que pensa o senso comum, o virtual não se opõe ao real, mas aponta-lhe um caminho, tecnologias digitais já em desenvolvimento como realidade aumentada, realidade virtual e hologramas são virtuais não no sentido de irrealidade, mas de potencialidades.
O que se poderá resultar delas ainda depende de alguns avanços tecnológicas, mas o desenvolvimento destes artefatos, como para criar hologramas 3D testado na Universidade de Brigham Young (ver nosso post) publicado na revista Nature de janeiro, ainda dependerão de avanços tecnológicos para chegar ao mercado num futuro próximo, esta é sua virtualidade.
Numa sociedade da informação, a leitura ocupa um papel central, não por acaso está ligado ao artefato impresso, a chamada Galáxia de Gutenberg, no entanto pode-se imaginar que a cultura oral tenha pouco a ver com esta, ou apenas se componha com ela, mas isto não é um fato.
A cultura oral, o ver está ligado ao ouvir, pode parecer curioso ou estranho que nesta cultura é essencial o escutar, e o falar significa certa autoridade, foram assim com os oráculos, profetas e mestres em culturas afros, deve-se ter o dom de contar neles os mitos ocupam lugar de destaque, é por isso que desenvolvemos aqui: vendo não veem, e ouvindo não escutam.
Poderia ser o contrário, se pensamos na fotografia, na TV e no Cinema, mas a chamada “sociedade do espetáculo”, que Guy Debord definiu o espetáculo como o conjunto das relações sociais mediadas pelas imagens, mas estas são apenas artefatos modernos, pois as pinturas rupestres seriam então o que ?
A linha de análise que embora tenha críticas, parece mais coerente é a de Paul Virilio, que a moderna sociedade caminha com “velocidade” para as novas mídias, e a dança e o teatro seriam as verdadeiras resistências a esta velocidade,
Mas Virilio rende-se ao afirma que inovações tecnológicas transformam, modificam, alteram o espaço geográfico em todas as escalas (local, nacional e global), não diz isto, no entanto, é preciso humaniza-las, e este processo será cada vez mais coletivo, é inerente a estas mídias.
Um exemplo de cultura oral está na passagem famosa de Tomé, que interpretada na cultura da informação dizem é ver para crer, está errado, é sentir para crer, releia-se a passagem de João 20,25=27:
“Os outros discípulos contaram-lhe depois: “Vimos o Senhor!” Mas Tomé disse-lhes: “Se eu não vir a marca dos pregos em suas mãos, se eu não puser o dedo nas marcas dos pregos e não puser a mão no seu lado, não acreditarei” … e Jesus disse: põe o dedo aqui e olha minhas mão.”
Jesus apareceu e pediu que ele tocasse também em outras passagens Jesus aparece e só quando fala, e reparte o pão é “visto”, o homem moderno precisa tocar e sentir.
Vendo não veem
Ouvir já escrevemos aqui, é o fato de possuir o aparelho auditivo, escutar é coisa para quem processa mentalmente. aquilo que ouviu, não é possível fazê-lo sem alguma atenção e algum saber, ao menos da linguagem na qual está ouvindo.
Imaginava em Portugal, que em toda a península Ibérica, já havia visto na Espanha, há alguma cultura ligada a visão, algo parecido a tradição oral, mais ainda mais primitivo, sim pois as pinturas rupestres são anteriores a escrita e provavelmente originárias da cultura oral.
Descubro perguntando sobre a importância cultural da Cidade Caldas da Rainha, relativamente próxima a Lisboa, a figura de Rafael Bordalo Pinheiro (1846-1905), inventor do Zé-Povinho, foi também jornalista da gravura, folhetinista do lápis, cronista gráfico, ceramista falido, cartunista antes do tempo. republicano, com algo anticlerical, uma de suas pioneiras caricaturas satíricas se pode ter convulsionado seu país no final do século XIX, ainda monarquista, mas já com ideias republicanas fortes.
As suas cerâmicas que não vingaram em seu tempo, hoje são obras de arte difundidas no mundo interior, no Brasil já vimos aqueles vasos em forma de pinheiro, xícaras (chávenas em Portugal) e outras louças (loiças na terrinha), feitas em formato de frutos e decoradas, feitas muito mais ao gosto do “zé povinho” que as louças reais da aristocracia portuguesa.
Assim como a escuta exige um treino, o olhar exige um duplo treino, pois o artista quer dar ao público algo além do convencional e por isto faz esta ou aquela nuance em seus artefatos,
Talvez a própria expressão de Zé Povinho, usada também no Brasil devemos a ele, também lá como cá esta expressão pode denotar um sentido pejorativo.
O fato da visão no sentido artístico, tanto pode recorrer a figuras míticas, cavalos alados e unicórnios, mula sem cabeça e saci Pererê em lendas populares e outras imagens podem em algum sentido serem místicas no sentido até mesmo de antevisão da realidade, muitos artistas estiveram avante de seu tempo.
Um visionário de nosso tempo não pode recusar as mídias e redes sociais, sendo redundante, é falta de visão.
Escutando não ouvem
O fato fisiológico de se escutar pode estar em contraste com a apreensão do conteúdo no cérebro humano, isto é, pode-se ter um aparelho auditivo adequado ou até mesmo artefatos que ajudem, mas mesmo escutando não ouvem, isto é não apreendem o conteúdo.
A visão de McLuhan que a comunicação, como meio tende a ser definida como transparente, inócua, incapaz de determinar quais são os conteúdos comunicativos que estão veiculados.
A sua única incidência no artefato, seja ela qual for, no processo comunicação seria negativa, devido a ruídos ou obstáculos na veiculação da mensagem, esta já era a preocupação enquanto aparato de Claude Shannon, mas agora McLuhan chama que tanto a mensagem feita oralmente ou por escrito, seja ela transmitida por rádio, televisão, põe em jogo novas estruturas sendo elas artefatos destinados a ampliar os sentidos realçando contornos e outros nuances do que é comunicado, neste trabalho relaciona com o artista que deseja realçar algo.
Dito de forma mais direta, para McLuhan, o meio, o cana (termos mais apropriado para Shannon)l, os artefatos de tecnologia que a comunicação se estabelece, não é apenas constitui a de certa forma de comunicado, mas determinará em última instância o próprio conteúdo.
O que McLuhan chama a atenção é o facto de uma mensagem proferida tanto oralmente
quanto por escrito, ao ser transmitida pelo rádio ou pela televisão põe em jogo o conteúdo.
Sua tese central é que existe aí uma dupla operação: 1) estudar a evolução dos meios comunicativos usados pelos homens ao longo da sua História, e, 2) identificar as características especificas de cada um desses diferentes meios/artefatos de comunicação.
Estes são dois pontos centrais de sua investigação que estão na raiz de uma de suas obras fundamentais, a saber, Understanding Media, de 1964.
Assim desenvolve três galáxias, quando apenas uma é lembrada, a Galáxia de Gutenberg, que é típica da cultura escrita e depois a impressa com as possibilidades de reprodutibilidade, mas há a cultural oral ou acústica que é anterior, onde a questão da escuta é fundamental, nelas mestres (no sentido oral), oráculos e profetas ocupam um papel central, e, a atual que McLuhan chamava de eletrônica, mas pode-se como prolongamento falar de uma galáxia digital em rede, onde tem-se mídias de redes que não devem ser confundidas com as redes, pois estas existem nas galáxias anteriores.
Desta forma quem está preso a Galáxia de Gutenberg pode não escutar a Galáxia da cultura oral, e aqueles que estão presos a Galáxia dos meios eletrônicos, chamo-a de Shannon, não escutam a Galáxia da cultura oral e da Galáxia de Gutenberg, os artefatos multimodais poderão mudar isto?
A verdadeira crise e a dor
A verdadeira crise da sociedade contemporânea reside na ideia que é possível abolir a dor, o contraditório e quem sabe até a morte, por isso aboliu não só a ideia de um Deus Uno, mas qualquer possibilidade de uma cosmogonia que dê vazão ao processo vida-morte-eternidade.
Petr Sloterdijk dá a este fenômeno o nome que considero mais correto “imunologia”, a ideia que podemos ser imunes a qualquer “contágio” e alguns levam isto ao “toc” e ao vício, para ser correto com o autor dou sua definição: “Sistemas imunológicos são expectativas de danificação e violação, somatizados ou institucionalizados, que se baseiam na distinção entre o próprio e o estranho” (Sloterdijk, 2009, p. 709)
É a mais correta, a meu ver, pois toda esta busca por perfeição, imunidades, excesso de moralismo (é diferente da moral que é um ascese justa e verdadeira), fazem o homem cair num vazio sem sentido, querem então culpar os próprios artefatos que constroem pela sua infelicidade, basta uma simples análise e vemos que é outra insanidade: coisas são aquilo que nós humanos emprestamos a ela, portanto a bola da vez volta para o homem e para o Ser.
Dois amigos agnósticos apontaram para mim que creio que há um mundo sobrenatural além do natural, e que Jesus ao se tornar pão e vinho nos explica o que são os artefatos humanos, ao menos estes, bem estes dois amigos apontaram para a cruz e disseram: sem sentido.
Certo o que tem sentido é ignorar a tragédia, o homem diante da morte, “que com a vida engana” dizia Goethe, pois bem: o que é a dor, milhares de medicinas alternativas conseguiram extinguir a dor? alguém já conseguiu ressurgir dos mortos ? as respostas são evidentes.
O uso de drogas, o alcoolismo e a cegueira política/religiosa/social não são outra coisa.
Mas não é evidente, um homem-Deus que foi Jesus, diante da morte e da cruz gritar: “Meu Deus, Meu Deus, porque me abandonastes?” mais paradoxal ainda pensar que ele que era Deus indagava por Deus, fato insólito em sua vida pois chamara Deus sempre de Pai.
Talvez pudesse até chamar esta crise de Jesus Abandonado, uma sociedade que quer ir a frente, mas vive retornando ao passado, a ponto que quer reviver A riqueza das nações.
Ignorarmos a tragédia no sentido grego, até Nietzsche reclamou disto, é ignorar sua saída.
SLOTERDIJK, P. Du musst Dein Leben ändern. Über Antropotechnik. Frankfurt, Suhrkamp, 2009.
Marcha pelas nossas vidas
O protesto que ocorreu neste sábado pelo controle das armas de fogo nos Estados Unidos, teve participação de John Lennon e muitos cantores, mas uma participação especial chamou a atenção: a neta de Martin Luther King.
Uma criança de apenas nove anos subiu ao palco para fazer um discurso semelhante ao daquele que foi feito pelo seu avô de mãos dados com Jaclyn Corin, estudante da escola de Parkland e uma das organizadoras do evento, numa referência marcha contra o racismo em Washington em 1963, disse:
“O meu nome é Yolanda Renee King, sou neta de Martin Luther King e Coretta Scott King. O meu avô tinha um sonho, de que os seus quatro filhos não fossem julgados pela cor da sua pele, mas pelo conteúdo do seu caráter. Eu tenho um sonho de que já chega, e de que este deve ser um mundo sem armas. Ponto.”
Os jovens também foram enfáticos em dizer que os adultos falharam, não deram aos jovens e crianças um mundo mais seguro e mais justo, o papa num discurso provocativo, também afirmou em Roma: “façam barulho”, e citou a resposta de Jesus Cristo aos fariseus de ontem e de sempre: “Se eles calarem, gritarão as pedras”.
O site March for Lives mostra adesões em todo mundo: Irlanda, Escócia e muitos outros países, a onda promete invadir todo o planeta até que o uso de todas armas seja limitado.
Na década de 60 foi um enfrentamento forte ao governo dos Estados Unidos por sua escalada armamentista no oriente, agora promete ser uma luta contra o armamentismo em todo mundo, ventos fortes soprando.
Aldeias Globais e Metrópoles Aldeias
Minha ainda curta experiência portuguesa já trás uma reflexão nova, uma grande cidade pode ser uma aldeia onde há algum anonimato apenas por conta de um ocidental individualismo, e há aldeias já globais, como queria McLuhan, com cidadãos globais.
A experiência de um grupo de educação a distância de Porto de Mós reflete um pouco isto, pensei encontrar alunos dispersos com olhares distantes como é quase sempre comum em São Paulo, mas encontrei alunos engajados, críticos e preocupados com a própria formação, tivemos que encerrar porque o prédio ia fechar, e nós que tínhamos ido de Lisboa precisávamos pegar o ônibus, quase perdemos.
Curioso também porque Portugal tem aldeias genuínas, não são as cidades pequenas como Porto de Mós, mas aldeias mesmo, onde as pessoas vivem de pequenas fazendas (muitas vinícolas aqui), em torno de uma vida comum mais próxima, mas seus jovens aceitam pacificamente e se intitulam como uma das alunas de Porto de Mós: “eu sou da aldeia”.
A reflexão vai então para o que perderam as cidades grandes, se tivesse que resumir diria em uma palavra relembrando Edgar Morin: “conviviabilidade”, mas penso que há algo mais profundo: a falta de sonhos, a excessiva rotulação, a preocupação equivocada com os meios de comunicação (eles ajudam as aldeias serem globais), mais principalmente uma falta de “vida vivida”.
O fato que encontra-se em Portugal, especialmente em Lisboa, uma vida de bares e cafés onde se realiza a “conviviabilidade” e uma vida de aldeias onde se está integrada a vida do mundo pelos modernos meios de comunicação, realiza uma nova fase de sociabilidade onde os valores humanos podem ser realmente vividos, mais do que pensam os teóricos da “relacionalidade” que não “convivem”.
Ainda é possível sonhar, enamorar-se, respeitar valores de ética e solidariedade, mas principalmente de vive-los, o que é essencial.