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Não coisas e a subjetividade, o eidos deturpado

12 jan

A subjetividade vem do idealismo que julga o Ser separado das coisas, assim só ser se projetado sobre os objetos, porém o “eidos” gregos, de onde veio o idealismo nascente, não havia esta separação, tanto nas 4 causas de Aristóteles: material, formal, eficiente e final, como também na teoria das ideias platônicas que é a essência e que já relacionamos à coisa.

Enganam-se aqueles que julgam o mundo imerso na erotização, seja o mundo da fantasia, aquela que vem das obras de ficção, do imaginário infantil e do olhar com esperança para um futuro melhor, hoje em um presente cada dia mais preocupante, Chul-Han escreve assim:

“Sem fantasia, só existe pornografia. Hoje, a própria percepção tem traços pornográficos. Ela ocorre como um contato imediato, mesmo como uma copulação de imagem e olho. O erótico ocorre no fechar dos olhos” (Han, 2022), ou seja, é justamente seu inverso, estamos no vazio existencial, na negação do Ser e nele só resta a pornografia, como degradação do Ser.

Citando Barthes, Hul-Han esclarece a parte do pedaço que é: “A subjetividade absoluta só pode ser alcançada em estado de silêncio, o esforço para alcançar o silêncio (fechar os olhos significa fazer a imagem falar no silêncio). A fotografia me toca quando eu a retiro de seu blábláblá habitual […] não dizer nada, fechar os olhos […]” (Han, 2022) e está citando Roland Barthes em sua obra (foto): A câmera clara (ou Lúcida, dependendo da tradução).

A fotografia é portanto uma forma de perpetuar o silêncio, o desejo de muitos tirarem fotos como ato de individual é assim retirá-la do cotidiano e inserir um que de eterno, enquanto a exposição pública que o universo digital permitiu é devolvê-la ao “blábláblá habitual”, diz o autor: “O desastre da comunicação digital decorre do fato de que não temos tempo para fechar os olhos” e talvez ele não saiba mas isto é inclusive físico, por não piscar os olhos devemos usar lubrificantes para a vista se a expomos muito tempo nos ecrãs.

“O ruído é tanto uma poluição acústica quanto uma poluição visual. Polui a atenção” (Han, 2022) e citando Michel Serres diz que este instinto é de origem animal, como os cães, tigres e outros animais que urinam para demarcar terreno, poluem com seu fedor para inibir que os outros animais se aproximem.

Permitir a aproximação do outro é não demarcar território, é sábia a resposta bíblica de Jesus ao contato inicial de dois novos discípulos (Jo 1,38): “Jesus perguntou: “O que estais procurando?” Eles disseram: “Rabi (que quer dizer: Mestre), onde moras?” e ele respondeu: “Vim e vede” e foram e ficaram com Ele, porque não demarcou terreno e não se fechou.

A lógica do silêncio é contrária ao ruído, que não significa apenas a poluição de um som audível, mas um completo vazio capaz de conter e receber o Outro.

HAN, Byung-Chul Não-coisas : reviravoltas do mundo da vida, tradução de Rafael Rodrigues Garcia. – Petrópolis, RJ : Vozes, 2022.

 

A não-coisa e o mundo amoral

11 jan

Para Byung Chul-Han o que está se alterando é o mundo da mercadoria com o digital, vai fazer uma análise da posso do livro e o ebook, este como não-coisa, o smartphone e outros objetos digitais, porém o mundo da moral também está se alterando, cita de passagem:

“A pessoa desinteressada pelas coisas, por posses, não se submete à “moral da coisa” baseada no trabalho e na propriedade. Ela quer brincar mais do que trabalhar; vivenciar e desfrutar mais do que possuir. Em sua fase cultural, a economia também mostra traços lúdicos. A encenação e a performance estão se tornando cada vez mais significativas. A produção cultural, ou seja, a produção de informações, adapta cada vez mais os processos artísticos. A criatividade se torna seu lema”, usando um raciocínio de Vilém Flusser sobre a moral da coisa.

O que Chul-Han chama de fase cultural dever-se-ia analisar a fundo o período da indústria cultural, radio, cinema e televisão, que não foi senão uma passagem da mercadoria para o imaginário através da propaganda, onde se vende a marca e não o conteúdo, assim não estão alienados somente o trabalho e o produto, mas sua própria essência está alienada, usando um termo do período medieval, já analisamos num post anterior, perde sua quididade, sua identidade e singularidade, pois foi a indústria cultural que deu a tudo o aspecto de mesmice.

Também no trecho final vai analisar coisas do coração, e é bom lembrar que estas também tiveram outrora sua singularidade, hoje transformada em um caráter amoral e atemporal, no mal sentido da palavra, o que é eterno é essência e singular e então retoma a quididade.

Diz o trecho final, coisas do coração, relembrando o diálogo da raposa com O Pequeno Principe de Antoine de Saint-Exupéry: “O principezinho pergunta à raposa o que significa “cativar” (apprivoiser). Ao que a raposa responde: “É uma coisa quase esquecida […]. Significa nos tornarmos familiares, estabelecer relações. […] Para mim, você é apenas um garotinho como cem mil outros” e isto é a perda da singularidade, ali introduzirá a escuta e a relação com o Outro, não se pode desenvolver estas relações sem uma concepção moral.

A exposição de relação pessoais, o fim da vida privada pelas filmagens legais e ilegais, a exposição crescente até mesmo de crianças, é crescente e amoral, não há espaço para o crescimento e o respeito a moral de cada idade, nem mesmo da velhice, rejeitada como moral e como idade da sabedoria, é cada vez mais comum a exposição desta “boa idade” no sentido pejorativo e amoral, sem limites de respeito (Chul-Han chama de simetria em O enxame) e de uma moral equilibrada.

Tudo visto como “liberdade”, porém que mergulha em “reviravoltas no mundo da vida”, o subtítulo do autor, caminhamos para uma crise civilizatória e o retorno depende não das coisas, e sim de uma nova moral do estado, das relações humanas e da vida pública.

 

Han, Byung-Chul Não-coisas : reviravoltas do mundo da vida / Byung-Chul Han ; tradução de Rafael Rodrigues Garcia. – Petrópolis, RJ : Vozes, 2022.

 

O que são as coisas

10 jan

Ao reler as “Não-coisas” de Byung Chul-Han, que relembra com propriedade que o termo vem de Vilém Flusser, que viveu no Brasil boa parte de sua vida, o autor retoma também os conceitos de Hanna Arendt e Heidegger, mas não penetra na essência da coisa, que não é só informação.

Os filósofos medievais já haviam desenvolvido a questão da quididade, que não é nem uma ideia nem um conceito, mas algo que buscava compreender a essência das coisas, do latim, “quidditas” significa “o que é isso” e estava relacionada à ideia de identidade e singularidade.

Assim ao transformá-la em informação, faz aquilo que Luhman fez com o conceito (lembre-se que este autor trata mais a questão da comunicação do que a coisa em-si), diz citado por Byung Chul-Han: “Sua cosmologia é uma cosmologia não do ser, mas da contingência”, ou seja, algo que não possui essência, não tem identidade ou singularidade e não pode “ser”.

Esclarecendo que é uma forma particular de ver a informação, como “coisa transmitida”, e nisto o autor tem razão: “As informações não se deixam possuir tão facilmente quanto as coisas. A posse determina o paradigma da coisa. O mundo da informação não é governado pela posse, mas pelo acesso” (Han, 2022), isto é tão verdadeiro, que o dicionário português no Brasil passou a ter uma nova palavra que é “logar”, do inglês, log “registro” no sentido de marcar um acesso à “informação”, no sentido de Chul-Han.

Citando Jeremy Rifkin, Han adverte que a transição da posse para o acesso é uma mudança de paradigma que leva a mudança drástica no mundo da vida, subtítulo do livro, ele prevê um novo tipo de ser humano: “acesso, logo, ´access´são termos-chave da era nascente (Han, 2022).

Jeremy Rifkin, a transição da posse para o acesso é uma profunda mudança de paradigma que leva a mudanças drásticas no mundo da vida. Ele prevê até mesmo o surgimento de um novo tipo de ser humano: “Acesso, ‘logon’, ‘access’ são os termos-chave da era nascente. […]

Sobre a identidade modificada do sentido medieval, diz o autor: “Nós nos produzimos nas mídias sociais. A expressão francesa se produire significa colocar-se em cena. Nós nos encenamos. Nós performamos nossa identidade” (Han, 2022), veja bem: produz nas mídias.

Mídias são meios, a confusão com a ideia das redes, não de propósito é claro, destrói a terceira característica da coisa que é sua singularidade, não neste ensaio, mas em outros, o autor lembra que tudo no mundo se caracteriza pela mesmice, tudo parece muito igual.

Este mundo da “não posse” é diferenciado pelo desfrutar mais que o viver, faz da “idealização das coisas” uma tarefa, não é raro ver em programas e nas mídias sociais um grande número de perguntas utópicas e bizarras, tais como, o que seria se você fosse um objeto, se morasse em outro planeta, etc. e isto diverte o público das não-coisas.

Não se assustem os revolucionários, mas citando Walter Benjamim, Chul-Han escreve: “a relação mais profunda que se pode ter com as coisas”, esta substancialidade não é materialista e sim uma relação racional e “informacional” com as coisas, informação aqui em outro sentido.

Han, Byung-Chul Não-coisas : reviravoltas do mundo da vida / Byung-Chul Han ; tradução de Rafael Rodrigues Garcia. – Petrópolis, RJ : Vozes, 202

 

O ser, a clareira e as não-coisas

09 jan

Estudando a etimologia da Clareira, retirando-a da filosofia de Heidegger, ela vem da palavra alemã Lichtung, onde além do significado de clareira na floresta (ele próprio viveu alguns anos na floresta negra da Alemanha), enquanto Licht é a palavra para luz, significará coisas ocultas, ou entes cuja verdade deve vir à tona, assim alguns tradutores usam desvelar.

A luz lembra o que seguiam os magos que foram seguidos por uma estrela que levaram até o nascimento de Jesus, provavelmente eram persas seguidores de Zoroastro, uma pintura de Ravenna (figura numa parede da igreja de São Apolinário de 526 d.C.) que é bem antiga revela pelos gorros que usavam e as calças que eram daquela região.
A clareira é no contexto da filosofia moderna, o que está oculto dentro de um todo, onde deve emergir o Ser, e isto parece mais apropriado a modernidade, visto que a fragmentação onde apenas emerge a parte, é na maioria das vezes oposta ao todo ao qual o ente pertence, assim a questão do Ser.

O ente que se descobre, enunciou o próprio Heidegger: “deixa-se ver em seu ser e estar descoberto. O ser-verdadeiro (verdade) do enunciado deve ser entendido no sentido de ser-descobridor” (Heidegger, 1986, 219).
Primeiro vemos esta verdade ontológica como Ser, e não mais como lógica, segundo vemos esta relação entre conhecer o objeto e a própria relação com o Ser, o que na filosofia moderna poderia ser chamada de subjetividade, mas não é porque não são instâncias separadas, porém separadas de sua materialidade de objeto podem se tornar algo além do que foi concebido até recentemente, o filósofo Byung Chul-Han fez um ensaio sobre não-coisas, o mundo dos objetos digitais onde as “a inflação das coisas nos ludibria a acreditar no oposto”.

O autor vai se referir ao mundo contemporâneo como “Como caçadores de informação, nos tornamos cegos a coisas silenciosas, discretas, até mesmo coisas ordinárias, trivialidades ou convencionalidades que carecem de estímulo, mas que percebemos em nossa vida diária”, e assim mergulhamos numa obscuridade do Ser em oposto a clareira.

A ordem digital está tornando o mundo não terreno, não substancial, diz o autor no prefácio: “Hoje, a ordem terrena está sendo substituída pela ordem digital. A ordem digital descoisifica o mundo ao informatizá-lo” capturando uma categoria de Vilem Flusser afirma: “As não-coisas estão atualmente invadindo nosso ambiente de todos os lados, e estão suplantando as coisas. Essas não-coisas são chamadas de informação”, citando a obra de Flusser: Dinge und Undinge – Phenomenological Sketches. Munique, 1993, vale lembrar que Flusser viveu no Brasil de 1940 a 1972.

Escapa nesta lógica o silêncio, a vita contemplativa (outro livro do autor), desmorona o Ser.

 

Han, Byung-Chul Não-coisas : reviravoltas do mundo da vida / Byung-Chul Han ; tradução de Rafael Rodrigues Garcia. – Petrópolis, RJ : Vozes, 202

HEIDEGGER, M. Sein und Zeit. 17 ed. Tübingen, Niemeyer, 1986.

 

A escalada das guerras

08 jan

Embora ainda não possa declarar como uma guerra mundial, a interferência de Rússia e Estados Unidos em várias guerras no planeta já é aberta e declarada, a Ucrânia sobre forte ataque aéreo em todas regiões emitiu alerta nesta segunda feira sobre estes ataques, na Palestina as notícias dizem que acima de 70% do território está inabitável devido a guerra.

No oriente segue a tensão, o ditador da Coréia do Norte considera-se em guerra com os Estados Unidos e no sábado (06/01) foram observados mais de 60 disparos de artilharia na fronteira com a Coréia do Sul, a tensão na área é crescente, e há navios americanos próximos.

A motivação de Kim Jon-Um foi o exercício naval próximo as ilhas Baengnyeongdo e Yeongpyong, região fronteiriça entre as Coreias  (mapa acima) embora a resposta da Coréia do Norte possa ser pensada como defensiva, a declara de Kim foi de guerra aberta com os EUA, a postura belicista do presidente conservador sul-coreano Yoon Suk-yeol tensiona a relação com a Coréia do Norte, que o chama de “gângster”.

Os Estados Unidos não descartam uma intervenção aberta no Leste Europeu, a China mantem reservas, mas declara sempre que a ilha de Taiwan é uma província rebelde e considera-a como parte do território chinês, é uma declaração que uma inevitável defesa americana e provável do Japão na área, significaria a entrada também da China na guerra, este cenário é de uma terceira guerra mundial, e estamos num limiar muito frágil desta possibilidade.

Do ponto de vista econômico, a estrada no Brics de países como Egito, Arábia Saudita, Irá e Etiópia é também causa de tensão, uma vez que os países árabes se aliam aos socialistas.

Não há mais como ignorar o nível de tensão mundial para 2024, embora as esperanças sempre se mantenham naqueles que desejam sinceramente a paz, e não a usam como retórica bélica.

 

Globalismo ou Universalismo, um novo período

05 jan

A atual crise aponta claramente por uma crise civilizatória, as visões eurocêntricas e iluministas já mostravam seu esgotamento em períodos anteriores, por pensadores como Nietzsche e Shopenhauer que foram buscar elementos na filosofia ocidental, porém a física quântica e estudos sobre uma era chamada de “antropoceno” como os estudos transdisciplinares de Anna Tsing, fundadora da AURA (Arhus University Research on the Antropocene) e uma das editoras do Feral Atlas (feralatlas.org) publicado pela Stanford University Press.

Assim as teorias do globalismo e NOM (Nova Ordem Mundial) não passam de teorias conspiratórias, embora as forças políticas em jogo possam ter também influências de diversas organizações políticas que desejam formas novas de imperialismo e controle populacional.

O simples olhar para um universo cada vez mais complexo em que morrem velhos paradigmas copernicanos e newtonianos, de grande influência no pensamento ocidental, mostram uma realidade muito mais complexa, como a teoria das cordas apontada por Michio Kaku como uma das poucas alternativas para explicar o universo como vemos agora por megatelescópios.

Mesmo a ideia de Einstein de entender a mente de Deus é muito distante daquilo que significa realmente uma teoria do Tudo e do Todo, onde é quase impossível não pensar em um Ser com uma inimaginável inteligência que criou tudo, uma simples energia ou acaso é simplista demais e mesmo físicos teóricos como Albert Einstein, Stephen Hawking e Michio Kaku admitiram esta hipótese.

Porém é difícil imaginar uma consciência mega-inteligente diante de raciocínios tão primários que envolvem a maioria dos pensadores cristãos, figuras como Agostinho de Hipona, Thomas de Aquino, Duns Scottus e Boécio, estes dois últimos são considerados santos pelos católicos, parecem estarem ofuscados por um primarismo fundamentalista que ignora o universo complexo que vivemos e que se revela ainda incompreensível para os limites humanos.

Para religiosos sérios bastaria examinar a visita dos reis magos (veja o documentário da Discovery) que vieram adorar o recém-nascido em Belém para tomarem consciência que Deus é universal e não se limita aos ditames e costumes humanos, mas há muita falsa profecia.

O limite de um verdadeiro cristianismo deveria ser como dizia Agostinho de Hipona: “o limite do Amor é amar sem limites”, isto deveria ser essencial a um verdadeiro Deus de Amor.

Os 3 Reis Magos – Documentário Discovery Civilization l Dublado l (youtube.com)

 

O mistério dos buracos negros

04 jan

O centro da via Láctea, a galáxia onde habita nosso sistema solar é formada por um disco de braços espirais e uma região central densa e amarelada conhecida pelo nome de “bojo” e ali habitam cerca de dez bilhões de estrelas orbitando o objeto colossal que é seu centro chamado de buraco negro supermassivo Sagittrius A* ou apenas Sagitário A*.

Assim se outrora o geocentrismo (a Terra como centro) era uma ideia ingênua, agora também o Heliocentrismo (o sol como centro) é uma ideia provinciana e superada, mas o que são os buracos negros, não foi Einstein e sim Karl Schwarzschild o primeiro a propor sua existência.

O livro de Steven S. Gubser “O pequeno livro dos buracos negros”, trata de modo simples, tanto quanto possível, explica a relatividade especial e geral de Einstein e as equações de Schwarzschild que deram origem ao tema, os buracos negros são um dos temas fortes da astronomia atual e uma das fontes de investigação do mega-telescópio James Webb.

O livro começa contando um experimento realizado em 14 de setembro de 2015, quase cem anos após Einstein anunciar sua teoria da relatividade geral, dois detectores massivos, um em Louisiana e outro em Washington realizava um experimento de ondas gravitacionais quando detectar um pior audível, como um baque grave e cinco meses depois anunciavam que detectaram dois buracos negros em colisão formando um maior, a descoberta foi espetacular.

Tanto buracos negros como ondas gravitacionais eram previstas na Teoria de Einstein, nesta teoria o buraco negro é uma região do espaço-tempo (a noção de tempo e espaço absoluto já está superada) onde toda matéria próxima é atraída e é impossível de escapar.

Há um ditado popular que tudo que sobe deve descer, diz o autor, porém a ideia das equações de Schwarzschild é que nada pode subir apenas descer e no caso dos buracos negros para onde vão aquilo que deve descer, ou seja, o que acontece com o que é atraído pelo buraco negro.

Conhecemos a história da maçã que teria inspirado a lei da gravitação universal de Newton, o autor do livro sugere então uma maçã caindo em um buraco negro.

Uma maçã fora dos eventos do buraco negro tudo é estático, no horizonte destes eventos tudo é dinâmico, fluindo para uma singularidade abrangente (onde o espaço tempo muda dinamicamente de modo extraordinário, ali duas dimensões se comprimem e a terceira é esticada.

Stephen Hawking, famoso por propor equações do Big Bang, especulava que os buracos negros não são de fato negros, eles tem a sua cor (na verdade, fora do nosso alcance visual de cores do violeta ao vermelho) determinada pela temperatura, energia e entropia de sua superfície (se podemos chamar assim as duas dimensões, já que é espaço-tempo).

Esta introdução simplificada é desenvolvida ao longo de sete capítulos do livro, em detalhes astronômicos e suas equações, que exige certo conhecimento mais específico da física.

GUBSER, Steven S. O pequeno livro dos buracos negros, trad. Rosaura Maria Cirne Lima Eichenverg, São Paulo: Planeta, 2021.

 

A física e a mente de Deus

03 jan

A questão originária básica do homem é a linguagem, porém ao buscar a informação o homem foi obrigado a olhar o universo e a tentar entender seus enigmas, o geocentrismo (a terra como centro de tudo), o heliocentrismo (o sol como centro de tudo) dominaram a linguagem e o pensamento humano durante milênios, em todo este tempo o antropocentrismo dominou a concepção humana e com isto a tentativa de dominar toda a natureza cresceu, porém a física quântica mudou tudo.

Porém a natureza é indomável, a modernidade foi uma tentativa de dominar as forças da natureza e afirmar o antropocentrismo sobre ela, porém ela tem sua própria lógica, e ao olhar mais profundamente o universo que tinha uma explicação mitológicas deslocou-se para um foco mais claro de indagação escatológica: de onde viemos e para onde vamos.

O livro do físico teórico Michio Kaku: “A equação de Deus” dá um mergulho nesta questão a partir da física e da cosmologia contemporânea, o físico é o grande teórico da física das cordas (Hiperespaço é um de seus livros), professor de Harvard e apresentador de programas na Discovery Channel.

Em seu livro esclarece a busca de físicos como Stephen Hawking e Albert Einstein sobre a tentativa de explicar todas as forças do cosmos, aquilo que é chamado de teoria do tudo, e que em sua formulação atual é chamado Teoria da Física Padrão, a descoberta das forças quânticas das partículas, entre elas o bóson de Higgs, a visão do fóton com partícula de massa zero, as partículas do magnetismo terrestre ajudaram esta unificação, mas não é tudo.

Muitos físicos falharam, a explicação quântica rompe com a ideia de “coisa” que alguns autores dualistas continuam a ter, o “quantum” é algo além tem um terceiro estado, chamado na física de “terceiro incluído” onde uma partícula está entre o Ser e o Não-Ser e não é dual.

Se este estado da física quântica já é realidade, o que são de fato as partículas ainda é um mistério, e a “candidata mais promissora (e, na minha opinião, a única candidata) é a teoria das cordas, que diz que o universo não é feito de partículas puntiformes, mas sim de minúsculas cordas vibrantes, onde cada modo de vibração corresponde a uma partícula subatômica” (KAKU, 2022).

Precisaríamos de um microscópio poderoso o suficiente para ver elétrons, quarks, neutrinos, etc. são nada mais do que vibrações de laços minúsculos, parecidos com elásticos de borracha. Se colocarmos esses elásticos para vibrar inúmeras vezes e de formas diferentes, eventualmente conseguiremos criar todas as partículas subatômicas do universo, e isto quer dizer que as leis da física se resumem nestes modos de vibração das pequenas cordas.

Diz Kaku na introdução de seu livro: “a química é um conjunto de melodias que podemos tocar com elas. O universo é uma sinfonia. A mente de Deus, a que Einstein eloquentemente se referiu, e uma música cósmica que se espalha pelo espaço-tempo” (KAKU, 2022).

KAKU, Michio. A equação de Deus. Trad. Alexandre Cherman, R.J.: ed. Record, 2022.

 

Da narração a informação.

02 jan

O título é propositalmente o inverso do primeiro capítulo do livro de Byung Chul Han sobre a crise da narração, embora ele cite Walter Benjamin que cita a experiência de narração num período anterior a internet, porém o filósofo coreano-alemão não vê claramente esta crise anterior a internet, e assim ele próprio cai naquilo que condena, a ausência da análise no tempo.

Se é verdade que a Internet e sua ferramenta para disponibilizar a informação aos leigos que é a Web (nasceu nos anos 90, mais de 20 anos após a internet) não apenas fez uma profusão de meios de divulgar a informação e suas narrativas, como também criou a possibilidade da sua profusão em áudio e vídeo, que dá origem a uma nova possibilidade de narração gravada os podcasts e vídeos.

Claro, não quer dizer que aquela narrativa primitiva anterior a escrita e a imprensa, própria da oralidade primária tenha retornada, ela subsiste em culturas originárias e também algumas culturas e crenças ocidentais, por exemplo, entre os curdos existem os “çîrokbê” que se fosse traduzido literalmente seria o que entendemos na cultura ocidental por “história”.

A sentença de Byung Chul Han sobre o universo digital é clara: “A digitalização descoisifica e desincorpora o mundo. Ela também elimina as memórias” (Han, 2022) em parte é verdade, porém a própria mídia digital uma vez gravada se coisifica, e uma vez que é feita uma narração, só por exemplo, de narradores curdos, a informação (no sentido de Chul Han) se volta a narração, ou seja, é possível o processo reverso.

Seu erro, do ponto de vista filosófica, é uma questão antiga sobre o que é (ou o que são) as coisas, a relação entre sujeito e objeto é fruto do dualismo ocidental desde Parmênides, e só uma visão não dual pode entender que a coisa é em si também não coisa, uma vez narrada.

Assim a informação será sempre paradoxal, é narrada quando é e não narrada depois que se tornou informação-narrada e que está sujeita a um distanciamento histórico, porém se vista do ponto de vista da física quântica é mais complexo ainda, porque ali é as duas coisas, de onde surge a questão de alguns físicos que o tempo não existe, difícil para a cultura atual.

Esta questão do tempo surgiu em 2012 num TedTalk do italiano Carlo Roveli: “O Tempo Não Existe e Te Provo Isso em 15 Minutos”, mas ganhou popularidade agora porque o mega-telescópio James Webb propõe diversos novos paradigmas ao olhar mais profundamente o universo, estamos no fim da era copernicana, o centro de nossa galáxia é um buraco negro e eles já começaram a dizer o que são, também a matéria escura e energia escura começam a ser desvendadas.

Quem dá a história desta idéia é o físico teórico Michio Kaku, “Em A equação de Deus“ (Record, 224 pp, trad.: Alexandre Cherman), e ali faz uma narração escrita da física de hoje.

 

HAN, Byung-Chul Não-coisas : reviravoltas do mundo da vida / Byung-Chul Han ; tradução de Rafael Rodrigues Garcia. – Petrópolis, RJ : Vozes, 2022.

 

Feliz 2024 e este blog

31 dez

Difícil fazer um balanço positivo de 2023, esperava-se alguma reação positiva da humanidade no pós-pandemia onde muitos faleceram em decorrência do agravamento de doenças colaterais do coronavirus, esperava-se mais solidariedade e respeito a vida humana.

A Ucrânia iniciará o ano com um dia de luto devido ao maciço ataque feito pela Rússia que matou 39 pessoas e feriu outras  159, a maioria civis, a ONU se pronunciou considerando o ataque como “inaceitável” e os Estados Unidos admitem uma intervenção direta na guerra através de suas tropas, isto representaria na prática o início de uma 3ª. Guerra Mundial.

Além desta crise, há o flagelo da guerra na faixa de Gaza e a tensão entre Venezuela e Guiana.

Ainda não finalizou o ano e este mês o blog bateu seu record de acessos com mais de 32 mil e a nova linha onde aprofundamos a questão da noosfera, a partir de Teilhard Chardin que cunhou o termo, também a crise do pensamento (vemos que a filosofia vive também uma crise) e que é a origem da atual crise civilizatória e a Cibercultura, com aspectos éticos e sociais que são aprofundados em leituras tanto do aparecimento de novas tecnologias (ChatGPT, Bard, Azure, etc.) que entram na Era da IA Generativa, no modelo LLM (Large Language Model).

O cenário complexo requer leitura de uns poucos autores que detectam o fio de ouro da crise atual, o modelo idealista que vem do dualismo da Grécia Antiga (o ser é e o não ser não é), o modelo de estado centralizador e monopolizador (mesmo o modelo liberal que cresce em alguns países não deixa de ditar teorias e modelos centralizados) e cuja crise atinge o corpo social, a cultura e até mesmo a religião onde não faltam falsos profetas, adivinhos e apocalípticos, este apelo cresce em função da gravidade do momento.

Deixamos um alento de esperança, de certeza que é possível sair de uma crise com equilíbrio, responsabilidade e um olhar desapaixonado sobre os problemas, paixão pela vida sim, mas não a de fanáticos e salvadores da pátria que pouco ou nada colaboram com saídas humanitárias e responsável sobre o futuro humano.