Arquivo para junho, 2014
Fala, escrita pictórica e fonética
Relendo Marshall McLuhan em “Os meios de comunicação como extensões do homem” (1969) vejo o quanto ainda é primitivo nosso pensamento sobre a tecnologia e a comunicação.
Apesar do livro de McLuhan este extraordinário pensador da comunicação, vejo a comunicação ainda incompreendida quase meio século depois, releio um trecho, da fala de um disk-jockey (pag. 95) “que geme, grunhe, rebola, canta … sempre reagindo as suas próprias ações” (pag. 96).
Ele mergulha num diálogo com Bergson, para afirmar que este “considerava a língua como uma tecnologia humana que debilitou e rebaixou os valores do inconsciente coletivo” (pag. 97) para concluir ir logo a frente convergindo com o pensamento de Bergson “a consciência coletiva e o conhecimento intuitivo ficam diminuídos por esta extensão técnica da consciência que é a fala” (pag. 98).
Ao introduzir a palavra escrita, o autor destaca logo de início a distinção clara entre as escritas fonéticas e os ideogramas, para que se compreenda “essas formas de escrita culturalmente mais ricas não ofereciam aos homens uma passagem do mundo magicamente descontínuo e tradicional da palavra da tribo para meio visual frio e uniforme” (pag. 102).
Para resumir “as escritas pictóricas e hieroglíficas … representam um sentido da extensão visual para armazenar e facilitar o acesso à experiência humana” (pag. 107) enquanto “em contraste o alfabeto fonético se estende também aos efeitos sociais e psicológicas” (pag. 107) mas isto implicou “a separação de ambos os signos, oral e visual, de seus significados semânticos e emocionais” (pag. 107).
É sobre estas reflexões, que via (a internet não havia nascido) “as novas formas elétricas”, como uma forma de “inter-relação instantânea e não-visual, passamos a encontrar pois, a maior dificuldade de definir o ‘racional’, se mais não fosse o simples fato de nunca havermos percebido de onde nasceu” (pag. 139).
Novidades e papelão no Google I/O
O Conferencia Developer Google I/O começou ontem e a empresa fez seu tradicional discurso de abertura dando uma visão geral de todas as notícias reveladoras do evento.
As mudanças anunciadas além de uma prévia da próxima versão do Android, apelidada de “L” sendo o site TechRunch, foi o desenvolvimento de um novo paradigma de design para sistema operacional do Google que ajuda a trabalhar em diferentes tipos de telas e dispositivos, uma vez que esta fatia de mercado esquentou nos últimos anos: telas flexíveis, diversos tamanhos e resoluções, 3D, etc.
Num discurso de 3 horas, eles falaram de um futuro unificado para o Android e o Chrome no desktop, no celular, até em seu carro e em seu pulso e mais além, e de certa forma não será apenas uma tradução desajeitada e forçada na maneira de usar o software em cada cenário.
Cada ano a Google dá aos participantes da conferência um presente, este ano deu um papelão, mas que papelão !!! era uma caixa que ao rasgar o selo parece um origami que dobrando-o de forma intuitiva torna-se um cheap, um fone de ouvido ou óculos de realidade virtual, bacana !
Redes sociais como ecossistemas
A visão de uma estrutura social hierarquizada, fundamentada em caciques e políticos ardilosos permanece persistente enquanto algumas estruturas sociais se movem em sociedades, raças, gêneros e credo, inúmeras organizações já trabalham com esta perspectiva.
Uma postagem da revista ecossistemas humanos, explica diversas estruturas que convivem nesta etapa de mudança, e que Castells chamou de “dramaticamente política” uma vez que setores que normalmente pouco se expressam buscam canais para serem protagonistas.
Analisando dados de várias redes sociais, o artigo tipifica algumas destas relações conforme os pesos e níveis de persistência das relações, a saber:
– peso: a força de uma relação; uma retweetada é mais fraca do que uma conversa.
– persistência: a duração de uma relação; uma mensagem ocasional trocadas entre duas pessoas é muito diferente de um estado contínuo de conversa, ao longo do tempo, domínios e interesses.
Mas o que determina a rede pode ser pensado em quatro relações dominantes:
– verticalidade: algumas relações são verticais, o que significa que eles estão focados em um único tópico / domínio (ou um conjunto limitado); onde não grupos de diálogo;
– horizontalidade: algumas relações são horizontais, o que significa que eles não estão focados em um determinado tema / domínio, e são as mesmas pessoas em vários temas;
– transversalidade: são relações em que as características horizontais e verticais se manifestam; às vezes eles são verticais, às vezes eles são horizontais ou outra.
– liminaridade: são relações liminares, de fronteira, estas relações podem se conectar ou separar; pessoas além de fronteiras e espaços de transição, interstícios; estas são importantes pontes ou separações entre diferentes grupos, comunidades ou culturas.
App Uber chega no Brasil
O aplicativo californiano Uber, que já foi lançado no Rio de Janeiro, promete chegar em breve em São Paulo, e pode abrir uma guerra com taxistas, já que usa carros convencionais, sendo uma espécie de “carona paga”.
Ele pode ser conectada ao GPS do smartphone, e ao receber uma chamada conectada a pessoa ao motorista mais próximo, mas os carros são padronizados e devem ser modelo de 2010 em diante, e além disto os motoristas devem aceitar o treinamento, para garantir a qualidade do serviço.
A linha especial chamada de Uber Black, inclui modelos como Ford Fusion, Corolla da Toyota e Azera da Hyundai, mas o preço também é especial: R$ 5,40 como tarifa de base e R$ 2,76 por quilômetro rodado (preços praticados no Rio de Janeiro), comparando com bandeirada em São Paulo o táxi seria mais barato: R$ 4,10 e o quilômetro rodado, R$ 2,50.
A empresa não divulga o número de usuários, na Europa os taxistas já protestaram pedindo que a empresa cumpra os mesmos deveres legais dos táxis, e o assunto promete ser polêmico.
Físicos descobrem mais sobre bóson de Higgs
Os físicos anunciaram neste domingo (22/06) mais sobre a partícula descoberta nos Experimentos feitos no Grande Colisor de Hádrons (LHC em inglês), dois anos atrás.
O fato que esta partícula subtômica ser a responsável pela existência de massa nos elementos atômicos, deu o apelido a mesma de “partícula de Deus”, e agora os cientistas afirmam ter conhecido mais sobre sua natureza e forma.
O resultado mais importante é que ele se comporta mesmo como o previsto, e não como um impostor estranho, o que solidifica a Teoria da Física Padrão, que une numa só teoria os fótons, prótons-neutrons-elétrons, a energia magnética e gravitacional.
A análise do enorme volume de dados da colisão no LHC mostrou que o bóson se decompõe também em um grupo de subpartículas denominadas férmions, conforme a teoria do Modelo Padrão da Física, destacou o estudo.
“É um avanço enorme”, disse Markus Klute, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), que chefiou a pesquisa no Solenoide de Múon Compacto (CMS), que trabalhou junto ao LHC, estudo publicado na revista Nature Physics,
“Agora nós sabemos que partículas como os elétrons obtêm sua massa graças ao campo de Higgs, o que é muito empolgante”, afirmou.
Final da copa terá transmissão 8k
Mas só para quem mora no Japão ou convidados especiais no Brasil, havíamos anunciado (ver nosso post) que 3 partidas da Copa do Mundo iam ser transmitidas em 4k (3840 × 2160), pela Net e Globosat (SporTV), mas agora a emissora estatal japonesa NHK anunciou que estará usando a estrutura de internet da RNP (Rede Nacional de Ensino e Pesquisa) para fazer uma transmissão 8K UHD (16 vezes o que hoje conhecemos com full HD)
O grande lance tecnológico da Copa do Mundo no Brasil será esta transmissão, ao vivo agora para sete locais, quatro deles no Japão, nas cidades de Tóquio, Yokohama, Osaka e Tokushima, e três no Rio de Janeiro – no Centro Internacional de Broadcast (IBC), no hotel Sofitel (hotel principal da FIFA) e no auditório do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), onde existe equipamentos alocados desde a Copa das Confederações)e que foram organizadas em conjunto com a Rede Globo.
O grupo especializado de convidados é composto por jornalistas e representantes da indústria, estudantes, pesquisadores, professores, autoridades, e deverão participar de sessões da Globo e também da NHK, o jogo Japão e Costa do Marfim foi o primeiro transmitido da Copa, e a final que será no Maracanã também já e um jogo certo.
A tecnologia exige um link de 10 Gps (Gigabytes por segundo), foi desenvolvida pela NHK sendo chamada de SHV (Super High Vision), e é capaz de comprimir fluxos de vídeo a 350 Mbps, e o mesmo fluxo sem esta tecnologia exigiria 40 Gbps e seria inviável por que a RNP atinge o máximo de 10Gbps, está sim compatível com a SHV.
Metafísica, tecnologias e ética
A metafísica contemporânea em suas diversas leituras, mas especialmente de Husserl, Heidegger e Lévinas, apontam para uma exterioridade absoluta e não relativa e esvazia o discurso sobre a transcendência, numa palavra: há mediações nas relações.
O discurso sobre o outro, e alteridade (que é diferente) por sua vez remetem ao dialogismo, mas há um dialogismo falsificador, pois não há mediações, é uma ontologia sem o Ser, sem a ideia de infinito e postula uma saída evasiva da Ontologia, conforme afirma Lévinas.
Dessa forma, a reflexão se vê deslocada do eixo da tradição da
filosofia ocidental, cujas formulações sempre retornaram a um mesmo ponto de partida, a saber: o ego idêntico a si mesmo (o grupo, o sistema seja qual for), que é identificador e objetivador, como via Descartes (HUSSERL, 2001).
Foi este “deslocamento” que permitiu o acesso ao rosto do outro, que se contrai no mistério do desejo metafísico e do desejo do infinito (LÉVINAS, 2000).
Neste novo contexto metafísico a ética se configura como o pórtico que conduz para a exterioridade, como abertura orientada ao outro, rompendo com a identidade e resguardando-se do sujeito objetivador (LÉVINAS, 2000).
A relação com a exterioridade é a nova subjetividade ontológica e se instaura como movimento novo que conduz ao infinito e ao bem.
LÉVINAS, Emmanuel. Totalidade e infinito. Lisboa: Edições 70, 2000.
HUSSERL, Edmund. Meditações cartesianas. Introdução à Fenomenologia. São Paulo: Madras, 2001.
A noosfera e Corpus Christi
Claro é uma festa religiosa, mas pensar o universo todo como um corpo, e mais ainda como tendo uma alma não é apenas uma ideia exótica, mas foi explorada por Teilhard Chardin (que deu a esta alma de um corpo, o nome de noosfera) e também pelo educador e pensador Edgar Morin.
Discutir educação e comunicação, não se pode discutir se saber o que liga o meio condutor de uma mensagem (linguagem, a escrita, qualquer tecnologia ou algum aparato) e a mensagem produzida pelo conhecimento humano através deste meio, então há uma religação ou uma conexão, ligando ambas (mensagem e meio condutor).
Escreveu Morin: “A noosfera não é apenas o meio condutor/mensageiro do conhecimento humano. Produz, também, o efeito de um nevoeiro, de tela entre o mundo cultural, que avança cercado de nuvens, e o mundo da vida. Assim, reencontramos um paradoxo maior já enfrentado: o que nos faz comunicar é, ao mesmo tempo, o que nos impede de comunicar”. (MORIN, 2001).
Em termos etimológicos, religião é o que nos “religa”, ou seja, aquilo que nos impele a comunicar com o outro, no significado cristão, aquilo que nos leva a “Amar o outro” e é exatamente isto que nos religa na Noosfera, em Teilhard Chardin que cunhou esta palavra, é justamente esta comunicação de Amor (A maiúsculo de Ágape) que nos “religa” ao Outro e a todo o Cosmos, que para ele, sacerdote católico, é o Cristo Cósmico, todo o seu corpo cósmico, interligando tudo e todos.
Admitindo a existência de Deus, e de um Deus terreno na figura humana e histórica de Jesus, Teilhard Chardin afirmou que todo universo é “cristocêntrico” ou seja, corpo de Cristo, então podemos comemorar hoje dia do universo e de toda a sua “religação”.
Na igreja católica, isto começou com um sonho e visões de Juliana de Liège da Belgica (1193-1258) manifestado ao seu páraco e futuro papa Urbano IV, que criou a data de Corpus Christi, talvez valesse uma releitura para uma ideia de sociedade-mundo para a qual a sociedade caminha em meio ao nevoeiro atual, e um cosmos cada vez mais conhecido e misterioso ao mesmo tempo.
Novo protocolo HTTP pode ajudar privacidade
Um projeto recente do MIT, desenvolve sobre o protocolo da Web (que é uma camada de aplicação da internet) uma espécie de “prestação de contas”, para rastrear automaticamente a transmissão de dados privados e permitir que o proprietário tenha como ver com os seus dados tenham sido utilizados online, usando o identificador uniforme de recursos (URI).
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Com um novo protocolo HTTP com responsabilidade, ou HTTPA, foi desenvolvido no MIT pelo Grupo de Informação Descentralizada (DIG), no Laboratório de Inteligência Artificial (CSAIL) no MIT, e acreditam que a solução poderá dar transparência a manipulação de dados na Web.
O trabalho será apresentado numa conferencia da IEEE sobre Privacidade, Segurança e Confiabilidade em julho, em Toronto-Canadá, pelo estudante Oshani Seneviratne e pela pesquisadora do CSAIL Lalana Kagal, onde será apresentada uma visão geral do HTTPA, com exemplos aplicados na área de Saúde onde os registros devem sempre manter certo sigilo.
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O DIG é dirigido por Tim Berners-Lee, pai da Web o Professor Fundador do Laboratório 3Com de Engenharia do MIT, e porisso compartilha o espaço de seu escritório com o World Wide Web Consortium (W3C), a organização que supervisiona o desenvolvimento de protocolos da Web, como HTTP, XML e CSS.
O papel da DIG é desenvolver novas tecnologias que exploram esses protocolos e olhem para o futuro seguro do desenvolvimento da Web
Há vários tipos de torcedores na copa
Segundo diversos sites, 58 milhões de internautas, o correto seria webnautas, comentaram a Copa do Mundo no Facebook, dos quais 16 milhões estão no Brasil, e a polarização política que enfatiza os mal educados, contra e a favor do governo, não tem respaldo sério, há entre eles muitos outros tipos:
O gozador, que comparou a roupa das cantoras da abertura com a da “galinha pintadinha”, o Marcelovic pelo gol contra, ou o “nosso juiz” por equívocos da arbitragem.
Os otimistas, patrocinados por quase todos os canais dizem é hora de comemorar, festejar, independente de haver abusos ou não do dinheiro público, ora a FIFA é de uma associação “privada” é bom lembrar, mas os deste tipo pintam o rosto postam os selfies, e fazem o tipo despolitizado , capaz até de fazer o coro mal-educado, mas sem qualquer compromisso.
Há o tipo que ultrapolitizado, não desliga o futebol de nada e até gosta de acompanhar a Copa, porém lembra sempre os problemas enfrentados pelo país para a realização do evento, lembra a repressão e os gostos com policiamento, mas vê a copa.
O tipo chato, em minha opinião, é aquele que é fã de futebol demais para torcer para qualquer seleção, vê todos os jogos, mas não vai apoiar nenhuma das equipes, só admira os aspectos táticos e técnicos e diz torcer por jogos de qualidade, mas disfarça a opinião política.
Há o tipo do contra, da seleção brasileira de futebol, mesmo sendo brasileiro, por inúmeros motivos: insatisfação política, critica todos os jogadores e tem prazer em ver o país se dando mal, ele vai torcer contra o Brasil e pode desejar ver a Argentina na final só para ser do contra, não por admirar o futebol sulamericano.
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Há diversos outros tipos, mas há pessoas que visam apenas a diversão e não confundem isto com as sérias questões sociais e econômicas do pais, mesmo esta mistura já tenha sido feita depois junho do ano passado e oportunistas agora tentam tirar proveito.