Arquivo para dezembro, 2015
Porque o Whatsapp quase parou
Brasileiros foram surpreendidos por “uma decisão judicial em caráter sigiloso” que decidia suspender por 48 horas o serviço em todo Brasil, a decisão era estranha porque ninguém podia ficar sabendo o porquê, mas afetava a todos.
Depois descobriu-se que era pelo fato da empresa negar a fornecer dados a justiça, segundo a empresa porque não armazena dados de conversas, o que em parte é bom, pois o marco civil da internet deveria proteger o cidadão, mas é claro que existem situações de crime.
O diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro Carlos Affonso Souza, fez uma comparação interessante, imagina que o Judiciário mandasse suspender todas as cartas porque alguém mandou uma carta ameaçando outra pessoa, a decisão foi “desproporcional”.
A confusão é porque os artigos 11 e 12 do Marco Civil da Internet, código que regula a internet no Brasil, e Affonso Souza afirmou que poderia, por exemplo, elevar a multa ou entrar com uma ação na Justiça por obstrução da mesma, sem que afete a coletividade.
O desembargador que suspendeu a decisão, e por isto o Whatsapp voltou a funcionar, disse que: “em face dos princípios constitucionais, não se mostra razoável que milhões de usuário sejam afetados em decorrência da inércia da empresa” em fornecedor os dados.
O fato pode acirrar as disputas entre a justiça e as empresas fornecedoras de aplicativos na internet, também as operadoras consideraram indevida a suspensão do aplicativo.
Religião e Estado, em tempo do Natal
Aqueles que querem conciliar as duas coisas, historicamente se deram mal, a igreja quando ocupou o papel de estado corrompeu-se e corrompeu a sociedade, quando tentou viver a margem do estado foi perseguida e martirizada.
Os contratualistas, aqueles que historicamente construíram o moderno estado liberal ou democrático como quiserem, fazem ironia a religião desde o nascimento da ideia de estado, Voltaire fez isto ao escrever “Candido ou otimismo” que é uma crítica direta a igreja, dizendo que ela tem um princípio provinciano, em parte tem razão, poderíamos dizer “paroquial”.
O Leviatã de Hobbes é uma referência direta a religião, já que Leviatã é um outro nome para o demônio, e tinham feito forte oposição ao poder monárquico, mas Locke avançaria mais.
Era uma liberal clássico, e conciliou o idealismo com o empirismo em termos de filosofia, escreveu sobre a religião: “Considero a igreja como uma sociedade livre e voluntária. Ninguém nasceu membro de uma igreja qualquer; caso contrário, a religião de um homem, juntamente com sua propriedade, lhes seriam transmitidas pela lei de herança de seu pai e de seus antepassados” (em cartas sobre a tolerância).
Jean Jacques Rousseau, como calvinista que era de nascença, contrariando Locke, escreveu que “O Cristianismo é uma religião totalmente espiritual, preocupada somente com as coisas do céu, a pátria do cristão não é deste mundo”, e muito dessa visão está tanto na democracia europeia como na America.
Mas Rousseau queria conciliar religião nacional com os conceitos nacional e civil, diz ele que “ela reúne adoração divina a um amor da Lei, e que, em fazendo a pátria o objeto da adoração do cidadão, ela ensina que o serviço do estado é o serviço do Deus tutelar”, visão que entrou depois em outras igrejas.
Vale a pena ler “Democracia na América” de Alexis Tocqueville, que é uma fusão das duas visões, e que aprofunda de certa forma a visão de Rousseau para um tipo de “religião Civil” do Estado.
Mas na base disto tudo como está o idealismo, que Hegel é uma síntese, a ideia que o Estado ocupou o lugar do teocentrismo da idade média está ali presente, e em muito do pensamento religioso de hoje.
O que o Natal tem a ver com isto, ao entrar na história, pode-se negar Jesus como Deus, mas não como alguém nascido na história, num estábulo por falta de hospedagem, perseguido logo em seguida por Herodes que obrigou uma fuga para o Egito, é um resumo da cidadania ausente, do “homo sacer”.
Cinismo e escárnio, justiça unilateral
A única possibilidade de justiça é aquela que contempla a todos, e trata a todos iguais, é neste sentido que devemos entender o pronunciamento na declaração de voto da ministra do supremo Carmem Lucia que afirmou começando pela “esperança que venceu o medo”, frase na primeira eleição de Lula e terminou no em “o escárnio venceu o cinismo”.
Entendamos as duas palavras, o cinismo é aquele que a pessoa apesar de toda a roubalheira, desmandos e mentiras que acontecem na vida pública, afirma que não houve delito algum.
Já o escárnio merece uma explicação mais profunda, podemos ver em um dos dicionários: “o que é feito ou dito com intenção de provocar riso ou hilariedade acerca de alguém ou algo; caçoada, troça, zombaria”, mas de quem zombam não uns dos outros, mas de nós do povo.
Quando diversas pessoas ligadas a cúpula de um partido, pessoas que foram tesoureiro, chefes de gabinetes, tesoureiros de campanha e até mesmo pessoas com ligações íntimas com os presidentes estão presos, e continuam afirmar que nada tem a ver com isto, este é o cinismo.
O escárnio, que foi a propósito da prisão do líder do governo no Senado, Delcídio do Amaral, em atitude de “zombaria” dizer que tinha ministros do supremo no bolso, e que poderia negociar com eles.
A maior ironia disto tudo é quem aceitou a denúncia, com quem o governo teria tentado um acordo, é o presidente da Câmara Federal , de quem pode-se afirmar o cinismo e o escárnio.
Pretender fazer uma opção neste caso, é decidir entre dois delitos, neste caso, não há delito menor, os dois afetaram, afetam e afetarão profundamente a nação, espera-se punição.
Dia do arquiteto e urbanista
Já fizemos alguns posts sobre arquitetura, mas hoje no dia do arquiteto e urbanista, queria falar especialmente de Frank Lloyd Wright, cujas frase: “Todo grande arquiteto é – necessariamente – um grande poeta. Ele deve ser um grande intérprete original do seu tempo e da sua idade”, me inspirou e me emocionou.
Li num artigo publicado no Huffington Post como The Architecture of the Future is Far More Spectacular than You Could Imagine, o futuro está mais próximo do que poderíamos pensar, onde vários projetos corresponde a próxima geração, mas aqui comento alguns.
Entre pontes hipnóticas, edifícios giratórios e outras entre 14 tendências escolhi quatro, que me impressionaram e que julgo viáveis para as próximas décadas.
A primeira é uma concepção de parque fechado, em concurso proposto pelo Instituto Strelka em novembro de 2013, para projetar o Zaruadye Park em Moscou e o vencedor foi Diller Scofidio + Renfro (em colaboração com Hargreaves Associates e Citymakers), algo baseado numa teoria de “Urbanismo Selvagem”, ou um conceito de uma “paisagem híbrida, onde o natural e o construído coabitam para criar um novo espaço público.”
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Como fã de tecnologia e principalmente das ecológicas, o projeto que parece uma ficção científica, e segundo CNN em reportagem de 2013 criou uma “ilusão de invisibilidade será alcançada com um sistema de fachadas em LED de alta tecnologia que utiliza uma série de câmeras que enviará imagens em tempo real para a superfície reflexiva do edifício” , informou a empresa stpmj, criadora do projeto.
O terceiro é um projeto que procura harmonizar as formas humanas com o poder das plantas, criado pelo escritório arquitetura AZPA (Alejandro Zaera-Polo Arquitectura) planejou usar a usina Wedel Vattenfall na Alemanha em um novo complexo industrial, construindo a partir das instalações anteriores e envolvido com uma pele ondulada de plantas trepadeiras.
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O escritório usou plantas para criar uma bainha de trepadeiras para absorver as emissões de CO2 e imaginou em 2013, como “uma tentativa de resolver o conflito entre a ecologia e o ambiente criado pelo homem.”
O último é o ganhador de um prêmio da 15 ª edição do Programa Jovens Arquitetos (YAP), promovido pelo Museu de Arte Moderna e MoMA PS1, chamado de “torre circular de tijolos orgânicos e reflexivos” projetada pelo The Living – chamada de “Hy-Fi” (sim com y).
COP21: um acordo não basta
A maioria dos presidentes (alguns em plena campanha, como nos EUA e França) comemoraram e prometeram cumprir o acordo alcançado na COP21, mas será que vão realmente cumprir o acordo, qual a punição para quem não cumprir ?
O acordo determinou os 195 países signatários ajam para que temperatura média do planeta sofra uma elevação “muito abaixo de 2°C”, mas “reunindo esforços para limitar o aumento de temperatura a 1,5°C”, com alguns países com metas difíceis de acreditar que cumprirão.
O acordo descrito em 11 páginas e uma “decisão” com mais 20.
Mas o documento deverá entrar em vigor em 2020, com as 186 contribuições nacionais contra as mudanças do clima já apresentadas, serão diferenciadas e com ajuda aos países mais pobres.
Para isto o acordo prevê uma verba de US$ 100 bilhões por ano para os países em desenvolvimento, a partir de 2020.
Mas os países podem rever sua participação por um mecanismo chamado de “reporte e de prestação de contas transparente”, e então ir renovando os compromissos nacionais para conseguir chegar ao objetivo de que a temperatura não aumente mais de 2 graus.
As metas que muitos países propuseram são audaciosas, mas só serão cumpridas se a opinião pública pressionar e cobrar, sabemos que na hora de pôr a mão no bolso, não pagam a conta.
O diálogo adiado: agora querem o recesso
O início tumultuado do processo de impeachment, onde o próprio presidente da câmara também pode ter o outro processo de impeachment iniciado, o país vai passar o Natal e Ano Novo numa “suspensão de juízo”, isto é, sem que nada fique definido.
Isto porque embora o governo preciso que seja vota a Lei de Diretrizes Orçamentárias e Orçamento, então seria convocado o Congresso Nacional para a próxima terça-feira, dia 15/11 a ideia agora é que as atividades legislativas sejam paralisadas dia 17 e retomadas somente em 11 de janeiro, numa espécie de “recesso parcial” do Congresso Nacional.
Nada pior para alguma possibilidade de diálogo, é a ideia que não conversar resolva qualquer situação, em geral, o “cada macaco no seu galho” gera mais desconfianças e embates.
Os participantes em uma reunião no Planalto, que antes pediam um julgamento greve do impeachment, agora usam a estratégia de esperar o Supremo que será na próxima quarta-feira, e espera que seja decidida a votação secreta para escolher os integrantes da comissão do impeachment.
No entanto, as manifestações de rua devem continuar, e os espíritos devem se exaltar, o pior de qualquer problema é adiar sua solução, e não conversar com ninguém.
O diálogo que antes era ausente, agora adiado, poderá se tornar inviável.
O que é responsabilidade fiscal
Guardada as devidas proporções, é uma família não estourar seu cartão de crédito, no caso da família é diferente porque compromete apenas o próprio orçamento, no caso público, o de todo um município, estado ou nação.
Esta lei existe porque muitos políticos em final de mandato acabavam comprometendo o orçamento da gestão seguinte, impedindo que o seu sucessor fizesse os planos que havia prometido em campanha,
Em 5 de maio de 2000 (chamada Lei Complementar 101), uma Lei Complementar Brasileira impôs os gastos da União, Estados e municípios condicionando a capacidade de arrecadação aos gastos políticos, é uma medida para evitar o descontrole dos gastos e impedir o estouro das finanças públicas.
Esta lei impede a mentira pública, que é dizer que vai fazer mais do que pode, pois se fizer estoura as contas públicas com graves consequências para a sociedade.
Assim é necessário planejar, procurar os melhores custos dentro dos recursos planejados (FURTADO, 2002) e executando de maneira idônea, quer dizer sem corrupção, desvios e obras superfaturadas.
Como é uma lei, transgredir esta lei é crime.
FURTADO, Luiz Roberto Fortes. Um novo conceito em análise de obras públicas com relação à Lei de Responsabilidade Fiscal. Palestra proferida na SEAERJ. Rio de Janeiro, setembro de 2002
A esperança e fé, além das tecnologias
Erich Fromm escreveu na década de 60 um dos livros que inspiraram aquela geração chamado “A revolução da esperança” no qual buscavam uma sociedade fora do consumo (grande inspiração dos hippies), e que preconizava uma sociedade onde os valores humanos fossem mais verdadeiros e fortes.
Mais tarde Joel Heizein atualizou algumas de suas reflexões, dizendo sobre a técnica: “a busca da verdade científica, o homem encontrou conhecimento que poderia usar para dominar a natureza e ele teve um espantoso êxito. Mas com uma ênfase unilateral à técnica e ao consumo material, o homem perdeu o contato consigo mesmo, com a vida. Tendo perdido a fé religiosa e os valores humanistas a ela ligados. A máquina que o homem construiu tornou-se tão poderosa que desenvolveu seus próprios programas e agora determina o próprio pensamento do homem”, ao ser perguntando sobre o domínio da natureza pela ciência.
Fromm não abominou a técnica, nem a economia, mas refletiu se devemos ter uma economia saudável produzindo pessoas doentes, sob o lema de mais produção e mais consumo.
Para ele a “A esperança é um elemento decisivo em qualquer tentativa para ocasionar mudança social na direção de maior vivência, consciência e razão”.
A fé é um elemento importante como complemento da esperança: “A esperança está ligada intimamente ligada à fé. A fé é a convicção do que ainda não foi provado; o conhecimento da possibilidade real, a consciência da gravidez”, ou seja, a consciência de um mundo novo.
Por último diz o que é firmeza (ou fortaleza, ou resiliência): “a estrutura da vida existe outro elemento ligado à esperança e à fé: a Firmeza. A firmeza é capacidade de resistir à tentação de se comprometer a esperança e à fé transformando-as e assim destruindo-as – em otimismo vazio ou em fé irracional.
A firmeza é a capacidade de dizer não quando o mundo quer ouvir sim, conclui o autor.
HEIZEIN. Joel. A revolução da esperança na perspectiva de Erich Fromm, 2008, disponível em:
http://goo.gl/9BlS0f
Ontologia e existencialismo: dificuldades do humanismo
Sartre que era um “existencialista puro”, ou seja coloca o ser diante do nada (ler o Ser e o Nada) e portanto separa a existência do ser, perguntou-se se o existencialismo é um humanismo, mas a questão era equivocada pois de qual humanismo falava ?
Mas ao escrever sobre a existência explicou claramente a diferença entre existencialismo e ontologia, é colocar a existência antes da essência, mas faz um sarcasmo com a existência: “esta palavra assumiu atualmente uma amplitude tal e uma tal extensão que já não significa rigorosamente nada” (Sartre, p. 3).
A razão deste embate é o aparecimento de duas novas dicotomias infernais (as primeiras apontadas por Bruno Latour: objeto x sujeito e cultura x natureza), agora temos: ética x ontologia, e a já apontada existência x essência.
No centro desta discussão está o Outro, ou aquela categoria cristã que é o Próximo, em oposição ao Mesmo, se entendo que o Mesmo, é um em-si podemos colocar Hegel na roda.
Sartre ao analisar o existencialismo nos ajuda, pois o que torna as coisas complicadas é que há dois tipos de existencialista: “por um lado, os cristãos – entre os quais colocarei Jaspers e Gabriel Marcel de confissão católica – e por outro, os ateus – entre os quais há que situar Heidegger, assim como os existencialistas franceses e eu mesmo” (Sartre, p. 3).
Isto é importante porque a ontologia ou a deontologia de origem cristã católica, a partir de São Tomás de Aquino e este retomando Aristóteles não faz distinção entre o existencialismo e a ontologia, e podemos dizer que isto chegou a Hegel, pois para todos eles vale a premissa de Parmênides: “o ser é e o não ser não é”, a famosa dialética hegeliana, retomada por Marx.
Mas quando o ser não é, pode-se dizer que há uma ruptura com a existência (não ser é não existência para o idealismo), enquanto para a ontologia o não ser é.
Esta dicotomia está na base de ser e essência, porque se admitirmos que não ser é, temos uma ruptura com a existência, mas não com a essência, curiosamente isto é realista e místico.
É bom lembrar que Tomás de Aquino era realista em oposição ao nominalismo, e seria absurdo dizer que ele era existencialista porque sua ontologia como na de Aristóteles, não há ruptura entre o Ser e a Essência, isto aparece com o idealismo com o sujeito separado do Objeto.
Podemos dizer que o “Não ser é” não é o Nada de Sartre (em O Ser e o Nada) porque ele não perde sua essência, isto pode parecer difícil heroico, mas está no centro da necessidade de um diálogo entre Culturas que se dá nos dias de hoje.
Sartre, J.P. O existencialismo é um humanismo, Paris, 1970.
Sartre, J. P. O Ser e o nada, Paris, 1943.
Advento, o que vem vindo ?
Para os cristãos, ao menos os de origem latina e romana que vem dos séculos II e III da era cristã, este é o período da espera de algo que vem: o advento.
Advento um substantivo masculino com etimologia latina, que vem do termo adventum, que significa a vinda ou chegada de algo ou alguém, para nós é a vinda de um menino Deus e que foi também home: Jesus, nele o humano e o sagrado dividem a mesma pessoa.
A palavra advento também pode significar fundação ou criação, de alguma coisa, como por exemplo: advento da internet, advento da República ou agora do processo de impeachment.
Isto nada tem a ver com papai Noel, quando um duende de Natal, tornou-se uma figura vestida de vermelho, em 1920 a Coca-Cola Cola® começou uma campanha publicitária com anúncios relacionado a figura de Santa Claus (o Papai Noel americano) com impressões em revistas como o Saturday, que faziam propaganda da famosa bebida.
Também a data é controversa, pois há indícios que esta data comemoraria o solstício (o Verão), mas na verdade no hemisfério norte é o período de inverno, por isto é contraditório.
Para o cristianismo significa o cumprimento de uma promessa, a vinda do Messias, do salvador, não como um herói convencional ou um libertador político, mas alguém que trouxe uma coisa nova para a humanidade, a vida dos relacionamentos, a vida trinitária: eu, o Outro e a presença de Deus entre nós, o Emanuel, que é justamente a vinda de Jesus.
Os que não são cristãos também sentem este clima, ainda que em tempos conturbados, fim de uma época (a modernidade) e início de um novo tempo, que tempo é este ? o da relação.
As novas mídias, o mundo mundializado, a terra-pátria tem tudo a ver com isto, que venham !