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Arquivo para junho, 2017

Leitura-Oração, meditação e pensamento

30 jun

Deixamos a meditação acima como sugestão, quando fomos olhá-la na MeditationWeb já tinha mais de 9 milhões de acessos, eis um ponto de partida prático para entender este post.

Pode-se pensar a oração como uma forma de leitura ou escuta, é a mesma coisa, será diferente apenas se usamos a música, mas basta pensar que ela é uma outra forma de escuta, talvez a mais primitiva, há quem diga que a origem do universo foi uma música, em termos físicos está correto porque foram ondas funcionando como cordas (chamada Teoria das cordas) que vibrando num certo tom deram origem a um elétron ao vibrarem em certo tom, em outro tom deram origem as subpartículas que são os quarks e assim por dia …

Podemos pensar que algum anjo ou outra entidade tocava música, é mais ontológico e mais poético, então no início devemos vibrar, atingir certa frequência de vibração, dizem os budistas, mas não é muito diferente para os hinduístas e os muçulmanos.

O que dizer então da Meditação cristã, ela tem origem dentro da tradição oral, mas na sua passagem para escrita, basta lembrar que Platão e Aristóteles são anteriores a Jesus, mas este vem do judaísmo e da tradição abrâmica (os judeus e muçulmanos também) cuja tradição é oral, mas também é a origem da escrita, razão pela qual se escreveram os evangelhos, as “boas novas”, ou as notícias como diríamos hoje.

É preciso depois de ler e meditar, silenciando nossas pré-ocupações, nossas categorias, o époche grego, Plotino afirma, em sua obra de maior influência as Enéadas,  que a Alma e, portanto, todas as almas são imagens do Intelecto, assim como a palavra proferida é imagem da palavra interior (está na Enéada V. 1).

Dessa maneira, por um lado, ela é uma realidade semelhante ao Intelecto e, por outro, inferior e derivada. É dotada de intelecção, mas a intelecção que lhe é própria é inferior, discursiva, mas já prevê a forma escrita, o importante, entretanto onde ela é arrastada para o meio:

“Já que a natureza da alma é uma e nela há muitas potências, às vezes toda ela é transportada ao mais nobre de si mesma e do ser. Outras vezes, a parte pior, arrastada para baixo, arrasta consigo o meio” (está na Enéada II, 9, 2, 4-9), é preciso então depois de ler meditar até chegar ao pensamento/conhecimento, tomar conhecimento do meditado.

A tradição escrita nos permitir arquivar, armazenar o meditado, pensando e poder voltar a “lembrar” o que nos foi importante ali, então registra-se de forma escrita, hoje podemos gravar a voz, ou mesmo fazer um vídeo imediatamente.

Os discípulos de Jesus pediram que ele os ensinassem a rezar, lembrando da tradição oral de seus antepassados, e a oração dada pelo mestre foi o Pai Nosso, reconhecer que há alguém (ou algo) acima de nós, que nos guia em conjunto aí a figura do autor da criação como Pai: “Pai nosso que estais nos céus”, cujo nome é bendito, santificado, e devemos nos com-formar com este designo coletivo para fazer “sua vontade”, também lembra de nossas coisas materiais “o pão nosso de cada dia”, de nossas contendas “perdoai nossas ofensas, assim como perdoamos a quem nos tenha ofendido”, e finalmente livra-nos de tantos males: injustiças, desmandos e guerras inúteis que vemos por todo país e todo globo.

 

 

O belo, a contemplação e a meditação

29 jun

Em tempos de ansiedade e de consumo, o mundo digital não é o responsável por isto,OBelo mas os esvaziamentos do ser não temos tempo para a escuta, a contemplação e a meditação.

Não são campos exclusivo do que é religioso e nem mesmo neste campo se faz sempre a contemplação do belo e a meditação sobre o significado mais profundo da relação entre seres, entre seres e as coisas, o que importa não é qualidade, mas quantidade.

Como no dia a dia estamos acostumados ao mero consumo e satisfação, nunca chegamos a indagação e a contemplação, pois estas não são dedicadas ao simples consumo e nem mesmo ao que é útil, já dissemos nos posts anteriores, é preciso fazer silêncio na alma para ver e escutar aquilo que é está numa obra de arte, numa poesia ou em uma meditação.

Não se trata apenas de simplificar, mas de aprofundar e permitir-se invadir pelo novo, pelo belo e pela indagação, quem somos? Para onde vamos ? o que fazemos e porque fazemos ?

Aquietar a ansiedade, encontrar momentos de silêncio interior e exterior, permitir-se invadir pelo belo e finalmente produzir um ambiente propício ao belo, a arte e a poesia.

Tudo parece contrário a isto, mas advertia Heidegger há um uso que nem sempre considera-se na linguagem, que é o uso da linguagem poética, poder-se-ia dizer a inclusão na linguagem não no estilo da poesia, mas ela própria como uma forma de articulação da linguagem.

Considerar a meditação como uma forma de preocupação mais profunda que o mero consumo de questões, relações e até mesmo objetos (o objeto de arte é aqui considerado) e tornar-nos capazes de chegar ao novo, as novas mediações e até mesmo ás novas relações ontológicas.

Se a beleza pode ser salvadora para o mundo, é preciso meditar sobre o que é belo, a fim de chegar a uma consciência histórica do que ele representa como agente transformador.

 

Arte digital, meditação e futuro

28 jun

Uma das exposições mais radicais de arte digital foi feita por Nicolas Maigret e ThePirateCinemaBrenda Howell, intitulada “The Pirate Cinema”, usa trocas em sistema bit-torrente P2P e telas onde se exige o usuário que está baixando e as fontes dos filmes, com os IP (endereço de internet) mostrados nos cantos direitos de três telas, sendo o ambiente escolhido para o projeto de arte o “Torrente Freak”, e pode ser vista online pelo link da exposição (foto ao lado).

O conceito mais raso de arte digital é aquele que pode ser encontrado também no Wikipedia, que diz que é aquela produzida em ambiental gráfico computacional, também é citado lá a definição de Wolf Lieser, segundo o qual: “Pertencem à arte digital as obras artísticas que, por um lado têm uma linguagem visual especificamente mediática e, por outro, revelem as metacaracterísticas do meio”, esta mais ampliada que à anterior.

Mas ambas remente a um conceito bem mais complexo que lhe é anterior: o que é arte ? Haveria uma propósito metafísico, simbólico ou linguístico na arte ? ou algo mais ainda ?

Já esclarecemos a falsa dicotomia entre objetividade e subjetividade da arte, também a dicotomia utilidade e inutilidade, uma vez que esta depende somente da perspectiva de leitura, vejam a fonte de Duchamp, e ainda teria mais a questão de metacaracterísticas, dita acima, mas na verdade não são as características que são ultrapassadas, mas o próprio meio que é um metameio, isto é, podem acontecer de forma indireta todas as artes anteriores.

Exemplo destes metameios são as fotografias digitais imediatamente reveladas e facilmente trabalhadas por software, as edições de vídeos e a produção textual em qualquer estilo.

A questão da reprodutibilidade técnica da obra de arte deve-se entender que é anterior a era digital, a obra de Walter Benjamin, falecido em meio a segunda guerra mundial, já definia bem o novo perfil da arte anterior ao digital: “O extraordinário crescimento que os nossos meios experimentaram em suas habilidades de adaptação e precisão impõem significativas mudanças, em futuro próximo, à antiga indústria do belo”, citando Paul Valery em seu trabalho Pièces sur l’art (p. 103-104), portanto não é isto que difere a arte digital.

Talvez uma conotação ainda pouco compreendida destes metameios é a sua ubiquidade, ou seja, a multipresença, e isto poderá acelerar o processo de contemplação da arte, claro que alguns questionam se isto é arte, mas o tempo dirá que é e mais ainda o público crescente, como mostra a popularização por exemplo, da arte fotográfico, nos bilhões de usuários do Instagram, com fotos sem dúvida alguma artísticas, nem todas é claro, mas aos milhares.

Se a contemplação do belo leva a meditação então talvez seja um tempo de meditação, ainda que alguns possam dizer que é líquida, talvez porque não seja tão útil, mas usar bons vídeos ou imagens digitais para meditar pode ser útil.

 

Objetividade, subjetividade e belo

27 jun

O fato que o mundo contemporâneo não encontre espaço para o silêncio, para a escutaDuchamp e principalmente para a contemplação, o simples fato de admitir que existe o belo mesmo sem nenhuma crença, é o fato que nos apegamos as tensões entre sujeito e objeto, ora projetados no objeto, ora projetados no sujeito, mas sem o “mundo dos objetos” é um abstrato.

Entre as três mais belas frases sobre a arte encontro: “A arte diz o indizível; exprime o inexprimível, traduz o intraduzível” de Leonardo da Vinci, mas sobre o belo que é expressão da arte encontro as frases entre as que mais aprecio e quiçá as mais citadas, de Victor Hugo: “o belo é tão útil com o útil, as vezes até mais” e de Dostoievski: “a beleza salvará o mundo”.

O fato é que a arte é sempre expressar o que todos veem segundo a necessidade e a utilidade: o novo, o belo e o inaudito, seguindo a linha de da Vinci, e seguindo a linha de Victor Hugo o útil do aparentemente inútil, Marcel Duchamp ao colocar um mictório de ponta cabeça e chama-lo de “A fonte” (1917), revelou a dupla face da utilidade, ou talvez a inutilidade do que chamamos de útil, então pode-se dizer que a arte é paradoxal.

A filosofia moderna utilitarista vai dizer que o belo é o conceito relacionado à determinadas características visíveis nos objetos (ou seres), nada difere do conceito de propriedade e a estética seria única e exclusivamente a amplia a característica do objeto.

Schopenhauer critica Kant ao dizer que não estabelece corretamente o conteúdo da “fronteira comum” a priori do sujeito e objeto, pois em primeiro lugar, ele não reconhece a forma “primeira, principal e mais universal” da representação, a saber, a de ser objeto para um sujeito (das Objekt-für-ein-Subjekt-Sein), antes de falar sobre o belo.

Segundo ele quando predicamos algo de belo (schön), dizemos, em termos objetivos, que nele conhecemos “não a coisa particular, mas a Idea”.  Todavia, como qualquer coisa particular é a objetivação de uma ideia, a princípio, essa pode ser conhecida em qualquer coisa, logo, como conclui o filósofo: “Toda coisa é bela”, porém para ele tudo parte da Vontade e não do Ser.

O trabalho A origem da obra de arte, fruto de três palestras dadas por Heidegger em 1939, mas o livro só foi publicado em 1950, com traduções para o português da década de 70, vai desenvolver segundo três aspectos: a coisa, a verdade e a arte-poesia.

Para verdade retoma a poesia ou “alethéia”, fenômeno desde o qual o ser ( dos homens e das coisas) vêm à tona e ganha significado, já a coisa conceito caro a seu mestre Edmund Husserl, retornar as coisas em si e fará isto com a poesia, não como um gênero literário, mas Poesia é antes o movimento desde o qual às coisas surgem, é o movimento de produção desde onde acontece à desocultação do ente fazendo com que este ganhe corpo e significado, a arte é então desvelar, acontecer ou seja acontece um novo “aparecer” da coisa.

Exemplificando: Uma pedra antes de ser arte, será a coisa-pedra transformada em coisa-arte através do “artifícios” do artista e é alma deste que só ultrapassando os limites do seu corpo confere vida à pedra e a transforma em arte, o Ser nesta pedra é então ontológico .

A frase de Rodin: “eu escolho um bloco e retiro tudo que não preciso dele”, ou de Michelangelo para a estátua de Moisés: “porque não fala?”.

 

Twitter vai remunerar uso de Periscope

26 jun

Uma reação do Periscope do Twitter, que permite transmissão de vídeos no microblog, aoTwitterLikeLogo concorrente Alphabet do Youtube que lançou transmissões de vídeo ao vivo para dispositivos móveis com usuários de mais de 10 mil seguidores, pode alavancar a remuneração em moeda digital com uso dos aplicativos.

Em 2015 quando o Twitter lançou o Periscope, o crescimento de transmissões foi progressivo, segundo a empresa o volume chegou a 77 milhões de horas de vídeos ao vivo nos três primeiros meses de 2017, volume alto, mas não há informações sobre visualizações.

O Alphabet do YouTube, da Alphabet, além do requisito de mais de 10 mil seguidores, expandiu sua própria oferta para ajudar os artistas on-line a ganhar dinheiro, mas o Twitter quer remunerar usuários comuns, porém a remuneração de fãs para os artistas apenas, entretanto a monetarização digital destes sistemas poderá incidir no uso da moeda digital, alavancando-a para outros serviços.

Como alavancar negócios ? Segundo o The Verge, o Periscope vai permitir que marcas sejam adicionadas aos corações personalizados do aplicativo nas transmissões em tempo real, ao lado dos corações multicoloridos normais que aparecem quando o espectador aperta o botão “like” usual.

A primeira franquia americana é a Fast and Furious, com “like” adicionando seu logotipo colorido “F8”, outras marcas poderão utilizar, o serviço por enquanto só nos EUA poderão chegar logo aqui e outros países.

 

Kenosis, transparência e valores

23 jun

O diálogo é, portanto um caminho para a transparência, tanto entre pessoas comoKenosis no sentido social, e na medida em que fazemos a mais profunda também realizamos uma kenosis, que no sentido místico é o esvaziamento da própria vontade para a aceitação do desejo divino, mas se consideramos o divino presente no Outro, a kenosis é própria de um profundo diálogo.

O esvaziamento não pressupõe um abandono de valores: dignidade, integridade, ética e moral, mas sim um abandono de conceitos, ou melhor, dos nossos pré-conceitos, que só não tem quem deixou de pensar e que muitas vezes são confundidos com valores.

No ambiente social, podemos dizer que ocorre uma fusão de horizontes, onde uma utopia se torna possível, e, com isto caminhos sociais se abrem e perspectivas novas se apresentam os preconceitos muitas vezes não estão na utopia, porque justamente elas se situam num horizonte as vezes distante e as vezes próximos, é o virtual, no sentido de futuro possível.

Também em termos Bíblicos, em Mateus encontramos a transparência ligada aos valores: “Não tenhais medo dos homens, pois nada há de encoberto que não seja revelado, e nada há de escondido que não seja conhecido. O que vos digo na escuridão dizei-o à luz do dia; o que escutais ao pé do ouvido, proclamai-o sobre os telhados! Não tenhais medo daqueles que matam o corpo, mas não podem matar a alma!” (Mt 26-28), os que destroem valores e matam a esperança, tentando destruir nossa essência.

Em tempos de transparência é, sobretudo um profundo equívoco imaginar que podemos enganar e iludir os homens, pois a verdade aparecerá logo ali na frente, ainda que hajam pós-verdades e leitura distorcida de fatos muito claros: corrupção, mentiras e politicagem.

 

Identidade, diálogo e transparência

22 jun

 

Três elementos que parecem distintos estão em profunda conexão numDiálogoParentesis tempo mundializado, o que se reflete na incompreensão da emergência de certa forma de nacionalismo, vejam as eleições dos EUA e França, o Brexit na Inglaterra, mas que no aspecto positivo do diálogo é exatamente a compreensão de que culturas têm raízes em sociedades originárias.

A confusão que podemos ver no Brexit agora que os primeiros acordos começam a ser negociados, é que do ponto de vista econômico é um elemento complicador enquanto no aspecto da imigração e relacionamento entre nações é um fato de tensão muito elevado.

Identidade significa ter consciência de identidade, e já fizemos em vários posts a análise que é preciso para esta consciência o diálogo com o diferente, já que diálogo com iguais é monólogo, pode-se dizer que quanto mais profundo é o diálogo com o Outro, mais se tem consciência da própria identidade.

A transparência é o elemento complicador, por isso dissemos acima que há “certo tipo de nacionalismo” que vê apenas os pares e nunca o diferente, é um tipo de fechamento que não conduz a maior identidade porque não é transparente e autentico consigo e com o Outro.

É necessário distorcer fatos, trabalhar com o relativismo da verdade e principalmente quase sempre recorrer ao preconceito, e tudo isto leva a uma ausência de transparência tanto no campo individual quanto no social, o que se deseja é moldar a sociedade a um espelho nacional, inconcebível numa era já mundializada, com pessoas andando por todo globo.

O que assistimos coma falta de transparência é uma inevitável polarização em preconceitos e ideologias, o que é concebível numa fase inicial do diálogo, mas impossível de construir relações num tempo que exige relações cada vez mais alargadas e abertas.

Pode-se fazer o discurso que o conflito é necessário, mas aonde ele deverá caminhar, para o fechamento em grupos e bolhas, pois a fragilidade deste discurso é evidente, claro que é possível que num ponto do diálogo os ânimos fiquem acalorados, sem a fusão de horizontes e um caminhar para frente um epoché (colocar entre parênteses), abrir os ouvidos para a escuta do Outro.

 

IoT e a segurança de dados

21 jun

Muitos aspectos de segurança de dados foram desenvolvidos, mas há uma máxima daIoTSecurity computação que afirma que nenhum sistema é totalmente seguro, e se prevemos um crescimento exponencial das conexões com a internet das Coisas (IoT – Internet of Things), é um fato que o problema de segurança tenha também um crescimento nesta proporção.

Enquanto o mundo da IoT já chegou (smartphones, relógios, TVs, carros, óculos e outros aparelhos, nos de pode dizer que há uma plataforma IoT realmente segura e com operacionalidades simples.

Para os especialistas, um desses recursos básicos de segurança é a criptografia de dados, mas ela deverá estar agregada ao tratamento de Big Data, já que este para o volume de dados atuais já é praticamente indispensável, com a IoT será compulsório.

Os dispositivos IoT transacionam toneladas de dados, a criptografia já é um aspecto óbvio destes dados porém, ainda é raramente usada, menos ainda se pensamos de ponta a ponta, isto é, do produtor ao consumidor de dados, e então neste aspecto a IoT é mais sombria.

Com os avanços na computação quântica, a criptografia poderá também não ser suficiente para proteger dados vitais, pois computadores quânticos podem descobrir as chaves criptográficas ainda mais rapidamente, e os algoritmos ainda que eficiente agora, não há dado totalmente seguros,  as chaves dos criptogramas com uso de computação quântica serão mais rapidamente abertas, e enquanto a maioria dos hackers não tem acesso a esse nível de computação podemos estar seguros, mas por quanto tempo ?

É preciso começar desde já a repensar dois assuntos, o tratamento de dados por BigData e as chaves criptográficas a prova de computação quântica antes que estes recursos estejam nas mãos dos hackers.

Privacidade de dados, muitas vezes vitais para determinados sistemas, estão e estarão em cheque cada vez mais.  

 

Esfera pública: transparência e utopia

20 jun

O termo “esfera pública”, popularizado pelos conceitos desenvolvidos porTransparencia Jünger Habermas (1929- ), em especial no livro publicado em 1962, “Mudança estrutural da esfera pública”, que é uma tradução para a palavra alemã, Öffentlichkeit, substantivação do adjetivo öffentlich (público). “Publicidade”, que é usado de certa forma também como “tornar público” Publizität é por sua vez um termo empregado no sentido de tornar público certos debates judiciais.

O tema volta a ter atualidade não apenas pela situação do Brasil, mas o uso de “publicização” feitas tanto na campanha de Trump como de Marie Le Pen, além dos inúmeros e já incontáveis casos de denúncias de corrupção no Brasil e outros países da América Latina e do planeta.

A ideia geral de Habermas, grosso modo, é que a publicidade crítica é subvertida pela publicidade/propaganda, onde a opinião pública passa a ser objeto de manipulação tanto dos meios de comunicação de massa como por parte das políticas partidárias e administrativas, mas o termo não deve ser confundido com as dificuldades público/privadas do estado.

Posteriormente Habermas relativizou o termo, pois as experiências políticas e sociais que desmentiram uma total despolitização da esfera pública mostram também fatos curiosos como uma certa volta ao nacionalismo, e a questão da transparência pública é questionada.

O que fez que posteriormente Habermas desenvolvesse a ideia da ação comunicativa, consagrada no livro (em algumas edições como a inglesa em dois Volumes) “The theory of communicative action”, publicados em 1984, mas o que negligenciado que também ali foi necessário um reparo, colocando a questão da “nova intransparência”, onde ao mesmo tempo que admite o esgotamento utópico, vê um horizonte onde há alguma fusão entre o pensamento utópico e a consciência histórica.

Habermas cita os cenários utópicos da idade Média: “Thomas Morus e sua Utopia, Campanella com Cidade do Sol, Bacon com sua Nova Atlantis”, sua atualização nos tempos  modernos por “Robert Owen e Saint Simon, Fourier e Proudhon rejeitavam o utopismo violento”, e há uma atualização com “Ernst Bloch e Karl Mannheim” que na visão de Habermas “purificaram o o termo ´utopia’ “, mas negligencia a análise feita de Manheim por  Paul Ricoeur em cursos feitos na Universidade de Chicago em 1975, que depois virou livro: “A ideologia e a utopia”.

A análise de Ricoeur mostra que distorção ideológica se baseia no fato de considerar apenas a estrutura simbólica da vida social, em geral vista sobre a perspectiva da justificações e identificações de grupos sociais, embora necessária, não é suficiente para fazer projeções para o futuro, onde o uso de inovações e agentes sociais transformadores são necessários.

HABERMAS, J. A nova intransparência. In: Novos Estudos CEBRAP, nº 18, set. São Paulo: Ed. Brasileira de Ciências Ltda, 1987.

 

Entre o público e o privado: a transparência

19 jun

O termo parece um slogan de propaganda político, e de fato pode ser, a ideia que tudoSociedadeTransp pode ser revelado e o controle de aparatos, principalmente presidenciais, sobre o que pode e deve ser divulgado pode ao contrário do que anunciam muitos, estar fortalecendo serviços feitos às sobras, o desaparecimento da privacidade, o colapso da confiança e aspectos cruciais para manter a democracia e o controle econômico.

O livro de Byung-Chul Han é uma denúncia que o ideal da transparência pode ser tão falso quanto as piores utopias e mitologias modernas: a desconfiança de todos e a falta de privacidade por uma “homogeneização” da interpretação dos fatos.

Qualquer pessoa com instrumentos adequados pode obter informação sobre praticamente qualquer assunto, desde que disponha de instrumentos e muitas vezes força econômica para fazê-lo, e isto já revela uma das possíveis manipulações.

Grupos poderosos, grupos perigosos e principalmente políticos mal-intencionados podem usar a informação disponível para fazer uso inadequado da informação disponível.

Depois de publicar A Sociedade da Transparência, A Sociedade do Cansaço e A Agonia de Eros do filósofo germano-coreano Byung-Chul Han entra em outra seara.

Sociedade da Transparência é uma tradução de Miguel Serras Pereira direta do texto alemão Transparenzgesellschaft, no original, de Byung-Chul Han. Em Portugal o livro foi publicado em Setembro de 2014, na colecção Antropos, da editora Relógio D’Água.

Byung-Chul Han denuncia neste livro: “A Sociedade da Transparência” (Editora Espelho d´Agua, 2014) é que a transparência total é um ideal falso, e segundo o autor a mais forte e perigosa das mitologias contemporâneas, revela sua ingenuidade e estranheza “quando chegou na Alemanha: De filosofia não sabia nada. Soube quem eram Husserl e Heidegger quando cheguei a Heidelberg” (HAN, 2014).

Critica o que chama de “transparência é desprovida de transcendência” (idem, p. 59): “A sociedade positiva evita toda a modalidade de jogo da negatividade, uma vez que esta detém a comunicação. O seu valor mede-se exclusivamente em termos de quantidade e de velocidade da troca de informação. A massa da comunicação aumenta também o seu valor econômico. Os vereditos negativos toldam a comunicação (HAN, 2014, p. 19).

Qual o remédio, há informações que devem permanecer privativas, mas quais ? quem as controlará ? eis as questões que devem ser respondidas.

Han, B.C. A Sociedade da Transparência. Lisboa: Relógio D’Água, 2014.