RSS
 

Arquivo para março, 2017

Não existe economia digital ?

20 mar

Os tecnófobos alimentam estas além de outras ilusões, aliás ganham dinheiro falando isto, DigitalEconomymas a economia digital já atingia os U$ 110 bilhões em 2014, somente com os aplicativos Uber, Airbnb e Kickstarter; sem falar em smartphones, tablets e laptops.

A expectativa é que estes três aplicativos atinjam U$ 1 trilhão em 2017, o que é superior ao PIB de muitos países no mundo e um terço do brasileiro, se unirmos todos aplicativos provavelmente serão superiores ao nosso PIB.

Victor Reimann, de apenas 25 anos e um dos sócios da desenvolvedora e incubadora de projetos de economia colaborativa Engage, com sede em Porto Alegre, esclarece que esta economia “atraiu pessoas primeiro por uma necessidade de otimizar recursos”.

Yuri Faber criador da Zasnu, que oferece serviço de compartilhamento de veículos, afirma que “A recessão global fez as pessoas tomarem consciência de que um consumo colaborativo é bom para diminuir o custo e bom para todos”.

Eu sei em Berlim, a Justiça já baniu alguns serviços do Uber, também na Austrália na cidade de Melbourne, a prefeitura já multa motoristas que recebem dinheiro para transportar passageiros intermediados pelo aplicativo, mas no Brasil conheço vários amigos que viajam dividindo a viagem, e o número de pessoas que faz isto tornará impossível qualquer fiscalização, afinal não são carros da Uber ou de outros serviços, claro você precisa ter um bom carro.

O Airbnb hospedou mais de 120 mil pessoas durante a Copa, claro aproveitando da especulação da rede hoteleira além de precários serviços.

A economia digital vai crescer mais ainda, e mesmo os que ganham dinheiro falando mal dela, poderiam ter seus ganhos computados como economia digital, assim geram um curioso paradoxo: falar mal da economia digital faz ela crescer em números reais neste caso.

 

A ética hermenêutica

17 mar

Se a ética romântica se desviava pouco do modelo moderno que se fixa na interpretaçãoDialogo dentro do contexto e da apropriação cultural, já dissemos que a alteridade e mais que isto a compreensão do Outro (já explicamos o maiúsculo), é algo que promete colocar em incessante diálogo, relativizando métodos que implicam em colocar o correto de um só lado.

A palavra que usamos sem explicar Verstehen (“compreender”) em alemão já expressa isso: estar no lugar de alguém (für jemanden stehen), dirigir-se para os outros e falar pelos outros, dir-se-ia usando

Esperamos que tenha ficado claro que nem será possível uma consciência no sentido de uma plena identificação consigo mesmo, e também no sentido histórico, nem o alcance de uma verdade absoluta, sem uma abertura concreta ao Outro, disto advém uma ”ética”.

Esses limites também estão na ideia de finitude defendida pela hermenêutica: ninguém pode conhecer plenamente a si mesmo, nem muito menos o outro, senão aberto ao infinito.

A “ética hermenêutica do diálogo”, vem de um desenvolvimento da ideia de sabedoria prática presente nas três éticas aristotélicas, na forma da racionalidade prática (phrónesis), que na realidade, é um conceito platônico, e sabemos que Aristóteles foi um de seus discípulos.

As teses que Platão desenvolveu giraram em torno da ideia de “bem” (ἀγαθόν), mas não como a base de uma perspectiva ontológica, mas como uma pergunta pelo ético no sentido próprio, enquanto Aristóteles teve a intenção maior de criticar a teoria das ideias, além de fornecer uma base para a sua teoria da phrónesis, isto é, concretizando esta ética no estatuto humano.

Sua Etica NIcomaquéia é já ontológica, onde ele pôs os modos de comportamento (ἦθος), com regras dependiam da mutabilidade e da limitação do Ser humano e do modo de ser humano se comporta, então deve ser estabelecido no seu modo variável de escuta atentado outro, assim a linguagem e o diálogo precisam ser adequados e respeitados.

Em Gadamer, a teoria não se encontra em oposição à atividade prática, pois ambas se põe numa presentificação da práxis, o mais elevado modo de ser do ser humano, dá como prova que somos absorvidos (aufgehen) por algo, ao nos demorarmos (verweilen) observando-o e sentirmos certo “orgulho”, mas este se esvazia logo se não há o ato reflexivo da vida.

Afirmará isto de forma bem clara: “o saber hermenêutico deve recusar um estilo objetivista de conhecimento … Ora, o conhecimento ético, tal como Aristóteles nos descreve, também não é um conhecimento “objetivo”. Aqui, ainda, o conhecimento não simplesmente diante de uma coisa eu se deve constatar; o conhecimento se encontra antecipadamente envolvido e investido por seu “objeto”, isto é, pelo que ele tem que fazer.” (pag. 49)

Mas faz uma profunda diferença com o saber técnico, ao afirmar: “Ninguém pode ignorar que há diferenças radicais entre o saber ético e o saber técnico. É evidente que o homem não dispõe de si mesmo como o artesão dispõe de seu material.” (pag. 51)

O que Gadamer vai chamar de saber ético, e o faz apoiado em é distante daquele Hegeliano “saber-para-si”, pois “precisamente nessa “aplicação perfeita” que se desdobra como “saber” na interioridade de uma situação dada” (pag. 55), assim como “o justo significa o contrário não do erro ou da ilusão, mas da cegueira” (idem), e é justamente esta cegueira que “perde o controle de si e, dominado pela dialética das paixões, já não se orienta mais em função do bem.” (idem).

Assim, quase definirá ética, hermenêutica é um processo dinâmico alheio a definições, dirá que saber ético: “se opõe precisamente a um saber puramente técnico.  Assim sendo, não há mais nenhum sentido em distinguir saber e experiência … uma forma absolutamente primordial de experiência, em relação à qual todas as outras experiências talvez sejam secundárias, não originais.” (p. 55)

GADAMER, H.G. A questão da consciência histórica, 3ª. Edição, São Paulo: FGV, 2006.

 

Consciência no circulo hermenêutico

16 mar

A análise de Gadamer é que as humanidades (substituo definitivamente o termo em HermeneuticoCicloalemão Geiteswissenschaften) é diferenciar o que Mish e Dilthey chamaram de “distância livre em direção a si mesmo” como o verdadeiro problema das humanidades na filosofia, que era o verdadeiro pressuposto de Heidegger, e não apenas o “problema do ser”.

Conforme Gadamer indica “ele se encontra na conexão entre a “vida” que sempre implica consciência e reflexividade e ´ciência, que se desenvolve a partir da vida como uma das possibilidades.” (pag. 12)

Indicando que a existência enquanto “ser no mundo” (expressão conhecida de Heidegger) “revela plenas o Verstehen como possibilidade e estrutura de existência” (idem).

A razão de recorrer a Heidegger é clara, já que “as ciências humanas adquirem uma valência “ontológica” que não poderia permanecer sem consequências para a a sua autocompreensão metodológica [e] … encontram-se mais próximas da autocompreensão humana do que as ciências naturais.  A objetividade destas últimas não é mais um ideal de conhecimento inequívoco e obrigatório.” (idem)

Ele tocará na segunda conferência a questão da hermenêutica tradicional de Dilthey, que já tocamos de relance no post anterior, depois retomará Aristóteles que o fez reconhecer o “entrelaçamentos particulares do ser e do conhecimento” para depois discursar sobre a Ética a Nicômacos, que será nosso último tema, mas sem antes deixar de reconhecer “a ´mistificação´científica da sociedade moderna em que reina a especialização” (pag. 13).

O último tópico se fecha ao segundo, ao discorrer sobre a hermenêutica “romântica” de Dilthey, na segunda conferência, retoma o tradicional “círculo hermenêutico” (aqui já pensando em Heidegger que o esboçou), “se apresenta sob novo aspecto e adquire importância fundamental.” (idem)

Afirmando que o círculo hermenêutico é rico em conteúdo (inhaltlich erfüllt) ao reunir interprete e seu tenho numa unidade interior em total movimento (processual whole).

Compreensão implica em uma pré-compreensão e esta por sua vez é prefigurada por uma “tradição determinada que vive o intérprete e que modela os seus preconceitos.” (idem)

Para Gadamer, todo encontro implica em “uma suspensão de meus pré-conceitos” (idem) que por “encontro com uma pessoa com quem aprendo minha natureza e os meus limites” (idem), mas sua revolução está em que “é impossível contentar-se em “compreender o outro”, quer dizer buscar e reconhecer a coerência imanente aos significados-exigências do Outro” (pag. 14), o maiúsculo é meu pois há confusão em discursos sobre isto, e é o próprio Gadamer que esclarece: “Um chamado está sempre subentendido.” (idem)

Sua conclusão é contrária a todo recurso e discurso que não se vale da verdadeira alteridade, de um dialogismo sério onde o outro, seja realmente o Outro, eis a razão do nosso maiúsculo.

Gadamer chega a afirmar: “que eu esteja disposto a reconhecer que o outro (humano ou não) tem razão e a consentir que ele prevaleça sobre mim” (Idem), poderia concluir mas … diz aí

 

O problema da consciência histórica

15 mar

Em 1957 Hans-Georg Gadamer foi convidado a lecionar por um trimestre na HermeneuticaRomantica2Universidade de Louvain, em 1963 apareceu em francês com o título Le probleme de la conscience historique, e ainda não havia a obra maior do filósofo hermeneuta “Verdade e Método”.

Depois dela apareceu em 1969 uma versão italiana do texto, mas foi na versão inglesa de 1975, que conforme afirma Gadamer ele se “reencontrou consigo mesmo” revendo o texto original para publicação em inglês, desta edição foi feita a tradução para o português, como primeira edição em 1998, e a edição que leio é de 2006, 3ª. edição feita pela FGV.

O livro é, portanto um poderoso preâmbulo para quem deseja ler Verdade e Método, onde o problema da consciência histórica e sua relação com o método remonta a Schleiermacher e sua releitura feita por Dilthey, sendo Gadamer “seu ideal é decodificar o Livro da História” (Gadamer, 2006, p. 11).

As conferências de Gadamer que foram base a este opúsculo, refletem o “problema de introduzir o problema hermenêutico a partir da perspectiva de Husserl e Heidegger” (pag. 10), problema que foi portanto tratado de modo especial na Alemanha, onde graças a Wilhelm Dilthey e ao que se chama sua Lebensphilosophie” (idem), a filosofia da vida.

O problema da interpretação conforme as leis da natureza, em alemão Geisteswissenschaften*, Gadamer esclarece que em Verdade e Método ele começou deliberadamente a invocar outro exemplo, “representado pela experiência da arte e a dimensão hermenêutica, que intervém, com toda certeza, no estudo científico da arte, mas antes de tudo na própria experiência da arte.” (pag. 10)

Ele vai com isto se distanciar de Dilthey, que se propôs a construir uma base epistêmica para as Geiteswissenchaften, mas não se via como o filólogo, esclarece, mas como “um teórico do método de uma escola história que não via “a compreensão de textos e outros fragmentos do passado como seu objetivo último”, escreveu Gadamer citando Dilthey.

O que Dilthey esperava era conciliar as ciências interpretativas com sua objetividade científica, a ideia inicial era dar a hermenêutica um método universal.

Gadamer esclarece qual é sua posição: “mostrar que a autocompreensão com relação às ciências não é verdadeiramente consoante com a sua posição fundamental em termos da Lebensphilosophie” (pag. 12), e esclarece que a possibilidade humana do pensamento reflexivo, “não coincide em verdade com a objetivação do reconhecimento através do método científico.” (idem)

Vai esclarecer que a conexão entre a “vida” quando se fala de consciência e reflexividade e “ciência” (ele pôs entre parêntesis), desenvolver-se a partir da vida é uma das possibilidades.

*A tradução segundo o próprio Gadamer é “Ciências Humanas”, no Brasil “Humanidades”.

 

Criatianismo e Idealismo

14 mar

Se a essência do idealismo é a separação de objeto e sujeito, faço uma inversão proposital, a essênciaSaint do cristianismo para Ludwig Feuerbach é separa do sujeito e os objetos sensíveis, e para Feuerbach a consciência do objeto pode ser, embora distinguida da consciência de si, uma consciência que coincide logo em seguida ao se tratar do objeto religioso, devido sua “transcendência” é exatamente o que o faz retornar-se a consciência de Si, explico.

Para Feuerbach, e o objeto sensível está fora do ser (embora a ontologia aqui seja só um apelo), o objeto religioso está nele, é um objeto intrínseco, e tão pouco o abandona, a sua consciência moral o abandona, é um objeto íntimo, e mesmo o mais íntimo, é o mais próximo de todos.

A sua crítica a Teologia, usando o idealismo pressupõe essencialmente um juízo crítico, a “diferença entre o divino· e o não-divino, entre o que é e o que não é digno de adoração”, assim com este dualismo é possível jogar todo a essência do divino na vala comum do Ideal.

A consciência de Deus é a consciência em si do homem, eis o idealismo Hegeliano tornado religião: o conhecimento de Deus é o conhecimento de si do homem.

A negação do sujeito é considerada como irreligiosidade, e sua relação com objetos sensíveis, uma negação do sujeito, eis a religião ateia de Feuerbach, a qual Marx de voltará chamando-a de Velhos Hegelianos, e procura fazer sua inversão, agora do objeto ao sujeito, eis a nova versão “religiosa” dos Jovens Hegelianos, como Marx.

“Não se trata mais do Céu para Terra” disse Marx, mas agora “da terra para o céu”, ou seja, do objeto para o sujeito, da força de trabalho e da produção, para sua divinização.

Se para Marx, a fetichização era a separação do trabalho de seu instrumento de trabalho e da mercadoria, fetichização pode ser a reificação (rex – coisa) ou a objetivação, onde vê a separação do sujeito e o objeto, no fetichismo religioso é a separação do consumo (pecaminoso) e indivíduo (visto sem autonomia) ao qual o religioso deve “assistir”.

A relação justa com o dinheiro, com o trabalho, com a saúde e educação, não é senão uma superação da visão idealista religiosa, sua consumação num homem em relação harmônica com o mundo, e neste caso, também a beleza, a poesia e vida saudável tem perspectiva.

Mas o que é consciência ? amanhã voltamos nisto.

 

 

Bolhas, nossos círculos fechados

13 mar

Se diversos autores, como Paul Ricoeur e Emmanuel Levinas falam sobre a questão do Outro Bolhas1como emergencial e existencial para nosso tempo, a mudança que está em processo, deve nos tirar das bolhas, os círculos fechados nos quais nos metemos.

A pergunta essencial que fez Martin Buber, em  o Eu e o Tu, e o Tu aqui é algo mais sagrado que o Outro, é também a pergunta que faz em Esferas I Peter Sloterdijk, onde diz que as crianças parecem nascer com uma espécie de “instinto de relações”? ele vai desenvolvendo ao longo do livro a ideia que não nascemos sozinhos e, deveríamos então através de  trabalho cooperativo e da linguagem nos socializamos, e fazer brotar este instinto interior.

Sloterdijk rejeita o princípio liberal, idealista e de origem cartesiana onde  indivíduo isolado busca sua razão existencial, ele parte de uma ontologia onde o primitivo é sempre Dois.

Mas não é idealista ao ponto de dizer que este dois é fundido, poderíamos dizer usando o conceito de Gadamer que ainda não é a fusão de horizontes, o indivíduo que sai da placenta e esta é morta, sai da sua bolha primordial, e vai se encontrar de certa forma separado.

O mundo pré-moderno tinha um modelo para que esta separação não fosse total, permanecendo a subjetividade ou intimidade, alguns povos plantavam a placenta com as árvores outros, como os egípcios faziam travesseiros  como no caso dos faraós para serem enterrados com eles.

Somos vistos na autossuficiência do modelo liberal, mas também este modelo é criticado, por exemplo, Rousseau, que buscou uma vida isolada do não pensar, como na experiência do lago, em seu escrito dos Devaneios do caminhante solitário, compatível como seu modelo do homem do bom selvagem, em que se inspiram muitas democracias modernas.

Também a esperança de reconquistar uma “vontade geral”, um estado mais forte, onde se proclame uma espécie de “religião nacional” que eclodem nos nacionais em todo o planeta, não são senão uma visão contemporânea, de uma autossuficiente das “bolhas” de diversos tipos de fechamento social em “comunidades”, mas com um princípio egoísta dentro

 

Dia do bibliotecário e um protetor

11 mar

Amanhã, dia 12 de março é o dia do bibliotecário em homenagem à data do nascimento do LibraryDaybibliotecário, escritor e poeta Manuel Bastos Tigre, dia criado pelo  Decreto 84.631 de 09/04/1980, assinado pelo então presidente da República João Figueiredo.

O escritor e engenheiro Manuel Bastos Tigre nasceu no dia 12 de março de 1882, sendo engenheiro, foi fazer um aperfeiçoamento em eletricidade nos Estados Unidos.  Lá, conheceu o bibliotecário Melvil Dewey, que o deixou interessado pela profissão. Aos 33 anos, Manuel foi trabalhar com biblioteconomia.

Ficou em primeiro lugar no concurso para bibliotecário do Museu Nacional do Rio de Janeiro, e de 1945 a 1947 trabalhou na Biblioteca Nacional, depois assumiu a direção da Biblioteca Central da Universidade do Brasil.

Os bibliotecários têm um protetor, para os católicos, Santo Isidoro (ou Izidro em castelhano, país de sua origem, na verdade era visigodo convertido ao cristianismo).

Isidoro foi o primeiro escritor cristão a tentar compilar uma summa do conhecimento universal em sua obra-prima, a Etymologiae, conhecida também pelos classicistas como Origines (abreviada como “Orig.”).

Esta enciclopédia – a primeira epítome do tipo cristã – consistia de uma enorme compilação em 448 capítulos divididos em vinte volumes.

Nela, Isidoro, de forma concisa, resumiu manuais, “miscelâneas” e compêndios romanos, continuando uma tradição de resumos e sumários que caracterizou a literatura romana da Antiguidade Tardia.

Por conta disso, muitos fragmentos do ensino clássico que seria perdidos não fosse por isso foram preservados; “na realidade, na maior parte de suas obras, incluindo a “Origines”, ele contribuiu pouco mais do que o papel de cimento que liga fragmentos de outros autores, como se soubesse de suas próprias deficiências e confiando mais no ‘stilus maiorum’ do que no seu próprio”, lembra Katherine Nell MacFarlane, que traduziu sua obra para o inglês .

Isidoro foi canonizado pela Igreja Católica em 1598 pelo papa Clemente VIII e declarado Doutor da Igreja em 1722 por Inocêncio XIII.

No Paraíso de Dante (X.130), Isidoro está mencionado entre outros teólogos e Doutores da Igreja, e também é considerado patrono dos Bibliotecários.

 

 

 

Tempo de passagem: os verdadeiros profetas

10 mar

Tempo de passagem, em período de transição, crise de época, é neste Heraclitoperíodo em que surgem verdadeiros e falsos profetas, mas quem são e foram eles? na história muitos falsos e uns poucos verdadeiros.

Um traço característico é a coerente de palavras e vida, o paradigma teoria x prática é uma das falsas profecias que fez vencer muita teoria ausente de vida e com uma prática muitas vezes perversas, o que coloca os profetas de nosso tempo em destaque é a coerência de seus atos, a dignidade de sua vida e os seus frutos.

Não quero falar de religiosos, embora encontremos alguns poucos, bem próxima da filosofia por exemplo, Edith Stein que foi aluna admirada de Husserl, era judia e tornou-se cristã e foi recentemente canonizada pela Igreja católica.

Podemos falar de outro aluno de Husserl, não tão admirado pelo mestre, que foi Ernest Heidegger, e mais recentemente Paul Ricoeur, Emmanuel Lévinas e também Hans-Georg Gadamer.

Mas quero falar de alguém singular, ainda vivo e cheio de energia nos seus 95 anos: Edgar Morin, educador e pensador de grande fertilidade intelectual.

Defende no lugar da especialização extrema da modernidade, da simplificação e da fragmentação de saberes, algo que o tornou um dos maiores intelectuais do nosso tempo: o da complexidade.

A simplificação levou a falsas profecias, palavras que são atribuídas a Einstein, ao papa e alguma figura de destaque que não corresponde a verdade, é a forma desonesta e lenda de matar os nossos profetas contemporâneos, de jogá-los na vala comum de palavras “simples e fáceis” que não explicam nada e não admitem a complexidade do mundo contemporâneo.

Nada mais complexo que a vida, a beleza, o mundo moderno viu emergir a descrição da natureza pelos fractais contrários ao ideal do número (uma mera abstração), a beleza da vida selvagem e natural, entre eles os ricos “biomas” de que fala uma campanha religiosa desta quaresma.

Ao mostrar sua verdadeira natureza aos seus discípulos, Jesus se transfigura no monte Tabor e diz:

Não conteis a ninguém esta visão até que o Filho do Homem tenha ressuscitado dos mortos” (Evangelho de Mateus, 1-9) não apenas porque era contrário a uma visão tanto triunfalista quanto exibicionista, mas porque sabe que os falsos profetas não desejam que a verdade apareça, que a humanidade se transfigura, mas permaneça da obscuridade do logos e da aletheia, dos filósofos pré-socráticos como Heráclito de Éfeso (figura acima).

A convicção que tinha que iria morrer, e de um tipo de morte violenta era além da união com Deus, a convicção de que os homens querem mudanças que lhes convém, não aquelas que toda a humanidade precisa e é urgente.

 

 

 

Crise brasileira: o pensamento liberal e o reformista

09 mar

Sim o reformista, porque se há um pensamento revolucionário, ou seja, umaCriseBrasileira mudança radical de sistema, a saída da elite corrupta do poder e mudanças estruturais na sociedade brasileira, não sei aonde está, e não tem nada a ver com o: hay governo que não é amigo, soy contra.

A lógica perversa da crise estrutural e também conjuntural brasileira é que nem uma nem outra é analisada, o modelo basicamente ligado ao agronegócio e indústria automobilista é falido a muito tempo, as reservas de petróleo feitas a um custo altíssimo ainda não atraem os investidores necessários, a erradicação da pobreza é pífia, ainda que hajam propagandas do tipo: a nova classe média, etc.

Mas a análise mais mentirosa é a conjuntural, por exemplo, o consumo internacional diminuiu sensivelmente o que significa menos demanda e menos exportação, a China que cresce mesmo em meio a crise, reduziu suas compras em quase 40%, entre janeiro de 2014 e 2015, o que pode ser verificado por nota Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

Temos um parque industrial cada vez mais desnacionalizado, uma vez mais, pela centralidade concedida à produção e à exportação de bens primários e aos investidores externos, com o Brasil pagando a fatura.

Se olharmos os setores com maior queda no emprego, o gráfico acima mostra que é a indústria de processamento e a construção civil, ou seja, pouco a ver com o que vem de fora.

Pode-se observar em diversas matérias jornalísticas, que praticamente 50% da pauta de exportações giram em torno de petróleo bruto, minério de ferro, soja, açúcar e café, ou seja, vendemos o produto sem agregar valor, e os mesmo muitas vezes retornam ao país já com a devida industrialização, não há nenhuma nota sobre este assunto, aliás achei uma publicada no Diário da Liberdade, isto é, num jornal pouco conhecido.

Não há reformas profundas que ataquem os problemas sociais, educacionais, econômicos e políticos (reforma política como quem ? com os envolvidos na Lava Jato?), que poderiam resultar em mudanças estruturais numa cidade que fica na dependência do agronegócio e das velhas elites coronelistas, sem mudar a estrutura, a mudança política não acontecerá.

Do equívoco pré-eleitoral de dizer que não havia crise, ao pós-eleitoral de pedir “sacrifícios” ao povo sem nenhuma contrapartida, cresce uma direita oportunista e aventureira que diz a pós- verdade “não temos nada a ver com a política”, ora bolas … são os filhos bastardos dela.

 

Islândia: onde há igualdade de gênero

08 mar

um relatório Anual sobre a Desigualdade de Gênero, na edição 2016 a Islândia estáRuandaFilipinasNicaraguaBurundi próxima de atingir a igualdade plena entre homens em mulheres nos quatro pilares avaliados (Participação Econômica e Oportunidade, Acesso à Educação, Saúde e Sobrevivência e Empoderamento Político).

Como 87% da lacuna está fechada e esse é um dos países que registraram os maiores avanços entre os 144 investigados pelo estudo, curiosamente junto com outros países com grande desenvolvimento, a Finlândia ultrapassou a Noruega, que caiu para a terceira colocação e é seguida pela Suécia, embora a relação com desenvolvimento não seja direto, é sugestiva.

Não é direta, pois o 4º. Lugar para Ruanda (foto superior esquerda), o 7º. das Filipinas (superior direita), o 10º. da Nicarágua e o 12º. de Burundi (fotos inferiores) surpreendem, indicando outros fatores quanto se trata da igualdade de gênero.

Conforme atesta a União Europeia, um estudo sobre a Islândia, 77% das mulheres estão hoje empregadas (a média nos países da União Europeia é de 58,6%) e 33,7% delas completaram a educação superior (contra 25,8% da média na UE), é preciso reconhecer a luta das mulheres lá, sendo uma importante a de 1975 quando 90% das islandesas se recusaram a executar qualquer tarefa, desde o ambiente corporativo ao familiar, para atestar a importante delas.

Mas os dados gerais do relatórios são estarrecedores, afirmam que igualdade de gênero , no mercado de trabalho, só será atingida no mercado em 170 anos, ou seja em 2186.

O buraco entre homens e mulheres é de 59%, ainda distante de ser fechada (100%), sendo a maior observada no mundo desde 2008, ou seja, andamos para trás no ano passado e nos 7 anos anteriores, veja o relatório de 2015.

A situação do Brasil é vergonhosa 85ª posição de 2015, mas saltou para a 79ª em 2016 ,