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Arquivo para fevereiro, 2025

Partículas, sons e linguagem

14 fev

A matéria foi sendo estudada em partículas cada vez menores, os átomos idealizados por Demócrito (460-370 a.C.) ainda na antiguidade, porém para ele seriam indivisíveis, eternos e imutáveis, mas a ciência moderna começou a enxerga-los em subpartículas cada vez menores.

Inicialmente prótons, elétrons e nêutrons, na década de 30 o físico austríaco Wolfgang Pauli previu o neutrino, mas sua detecção foi feita somente em 1956 por Clyde Cowan e Frederick Reine, na década de 60 George Zweig e Murray Gell-Mann previram os quarks, a descoberta aconteceu em 1968 no Centro de Aceleração Linear de Stanford.

Depois vieram os Gluons, Leptons, Mesons e Hadrons vieram complementar o Modelo da Física Padrão, nome dado a teoria unificada da física na década de 1970, em 2012 o Grande Colisor de Hadrons (LHC de Genegra) detectou o bóson de Higgs, que era uma subpartícula prevista para unificar a teoria, mas restam perguntas: o que é a matéria escura, o que ocorre num buraco negro, o que provoca a força gravitacional, haveriam partículas grávitons

Uma teoria elaborada para responder estas questões foi a teoria das cordas, que vem desde 1919 quando foi elaborada por Theodor Kaluza, depois Yoichiro Nambu, Holger Bech Nielsen, Leonard Susskind, John H. Schwartz e Michael B. Green, só para citar alguns nomes de físicos importantes que trabalharam nesta teoria.

Os quarks up e down que compõe prótons e nêutrons, unidos a força de glúons formariam diferentes vibrações que se comporiam formando as partículas elementares, assim todo o universo poderia ser resultante de formas primitivas de vibrações, sons que poderiam estar fora das faixas audíveis.

Ela tenta unificar a mecânica quântica e a teoria da relatividade, e pode ser um modelo mais unificador que o da Física Padrão.

Assim podemos dizer que os sons são a “linguagem” primordial do universo e tudo poderia ser composto a partir dele, as observações de formação de galáxias e comportamentos em buracos negros feitos pelo James Webb podem chegar a confirmação ou negação desta teoria.

Assim também o universo seria um ser de “linguagem” na forma de vibrações formadas pela teoria das cordas, e nossa palavra seria algo muito mais importante do que nós imaginamos, não apenas porque tem certa potência, mas principalmente porque faz parte do universo primitivo e se desenvolve com ele em suas formas mais complexas das nebulosas que formam estrelas gigantes e pequenas, gigantes vermelhas, anãs brancas, novas e supernovas, estrelas de nêutrons e buracos negros.

O universo complexo seria em sua forma mais elementar através de quarks up e down, diversas formas de cordas que compostas formariam o que chamamos de matéria.

Um artigo do diretor do Instituto Kavli para a Física e Matemática do Universo (Kavli IPMU), Ooguri Hirosi, e do investigador do projeto, Matthew Dodelson, sobre os efeitos teóricos das cordas fora da esfera de fótons do buraco negro, foi publicado na revista Physical Review de 24 de março de 2021.

 

Coração puro e superação

13 fev

Somente aqueles que conseguem manter um coração puro, um desejo de sempre avançar, é preciso que ir além do mundo cheio de mágoas, rancores e ódios, da valorização do “eu” e não do Outro, a superação é possível se não olharmos para o que passa e não tem grande valor.

Os desafios, as dores e dificuldades fazem parte da vida, são vencedores os que vão além destas contingencias e mais que isto são solidários aos que passam ao seu lado, sempre que temos alguém para partilhar e para seguir em frente, a vida pode ser diferente do mero viver.

O filósofo coreano-alemão Byung-Chul Han escreveu: “Assim, cada crítica da sociedade tem de levar a cabo uma hermenêutica da dor. Caso se deixe a dor apenas a cargo da medicina, deixamos escapar o seu caráter de signo” (Han, 2021), pois não sabemos superar a dor e nem somos solidários com quem sofre.

No seu livro A sociedade paliativa: a dor hoje, escreveu: “A arte de sofrer a dor se perdeu inteiramente para nós … A dor é agora, um mal sem sentido, que deve ser combatido com analgésicos. Como mera aflição corporal, ela cai inteiramente fora da ordem simbólica” (Han, 2021, p. 41), os destaques são do autor.

A sociedade tem dificuldade de viver a empatia, a felicidade e a afetividade, ela está condenada a calar-se, e “a sociedade paliativa não permite avivar, verbalizar a dor em uma paixão” (Han 2021, p. 14), grifo do autor, assim a paixão parece perder sentido ou ser “uma fraqueza”, quando na verdade é dela que tiramos o desejo de persistir e ir avante.

Assim podemos transformar a dor em amor, melhor que isto podemos entender melhor o que é paixão e o que com-paixão, sentimentos cada vez menos colocados na ordem do dia, o desejo de diminuir o outro, como fazem os haters, os memes e a negação do Outro, torna a sociedade mais agressiva, valoriza-se não a dor, mas o ódio, o escárnio e a humilhação.

Acreditar e persistir na crença de valores fundamentais para um verdadeiro humanismo é fonte essencial de civilidade, que pode contribuir com um processo civilizatório positivo e no qual aquilo que tem de mais humano pode ser valorizado, é preciso acreditar e persistir.

Na foto acima, System of Pain/Networks/Networks of Resilience, curadoria de Cecilia Vargas, no Dickson Center at Waubonsee Comunity College, Junho 7 a 10 Julho, 2018,

HAN, B.-C. A sociedade paliativa: a dor hoje: Trad. Lucas Machado. Petrópolis: Vozes, 2021.

 

A lógica do “hater”

12 fev

A palavra está no centro de discussões acaloradas, manifestações de cólera e de pouca empatia, a lógica do “eu” primeiro entrou em todos círculos, do familiar ao político.

A tradução para o português seria “odiador”, mas pelo pouco uso desta palavra no português creio que hater acabará nacionalizado, e por falar nisto, muita gente não gosta do uso de palavra como meeting (encontros), coaching (treinamento) e open house ou home-office, que muita gente usa, mas temos exemplos do passado: abajur (do francês), software  (do inglês), chucrute (alemão) e schoppen (do alemão, que virou chope) e que não tem nada a ver com shopping (do inglês, compras).

É preciso evitar o “hater”, o “bullying” (intimidação) eles levam a um tipo de assédio moral, também o meme, que se usada em sua origem (vem do grego mimeses) seria uma unidade básica de transmissão cultural, que significa imitação, mas que foi transformada em uma analogia maldosa, por exemplo, determinada figura pública como um animal.

Na raiz de toda esta perversão cultural estão não a introdução de novas palavras na língua falada, que em si não é um mal, mas feito de maneira maldosa torna-se algum tipo de intimidação cultural, que leva ao preconceito e daí a violência.

Não é apenas a falta de empatia, é o respeito ao diferente, é o desejo de inclusão do Outro, diversos autores escreveram sobre isto (Paul Ricoeur, Emmanuel Lévinas, Habermas, Todorov, Martin Buber, etc.) nenhuma filosofia contemporânea digna do nome deve deixar de abordar este tema, ao final de tudo é um “ente” de um mundo em comum, assim o Ser-no-mundo se torna um “ser-com-os-outros” num mundo compartilhado (mitwelt).

Esta mudança de comportamento começa no coração e na alma do “dasein”, onde a clareira de Heidegger pode se abrir em meio a uma floresta densa e obscura.

Sem olhar o Outro com sua dignidade (Ricoeur escreveu “outramente”, Buber escreveu “o eu sagrado”) é diferente do eu-isso que boa parte da filosofia também explora.

O coração purificado aceita empaticamente o Outro, como uma forma do seu Ser.

 

A salvação do belo

11 fev

A harmonia e a paz têm uma profunda relação, basta ver como são os países antes e depois das guerras, basta ver cidades e até mesmo rios e florestas numa região de guerra. 

Não se trata de fechar a chave regiões do planeta, através do clima e da alteração do meio ambiente o reflexo em toda criação é imediata, pois mesmo que queiramos viver numa bolha o contato com o ar, a água e as riquezas é impossível de ser notado.

Isto se transporta também para a cultura e para a política, tudo parece um reflexo do maltrato e da falta de sensibilidade ao que é realmente belo e está em harmonia, muito do desastre cultural de nosso tempo vem desta relação.

Para Hegel, segundo sua visão de estética e por consequência do Belo, é a ciência que se ocupa do belo artístico e não o belo natural, para ele o belo natural é produto do espírito (Geist), e, sendo seu produto, é partícipe da verdade e de tudo que está na natureza, veja que este espírito chama de “transcendência” o que liga os “objetos” ao que existe na natureza, assim é espírito “holístico”, mas não místico e está fora do homem, sendo alcançado pela ciência.

A escultura é considerada uma arte “nobre”, afirma Hegel: “A escultura introduz o próprio Deus na objetividade do mundo exterior; graças a ela, a individualidade manifesta-se exteriormente pelo seu lado espiritual” (Hegel, 1996, p. 113), novamente o exterior é objetivo, uma escultura e não um Ser, o outro e com ele toda sua subjetividade.

Já o simbolismo foi a que “procura realizar a união entre a significação interna e a forma exterior, que a arte clássica realizou essa união na representação da individualidade substancial que se dirige à nossa sensibilidade, e que a arte romântica, espiritual por essência, a ultrapassou” (Hegel, 1996, p. 340).

Para o filósofo germano-coreano Byung-Chul Han que escreveu Die Errettung des Schönen (A salvação do Belo) elabora um novo fio condutor para a questão do belo, com aquilo que já chamou em outros livros de “falta de negatividade de nossa era”.

Estamos na era do plástico, do vidro e do liso, a “imperfeição” é parte da criação e assim, não é o belo grego, as novas formas que a cultura contemporânea busca, que encontraremos uma nova cultura e um modo criativo de relação com a natureza.

A subjetividade está confusamente lisa, sem interioridade e dificuldades (A sociedade paliativa de Chul-Han), submete-se a um simplismo que quer tudo aplainar e polir, terapias para superar o medo, a angústia, até o culto religioso é o repetitivo e a pura “doutrinação”, leituras sem nenhuma hermenêutica e cheias de exegese antiga e superada, assim como as palestras deve divertir e não ensinar, meios de comunicação são confundidos com os seus fins (que é para-comunicação).

O contato com o belo da natureza é modificado por sua “dominação”, “exploração” e uma cultura do liso se estabelece, Han dá como exemplo a arte de  Jeff Koon (ver foto acima), de figuras plásticas idealizadas. 

HAN, B.C. Die Errettung des Schönen (A salvação do Belo), DE: Fischer Verlag, 2015.

HEGEL, George W. Cursos de estética. São Paulo: Edusp, 2001.

 

 

Guerra mitigada e paz distante

10 fev

Tanto na faixa de Gaza quanto na Ucrânia estão sendo mitigadas, as duas principais guerras e as mais ameaçadoras de uma guerra total, a espera de uma paz a partir do governo Trump não se concretizou, o que ele quer é uma pax romana, ou seja, o domínio dos vencidos.

O governo atual dos EUA negocia terras raras com a Ucrânia, em troca de equipamentos, estas terras têm custo alto e são usadas tanto em lentes de câmeras e telescópios, para maior precisão visual, como em refinamento de petróleo, num processo chamado craqueamento.

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, afirmou sexta-feira (7/02) que está disposto a este acordo em troca de apoio à guerra, a região próxima ao rio Dnipro é rica neste minério, e revela os verdadeiros interesses da guerra, além da forte produção de grãos da Ucrânia.

Na faixa de Gaza houve nova troca de prisioneiros, no sábado (9/02) três sequestrados pelo Hamas foram trocados por 183 prisioneiros palestinos, a volta dos israelenses não encerrou o drama, porque ao chegarem descobriram que os familiares foram mortos no ataque do dia 7 de outubro que iniciou o conflito.

O plano de Trump para Israel, porém é o domínio da região da faixa de Gaza, onde os palestinos consideram como seu território, foi saldado por Netanyahu como “revolucionário”, já para os palestinos significa a continuidade do conflito e a constante ameaça dentro de suas fronteiras.

No domingo (09/02) foi anunciada a retirada completa das tropas israelenses do chamado corredor de Netzarim, que dividia a Faixa de Gaza em duas permitindo o deslocamento do sul para o norte (foto).

Trump segue uma política de taxação, uma autentica guerra de comércio, diz que vai anunciar no dia de hoje tarifas de 25% sobre alumínio e aços importados pelo país, a decisão atinge o Brasil, o Ministério de Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) afirmou que não vai se pronunciar.

Também a retirada dos EUA da OMS (organização Mundial da Saúde) foi anunciada, e foi seguida pela Argentina, Trump acusa a Organização de desvio de verbas para outras finalidades e uso político destas verbas, contrárias aos interesses americanos.

Também o comércio com a China e Rússia está abalados, os países bálticos Estônia, Letônia e Lituânia completaram ontem a migração da rede elétrica da Rússia para o sistema da União europeia, encerrando os laços da era soviética e em busca de maior segurança para os países.

O cenário é de mitigação da guerra, podendo a qualquer momento ocorrer uma escalada maior, porém a esperança em construir uma paz sustentável não foi abandonada, ainda forças do mundo árabe e da Europa procuram soluções diplomáticas para estas guerras brutais.

São os interesses econômicos que estão em jogo, acima do político, os ânimos estão fora de controle não só nos países em guerra, mas em toda parte há um posicionamento polarizado.

A volta a serenidade, a consciência que na guerra todos perdem, e os mais fracos são sempre os mais explorados e sacrificados, deve ser base para conversas mais humanísticas e menos econômicas e ideológicas, a paz deve se sobrepor aos interesses dos ditadores.

Um clima de liberdade, paz e justiça é o único caminho para uma paz sustentável.

Urgente: conforme nossa análise ao final do dia o grupo islamista acusou Israel de violar cessar-fogo ao atacar civis que tentam retornar ao norte da Faixa de Gaza e Israel colocou as suas forças em alerta máximo.

 

O mal e a verdade

07 fev

Agostinho de Hipona (354-430 d.C.) ao romper com o maniqueísmo (a divisão entre o bem e o mal) torna-se cristão e para resolver o seu principal problema, vê que o mal é a ausência do bem e assim é a ausência da Verdade.

A partir do modelo de Agostinho, o mal para Leibniz estabeleceu os alicerces pelos quais um mundo com o mal traz mais bem e, portanto, é melhor um mundo sem o mal, em sua Monadologia estabeleceu: “uma imperfeição na parte pode ser necessária para uma perfeição no todo” e por isso as partes dependem do todo para a verdade (racional) como a concebia.

Leibniz (1646-1716) foi influenciado por Agostinho, e teorizou que a verdade está relacionada a razão: “Entendo por razão, não a faculdade de raciocinar, que pode ser bem ou mal utilizada, mas o encadeamento das verdades que só pode produzir verdades, e uma verdade não pode ser contrária a outra”, assim de uma meia-verdade não pode surgir uma verdade, eis o problema das narrativas contemporâneas.

Aqui é o central para estabelecer as virtudes, estas sim capazes de exercitar o bem moral, e dele decorre o bem público, o problema social atual não é decorrente apenas da procura do bem comum, é necessário para que ele seja crescente e sustentável que hajam virtudes morais.

Assim não há como justificar o roubo, pequenos desvios, diz a sabedoria bíblica: “quem não é fiel no pouco também não é fiel no muito” (Lucas 17:10-11), e uma sociedade permissiva não pode dar frutos para a construção do bem comum e de mais distribuição de bens.

O problema da verdade, é estabelecido pelo método na Fenomenologia, o filósofo alemão Husserl (1859-1938) vai dizer que a verdade se dá através dos fenômenos que são observáveis, perceptíveis e sensíveis: “chamamos a isso de fenomenologia”, assim a verdade tem um método que pode ser observado em tudo que ocorre a nossa volta.

relativismo moral faz com que verdade seja algo vinculado à moral daquele grupo, no post anterior lembramos que ele é primeiro tratado no livro Teeteto de Platão, cuja preocupação central era combater os sofistas e criar uma verdadeira cidadania, de um modo geral o livro é uma rejeição das teses que manifestam alguma forma de mistura entre razão e sensação. Precisamos defender e nos posicionar fortemente ao lado do bem moral e para isto é necessário um Amor fraterno, porém não pode estar separado das virtudes cardeais que lhe dão base: Justiça, Prudência, Fortaleza e Temperança.

 

 

Sabedoria e mudança de rota

06 fev

Entre as virtudes está a sabedoria, em tempos de narrativas desconexas e pouco conhecimento, surgem inúmeros sábios de meias-verdades, profetas de mãos e vidas impuras, e há um público para aplaudi-los.

Assim é necessário desprezar a sabedoria, a pouca leitura, banalizar o que é bom e belo, infringir até mesmo o mais simples raciocínio sobre a preservação da vida, a justiça e a dignidade que possui todo ser humano, não por acaso a palavra de 2024 foi “brainrot” (cérebro estragado).

Não apenas porque bombardeamos nosso cérebro com alimento estragado, mas principalmente porque abandonamos a boa leitura, a boa cultura e a boa fé de quem fez realmente uma mudança de rota.

A figura bíblica que fez esta mudança radical de rota, e era um sábio grande conhecedor do judaísmo e da cultura grega é Saulo de Tarso, nascido nesta cidade da Cilícia no ano 5 d.C. e foi inicialmente grande perseguidor dos cristãos, sendo apontado como responsável pela morte de Estevão, primeiro mártir cristão.

Teve uma visão mística de Jesus que pergunta “porque o persegue” e fica cego a caminho de Damasco (foto), se isto é uma metáfora ou não, não é o mais importante, lhe é indicado para ir ao encontro do cristão Ananias onde tem a vista restaurada.

A cegueira o fez ultrapassar os limites das tradições judaicas, ainda com controvérsias como a discussão com Pedro sobre a circuncisão, porém a própria Bíblia lembra que temos olhos e corações (Dt 10,16) que são incircuncisos e isto explica a cegueira de Saulo, agora transformado em Paulo.

Ele será importante para a mudança de mentalidade que sai dos domínios judaicos e vai até os gregos e romanos, sem ele talvez o cristianismo ficasse como uma seita judaica, e sua sabedoria influenciou profundamente Agostinho de Hipona e Tomás de Aquino, pensadores importantes para o pensamento cristão e não há como negar a necessidade de sabedoria.

A religião dos preceitos, que exclui a muitos e que não permite que muitas pessoas mudem de rota está em franca decadência, e isto serve para a cultura de um modo geral, com uma necessidade urgente de uma espiritualidade que favoreça uma ascese verdadeira.

Não são as emoções, os discursos bem feitos e até elaborados que provocam uma “mudança de rota”, mas a consciência clara das necessidades humanas e espirituais de nosso tempo.

Não raros aqueles que se propõe a estes discursos, apelam para a exclusão, para a ruptura social e veem nisto um “profetismo” que não pode ser alcançado por mãos impuras.

Aquilo que é divino é transparente e límpido, vem com uma linguagem serena e clara, com atitudes que provam a mudança de rota, sem o exemplo qualquer discurso é vazio ainda que empolgue e provoque emoções.

 

Virtudes éticas, morais e cardeais

05 fev

A ética é importante para o bom convívio social e para o bom funcionamento das relações humanas no contexto social, elas deveriam ser base para aqueles que hoje contestam as relações morais e as distanciam das virtudes cardeais, por sua origem religiosa.

Alguns princípios são considerados centrais na ética como: autonomia, Beneficiência ou não maleficência (falar mal ou dar falso testemunho) e justiça, deveriam ser base para boa relação social.

Em tempos de relativismo moral, o relativismo político volta a ser tema, talvez tenhamos que retomar os princípios clássicos gregos para dar alguma serenidade ao debate social hoje.

A ética aristotélica era centrada na busca da felicidade e do bem-estar humano, através da virtude (areté) e do desenvolvimento moral.

A areté grega significa tanto virtude quando excelência, a busca de Platão e Aristóteles era de formar cidadãos “íntegros” de forma que pudessem fortalecer a sociedade moralmente, e superar a política que até este tempo sofria forte influência dos sofistas, argumentos discursivos que favorecessem os poderosos independentemente de suas atitudes.

O relativismo nasce aí, buscando apenas justificar o poder por meio de argumentação, a forte semelhança com as narrativas atuais é indicativo que alguma fissura na postura política está se alastrando na democracia moderna.

Os gregos antigos tiveram que superar o relativismo para chegar a democracia, defendiam que os valores morais e as verdades não podiam ser relativos aos contextos históricas e sociais.

O livro Teeteto de Platão é considerado um dos primeiros textos a abordar o confronte entre a verdade e o relativismo, seria ótimo reestuda-lo para a política atual, quando relativismo !!!

As virtudes cardeais devem ser vistas como um complemento, sem elas não chegaremos a uma verdadeira fraternidade e união dos povos, o amor fica esvaziado pela vulgarização atual, já abordamos a filósofa inglesa Philippa Foot (1920-2010) abordou com clareza a lacuna que existe na moral contemporânea das virtudes cardeais: coragem, prudência e temperança (ser mais serenos, quanta falta isto hoje faz) além da justiça que é abordada parcialmente.

Sem as virtudes cardeais temos dificuldades para incluir e viver em paz com todos.

 

O nacionalismo, o medo e a guerra

04 fev

Não é a primeira vez na história que o medo toma conta da sociedade, aparecem as diversas doenças psíquicas, como a depressão e a síndrome do pânico, e as sociedades parecem se fechar, para surpresa geral, a Alemanha sempre tão a frente, tem o avanço da AfD (Alternativa para a Alemanha) que é a volta da ultradireita.

O problema da imigração agora na Alemanha aparece, sob protesto no bordão “somos o cordão sanitário”, quando ocorreu uma moção anti-fluxo imigratória e uma votação apertada da Lei do Fluxo Migratório, a crítica se dirige ao candidato a chanceler federal alemão Friedrich Merz, da União Democrata Cristã (CDU), e manifestações em todo país aconteceram.

O candidato é o líder das intenções de voto para assumir o governo alemão na eleição de 23 de fevereiro, embora conservador se distancia das pretensões ultraconservadoras da AfD.

O significado destes movimentos, leis e crescimento de posições cada vez mais conservadoras é uma reação à sensação de desmoronamento das raízes civilizatórias das diversas sociedades e um crescente movimento de deterioração moral e político das instituições sociais.

Não se trata de uma zona de conforte e sim uma “zona de segurança” diante de uma ameaça cada vez mais presente de uma crise civilizatória sem precedentes, e sem um elemento de paz e esperança que possa amenizar estes processos de mudanças sem limites dos costumes.

O medo é quando as reservas morais de esperança e fé no futuro se contraem, tanto no nível pessoal quanto no social, os jovens que preferem se fechar e ficar “escondidos” em casa são um reflexo desta “zona de segurança” enquanto que os que saem abandonam qualquer limite.

As forças pacificadoras, além de combaterem os extremismos devem também semear a paz e a esperança e diminuir os ataques frontais aos extremismos que apenas os fortalecem.

Não ter medo é também um importante ingrediente destas “batalhas”, mostrar serenidade e tranquilidade diante de situações adversas ajudam a minimizar os efeitos da intimidação e do assédio que caracterizam as forças extremistas, elas se alimentam do medo e da violência.

Os verdadeiras núcleos de esperanças são inclusivos, não se motivam por provocações ou narrativas que defendam suas posições como únicas verdadeiras, não se trata de relativismo, mas de iluminação e desativação do medo que caracterizam as sociedades mais fechadas.

Somente a paz entre os povos pode garantir a esperança de um mundo mais saudável e fraterno para todos, sem exclusões. 

 

Paz provisória em Israel e difícil na Ucrânia

03 fev

Seguem em passos do acordo Hamas/Israel, na quinta feira (30/01) foram libertados 8 reféns, sendo 3 israelenses e cinco tailandeses, em troca de 110 prisioneiros palestinos, o Hamas vai soltar a lista do total de reféns, porém Israel continua atacar posições do Hezbollah no Líbano, destruindo casas.

A paz na Ucrânia tem poucos detalhes divulgados pela imprensa, sabe-se que há movimentos nos bastidores, e que uma parte do acordo seria o retorno do gás russo para a Europa, depois de penalizar a economia russa com sanções, e o fornecimento de gás é uma delas com o recente bloqueio de passagem do gás russo pelo território da guerra.

Keith Kellogg, enviado de Trump para negociar a paz entre a Ucrânia e a Rússia, disse em uma entrevista na sexta-feira (31/01) que o fim da guerra pode acontecer em meses.

Lá a tática tem sido bombardear refinarias russas, dentro do território russo, enquanto a Rússia destrói as fontes energéticas da Ucrânia, lembrando que o gás é usado na Europa também para aquecimento e estamos em pleno período de inverno.

No plano diplomático a Rússia mantem influências em países vizinhos como a Geórgia, a Sérvia (não sem protestos) e a instável Bulgária, segundo a ex-comissária da UE Mariya Gabriel devido a corrupção, ela deveria ser primeira-ministra, porém reassumiu Dimitar Glavchev como interino.  

Dificilmente um acordo será possível sem a Ucrânia ceder parte de seu território à Rússia e a questão oculta nos acordos são as crescentes provocações, agora com navios russos com carga atômica aproximando-se da Noruega (foto) que integra a OTAN, embora o navio tenha mantido as regras marítimas há desconfiança sobre suas verdadeiras funções, como por exemplo, colocar equipamentos que possam cortar cabos marítimos de comunicações no fundo do oceano.

Há conversas de bastidores, o governo Trump está empenhado em conseguir a paz ao mesmo tempo que não parou de enviar munições a Ucrânia, que passou a atacar o território russo e tornou a guerra mais intensa e em nova escalada.

Salientamos nos posts da semana passada as funções da linguagem, e já não mais linguagem neutra, até mesmo forças internacionais mediadoras são forçadas a tomar decisões entre as partes em litígio, as vozes pela verdadeira paz são abafadas em nome de narrativas parciais.