Arquivo para setembro, 2017
A internet quântica vem aí
Enquanto as conexões 5G prometem ser realidade no ano de 2019, pesquisadores da Austrália avançam para a criação de uma internet baseada nos fundamentos das leis quânticas.
Pesquisadores da Universidade Nacional da Austrália (ANU) publicaram na segunda feira passada na “Science Daily”, um tipo de estrutura de cristal reforçada com o material érbio que pode aproveitar propriedades da mecânica quântica para tornar tod a Rede Mundial.
O coordenador do grupo, o professor Matthew Sellars, afirmou que: “Os esforços para construir um computador quântico foram descritos, com frequência, como a ‘corrida espacial do século XXI’, mas os computadores atuais não foram cientes de seu potencial até termos a internet”, e que isto poderá liberar todo “o potencial dos futuros computadores quânticos”.
O resultado que foi desacreditado uma década atrás, agora: “Vendo esse resultado, é genial saber que nosso enfoque era o correto”, afirmou Sellars.
O gargalo da computação não tanto a velocidade de processamento que continua crescendo como o tempo de armazenamento mais lento e crescendo linearmente, conforme afirma uma antiga lei chamada lei de Moore, já que uma memória quântica é compatível com as telecomunicações, que é o desafio dos pesquisadores atualmente.
A pesquisadora Rose Ahlefeld (foto com Sellars), que participa do projeto, observou: “Uma memória quântica compatível com as telecomunicações é um componente vital para uma internet quântica prática”, e esta possibilidade será o salto quântico no mundo digital.
O material construído como o érbio é compatível com as atuais fibras ópticas e, além será capaz de se conectar com muitos tipos de computadores quânticos, incluindo os qubits de silício em diversos protótipos e também na universidade australiana.
Perdoar para mudar
A essência da ética em tempos de relativismo é uma ética instrumental que serve a interesses específicos e não contempla o conjunto da sociedade, manter os princípios e não se distanciar do que é justo, é preciso ter princípios claros e não se desvencilhar dos ressentimentos.
O que nos impede de ir ao encontro do outro, e ultrapassar as barreiras de uma lógica social cada vez mais individualizada, ou fechada em grupos, é a escuta, mas também o perdão.
Não permitimos que o outro supere os próprios problemas e erros cometidos e recome a sua vida a partir do perdão, e se possível até mesmo da reconciliação, abrindo-se ao recomeçar.
Também sobre isto disse Shakespeare: “guardar ressentimento é como tomar um veneno e esperar que a outra pessoa morra”, assim a primeira interessada no perdão é a própria que guardar rancores e ódios por toda a vida, envenenando-se.
É significativa a passagem em Mateus 28,21-22, ao responder a Pedro quantas vezes se deveria perdoar, “Jesus respondeu-lhe eu não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete”.
Porém do ponto de vista social, a questão é mais ampla é preciso superar o passado, em especial no sentido da mudança, a vingança social é o mais grave empecilho para a mudança e permite retrocessos históricos.
Escreveu Sloterdijk em No mesmo barco, ensaio sobre hiperpolítica, fazendo alusão ao último homem de Nietzsche, último homem no individualismo da era industrial não é apenas o positivista sociável que inventou a felicidade, com seu pequeno desejo diurno e seu pequeno desejo noturno … Eles vivem o sentimento de não retorno; o indivíduo individualiza- do até o limite quer uma vivência que se autorrecompensa … “ (Sloterdijk, 1993, p. 88-89).
Ressentimento na pós-modernidade
Falamos da Sociedade do cansaço, um dos sintomas da condição humana na pós-modernidade, que para nós não é um movimento, mas uma era, com vários aspectos de abordagem.
Outro comum de nosso tempo, é o ressentimento, acentuado pela guerra e pela luta política ideológica, que dá áreas de retornar de maneira quase tão violenta quanto foi num início do século passado, mas haveriam contornos novos, sim, um é o ressentimento.
Na literatura filosófica, Nietzsche é quase sempre lembrado, mas não foi o primeiro a abordar o tema na literatura alemã, Eugen Düring por exemplo já utilizara n´O valor da Vida, o que fez foi ampliar a análise do tema elevando ela ao problema psíquico e também o social, diria quase uma previsão de futuro da Europa, pois eram visíveis no seu tempo as fissuras entre nações no velho continente.
Para Nietszche, o ressentimento está ligado a outra categoria sua que é a vontade de poder operante sobre o Outro, afirma em Por que sou tão sábio: ”O pathos agressivo está ligado de forma tão necessária à força quanto os sentimentos de vingança e rancor à fraqueza.”
Psiquicamente o termo está ligado a reviver um sentimento ou sensação anteriormente experimentada, ainda mesmo que positiva, pode ser considerada boa ou agradável, via de regra tem um acento negativo, enquanto a “persistência de um sentimento suscitado por uma injúria, uma injustiça, acompanhado de um desejo de vingança”, conforme afirma o dicionário Quillet, em sua versão de 1970.
As mídias de redes sociais são um reflexo disto, um conjunto de sentimentos irrefletidos, única e quase que exclusivamente são disparados a um primeiro impulso, quase sempre com um script já conhecido (por isso irrefletido), tentam vender seu rancor e não apenas a indignação, por o indigno nos coloca todos no mesmo barco, na mesma utopia.
Na França Republicana revolucionária, foi necessário impedir que o banho de sangue cessasse, para que a democracia pudesse avançar e a nova sociedade ser construída (gravura acima de autor desconhecido).
Não embarcaremos num novo tempo, como ressalta o trabalho de Peter Sloterdijk “todos no mesmo barco”, se não superarmos os rancores sociais, próprios de um fim de época.
Será que Nietzsche abordou a questão do perdão? com absoluta certeza, no trabalho de Miguel Barrenechea: As dobras da memória, ele fala do perdão como sinal de força e saúde – especulações sobre a filosofia de Friedrich Nietzsche, publicado em 2009.
Algumas razões para ser cientista
O livro gratuito com este nome, reúne trabalho de diversos cientistas nacionais conhecidos, tais como Marcelo Gleiser, José Leite Lopes que conta um pedaço da história da física no Brasil, e o trabalho que destaco aqui de Constantino Tsallis, apesar de grego é praticamente um brasileiro, e assim como Marcelo Gleiser destaca o aspecto da beleza que deve ser destacado com uma das melhores razões para ser um cientista, no caso deles, pesquisadores em física.
Tsallis é candidato ao Nobel da Física, e o próprio trabalho que provavelmente o premiará ele fala de beleza, queria deixar a constante de Boltzmann, fundamental para a entropia, para a mecânica estatística e principalmente para o problema do equilíbrio da energia, já neste trabalho dizia que queria deixar o resultado mais elegante e acabou ampliando e modificando.
No seu capítulo do livro começa contando sua história: “apesar de se considerar totalmente latino-americano, Tsallis conta que herdou dos pais, gregos, o amor pelo conhecimento e pela beleza. Ele está sempre em busca da forma mais bela possível em seu trabalho de pesquisa.”
Ainda criança a família mudou para Argentina, e gostava de todas matérias, menos “contabilidade”.
O desenvolvimento do importante trabalho que poderá dar o Nobel da Física, conta Tsallis que desenvolveu em 1988 uma generalização da estatística da constante Boltzmann-Gibbs e da Termodinâmica, atualmente usada em diversas aplicações, que pode lhe dar um Nobel.
A curiosidade, segundo ele, é característica necessária para um bom pesquisador. “Algumas pessoas olham aonde o rio vai parar; outras de onde aquele rio vem. Para fazer física é preciso ter a curiosidade de saber de onde vem o rio, não muito para onde ele vai.”.
Afirma que segue uma intuição estética: “sempre que escrevo equações, a forma final é a mais estética”.
Quando procurava na estatística uma equação que generalizava a entropia de uma forma tão bonita que deveria estar certa.
Foi assim que chegou à forma final de sua teoria como é conhecida hoje. “A maneira que você apresenta predispõe a uma espécie de sonho que vai além daquela equação”, afirmou Tsallis à entrevistadora Carolina Cronemberger.
O livro Algumas razões para ser um cientista, está disponível online, e foi publicação pelo Centro Brasileiro de Pesquisas Física, instituição de nosso provável Nobel: Constantino Tsallis.
Smartphone que reconhece superfície
Segundo o site de Saint Andrews, pesquisadores desta universidade criaram um tipo de câmera chamada SpeCam que pode reconhecer a superfície que o smartphone está e definir tarefas diferentes para ele.
Por exemplo, se o telefone tocar e você o coloca de cabeça para baixo no laptop, ele poderia enviar uma mensagem para quem chama dizendo: “desculpe, eu estou em uma reunião” ou se colocar dentro do seu bolso poderia sugerir pra quem chama ligar para outro colega.
O SpeCam é na verdade um programa que permite que os telefones existentes utilizem a função da câmera para reconhecer diferentes materiais aos quais são expostos o smartphones, ligado a um banco de dados que reconhece o tecido e relaciona-o a alguma mensagem.
O trabalho foi apresentado na recente 19ª. Conferência Internacional sobre interação Homem-Computador por Dispositivos Móveis e Serviços, a ACM SIGHI MOBILEHCI 2017, em Viena Austria, na quarta feira 06 de setembro por pesquisadores liderados por Aaron Quigley.
Aaron Quigley, que presidente da Human Computer Interaction desta Universidade, disse: “Este é um exemplo do que chamamos de Computação Discreta ou interação discreta, onde ações sutis e discretas dos usuários podem resultar em formas de interação totalmente novas. Ao treinar e, portanto, reconhecer materiais, todas as superfícies ao nosso redor se tornam uma tela para nossa imaginação “.
O SpeCam usa habilmente a tela / exibição em um smartphone como uma fonte de luz multi-espectral e a câmera frontal para capturar o reflexo do material que foi colocado com a face voltada para cima.
O trabalho “SpeCam: Sensing Surface Color and Material with Front-Facing Camera of a Mobile Device” recebeu um prêmio de menção honrosa no MobileHCI, um dos cinco artigos desse tipo em todo o programa.
Vita activa
Ainda Chyul-Han, o coreano-alemão de “A sociedade do cansaço”, parte da análise de Vita Activa de Hanna Arendt (traduzimos Vita do latim, para vida até aqui), explicando que ela parte da prevalência na vida cristã da vida contemplativa, esclarece em nota que ela busca “uma mediação entre vita activa e vida contemplativa… assim descrita por São Gregório: ´temos de saber: quando exigimos um bom programa de vida, que passe da vita activa para a vita contemplativa, então, muitas vezes, é útil se a alma retorna da vida contemplativa para a ativa, de tal modo que se chama da contemplação que se acendeu no coração transmita toda sua perfeição à atividade.” (HAN, 2015, p. 39)
Esclarece o autor, que ela [Arendt]: “uma nova ligação de sua nova definição da vita activa com o primado da ação” (pag. 40), ela vai para um ativismo heroico, mas que ao contrário de seu mestre Heidegger que “pautou um agir decisivo no tema da morte” (idem), ela se orienta na possibilidade do próprio “nascimento do homem e no novo começo, em virtude de seu caráter nascivo, os homens deveriam realizar esse novo começo pela ação.”
Explica o autor que esta ação como nascimento, contém uma dimensão quase religiosa: “o milagre consiste no fato de os seres humanos pura e simplesmente nascerem, e juntos com esses, dá-se o novo começo que eles podem realizar pela ação em virtude de seu ser-nascido… “ (pags. 40 e 41), citando Hanna Arendt.
Mas concerta uma possível interpretação moderna, pois Arendt que via na ação heroica inaudita de todas as capacidades humanas um “findar numa passividade mortal” (pag. 41).
Assim esclarece que as descrições de Arendt do animal laborans moderno não são aqueles da sociedade do desempenho, o animal “pós-moderno é provido do ego ao ponto de quase dilacerar-se. Ele pode ser tudo, menos passivo.” (pag. 41)
Acrescenta que a “perda moderna da fé, que não diz respeito apenas a Deus e ao além, mas á própria realidade, torna-se vida humana radicalmente transitória” (pag. 42).
Reivindica o homo sacer de Agamben, “são como mortos-vivos. Aqui, a apalavra sacer não significa ´amaldiçoado´, mas “sagrado”. Ora, a própria vida desnuda, que acabou se tornando radicalmente transitória, despida é sagrada, de modo que deve ser conservada a qualquer preço.” (HAN, 2017, p. 46).
HAN, B. C. A sociedade do cansaço. Petrópolis: Vozes, 2017
Quando ver é outra coisa que contemplar
Há um mal estar naquilo que é sempre dizer SIM, os filhos não devem ser repreendidos, mas o Estado tem o direito de direcionar a educação deles, os alunos não podem ser contrariados em sala de aula, a existência de uma “positividade” chegou ao absurdo de institucionalizá-la.
Este incomodo ao contrário do que parece leva o indivíduo em especial, e a sociedade como um todo diante de um fosso entre o que é realmente verdadeiro e o que é falso, já não é mais o relativismo, mas a positividade da “vida activa”, a ausência de qualquer vita contemplativa.
Mantemos a “vida activa” entre aspas, porque diferente da filosofia discutida aqui, há o conceito de “engagement”.
Mesmo em termos da Bíblia, aqueles que se recolhem em um grupo parecem ter alcançado de modo mais elevado esta positividade, no entanto, é contrário ao que ensina a Bíblia, Mateus18,15-16:
“Se o teu irmão pecar contra ti, vai corrigi-lo,
mas em particular, à sós contigo!
Se ele te ouvir, tu ganhaste o teu irmão.
Se ele não te ouvir,
toma contigo mais uma ou duas pessoas,
para que toda a questão seja decidida
sob a palavra de duas ou três testemunhas.”
É preciso entender que isto refere-se a justiça, uma vez que testemunhas devem ser chamadas para dizer o que de fato está sendo corrigido, não é a moral maniqueísta e menos ainda aqueles assuntos, que são importantes, mas que ficam no âmbito da religiosidade.
É preciso, sobretudo separar o que é positivo do negativo fora do Maniqueismo, já o esclarecera no nosso post sobre o VER, onde o filósofo Chyul Han afirmara que: “capacitar o olho a uma atenção profunda e contemplativa, a um olhar demorado e lento.” (HAN, 2015, p. 51), o estar sujeito a estímulos sempre “positivos” na verdade nos frustra e não nos impele de fato para frente, para a “vita activa”.
Além da sociedade disciplinar e do controle
A análise da Sociedade do Cansaço de Chyul Han aponta a mudança “de paradigma da sociedade disciplinar para a sociedade do desempenho aponta para a continuidade de um nível. Já habita, naturalmente (eu poria entre aspas), o inconsciente social, o desejo de maximizar a produção.” (HAN, 2015, p. 25).
Entenda-se a sociedade disciplinar como sociedade da negatividade, que é não-ter-o-direito, “A sociedade do desempenho vai se desvinculando cada vez mais da negatividade. Justamente a desregulamentação crescente vai abolindo-a”.. no estilo do “plural coletivo da afirmação Yes, we can expressa precisamente o caráter de positividade da sociedade do desempenho.” (HAN, 2015, p. 24)
O conceito de Foucault (e outros como Deleuze), da “sociedade do controle”, explica o autor, não dá mais conta de explicar esta mudança, muito menos o uso de tecnologias digitais, pois este fato é muito anterior a elas, o que se dá agora é o uso na “vida activa” com as tecnologias.
Enquanto a sociedade disciplinar do não tinha esta sua negatividade “gera loucos e delinquentes”, a sociedade do desempenho produz “depressivos e fracassados” (pag. 25)
O computador aceita o desafio do desempenho e faz cálculos “de maneira mais rápida que o cérebro humano, e sem repulsa acolhe uma imensidão de dados, porque está livre de toda e qualquer alteridade.” (HAN, 2015, p. 56)
É data nacional, para não inventar uma narrativa, cito os três últimos fatos gravados no país e faço perguntas.
Foram encontradas malas com dinheiro no valor de R$ 51 milhões, num apartamento na Bahia, que já ficou provado que era de uso do ex-ministro Geddel Vieira Lima, primeira pergunta: Este dinheiro era só dele?, a segunda notícia são gravações de Joesley Batista que se apressa em dizer na gravação: Vamos fazer tudo, mas nós não vai ser preso”, e sobre o padrinho de suas delações e do acordo que dava exílio ao Joesley diz: “O Janot sabe de tudo … a turma já falou pro Janot”, pergunta: Qual turma?
Um terceiro episódio, sim é uma série que pelo visto será bem longa, é relativo ao empresário do Rio de Janeiro chamado Arthur Soares, apelidado de Rei Arthur pelos contratos milionários com o governador Sérgio Cabral agora preso, ele tinha uma conta chamada Matlock no Caribe que foi onde a França começou no início do ano a investigar, porém esta compra teria envolvido o Comitê Olímpico, será que o governo e o Ministério dos Esportes não sabiam de nada ? São só perguntas. Há ainda o caso do Palocci, será que disse tudo pressionado pelos juízes ?
Não foram máquinas que fizeram tudo isto, mesmo o gravador do Joesley era de péssima qualidade, ou agora pensamos talvez apagasse trechos importantes por encobrir alguém.
HAN, B.C. A Sociedade do cansaço. Petrópolis: Vozes, 2015.
Pedagogia do ver e negatividade
Já falamos de potência aqui, a famosa categoria de “vontade de Potência” primeira em Nietzsche e depois em Schopenhauer, lemos em Além do Bem e do Mal §36 assim: “O mundo visto de dentro, o mundo determinado por seu ‘caráter inteligível’ – seria justamente ‘vontade de potência’, e nada mais”, no entanto, tem mais sim, pois é também Vontade de Poder.
Se Thomas de Aquino define potência dividindo em Ato e Potência, pode-se reler em Assim falou Zaratrusta deste modo: “Potência é aquilo que quer na Vontade. E o que é a potência? É um eterno dizer-SIM, e isto tem tudo a ver como nosso modo de pensar e sentir, o filósofo germano-coreano Chyul Han, vê nisto um equívoco do pensamento ocidental, no empuxo: “daquela positivação geral do mundo, tanto o homem quanto a sociedade se transformam numa máquina desempenho autista.” (HAN, 2015, p. 56).
A potência se afirma na vontade quando diz “Sim” ao devir, pois é a afirmação pura de sua própria efetivação, a alegria provém da afirmação. E o sentido é o resultado destas forças, afirmou Nietzsche em Assim falou Zaratrusta.
Mas Han para tornar sua análise precisa divide a potência em duas formas: “A potência positiva é a potência de fazer alguma coisa. A potência negativa, ao contrário, é a potência de não fazer, para falar com Nietzsche: para dizer não … distingue-se da mera impotência, a incapacidade de fazer alguma coisa. A impotência é simplesmente o contrário da potência positiva.” (HAN, 2015, p. 57).
O raciocínio que aproxima Han de Thomas de Aquino, e a meu ver define sua ontologia já que percebo este traço em outros trabalhos seus, é o aprender a ver, explica ele: “capacitar o olho a uma atenção profunda e contemplativa, a um olhar demorado e lento.” (HAN, 2015, p. 51).
A falta de espírito falta de cultura repousaria na “incapacidade de oferecer resistência a um estímulo” afirma o coreano HAN leitor de Nietzsche, e afirma que ele nada mais faz do que propor a “revitalização da vita contemplativa.” (HAN, 2015, p. 52)
Conclui, ou praticamente conclui porque volta neste capítulo a falar da negatividade, faz uma lógica absurda se “tivéssemos a potência apenas de pensar algo, o pensamento estaria disperso numa quantidade infinita de objetos. Seria impossível fazer a reflexão (Nachdenken),pois a potência positiva, o excesso de positividade, só admite o continuar pensando (Fortdenken). (HAN, 2015, p. 58).
Thomas de Aquino, Nietzsche, de certa forma Hegel, e vários filósofos contemporâneos discutiram isto antes do mundo virtual e maquínico, mas fica para o próximo post.
HAN, B.C. A sociedade do cansaço. Petrópolis: Vozes , 2015.
O belo e o líquido
A ideia que há uma liquefação da estética na modernidade é tão moderna quanto os conceitos de liberdade, estado e principalmente: sujeitos e objetos.
Nesta morte da estética, já escreveram alguns autores, o belo é mera exposição do sensível da ideia nas obras de arte, e seria a partir delas que estaria resolvida a contradição, criada na modernidade, entre sujeito e objeto, assim uma obra de arte seria: “o primeiro elo intermediário entre o que é meramente exterior, sensível e passageiros e o puro pensar” talvez fosse este menos líquido, seria “científico”.
Hegel reconhecia na filosofia kantiana um “avanço em relação a outras teorias estéticas”, uma vez que, segundo o filósofo ápice do idealismo, a possibilidade de unificação entre espírito e natureza de daria pela arte, mas recusa-a ao perceber que conduziria a um dualismo insuperável entre sujeito e objeto, em uma síntese meio rude diríamos: “o demônio idealista”.
Mas não supera este “demônio”, dito por Hegel assim: ““… o belo artístico foi reconhecido como um dos meios que resolve e reconduz a uma unidade aquela contraposição e contradição entre o espírito que repousa em si mesmo abstratamente e a natureza. […] a filosofia kantiana sentiu este ponto de unificação em sua necessidade, como também o reconheceu e o representou de modo determinado.” (HEGEL, 2001, p.74)
O livro do filósofo germano-coreano Byung-Chul Han, Die Errettung des Schönen (A salvação do Belo) (Fischer Verlag, 2015, sem tradução para o português) dá um novo fio condutor para a questão do belo, com aquilo que já chamou em outros livros de “falta de negatividade de nossa era”.
Usa em sua linguagem as ideias do “positivo” e “negativo”, para designar o super consumo, quer seja de mercadorias, de informação e de capital, prefere antes a diversidade que a alteridade, antes a diferença que o distinto, e assim no estético o liso ao rugoso, e estética é para Han uma apologia ao liso, o polido, o pornográfico e não o erótico (no sentido do eros).
A subjetividade é confusamente lisa, sem interioridade e dificuldades (sem sofrimento já o dissemos), submete-se a um simplismo que quer tudo aplainar e polir, terapias para superar o medo, a angústia, o culto religioso é o repetitivo e a pura “doutrinação”, leitura sem nenhuma hermenêutica e cheia de exegese antiga e superada, palestras deve divertir e não ensinar, meios de comunicação são confudidos com os seus fins (que é para-comunicação) .
Os liquefeitos é que liquefazem tudo, para ficarem segundo sua lisura, sua feiura e sua ausência de negatividade e contradição, é mais que idealismo é “puro idealismo”, corpos que parecem bonecos, rostos sem expressão ou de expressão única, ausência da mímesis, voltaremos a ela, mas aqui basta o repetitivo, imitativo, mera representação, falsa receptividade, ato de se assemelhar, e no fundo a-presentação do eu (não alter).
HAN, B.C. Die Errettung des Schönen (A salvação do Belo), DE: Fischer Verlag, 2015.
HEGEL, George W. Cursos de estética. São Paulo: Edusp, 2001.